Quartas-feiras escrita por Lillac


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Eu adoro demais esse casal, e queria escrever algo fofinho deles. Espero que gostem!



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Ninguém gosta de quartas-feiras. Nem Erwin, seu colega de faculdade responsável e o epítome do quão agradável e educado um ser-humano pode ser. Nem Petra, a caloura que trabalha meio período da cafeteria e que cumprimenta todos com sorrisos quase tão doces quanto as bebidas capazes de dar diabetes que vende para os outros alunos. Nem Armin, o amigo inseparável da sua prima mais nova, que se recusa a ver o mundo como um lugar sem esperança e é provavelmente a pessoa mais positiva e bem-intencionada do mundo.

Ninguém. Gosta. De. Quartas-feiras. Nem eles.

E especialmente, nem Levi. Não Levi, já normalmente mal-humorado e rabugento em uma animada sexta à noite regrada a música tocando baixinho e um jantar pedido pelo aplicativo de comida porque nenhum deles está afim de cozinhar, e ainda mais em um ensolarado dia de domingo, com os pássaros cantando e sua namorada saindo do quarto em nada mais do que a roupa íntima e outra camiseta roubada dele (uma visão que interrompe, por certo limite de tempo, o mal humor de Levi).

Hange, é claro, gosta de quartas-feiras.

Alguma coisa sobre ser a oportunidade perfeita para recomeçar uma semana, caso não esteja indo bem, ou prolongar ainda mais as boas coisas, caso esteja. Algo sobre ser o dia mais preguiçoso da semana, e portanto, o mais agradável, como um gatinho espreguiçando-se demoradamente (ele nunca entenderia as metáforas de Hange. Mas tudo bem. Ele não entende muitas outras coisas sobre ela também).

E com certeza, algo sobre ser o dia em que Levi sai mais cedo da academia, e, portanto, eles podem ficar juntos debaixo de um lençol no sofá (porque um mês atrás ela quebrou a cama deles tentando matar um inseto e, embora fosse muito fácil consertá-la, nenhum dos dois tinham energia para isso), fingindo assistir um filme ou apenas mexendo em seus celulares, lado a lado.

Mas, céus. Hange falava para caramba. E Levi... Levi não falava.

(E ele gostava disso, gostava da contraposição, do quadro estranho, mas ao mesmo tempo, agradável, que as personalidades deles pintavam).

(Ele só havia se esquecido disso).

Quarta feira-passada. Claro.

Eles haviam brigado feio. Levi estivera cansado física e mentalmente. Hange tivera quase uma semana de folga, uma cortesia do seu orientador do doutorado, porque ela estivera trabalhando “à beira de insanidade” (e à beira da infecção estomacal, também). Levi abrira a porta com um empurrão e a fechara com um chute, jogando os sapatos em qualquer lugar, e sem se importar em ligar as luzes. A sala estivera vazia e ele a encontrara no chão no quarto, roncando. O estresse o fizera passar despercebido, e ela soltara uma pequena exclamação. Mas Levi não estava acostumado a ouvir a sempre enérgica Hange reclamando – de absolutamente qualquer coisa – e a reação fora um pouco (muito) exagerada.

A briga saíra de escala, e Hange do quarto.

Eles não dividiram o sofá naquela noite.

Na quinta-feira, Levi encontrou-a dormindo apoiada na mesa da cozinha, uma montanha de cópias e anotações espalhadas ao redor e o notebook desligado por falta de bateria. Ele pensou em carrega-la até o sofá.

Não o fez.

A semana se passara assim. Levi imaginava que Hange ia para o sofá, em algum momento. Mas ela acordava muito mais cedo do que ele, e desparecia na biblioteca da faculdade dela (que ficava muito, muito longe), e quando Levi despertava, o sofá estava vazio e o chão, frio.

Ironicamente, também era o estado da geladeira deles. Porque eles faziam compras aos sábados, mas no sábado Hange enfiara-se em uma palestra e só voltara quando Levi já tinha terminado sua parte da pizza e desabado no sofá.

E ele sabia que relacionamentos eram assim – complicados e sinuosos. Cheios de altos e baixos. Haha. Altos. Baixos.

Principalmente quando se namorava alguém tão excêntrica quanto Hange Zoe, a mulher que ganhava milhões com pesquisas científicas e mesmo assim convidara Levi para morar com ela na modesta (previamente) muito desorganizada casa de um andar. A mulher que se vestia como uma universitária e corrigia provas com caneta verde-neon.

(Não que Levi não fosse excêntrico também. Ele era. Mas ninguém se comparava à Hange).

... em mais sentidos do que somente aquele.

Naquela quarta-feira, então, Levi sentou-se ao lado da Hange adormecida no chão. Recolheu o óculos dela e colocou encima da mesinha de centro. Sutilmente deslizou o livro para longe do rosto da namorada. Nada a acordou. Ele notou os círculos escuros abaixo dos olhos dela, e percebeu que ela provavelmente não tivera muitas noites de sono desde a última quarta-feira.

Foi apenas quando Levi tentou erguer o rosto dela para colocá-lo sobre uma almofada que Hange deu sinais de acordar. Ela balbuciou alguma coisa, e suas pálpebras tremeram. Levi a observou por um momento, constrangido sem realmente entender o porquê.

“Ei...” ela cumprimentou, uma voz que ainda pingava sono.

“Ei”.

“Fiz macarronada” murmurou “micro-ondas. Pimenta demais”.

“Pimen...” Levi começou a dizer, meio ofendido, mas então suspirou e balançou a cabeça “certo. Você quer comer agora?”.

Foi a vez de Hange menear a cabeça “sono”.

Antes que Levi pudesse fazer ou dizer alguma coisa, a jovem médica pousou a cabeça em seu colo, o rosto de olhos fechados virado para cima. Levi sentiu uma sensação formigante no rosto, e só então percebeu que já estava sorrindo “você quer alguma coisa então, quatro-olhos?”.

“Chá” respondeu “mas só quando eu acordar”.

“E você está dormindo?”.

Ela afirmou com a cabeça. Levi, não inteiramente incrédulo, levou uma das mãos até o cabelo dela e começou a brincar com os fios castanhos. Não era cinematográfico. O cabelo de Hange não era macio, e nem cheirava à morangos. Mas estava limpo, o que já era mais do que Levi esperava. E a textura, embora não saída de um livro de romance... era apenas parte do que Levi gostava nela.

“Eu vou fazer um chá quando você acordar, então”.

Hange sorriu, mas dessa vez ele honestamente não soube dizer se ela ainda estava acordada. Ele a observou por um longo momento, sentindo a calmaria assentar-se em seu peito, o sorriso dando lugar a um semblante menos extravagante, mas igualmente feliz.

Levi realmente não gostava de quartas-feiras.

Mas ele gostava de Hange.

Ele podia lidar com algumas “preguiçosas metades de semana” por ela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários são sempre apreciados.



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