Sob o luar escrita por Pixel


Capítulo 11
Capítulo 11 - Tulipas




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 Marinette

 Marinette gemeu em aborrecimento.

 Era hora do almoço e as aulas de educação física tinham deixado ela completamente esgotada, sua gripe não estava facilitando em nada. Todo o seu corpo parecia dolorido e pesado demais e ela não tinha muito energia de sobra.

 Marinette estava sentada na mesa, com uma bandeja de comida bem na sua frente. Apenas a visão do sanduíche de carne já fez seu estômago protestar em busca de comida. Ela tinha comido apenas um biscoito de manhã e isso não era o suficiente para sustenta-la durante o dia.

 A mestiça pegou o sanduíche com as mãos e começou a devora-lo vigorosamente. Não parecia ter um gosto bom, na verdade, parecia papel em sua língua, mas Marinette não se importou; ela estava comendo e isso já basta.

 — Calma que a comida não vai fugir! — Alya disse, levemente espantada.

 Marinette levantou o olhar para os amigos, Alya e Nino, que a encaravam um pouco espantados. Com um pouco de esforço ela engoliu o sanduíche e os encarou de volta.

 — Eu não duvidaria disso... — Ela resmungou, mordendo outro pedaço do sanduíche — Onde está o Adrien? — Ela perguntou, olhando vagamente para Nino com uma sobrancelha levantada.

 O moreno simplesmente encolheu os ombros e desviou o olhar da comida.

 — Ele tinha alguma coisa para resolver com o professor de esgrima... — Nino disse, tentando explicar a situação da melhor forma possível. Marinette parou de mastigar e prestou toda a sua atenção no que o rapaz tinha a dizer — Alguma coisa sobre um torneio ou algo parecido — Ele deu de ombro.

 Marinette franziu os lábios e voltou a mastigar com uma carranca no rosto. Ela não ia poder falar com Adrien no intervalo, sendo assim seus planos seriam adiados.

 Basicamente, tudo sobre seu dia contribuía para um mau humor. O beijo de Chat, todo mundo lhe encarando, a gripe e as complicações em falar com Adrien. Ela não estava muito amistosa, e uma Marinette emburrada iria resultar em possíveis brigas.

 Nino e Alya começaram a conversar despreocupadamente e Marinette resolveu deixar eles em paz. Ela não tinha nada para acrescentar a conversa então o melhor que podia fazer era comer.

 A mestiça terminou o sanduíche rapidamente, mas ela ainda podia sentir a leve queimação no estomago. Somente aquele sanduíche não tinha sido o bastante para sustenta-la. Ela partiu então para a sobremesa, um potinho de pudim.

 Assim como o sanduíche, o pudim não durou muito tempo. Logo ela já tinha comido todo seu lanche e estava com um cara emburrada na mesa, observando a movimentação do refeitório. As pessoas ainda olhavam para ela, só que dessa vez elas passam correndo, se limitando a apenas a lhe lançar um olhar interrogativo. Todos tinham percebido que ela não estava de bom humor.

  Marinette ignorou tudo e todos, se concentrando apenas em seus pensamentos. Era difícil, no entanto. Tinha uma loira, a mesma do corredor mais cedo, que encarava ela com intensidade.

 A mestiça a ignorou, pelo menos na maior parte do tempo. Aparentemente o trio maravilha gostava de lhe encara, não que Marinette pudesse julgá-las.

 Foi assim durante 5 minuto, e ela chegou num ponto que nem a contagem até dez era mais capaz de lhe acalmar.

 — Estou indo para a sala! — Ela disse de repente, se levantando. Alya e Nino apenas olharam para ela em compreensão.

 A mestiça se levantou, levando sua bandeja com sigo até a lixeira, lá ela jogou o pote de pudim vazio e continuou andando até o balcão do refeitório, onde era dada a comida para os alunos. Ela deixou a bandeja ali e seguiu viajem.

 A próxima aula era de química, o que não seria tão ruim se a professora não fosse meio estranha. Ela falava um pouco alto demais, como se para ter certeza que seus alunos estavam prestando atenção, o problema era que Marinette não estava com cabeça para ouvir gritos agora.

 Desanimada, Marinette fez seu caminho até a sala de química, porém, ao passar pelos armários, ela viu um lampejo loiro e parou. Recuou alguns passos e deu uma bisbilhotada pela porta.

 Como o esperado, era Adrien, ele estava mexendo em seu celular e nada no mundo parecia ser capaz de desviar sua atenção. O armário dele estava aberto e Marinette pode ver alguns materiais de esgrima dentro.

 Ela não pode impedir o sorriso carinhoso que floresceu em seu rosto. Tudo sobre ele era ridiculamente adorável, ela se viu encantada até mesmo quando ele franziu os lábios em desgosto. Adrien estava concentrado, olhando para cima e para baixo na tela do celular, parecia procurar alguma coisa.

 Marinette tentou se esconder, permanecendo fora do campo de cisão do loiro. Ela o admirou, Adrien estava tão relaxado, algo um pouco raro dela ver já que ele sempre parecia tão tenso ao seu redor. Marinette o observou por longos segundos, sem se importar se estava ou não sendo uma stalker. Apenas a visão de Adrien lhe proporcionava um certo calor e ela pode se sentir um pouco mais calma.

 De repente Adrien soltou um suspiro triste e encarou a tela do celular firmemente. Seus ombros caíram e ele pareceu brevemente derrotado.

 Seu coração se apertou, ele parecia estar tendo um momento difícil.

 — Algum problema loirinho? — Ela perguntou, deixando de se esconder atrás da porta e adentando na sala com graça. O apelido soou um pouco estranho agora que ela não estava no traje, mas ela esperou que Adrien não tivesse encarado isso como algo ruim.

 Ele se assustou, pulando levemente. Quando a viu, seus olhos se arregalaram e ele lutou para esconder o celular rapidamente. O ato não passou despercebido por Marinette que arqueou uma sobrancelha.

 De repente, o Adrien nervoso de sempre estava de volta.

  — M-Marinette — Ele deu um sorriso nervoso, claramente desconfortável. Ela simplesmente ignorou esse fato e se aproximou mais dele — Não, n-não tem nada de e-errado...

  — Não é o que parece... — Ela disser, cruzando os braços. A sensação de que algo estava errado pairava no ar e ela não podia ignorar isso também.

 — Er... — Adrien desviou o olhar, ruborizando um pouco — Não é nada preocupante.

 - Okey... — Ela deu alguns passos para frente e parou logo na frente do loiro, encarando-o carinhosamente — Nino me disse que você vai participar de um torneio de esgrima... é verdade?

 Ela estava apenas tentando criar uma conversa, apenas tentando se aproximar um pouco mais. Ninguém podia julgá-la por querer estar ao lado desse loiro.

 Ele é uma pessoa tão agradável.

 — Sim... — Ele suspirou, parecendo cansado. Seus olhos verdes finalmente a encararam e Marinette deu um pequeno sorriso em troca — Eu só queria não estar tão ocupado — Adrien parecia triste, os olhos voltaram a encarar o chão e seus ombros caíram.

 É claro que ele estava sobrecarregado, como não estaria? Marinette sentiu empatia pelo rapaz, ela mesma estava um pouco cansada ultimamente. Com tudo que estava acontecendo, o fim de semana parecia uma benção.

 E ainda era terça-feira.

 Marinette encarou o loiro por um tempo, pensando em qual seria o próximo passo. Ela sabe do que ele precisa, é a única coisa que ela pode oferecer agora. Talvez, mais para a frente, ela possa oferecer mais do que um simples abraço.

 A mestiça estendeu os braços, ficando na ponta dos pés, puxou o loiro para um abraço quente e aconchegante. Ela pode sentir o corpo dele ficando completamente rígido com o toque inesperado.

 Marinette sabia que ela estava invadia a privacidade dele, sabia que isso era no mínimo desrespeitoso — principalmente depois dos acontecimentos — mas parecia tão certo, tão bom, tão quente.

 Ela não queria soltar.

 A sensação se intensificou quando ele, lentamente, enrolou os braços ao redor de sua cintura, apertando ela firmemente. Marinette suspirou, deixando seu corpo relaxar no abraço. Por um momento, ela se sentiu protegida e percebeu o quanto aquele abraço era bem-vindo.

 Era tão bom sentir o calor do corpo dele contra o dela, uma sensação única, ela poderia se perder facilmente naqueles braços.

 — Eu ainda tenho uma coisa pra te contar — Ela disse num sussurro calmo. Uma das suas mãos subiram, alcançando os fios loiros. Por um instante, Marinette se permitiu brincar com eles, enrolando uma mecha em seu dedo.

 Marinette se afastou um pouco, mas se recusou a quebrar o abraço, ela queria apenas olhar no rosto dele para ter certeza de qual seria sua reação.

 Pela primeira vez, Marinette viu Adrien completamente relaxado, uma visão inédita, já que ele sempre parecia estressado com alguma coisa. Seus olhos verdes estavam brilhando levemente com uma emoção que ela identificou como felicidade e ele também esboçava um breve sorriso.

 Seu coração começou a bater mais rápido, como se fosse saltar para fora do peito. Marinette engoliu o medo e a dúvida e deixou que as palavras simplesmente saíssem de sua boca. Ela não tinha nada planejado, era um daqueles momentos em que ela simplesmente colocaria todo os seus sentimentos para fora.

 — .... Eu percebi, Adrien, que gosto muito de você... — Ela disse lentamente, sem medo do que fosse acontecer. Para sua surpresa, Adrien não se afastou, em vez disso a encarou com intensidade, sem nem ao menos piscar -—Talvez bem mais do que você passa imaginar — Sua voz não passou de um simples sussurro, muito superficial.

 As palavras engataram em sua garganta, ela não conseguia mais formular uma frase. Marinette estava sob observação dos olhos mais lindo do mundo, se tornou difícil pensar em algo que não fosse eles.

 O momento se estendeu, mais e mais. O silêncio não era desconfortável, era apenas inesperado, mesmo assim, nenhum dos dois o quebrou.

 Marinette sabia que estava em suas mãos o que viria depois, tudo dependia dela e de suas palavras. Parecia um peso grande demais para ser carregado, mas não era da sua praxe desistir tão facilmente.

 Ela não podia falar, tudo estava entalado em sua garganta, então ela fez a única coisa que parecia certa, que parecia bom o suficiente. Antes de dar o primeiro passo, ela notou que os óculos seriam um empecilho, por isso, ela tirou uma de suas mãos do cabelo dele e tirou os óculos. Adrien não protestou, mas pareceu surpreso. Ele olhou para Marinette com confusão estampada em seu rosto. A mestiça não disse nada, ficou na pontas dos pés, lutando contra a diferença de altura dos dois. Com dificuldade, ela alcançou seus lábios.

 Marinette não se lembra de como foi seu beijo com Chat, mas certamente guardará esse por toda a eternidade no fundo do seu coração. Ela deu o primeiro passo, puxando Adrien para baixo.

 Por um segundo, ela pode sentir que ele estava tenso, tão incerto do que fazer, mas logo em seguida ele retribuiu o beijo e foi como se fogos de artifícios explodissem dentro dela. Tudo ao seu redor sumiu, e naquele breve momento, eles eram as únicas pessoas no mundo.

 O beijo foi calmo, sem pressa, e ela pode aproveitar cada segundo glorioso. Pela primeira vez, ela se viu sem nenhuma barreira, não tinha nada que a impedisse de avançar, de se aventurar nessas sensações viciantes.

 Tudo pareceu acontecer em uma fração de segundo. Ela agarrou o colarinho da camisa de Adrien, ganhando um gemido de surpresa quando o empurrou para trás, prendo ele entre o armário e seu próprio corpo.

  Ela se afastou um pouco, quebrando o beijo brevemente. Marinette sorriu, a realização do que tinha feito caiu sobre ela e seu coração inchou com amor e carinho. Nunca ela teria se imaginada numa situação como essa.

 — Eu te amo... —Marinette conseguiu dizer, mas mesmo assim sua voz não passou de um sussurro estrangulado. Tudo pareceu fazer sentido agora que ela deixou suas emoções realmente saírem para fora; não havia dúvidas.

 Isso era uma certeza. Ela estava apaixonada por ele. Parecia tão fácil quando ela admitia isso em voz alta, como se seus conflitos internos não significassem nada no final das contas.

 Adrien exalou e ela se permitiu encara-lo. Ele parecia tão fofo; os olhos verdes tão arregalados em estado de choque, mas ela podia ver brilho de felicidade exalando deles, isso foi o suficiente para fazer ela própria feliz. Ela levou suas mãos aos cabelos loiro novamente, se permitindo em bagunça-los, deixando-os tão desgrenhados quanto antes.

 — I-Isso... — Adrien balançou a cabeça, ele parecia perdido e novamente essa foi a visão mais adorável que ela poderia ter — É inesperado...

 Ele riu, corando tão fortemente que chegou a ser cômico. Ela alisou sua bochecha, admirando cada detalhe. Tudo sobre ele era perfeito, até mesmo os mínimos detalhes. Marinette se viu encantada, ela não podia se afastar, queria ficar ali, naqueles braços para sempre.

 Esse garoto, era ele quem ela realmente amava, era por ele que seu coração chamava e implorava. Se ela puder, será ao lado dele que ela vai ficar por toda a eternidade.

 Marinette sorriu, ela ficou novamente na pontas dos pés e se inclinou para frente, plantando um selinho nos lábios do loiro. Ela pode sentir Adrien apertar sua cintura e um arrepio percorrer todo seu corpo com esse simples toque.

 — Eu sei que é repentino... — Ela disse, se afastando novamente — Mas eu queria saber se a gente... podia pelo menos tentar — Ela disse com um encolher de ombros, mas se recusou a desviar o olhar. Marinette queria ver em primeira mão a reação de Adrien e acabar logo com todo esse carrossel.

 O rubor de Adrien se aprofundou e ele desviou o olhar, parecendo tímido demais. Marinette notou que ele estava hesitando e isso foi o suficiente para gerar um certo desespero. No mesmo instante seu coração afundou com a total percepção. Ele não a queria. Talvez ele gostasse dela a um tempo atrás, mas agora fosse tarde demais.

 Marinette mordeu o lábio inferior, contendo o desespero que começava a se instalar em seu coração. Ela tentou se afastar, mas o aperto de Adrien em sua cinturou prendeu ela a ele, como se dissesse silenciosamente para ela não ir.

 — Eu... — Ele engoliu em seco, olhando para ela com intensidade. Marinette suspirou, sentindo uma pontada de esperança revirar dentro dela.

 Era a única coisa que ela podia se apegar agora, a esperança.

 — Posso te dar uma resposta mais tarde? — Adrien perguntou, tão baixinho que ela quase não ouviu. Apesar da situação, ele não gaguejou e isso era um indicio de que ele estava falando sério.

 Marinette engoliu todos seus sentimentos; suas dúvidas, seus medos e até mesmo sua esperança. Ela detesta isso, detesta ter que esperar algo bom acontecer apenas para se decepcionar. Mas, quem é ela para querer uma resposta agora? Adrien tinha todo o direito de pensar sobre isso, pensar no que fazer, pensar se vale a pena os dois ficarem juntos.

 Quem era ela para negar isso?

 — Claro — Marinette balbuciou, desejando que o chão se abrisse e engolisse seu corpo, levando-a para bem longe disso tudo isso.

 — Muito obrigado!

 Marinette congelou quando Adrien pulou para um abraço, apertando seu corpo com carinho. Ela detesta a forma como tudo pareceu se encaixar; detesta a esperança que injustamente insistia em aparecer e florescer em seu coração.

 Ela suspirou e retribuiu o abraço, tentando contribuir com toda aquela situação.

 Os dois ficaram assim por alguns segundos e só isso foi o suficiente para tirar toda a tensão que pairava no ar. Marinette se sentiu um pouco renovada, mas ainda assim não estava pronta para soltar Adrien.

 O sinal tocou e ela soltou um gemido frustrado, amaldiçoando internamente por ter que estudar. Se ela ao menos pudesse pular essa parte do seu dia.

 — Eu acho que é hora de ir... — Adrien disse, rindo levemente.

 Marinette se afastou com uma careta nítida em seu rosto. Ela fez questão de colocar os óculos de Adrien de volta no lugar, se certificando de que não estava torto nem nada do tipo. Ela bufou começou a andar em direção a porta.

 — Me pergunto aonde foi sua gagueira... — Ela resmungou, mas para si mesma do que para Adrien, mas ela sabia que ele ouviu.

 ...

 — Cheguei! — Marinette gritou assim que cruzou a porta de entrada da padaria de seus pais.

 Marinette estava particularmente cansada, tudo que ela queria agora é se deitar em sua cama e tirar uma boa soneca. Por mais distante que essa ideia pudesse parecer.

 O resto do dia tinha sido irritante, ela não prestou atenção nas aulas de química por causa de um certo loiro — que parecia feliz demais sentado ao seu lado. Ela se pegou ficando extremamente irritada pelos sorrisos bobos que ele esboçava, como se a melhor coisa do mundo tivesse acabado de acontecer. Marinette, por outro lado, não podia estar mais carrancuda.

 Ela ainda não tinha recebido uma resposta plausível.

 — Marinette! — Era a voz de sua mãe. A mestiça parou de andar quando percebeu o tom levemente alarmado da mais velha — Precisamos conversar...

 Sabine apareceu, ela aparecia um pouco exaltada. Foi até a porta de entrada e girou a placa, anunciando as demais pessoas que a padaria estava fechada.

 Marinette franziu o cenho, ela não esperava ser recebida desse jeito, mas logo teve uma ideia do que estava acontecendo, por mais embaraçosos que fosse.

 Ela rezou internamente para que não fosse isso, para que seus pais não a colocassem em uma conversa tão vergonhosa quanto ela estava imaginando. Ela rezou para que sua sorte mostrasse as caras.

 — Mãe? — Marinette deixou a mochila de lado enquanto seguia sua mãe até a cozinha. Elas entraram no cômodo e encontraram com Tom já sentado na mesa, encarando um jornal.

 Marinette sentiu vontade de rir, era sua única reação para o que estava por vir. Ela tentou conter ao máximo as risadas involuntárias, não era o momento ideal para isso.

 — A gente quer falar sobre isso! — Sabine pegou o jornal e o virou para que a filha pudesse ver do que se tratava.

 Marinette não estava particularmente surpresa quando encontrou uma foto em péssima qualidade do beijo dela e de Chat, é claro que até mesmo os jornais iriam se meter nisso. A manchete era o que mais chamava atenção, escrita em vermelho com letras grandes:

 

 "A namorada de Chat Noir é akumatizada!"

 

 Marinette não pode conter a risada que escapou de sua boca, a manchete soou tão engraçada e irreal que ela não teve outra reação. Seus pais viram isso como algo inesperado, ambos arquearam uma sobrancelha e se entreolharam.

 Marinette cobriu a boca com a mão, contendo as risadas inapropriada.

 — O que é tão engraçado mocinha? — Tom perguntou, tentando soar severo, mas acabou falhando.

 Marinette se recompôs e, assim como sua mãe, se sentou na mesa. Ela sabia que essa seria mais uma daquelas reuniões de família inevitáveis, as coisas não eram para ser engraçadas e ela deveria se conter ao máximo.

 — Em minha defesa eu nem me lembro disso ter acontecido! — Ela disse, ainda se ajeitando na cadeira. Queria deixar, desde de o inicio que não tinha nenhuma memoria sobre o ocorrido, caso seus pais desconfiassem mais tarde.

 — Esse não é o ponto aqui querida — Sabine disse, soando tão calma, era impossível não prestar toda a atenção nela. Marinette apertou as mãos em punhos e olhou para sua mãe — Nós queremos saber se você anda se relacionando com o Chat Noir.

 Aquela pergunta pegou Marinette desprevenida, e, novamente, ela teve que conter as risadas. Era impossível levar toda essa situação a sério, principalmente quando ela sabia o que estava acontecendo.

 Seus olhos se encheram de lágrimas e ela precisou piscar algumas vezes para espanta-las.

 — Isso é a coisa mais ridícula que eu ouvi hoje... — Ela disse, tentando soar mais descontraída e quebrar um pouco o gelo — Ele me salvou uma vez — Isso de fato era uma verdade — Nós nunca nos encontramos depois disso — Isso era uma mentira, mas ela não podia revelar as coisas que estavam por debaixo do pano.

 — Querida — Tom começou a falar e Marinette olhou para ele, encolhendo os ombros — Não precisa mentir para nós

 — Não estamos aqui para te julgar ou te privar de ter um namorado — Sabine disse.

 Marinette mordeu o lábio inferior, tentando encarar essa situação seriamente e não levar tudo na brincadeira, como geralmente faz quando leva uma bronca. Era mais difícil ainda quando ela sabia plenamente o que estava acontecendo.

 A mestiça fez um esforço e acenou firmemente com a cabeça.

 — Mas... — Sabine desviou o olhar — Chat Noir? Não tinha alguém melhor?

 Marinette franziu os lábios quando um rosto familiar surgiu em sua mente. Ela tinha uma outra opção, mas não era sua culpa de Chat ter decidido lhe beijar.

 Essa conversa era no mínimo injusta, mas Marinette tentou pensar que seus pais estavam tentando ajuda-la de alguma foma, ignorando seu senso de justiça.

 — Ele está envolvido com muitas coisas perigosas... — Tom disse. Marinette se mexeu em seu assento, sabendo perfeitamente aonde essa conversa estava indo — E se Hawk Moth decide te usar para atrai-lo? Você pode ficar em perigo...

 Marinette olhou para mesa fixamente, se perguntando brevemente em como seus pais iriam reagir se soubesse que ela, sua amada filha, é Ladybug. Aquela que eles tanto querem proteger está se metendo em problemas por vontade própria.

 Marinette mordeu o interior de sua bochecha para esse pensamento. Eles certamente iriam entrar em pânico, falando o quanto é perigoso pular pelos telhados e lutar contra os akumas. Mas Marinette não é uma criança, ela sabia no que estava se metendo quando aceitou ser Ladybug.

 — É para seu bem que dizemos isso querida — Sabine disse, estendo uma mão para o ombro de Marinette, apertando ele levemente. A mestiça se forçou a olhar para os olhos amigáveis de sua mãe e sorriu.

 — Eu sei... — Ela forçou uma pequena risada, dando um acendo leve com a cabeça.

 — Se afaste dele — Tom disse, tão carinhosamente quanto pode. Marinette sabia que seus pais sempre foram gentis e amáveis, por isso ela tentou levar toda essa situação da melhor forma possível — É para seu próprio bem

 Marinette sorriu, um sorriso verdadeiro. Seus pais podem ter levado esse sorriso como algo bom, mas Marinette sabia seu verdadeiro significado.

 Ela não poderia se afastar de Chat, nem em um milhão de anos. Era impossível, os dois eram parceiros, eles tinham que lutar lado a lado e salvar Paris dos possíveis problemas que poderiam vir no futuro.

 Se afastar dele não era uma escolha. Mas apenas para agradar seus pais ela acenou positivamente, sabendo que nunca poderia cumprir esse pedido.

 Desde que se tornou Ladybug, Marinette estava se acostumando a mentir para todos ao seu redor, ela precisava proteger o seu segredo, mas mentir para seus pais era algo tão duro. Ela nunca fez isso antes, seus pais sempre foram sua fortaleza, mas agora ela precisava omitir alguns fatos; para o bem de todos.

 — Ótimo! — Sabine sorriu e se levantou da cadeira, Marinette fez o mesmo, sendo seguida por Tom — Abraço em família!

 Marinette riu alegremente quando foi puxada para o abraço múltiplo, sendo agradavelmente espremida pelos seus pais.

 Ela tinha que agradecer aos céus por ter lhe dado eles, sem seus pais, Marinette não seria nem metade do que ela é hoje.

 — Ah e você está de castigo! — Tom disse, quebrando o abraço.

 — Que? — Marinette esbravejou, se afastando de seus pais com os olhos arregalados. Ela cruzou os braços e bateu o pé no chão, irritada — Tá de sacanagem né! – Ela olhou para ambos, alternando entre eles. Ela encarou essa punição como algo injusto.

 — De casa pra escola da escola pra casa! — Sabine disse, fazendo um gesto com a mãos — Um mês!

 Marinette não escondeu sua indignação. Ela gemeu, franzindo os lábios.

 Ela não tinha argumentos contra eles.

 — Tchau... — Ela murmurou irritada, antes de se virar e seguir o caminho para seu quarto.

 A mestiça ainda pode ouvir a pequena comemoração de seu pais, deixando claro que eles estavam felizes. Ela sentiu um sorriso se formar em seu rosto. Era impossível ficar brava com eles, principalmente quando ela sabia que tudo que eles queriam era ajuda-la.

 Ela estava irritada, claro, não poderia sair com Alya no próximo mês, sendo que seus encontros era justamente o que a impedia de enlouquecer. Seria um grande e doloroso mês, e tudo isso por causa de Chat, ele iria receber um bom esporro quando aparecesse.

 Marinette abriu o alçapão de seu quarto e adentrou no mesmo, suspirando de alivio por ter passado por mais um dia viva. Ela olhou ao redor e caminhou até a espreguiçadeira.

 — Um certo gatinho vai me pagar! — Ela murmurou, olhando para o teto.

 — Como exatamente? — Tikki perguntou, saindo de seu bolso e flutuando na frente de seu rosto. A mestiça olhou para ela e sorriu, um sorriso travesso.

 — Meus pais proibiram a Marinette de sair de casa... — Ela disse, se sentando na espreguiçadeira — Mas não disseram nada em relação a Ladybug...

 Tikki inclinou a cabeça para o lado, claramente confusa.

 — Não entendi — Ela disse e Marinette riu, alto e claro.

 — Aí Tikki, você é muito inocente — Marinette balançou a cabeça negativamente — Eu tenho que encontrar com o Chat depois e resolver isso — Ela se levantou da espreguiçadeira, andando até sua mesa do computador — Tecnicamente, não estarei quebrando nenhuma regra. Só preciso voltar antes que eles notem que não estou em casa

 Ela pegou uma folha de papel em branco e um lápis, se sentou na cadeira em frente ao computador e começou a esboçar.

 Ela não tinha nenhuma inspiração, mas mesmo assim começou a trabalhar.

  ...

 Marinette acabou se entretendo nas últimas horas apenas com seus designers. Ela se recusou em acessar suas redes sociais, sabendo que tudo deveria estar virado de cabeça para baixo. Por isso ela desligou seu celular e se concentrou apenas em desenhar.

 Geralmente, essa é um tarefe capaz de acalmar seu coração e sua mente, mas não hoje. A lembrança do beijo com Adrien no colégio ficou gravada em sua memória, a pontinha da dúvida se remexendo em seu cérebro.

 Para ela, a resposta já estava obvia demais: "Não".

 Mas ainda assim, uma pitada de esperança se recusava a ir embora, algo que manteve ela calma na maior parte do tempo. Se não fosse por isso, ela estava cheia de ansiedade, estressada e totalmente chateada.

 Talvez esse fosse seu problema, a esperança. Sempre ali para mantê-la no chão, para lhe dizer que eles ainda podiam ficar juntos, mesmo que tudo parecesse obvio demais.

 Até mesmo Tikki notou sua mudança de comportamento, o quão ela parecia abatida, mas ainda assim se recusava a desistir. Entretanto, o kwami não disse nada, apenas observou.

 Durante um longo tempo Marinette ficou trancada dentro do quarto, apenas se mantendo entretidas com os rascunhos. Logo a noite caiu e ela teve que se afastar da sua mesa.

 Marinette não esqueceu do seu "encontro" com Chat na torre Eiffel, era o momento ideal para iniciar uma conversa e por isso ela não era capaz de rejeitar. Porém, hoje as coisas pareciam diferentes — e de fato eram.

 Marinette nunca encarou um encontro com Chat—- seja como uma patrulha ou qualquer outra coisa — como um fardo, entretanto, hoje ela realmente não queria sair de seu quarto. Talvez ela não tivesse forças para encara-lo, ou talvez fosse só medo mesmo.

 Ela não sabia o porquê de ele ter lhe beijado, não sabia se fazia parte de uma estratégia ou algo assim. Seja o que for, tinha virado sua vida de cabeça para baixo em apenas um dia e isso era tudo culpa do gatinho.

 Marinette não queria vê-lo, mas ela nunca foi de quebrar a sua palavra. Ela é leal, por isso se forçou a sair de seu quarto e tomar um banho quente. Isso lhe ajudou a limpar um pouco a mente e a decidir previamente o que iria falar.

 — Certo... — Marinette murmurou, passando a mão no vidro embaçado do banheiro. Ela ainda estava com o corpo parcialmente molhado e a única coisa que a cobria era uma toalha vermelha — Chat, por que é que você me beijou? — Ela tentou soar firme, mas o seu próprio reflexo não colaborou.

 Ela parecia ridícula com o cabelo molhado e desgrenhado, encarnando seu próprio reflexo em uma conversa imaginária.

 Marinette bufou.

 — Tá, isso não ficou legal... — Ela pegou sua escova de dentes e a pasta dental — Cara, o que você fez ontem não foi legal... — Ela disse, pouco antes de começar a escovar os dentes mecanicamente.

 Marinette aproveitou o tempo que ela tinha escovando os dentes para pensar em mais frases que poderiam ser ditas, sua mente trabalhando sem parar. Ela acabou se perdendo em seu próprio pensamentos e se esqueceu do que estava fazendo. Ela cuspiu a pasta e enxaguou a boca com uma carranca no rosto.

 — Se você me chamou aqui— Ela travou, esquecendo brevemente o que ia dizer — É bom que você tenha me chamado para explicar o que diabos aconteceu! — Marinette levantou uma sobrancelha, tentando decidir se isso soava bem ou não.

  Ela gemeu em frustação, se debruçando sobre a pia.

  Talvez ela não devesse planejar nada, talvez ela devesse agir no impulso, mesmo que isso não seja da sua praxe. Por fim, Marinette decidiu que qualquer coisa era melhor do que ensaiar na frente de um espelho.

 Ela vestiu seu pijama e saiu do banheiro com a toalha enrolada no cabelo.

 — Marinette! — Sua mãe apareceu no corredor, ganhando toda a atenção da mestiça — O jantar está pronto! — Sabine disse com um sorriso no rosto, Marinette apenas retribuiu o sorriso e balançou a cabeça negativamente.

 — Não estou com fome maman. Acho que vou direto pra cama — Ela começou a se afastar lentamente, dando um pequeno aceno para sua mãe — Boa noite!

 — Boa noite querida — Sabine não a contrariou e apenas observou Marinette voltar para seu quarto.

  Já dentro do quarto, a mestiça apenas tirou a toalha do cabelo e caminhou até a escrivaninha. Ela mexeu no mouse do computar, para o monitor acender. Depois de dois segundos a sua área de trabalho normal estava a mostra, e ela olhou para o canto inferior direto para ver as horas. Eram apenas 20:36.

 Ainda era cedo demais.

 Marinette pegou seu celular e se sentou na espreguiçadeira.

 — Você vai ir ver ele, não vai? — Tikki perguntou, se aproximando um pouco mais dela. Marinette respirou fundo antes de acenar com a cabeça.

 — Vou sim Tikki... — Ela ligou o celular, observando a tela enquanto ele ligava — Só quero ver o que vai acontecer...

 Tikki se sentou na espreguiçadeira, junto de Marinette e ambas ficaram num silêncio confortável.

 A mestiça decidiu, pela primeira vez no dia, dar uma olhada em suas redes sociais e também no Ladyblog, que foi o primeiro a ser acessado.

 Como o esperado o site estava um verdadeiro furdunço. Todos os comentários falavam sobre a mesma coisa e Marinette se viu rindo deles. As teorias eram tão absurdas que ela nem ao menos ficou ofendida, mas levou todas na brincadeira.

 Apesar do último poste de Alya ter quase dez mil comentários, nenhum deles especulou que ela fosse Ladybug, e isso acabou lhe acalmando um pouco. Não seria difícil ligar os pontos, mas aparentemente ninguém pensou nisso.

 Isso era bom, para ela.

...

  As horas dessa vez passaram mais devagar, é claro. Marinette tentou se entreter um pouco no celular, mas logo ficou impossível. Por algum motivo algumas pessoas decidiram que seria muito legal persegui-la, por isso ela acabou ficando um pouco longe da mídia.

 Basicamente, ela passou as últimas horas lendo um livro, que a princípio pareceu chato, mas acabou por ser bem interessante. O problema é que ele era fino demais. Ela o terminou em menos de 3 horas, ficando novamente sem ter nada para fazer.

 — Tikki! — Ela chamou por seu kwami, que estava na frente da janela, comendo um biscoito calmamente — Que horas são?

 Marinette fechou o livro, deixando ele de lado.

 — São 11 e 30 — Tikki disse claramente — Já vai sair?

 Marinette se sentou na espreguiçadeira, se alongando brevemente.

 — Acho que sim... — Ela andou pelo quarto em busca da sua escova de cabelo, mas demorou um pouco para encontrá-la, já que por algum motivo ela estava jogada atrás do monitor.

 Marinette arrumou seu cabelo o mais rápido possível, amarrando ele nas típicas marinhas chiquinhas. Ela se virou para Tikki com um suspiro cansado.

 — Tikki, transformar...

 Ladybug respirou fundo, tentando espantar o sentimento de medo que estava revirando na boca do seu estômago. Ela apagou as luzes e subiu pelo alçapão.

 Imediatamente, ela foi recebida pelo ar frio da noite, que insistia em bagunçar seu cabelo, ela olhou para o céu e encontrou com a pura escuridão. Novamente, o clima estava tão nublado e escuro que parecia que a qualquer momento choveria novamente; ela ignorou isso e começou a girar seu ioiô.

 As ruas de Paris estavam iluminadas pelas luzes dos postes, e foram exatamente elas quem a guiou para a Torre Eiffel. Haviam poucas pessoas nas ruas, a maioria andava apressadamente, provavelmente indo para casa. Ladybug passou despercebida por todo o caminho.

 A torre Eiffel estava iluminada, como sempre, ela olhou ao redor, procurando por alguma movimentação ou sinal de Chat. Ele não tinha dito especificamente a onde eles se encontrariam.

 Ela olhou para cima, para o topo da torre Eiffel, na esperança de vê-lo. Ladybug suspirou, ela estar ali era, tecnicamente, proibido. A torre Eiffel já havia sido fechada e ela era uma intrusa agora.

 Ladybug caminhou até um poste e se encostou nele, esperando os minutos passarem, observando o grande monumento de longe. Os minutos se passaram e nada de Chat aparecer, ela começou a bater a pé impacientemente no chão. Já deveria ter passado da meia noite e ela não poderia passar muito tempo ali, já que amanhã tinha que enfrentar a escola novamente.

 — Ah! Você está ai! — Ela ouviu um baque, fazendo-a pular no susto. Ladybug olhou para o lado, vendo a figura ajoelhada de Chat.

 Ela franziu o cenho, observando seu parceiro se levantar e guardar o bastão.

 Sua mente já estava começando a formular as palavras e ela se viu brevemente perdida na ansiedade. Não haviam motivos para se preocupar, mas ultimamente isso era o melhor que ela podia fazer.

 — Pensei que tinha esquecido — Ladybug disse, tentando futilmente soar divertida, apenas para acalmar os próprios nervos.

 — Jamais M'Lady! — Ele olhou para ele com um sorriso lindo nos lábios e Ladybug se encontrou brevemente perdida no que dizer ou no que fazer.

 Ele parecia tão feliz, tão radiantes, mesmo com todos os acontecimentos. Ladybug franziu os lábios, levemente irritada. Chat não parecia estar tão abalado pela divulgação do beijo.

 Ela queria bater nele por causa disse.

 — Como pode estar tão feliz? — Ela perguntou, levemente irritada. Chat piscou, tentando processar a pergunta.

 Ele arregalou brevemente os olhos e sua boca se abriu em supressa. Ladybug fez seu melhor para controlar seus sentimentos, ela colocou as mãos na cintura e deu um passo à frente, encarando Chat firmemente.

 — Sobre isso... — Ele encolheu os ombros e levantou um dedo — Eu gostaria de conversar num lugar menos... Inconveniente — Chat disse, apontando para o campo e para os vidros aprova de balas.

 Ladybug suspirou, contando até cinco mentalmente, essa era uma nova técnica que ela resolveu aderir. Por mais estranho que pareça ela de fato funcionava. Por fim, a heroína olhou para seu parceiro.

 — Certo... — Ela pegou seu ioiô — Aonde vamos?

 — Não fica muito longe — Ele disse, como se tivesse plena certeza de onde ir. Ladybug arqueou uma sobrancelha para isso, ficando mais ansiosa do que já estava — Só me siga certo?

 — Tá bom... — Ela murmurou.

 

...

 Chat estava certo, eles não foram muito longe. Na verdade, o tal lugar ficava em um dos prédios quase ao lado da torre Eiffel, era alto e dava para ver as ruas e até mesmo um pouquinho do rio sena.

 — Eu sei que pode parecer estranho — Chat disse assim que os dois aterrissaram no alto do prédio. Ela notou ele coçar a nuca, dando alguns passos para frente — Mas eu queria deixar as coisas mais... bonitas? — Ele terminou com uma risada nervosa.

 Ladybug arqueou uma sobrancelha, caminhando lentamente para o lado de dele. Ela o observou com atenção, prestando atenção aos mínimos detalhes.

 — Você pode fechar os olhos, por favor? — Chat olhou para ela, dando um sorriso nervoso.

 O pedido a pegou desprevenida. Ladybug piscou algumas vezes e se inclinou para trás, olhando desconfiada para Chat. Ela confiava nele, claro, os dois se conheciam a bastante tempo e ele já provou diversas vezes que merecia sua confiança. Isso não muda o fato desse pedido ter sido estranho.

 — Serio? — Ela franziu os lábios.

 — Aí — Chat levou a mão direita ao peito, fazendo uma careta de dor. Por um momento ele realmente pareceu ofendido — Assim você me magoa M'Lady... — Ladybug não pode conter o impulso e revirou os olhos. Ela mudou o peso de um pé para o outro, tomando a decisão mais óbvia.

 — Certo... — Ela respirou fundo e fechou os olhos, permanecendo imóvel.

 Depois de três segundos, Ladybug pode sentir Chat se aproximar, pegando na mão dela e entrelaçando seus dedos. Ela tentou ignorar o quão reconfortante foi ter suas mãos unidas e decidiu ocupar seus pensamentos com outra coisa.

 — É só me seguir... — Ele disse.

 Ladybug sentiu seu coração pular uma batida, o tom de voz do Chat lhe deixou curiosa e ela o seguiu de bom grado. Os dois andaram um pouco e Chat a puxou para o lado.

 — Não abra ainda... — Ele disse soltando sua mão brevemente.

 Ladybug gritou se surpresa quando foi levantada do chão. Seu primeiro reflexo foi segurar os ombros de Chat para o apoio, ganhando uma risada baixa dele. Ela se amaldiçoou internamente, fazendo um biquinho.

 Ladybug sentiu o mundo ao seu redor mudar e o vento gelado bater em seu rosto. Ficou claro que Chat estava lhe levando para um outro lugar, que não parecia ser muito longe.

  Por fim, ele parou e a deixou no chão. Ela soltou seus ombros, mas ainda manteve seus olhos firmemente fechados.

 — Espere um segundo... — Chat disse, se afastando dela. Por alguns instantes ele pareceu correr ao redor e a cada segundo que passava Ladybug ficava mais e mais ansiosa. Ela se perguntou o que era tão importante assim para ele correr ao reder freneticamente.

 Ela cruzou os braços e aproveitou o momento para tentar se acalmar, contando até dez lentamente. Por mais que ela tentasse, a curiosidade não diminuiu e ela se viu ansiosa novamente.

 — Certo... — Ele riu e ela levantou a cabeça na mesma direção da onde a voz nervosa tinha vindo — Pode abrir!

 Ladybug abriu os olhos, piscando algumas vezes. A primeira coisa que ela notou foi Chat, que estava a menos de quatro passos na sua frente, segurando um buque de tulipas vermelhas com ambas as mãos. Ele estava sorrindo, um sorriso nervoso, mas ao mesmo tem sincero.

 Ladybug levantou uma sobrancelha, foi só então que ela notou que o lugar era iluminado por diversas velas de vários tamanhas, que estavam espalhas ao redor de prédio. Atrás de Chat tinha uma toalha vermelha estendida no chão, com uma cesta de piquenique em cima. O ambiente parecia tão lindo e romântico, ele se pegou encantada por toda aquela atmosfera.

 Seu queixo caiu quando ela notou o que de fato estava acontecendo. Esse encontro era algo romântico, não uma patrulha como de costume. Ladybug não teve ou reação senão olhar espantada para Chat, com os olhos arregalados.

Imediatamente ela se sentiu culpada. Há apenas algumas horas atrás ela tinha se confessado para Adrien, esperançosa que ele fosse lhe dar uma resposta animadora, mas tudo que ela ganhou foi mais e mais ansiedade. Ele nem ao menos lhe tinha dado uma resposta, e aqui estava ela num suposto encontro com Chat. Parecia errado, ela não podia estar com dois garotos ao mesmo tempo.

 Ladybug mordeu o lábio inferior, dando um passo para trás. De repente, ela queria ficar longe de Chat. Se não fosse estranho, ela já teria pulado para longe dele e daquele prédio.

 — Eu queria que fossem rosas vermelhas... —Chat parecia nervoso, o buque tremeu em suas mãos, ele deu dois passos para frente, se aproximando — Mas... só tinha brancas e rosa... — Explicou, corando levemente. Sem hesitar, ele estendeu o buque para Ladybug.

 A heroína observou cada movimento, se perguntando se tudo aquilo era realmente real ou apenas mais uma das suas fantasias estranhas. Muitas vezes ela tinha sonhado com isso, sonhando em ter um momento intimo com Chat, isso acabou se tornando um sonho, que a muito tempo ela tinha aceitado que não se tornaria realidade. Ainda muito surpresa, Ladybug estendeu as mãos e pegou o buque, sem desviar os olhos de Chat. Ela estava processando toda a situação lentamente.

 — É... — Ela murmurou, não sabia exatamente o que dizer. Qualquer frase que sua mente processasse não parecia ser ideal para o momento; ela estava sem palavras — Obrigada... São lindas

 Chat soltou o ar, ele parecia estar mais nervoso do que nunca e isso só deixou ela mais e mais culpada. Isso era errado em tantos níveis! Nunca Marinette havia imaginado brincar com dois garotos ao mesmo tempo.

 — Que bom... — Ele disse se aproximando mais dela, dessa vez parecendo um pouco mais confiante. Seus olhos estavam brilhando fortemente e ele parecia ter uma aura animadora ao seu redor — Eu trouxe alguns lanches que eu pensei que você fosse gostar!

 Chat se virou para a cesta de piquenique, andando até ela animadamente.

 — Chat... — Ladybug olhou para o boque em suas mãos, admirando as lindas tulipas com cuidado. Ela estava grata por todo esse carinho e atenção, mas não podia evitar o sentimento de culpa que revirava e revirava no seu interior. As coisas tinham saído do seu controle, e ela precisava concerta-las o mais rápido possível — Eu agradeço por tudo, mas...

 — Tem torta de limão! — Chat disse, abrindo a cesta. Ele fez um movimento para que ela se aproximasse.

 Ladybug deu dois passos para frente, parando na beira da toalha. Ela não conseguia para de olhar para Chat, ele parecia tão feliz, tão confiante, ela nunca tinha visto ele tão animado. Acabar com essa alegra parecia ser a pior coisa do mundo.

 — Ch-

 — Eu não sabia do que você iria gostar então peguei o que é comum! — Ele a interrompeu, perdido em seu próprio entusiasmo.

 — Chat! — Ela o chamou, dessa vez mais alto, o que fez com que o rapaz parasse o que estava fazendo e olhasse diretamente para ela — Eu agradeço, mas não posso...

 Era difícil para Ladybug explicar, se isso tudo tivesse acontecido há uma semana talvez ela ficasse, talvez as coisas fossem do jeito certo, mas ela não pode, não quando ainda resta um pouco de esperança que Adrien a aceite.

 Ela teria que fazer o que era certo, no funda ela já sabia que teria que fazer uma escolha, por mais difícil que as coisas pudessem parecer. Ladybug não podia ficar com Chat e Adrien ao mesmo tempo, ou era um ou era outro.

 E Adrien já havia sido escolhido.

 — Por quê? — Chat perguntou, soltando a cesta e ficando de pé. Toda a alegria sumiu de seus olhos e ele parecia dolorosamente decepcionado. A visão quebrou o coração de Ladybug, mas ela se forçou a pelo menos explicar o que estava passando em sua mente.

 — Eu gosto de um garoto do meu colégio... — Ela tentou colocar as coisas em palavras, mas tudo pareceu bem mais difícil sob o olhar de Chat.

 Ela estava quebrando seu coração, e a pior parte é que ela sabia disso.

 — Eu gosto de você... — Ladybug mordeu o lábio inferior, buscando algum tipo de incentivo. Ela olhou para o buque em suas mãos pensativa — Mas não posso fazer isso enquanto não recebo uma resposta do Adrien... — Ela estendeu o buque para Chat, esperando que ele pegasse o presente de volta.

 Ladybug hesitou em olhar para os olhos verdes, mas quando o fez, foi pega de surpresa pelas orbes marejadas de lágrimas frescas. Por um momento, ela pensou que tinha ido longe demais, Chat parecia que estava preste a se derramar em lágrimas, bem na sua frente. Foi duro até mesmo ela lidar, e logo pode sentir seus próprios olhos se enxerem de lágrimas.

 Ela tinha que sair dali, não era bom ficar assim, ela não podia lidar com isso. Não podia lidar com as lágrimas de Chat.

 — Ma-Marinette... — Ele balbuciou, as lágrimas rolando livremente pelo seu rosto. A visão machucou Ladybug, enviando um aperto doloroso para seu coração. Seus instintos diziam para ela avançar e enrolar o rapaz em seus braços, mas ela se recusou a sair do lugar.

 Chat pegou o buque deixando ele de lado, em seguida, pulou para os braços de Ladybug. A garota piscou atordoada enquanto os braços fortes de seu parceiro a apertavam. Parecia que ele estava desesperado por qualquer contado, desejando um pouco de consolo. Ladybug arfou.

 — Desculpa Chat... — Ela devolveu o abraço, acariciando os ombros trêmulos do parceiro. Pode até mesmo sentir ele estremecer em seus braços.

 — Eu já te disse o quanto você é incrível? — Ele perguntou, sua voz abafada pelos cabelos de Ladybug. Ela piscou, tentando entender o que isso significava e o porquê de ele ter dito algo assim — Você é incrível, maravilhosa, simplesmente a melhor pessoa que eu já conheci! — Chat falou tão depressa que Ladybug duvidou se o que estava ouvindo era realmente o que ele disse. Ele deu um soluço baixo.

 Chat quebrou o braço e deu um passo para trás, ele fez um esforço e secou as lágrimas. Ladybug não teve outra reação senão franzir os lábios e o cenho, tentando entender o que estava realmente acontecendo; nenhuma das suas teorias se encaixaram, por isso ela simplesmente assumiu que esse era o jeito de Chat lidar com as coisas. Não era a reação esperada, ele parecia mais emocionado do que triste. Ela tentou encarar isso como algo bom.

 O rapaz loiro fechou os olhos, respirando fundo. Ladybug não fez outra coisa senão observar, ela estava levemente pasma e por isso não se mexeu.

 De repente, uma luz verde apareceu e desapareceu tão rápido que Ladybug nem ao menos a registrou, foi literalmente um clarão rápido.

 Seu queixo caiu.

 Ali, bem na sua frente, estava um garoto loiro, vestindo um pijama engraçado de bolinhas pretas; os cabelos perfeitamente alinhados — nem mesmo um único fio fora do lugar — e ele usava um par de óculos, que escorregou um pouco. Sua figura era tão familiar que fez seu coração saltar, demorou um pouco para ela processar o que estava acontecendo.

 — A-Adrien?! — Ela falou depois de longos segundo em puro silêncio. Só então Ladybug notou o quão rápido estava batendo o seu coração, ela levou uma mão ao peito, sentindo a vibração irregular.

 Adrien abriu os olhos, e ela foi saldada pelos mais belos olhos verdes que já existiram. Ele riu, deixando que um rubor florescesse em suas bochechas. Em um movimento rápido, ajeitou os óculos, olhando nervosamente para a garota bem na sua frente.

 — Oi Buggie... — Ladybug arfou quando ouviu a voz tão familiar, soando como música para seus ouvidos. Seu peito inchou e ela não foi mais capais de segurar as lágrimas, que rolaram firmemente por sua bochecha.

 Por um momento ela não pode acreditar na sua sorte, não pode acreditar nessa coincidência tão alarmante. Parecia tão bom para ser real; novamente, ela se perguntou se não estava imaginado tudo isso. Se tudo isso fosse um sonho, certamente era o melhor que ela podia ter.

 — É-É você... — Ela deu um passo para frente, se recusando a desviar o olhar. Parecia que mínimo movimento iria fazer Adrien desaparecer e isso seria a pior coisa que poderia acontecer agora.

 — S-Sim — Ele coçou a nuca, o movimento parecia tão certo agora — Eu queria te fazer uma surpresa — Ele disse, sem desviar o olhar — Você me pegou desprevenido àquela hora. Não imagina que você teria essa coragem... — Adrien deu uma risada nervosa, suas bochechas brilhando — Eu tive que mudar os planos... um pouco...

 Ela não conseguiu acreditar nessas palavras a princípio, repassando os eventos dos dias lentamente. Tudo pareceu se encaixar e ela se sentiu extremamente burra por não ligar os pontos antes. Durante todo esse tempo, durante todos esses anos, eles estavam simplesmente girando e girando, sem nunca sair do lugar.

 Ladybug não conteve o desejo de abraça-lo, ela respirou fundo e fechou o espaço entre eles, levando as mãos para o rosto de Adrien. Ela pode sentir as lágrimas que tinham caído quando o tocou, mas fez o possível para ignorar isso, ela mesma estava lutando contra suas próprias lágrimas.

 Ladybug não pensou duas vezes antes de puxar o rapaz para baixo e selar seus lábios, sendo levemente incomodada pelos óculos. Adrien, sem hesitação, a puxou pela cintura, correspondendo ao beijo alegremente. Ambos estavam tão desesperados por aquilo, parecia quase impossível saciar aquele desejo.

 — Urgh! Que nojo! — Adrien quebrou o beijo, dando risada. Ladybug piscou e olhou para o lado, encarando diretamente um pequeno kwami negro, que parecia muito enojado — Vocês são nojentos! — Ele esbravejou, balanços os braços para dar ênfase.

 — Esse é o Plagg — Adrien disse, voltando a olha-la nos olhos — Ignore ele

 — Vou tentar — Ladybug levantou uma de suas mãos e secou as lágrimas. Ela deixou sua transformação cair e Tikki estava finalmente livre. Foi como se um peso tivesse sido tirado de cima de seus ombros, ela estava se sentindo mais leve do que nunca.

 Os dois se abraçaram, curtindo a sensação de calor que os dominou. Marinette respirou fundo, sentindo a fragrância de Adrien nublar os seus sentidos brevemente. Por ela, eles podiam ficar assim para sempre.

 — Fico feliz que seja você... — Ela murmurou depois de alguns segundos, se afastando brevemente para olha-lo nos olhos. Adrien abriu um dos sorrisos mais radiantes que ela já viu e isso fez seu coração se encher de carinho.

 Dessa vez, quem a beijou foi ele. Marinette riu e correspondeu o beijo no mesmo vigor. Era viciante e Marinette logo percebeu que não poderia viver sem isso, não poderia viver sem ele. Ela pulou e o puxou para baixo, aprofundando o beijo docemente. Nenhum dos dois queria se separar, mas logo o ar fez falta.

 — Você gosta de quiche? — Ele perguntou.

 — Para sua sorte eu gosto sim — Ela sorriu, se afastando um pouco.

  Marinette pegou a mão de Adrien e entrelaçou os dedos, sentindo um calor reconfortante dominar se coração. Ambos estavam ridiculamente radiantes, dominados pelo mesmo sentimento.

 — Que bom que vocês se acertaram! — A voz amigável de Tikki chamou a atenção do casal, que se virou para ela.

 — Tikki! Não incentive eles! — Plagg resmungou, cruzando os pequenos braços com uma careta emburrada no rosto. Ele parecia estar incomodado com toda a situação.

 — Tem camembert pra você na cesta... — Adrien disse. Marinette achou cômica a forma como o kwami se animou, perdendo totalmente a postura irritada.

 — Retiro o que disse — Ele passou pelo casal, indo até a cesta, parando bem em cima dela — Podem fazer o que quiserem!

 — Ele é sempre assim? — Marinette perguntou, puxando Adrien para mais perto da toalha.

 O casal se sentou, um de frente para o outro.

 — Você não viu nada! — Adrien riu.

 Ela observou o loiro abrir a cesta novamente, tirando dela um pedaço do queijo, ele o ofereceu para o kwami negro, que o pegou rapidamente. Tikki também se aproximou deles, ficando ao lado de Marinette.

 A mestiça observou quando Adrien tirou de dentro da cesta dois pratos, dando um deles para ela. Marinette aceitou com um grande sorriso, e pela primeira vez ela percebeu que estava realmente faminta.

 — Eu trouxe biscoitos pra você Tikki — Adrien disse, tirando de dentro da cesta um pacote de biscoitos de chocolate. Tikki se animou e se levantou, flutuando até a loiro. Marinette riu, notando que os dois pareciam se dar bem.

 — Obrigada Adrien! — Ela pegou o pacote e se sentou ao lado de Plagg.

 Marinette suspirou alegremente, se sentindo tão leve quanto nunca. Tudo ainda parecia um pouco irreal, mas decidiu que iria aproveitar esse momento ao máximo; se fosse um sonho, seria o mais doce e agradável que ela já teve.

 — Eu queria pedir desculpas sobre... aquilo — Adrien disse. Ele não estava olhando para Marinette, parecia bem ocupado em tirar de dentro da cesta uma tupperware. Demorou um pouco para ela perceber do que ele estava falando.

 — Oh... — Marinette exclamou, permitindo que o rubor se manifestasse — Você me colocou em um monte de problemas... — Ela acrescentou com um sorriso, ganhando um olhar preocupado de Adrien. Ele abriu a tupperware, um cheiro agradável pairou no ar e Marinette sentiu seu estômago roncar, queimando levemente.

 — O que a-aconteceu...? — Ele encolheu os ombros, parecendo muito preocupado.

 — Não precisa se preocupar — Marinette tentou soar indiferente e observou quando Adrien pegou uma faca. Ele começou a cortar um pedaço de quiche para Marinette — Só um bando de haters brotando até do chão

 — O quê? — Adrien levantou a cabeça, olhando para Marinette com os olhos arregalados.

 — Ahh! Eu também estou de castigo... — Ela acrescentou.

 Adrien colocou uma fatia de quiche no prato de Marinette, ele estava com uma expressão culpada no rosto. A mestiça, por sua vez, apenas fez um gesto com a mão, dizendo silenciosamente para ele não se preocupar com isso.

 Um silêncio calmo pairou entre os dois. Marinette observou quando Adrien cortou um pedaço de quiche pequeno demais para seu gostou.

 — Você vai comer só isso? — Ela perguntou, pegando seu prato. O cheiro parecia tão agradável que ela não hesitou em atacar a cesta em busca de um garfo ou colher, para sua felicidade, ela encontrou um garfo.

 — Eu sou um modelo — Ele explicou, como se esse fato fosse uma novidade. Marinette arqueou uma sobrancelha, levando um pedaço da quiche até a boca — Não deveria nem estar fugindo da dieta... — Ele desviou o olhar e também pegou um garfo.

 Marinette gemeu de modo audível, demonstrando claramente a sua insatisfação. Ela nunca teve nada contra os modelos, mas, em sua defesa, ela tinha sido criada ao redor de doces e pães frescos. Comer era praticamente uma das suas coisas favoritas, ela não conseguia imaginar alguém vivendo sem esse prazer.

 — Tá de sacanagem né? — Ela disse levemente irritada, olhando para Adrien com os olhos estreitos. O tom de voz pegou o rapaz de surpresa, que levantou o olhar um pouco assustado — Se você quiser ser meu namorado vai ter que pelo menos comer com dignidade! — Marinette disse, aumentando inconscientemente o tom de voz.

 Adrien congelou, corando tão fortemente que até mesmo suas orelhas ficaram vermelhas. Ele encolheu os ombros e Marinette pode notar que ele estava apertando o garfo mais forte do que deveria.

 — M-Mas... — Ele desviou o olhar, lutando para manter sua atenção longe dela.

 — E eu tô falando sério! — Ela colocou outra garfada de quiche na boca, mastigando avidamente — Meus pais são padeiros, eles vão ficar ofendidos se você for lá em casa e não comer nada!

 Adrien finalmente olhou para ela nos olhos, deixando a tensão sair do seu corpo. Ele relaxou, dando um pequeno sorriso.

 — Não conte pro meu pai então — Ele acrescentou um risada, tentando soar descontraído. Marinette aceitou a resposta e retribuiu o sorriso, se ela não estivesse tão longe dele, certamente o teria beijado de novo.

 Naquele momento, no ar frio de uma noite nublada, Marinette reconsiderou suas ideias flácida sobre sua sorte. Aparentemente, ela tinha gastado toda sem nem ao menos perceber e estava mais do que grata por isso.


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Notas finais do capítulo

Estou tão feliz por ter encerrado essa história, é algo que realmente me animou muito! Espero que você tenha gostado tanto quanto eu gostei ♥ ♥

~~See ya



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