Gostaria de deixar extremamente esclarecido que a história que aqui será contada está longe de ser pequena a doce como naqueles filmes da década de 90. Talvez tudo fique um pouco confuso, pois conta-lá é complicado... Mas aqui vamos nós sem nenhuma enrolação.

Sair da cidade onde cresceu e dividir uma casa com sua melhor amiga virtual e alguns outros humanos que ela só conhecia por nome, definitivamente, não era o plano daquela ruiva linda de bonita. Mas a faculdade de medicina na cidade de Sakura atendia muito mais suas expectativas acadêmicas. Morar com ela também era um bom incentivo para largar tudo com toda coragem que possuía.

Porém, nunca foi o plano montar uma espécie de república unisex com o primo de terceiro grau, que ela nem sabia da existência, e alguns amigos da garota de estranho cabelo rosa. Muito bem hidratado, é importante ressaltar, mas ainda estranhos com aquele corte na altura dos ombros feito em casa com a tesoura cega da vovó.

O começo foi um inferno e tudo continuava um inferno maior ainda com o passar dos meses. A ruiva, heroína de nossa história, sempre sentia que uma guerra podia acontecer no café da manhã quando Naruto insistia em pegar o maldito cereal especial de Sasuke, e ninguém mais suportava essas brigas matutinas. O almoço era como comer com macacos e o jantar era o oposto do que era julgava ser “realmente bom para uma saúde plena”.

Vocês sabem como funciona… Karin não suporta quase nada que não esteja dentro de seu próprio cronograma pessoal maldito.

Sasuke sempre cerrava o punho quando abria o armário. Karin já até repetia os gestos dele mentalmente: bufar, negar com a cabeça e se virar para Naruto com todo ódio. Mas é importante ressaltar que ela não tinha uma paixão platônica pelo amigo. Seria óbvio demais e ela não faz do tipo fura olho.

Por Deus, se apaixonar pelo namorado da amiga, que também era seu amigo, é o maior clichê da história moderna e antiga. E bom, nossa heroína está longe de ser uma mulher clichê.

“Já falei mil vezes, Naruto…” o resto era sempre a mesma coisa.

A Uzumaki já até sabia, exatamente, as falas que seriam disparadas pelo Uchiha contra o rapaz que fazia jus ao termo preconceituoso de “loiros são sempre burros”.

Mas aquela bagunça toda ainda não era a pior parte. A coisa mais horrível na nova rotina de Karin era o seu insuportável parceiro de quarto. Era insuportável sim, mas ainda tinha uma bundinha bem sexy. Mas isso é um pensamento que ela gosta de guardar em segredo. Ou gostava… Enfim, não é esse o caso que queremos abordar, né?

Uma casa mista era ok, mas compartilhar quarto com o verme era o cúmulo do absurdo. A ruiva sempre soube que não ia viver um sonho de filme americano quando saiu de sua cidade. Sempre soube que Sakura não ia dividir o quarto com ela no momento que Haruno disse que Sasuke faria parte da casa.

Que tipo da namorada seria louca de desperdiçar a chance de transar toda noite depois de um dia exaustivo? Karin seria essa louca, mas não é dela que estamos falando. Karin é uma mulher maravilhosa, mas ainda é estranha demais e fica de mal humor quando chega da faculdade.

Mas a nossa heroína nunca reclamou de ficar sozinha. Era a única que tinha um quarto apenas para ela. A casa era do pai de Sasuke e possuía três belíssimos quartos. A ideia de um deles ser somente dela era excitante.A garota podia ficar pelada e fazer o que desejava. Lembrem-se que ficar sozinha era excitante… Não usei a palavra à toa, viu? Mas não vamos aprofundar muito, já dá para entender, certo?

Sakura e Sasuke dividiam um quarto e Kiba e Naruto outro. E Karin aproveita sua folga em seu quarto sozinha. Era o menor na casa? Sim. Mas era apenas dela.

Pelo menos era assim nas duas primeiras semanas. Em uma calma noite chuvosa de céu nublado, o Uchiha apareceu na casa ao lado de uma espécie diferente de humano que possuía cabelos brancos (mais hidratados e bem cortados do que os de Sakura), dentes pontudos e ensopado. Poderia ser até confundido com um belo tritão, se possuísse escamas, ou, como Karin gostava de dizer, confundido com um peixe de aquário desnutrido.

Claro que enfiar aquela coisa no quarto dela foi ideia de Sakura. “Você quase nunca está em casa” e “Ele não vai atrapalhar muito. É um cara legal” foram frases que a ruiva ouviu mais de 10 vezes em menos de trinta minutos.

Mas nossa heroína é teimosa e burra. Tentou enfia-lo no quarto do primo, mas lá já não tinha espaço nem para os dois, que às vezes virava três, já que Hinata sempre estava por ali.

Digo que era burra pois só uma pequena anta seria capaz de ousar se livrar dele.

No fim, ela não teve escolha e Sakura conseguia ser irritantemente convincente quando queria. E, nessa bela história, Sakura queria apenas bancar a boa e velha cupida. Afinal, a amiga não aguentava mais as siriricas noturnas da pobre, solitária e anti social Karin. Mas, siririca é só um termo para quem fica o tempo toda estudando anatomia feminina própria, certo? Não levem para o duplo sentido quando não conhecem a moça de verdade.

Suigetsu e Karin quase não se trombavam no quarto. O fato dele dormir na parte de cima da beliche também ajudava pois ela não tinha o risco de virar de madrugada e dar de cara com ele dormindo feito um neném lindinho bem ao lado.

A primeira semana foi suportável. Hozuki parecia ser um homem de poucas palavras. Parecia ser o tipo de homem que quase todos as mulheres queriam, com exceção apenas das que que ele conhecia. Mas da segunda semana em diante, as coisas ficaram insanas. Os encontros eram poucos, mas o bonitão indomável sempre fazia o possível para incomodá-la da forma que só ele sabia.

Gostava de incomodar ela pois o peixe imaginava que a tensão que existia entre ele e a endemoniada era uma puta tensão sexual. Não pensem que ele era um tarado abusivo! Por Deus, o cara respeitava como se a mulher fosse uma santa.

Mas é importante ressaltar que estamos falando de adolescentes com menos de 20 anos aqui. Hormônios são perigosos e eles ficam loucos quando se tem uma ruiva quatro olhos bonita pra caralho envolvida.

No fundo, Karin sentia falta quando o cara mais bonito daquela casa não realizava alguma piada com ela. Isso é um fato verídico, comprovado pelo biólogo marinho vulgo Suigetsu, que passou anos estudando o fato de forma teórica e prática.

Acreditem, Karin é uma demônia que fica cercada de chamas reais quando deixava o ódio subir sua cabeça. A primeira vez que todos presenciaram aquela mulher baixando o próprio Satã no corpo, foi quando o colega de quarto cometeu seu primeiro deslize grave.

O bonitão da história viu nossa heroína sem sutiã. Oh… Pobre coitado!

Não foi proposital, acreditem. O cara só queria entrar em seu próprio quarto para pegar os livros para a aula. A culpa não era dele se ela escolheu aquele exato segundo para trocar de roupa. Quem caralhos fica parada sem sutiã de frente para o espelho?

Todos na casa receberam a fúria Uzumaki de uma só vez. Gritos e algumas coisas que não deviam ser lançado voando na direção do pobre rapaz foi o que marcou o começo de uma guerra quase incansável.

Acham que ele desistiu de dividir o quarto com aquela mulher depois de ver a morte diante de seus olhos? Óbvio que não. Na verdade, toda a cena só serviu para fazê-lo rir e querer mais momento como aqueles.

Sr. Hozuki também não era um homem fácil. Gostava de pisar no calo da ruiva apenas para ter o prazer de vê-la gritar e xingar, demonstrando todo o amor que ela tentava esconder com toda a força.

Certa vez, nossa heroína chegou da faculdade devastada com algo. Olheiras assustadoras e resmungos pelos cantos. Mas a coisa ficou séria mesma quando ela se jogou na cama e caiu no choro.

Foi nessa tarde que o bonitão da história ergueu uma tímida bandeira branca. Foi audacioso quando se deitou na cama dela, bem ao lado da fera como se fossem íntimos e disparou inúmeras piadas, tentando animá-la.

Mas quando ele calou a boca, desistindo de animá-la, algo inusitado aconteceu. Karin, que antes estava de costas para ele, se virou para encará-lo. Ficou analisando toda a face do homem como se tentasse achar algo. Os olhos estavam ainda marejados e vermelhos, mas ela não chorava mais. Ela disse algo como “você não é tão ruim” e sorriu, se levantando logo em seguida.

A frase mexeu com ele?

Meus amigos, a frase fodeu com ele! Se fosse um filme animado, teria até cupido acertando uma flecha em seu peito. Como seria possível conviver com aquele furacão em pessoa sem se apaixonar?

É preciso destacar que nosso bonitão não era capaz de resistir uma mulher bonita com um temperamento tão forte como o dela. E Karin era extremamente bonita, gostosa, cheirosa, brava e desafiadora.

Nosso herói se apaixonou por ela naquela única noite de paz. Se apaixonou pra não nunca mais deixá-la.

Mas o ponto alto da história não é isso de “9 meses de brigas e o mísero único dia de paz”. O ponto alto dessa história, que poderia ser cruel, é o momento mais importante da vida do nosso bonitão.

No domingo do dia 21 de novembro, o bonitão se encontrou em uma situação horrível: Karin estava lhe dando um gelo. Não sabia o motivo, mas tudo começou depois do momento em que os dois ficaram deitados juntos.

O gelo acabou quando ele usou sua chave para entrar no quarto sem bater. O bonitão pegou a endemoniada apenas de roupas íntimas. Ele fez questão de dizer, enquanto tentava não olhar o que tinha de maravilhoso bem na sua cara, que pelo menos ela não estava pelada, mas nada aliviou.

Primeiro o sapato voou na direção dele, mas acertou a porta. Depois a ruiva se jogou em sua cama e cobriu todo o corpo, deixando só os olhinhos para fora. Olhos esses que estavam mais vermelhos que o normal, deixando nítido seu ódio.

Karin não parou de falar nem para respirar. Gritava o quanto odiava nosso pobre rapaz sem dar tempo para que ele argumentasse. Foi nesse momento que o gelo virou contra o feiticeiro e ele não teve pena na hora de ignorá-la.

Foi no caderninho de anotações da moça que ele desenhou uma carinha feliz, deixando claro que nenhuma outra palavra iria sair da boca dele. Aquilo só serviu para piorar a situação. Karin já quase rosnava. Quando ela finalmente calou a boca, o nosso mocinho respirou aliviado, colocando entre as madeiras da cama um pequeno papel que havia acabado de escrever.

Como já dito no começo, seria confuso contar essa história e tem muitos motivos para isso… Nem sei se conseguem visualizar onde o bilhete foi colocado, mas enfim...

A curiosidade foi maior do que qualquer coisa e a nossa heroína pegou o papel.

“Vai tomar no cu e me beija”

Não dá para saber o que se passou naquela cabeça de vento, mas ela se levantou rápido, batendo com a cabeça sem ligar para as roupas que ela não usava. Se aproximou do pobre coitado e não teve pena na hora de socar o peito sarado do Sr. Houzuki.

O cara teve coragem de rir enquanto ela o espancava com tanto ódio.

Ela o beijou depois? Não.

Ele deixou que ela continuasse batendo mais? Também não.

Mas o que aconteceu? Isso é simples de responder, caros ouvintes. Nosso alto e belo platinado segurou os pulsos dela, a encarando dos pés a cabeça com um sorriso sugestivo. Quando sussurrou “não estava brincando sobre o a parte do me beija”, Karin ficou da cor de seus cabelos, o que foi estranho.

Eu beijei Karin na hora que ela baixou a guarda, sem dó e nem piedade. E a demônia aceitou muito bem o beijo maravilhoso que o pai aqui deu. Eu, sozinho, dominei a fera Uzumaki com um só beijo.

Mas aposto que todos estão se perguntando o real motivo de eu estar contando toda essa ladainha. Bom, hoje faz exatos seis anos que esse beijo aconteceu. Sabe quantos outros beijos aconteceram depois disso? Sabem quantas marcas de soco começaram a surgir no meu corpo depois que assumimos um namoro?

Suigetsu finalmente deu um pequena pausa para beber água e respirar um pouco. Os olhos e o sorriso foram direcionados para a ruiva, que estava sentada em uma das mesas daquele bar, bem ao lado de Sakura.

Ela também sorria. E sorria de uma forma estranhamente doce e nostálgica.

— Hoje é dia 21 de novembro, Karin. E eu escolhi esse dia especial pra caralho para dar um passo importante. Eu queria contar para nossos amigos e desconhecidos aqui presentes essa história de puro amor e ódio que temos. Queria deixar claro que eu amo todos os seus defeitos e manias, que amo sua personalidade explosiva. Também queria deixar claro que eu tenho um milhão de motivos para fazer o que vou fazer agora.

Largou o microfone e saiu do pequeno palco de karaokê, caminhando com calma na direção da mulher, que já negava rindo e escondendo o rosto.

Se ajoelhou, abrindo a pequena caixinha que tinha em mãos.

— Quem te olha tímida, até pensa que você é doce — recebeu um leve tapa no ombro depois do comentário, o que fez ele rir pelo nariz — Já esperava por isso… Enfim... — coçou a garganta secou as mãos úmidas de suor — Karin Uzumaki Endemoniada, a senhorita quer trocar o Endemoniada por Hozuki pelo resto da sua vida?

— Você não tem jeito, Suigetsu!

— E você ama isso, meu amor. Mas não é essa a resposta que eu quero.

— A minha resposta é sim, seu peixe de aquário desnutrido.

Se levantou, roubando rapidamente um beijo da mulher. O tipo de beijo de tirar o fôlego, selando o pedido da forma que ambos mais gostavam.

— Caros ouvintes aqui presente! É assim que termina uma história com final aberto. Aguardem as cenas da próxima temporada, que vai começar na cama do apartamento que alugamos. Se me permite...

Ele pegou sua noiva no colo e saiu do bar, indo para o apartamento que eles dividiam a quase três anos. Já dando início as gravações da segunda temporada, que tinha tudo para ser sucesso na Hollywood particular daqueles dois.