Amos olhava para Valerie sem saber o que dizer. Ela parecia meio sem jeito mas ao mesmo tempo bem segura ao dizer que entre eles só poderia existir uma boa amizade.

Primeiro ele pensou no que poderia ter feito de errado e se o encontro tinha sido tão ruim assim mas parecendo saber exatamente o que passava na cabeça dele ela falou.

"O encontro foi ótimo, o beijo foi ótimo mas… bom… eu não gosto de você desse jeito. Sinto muito Amos. Não queria fazer você perder seu tempo."

"Não diga isso, não foi perda de tempo. Pra ser bem sincero eu me perguntei mesmo quanto tempo levaria para termos essa conversa depois que o Snape e a Evans terminassem."

Valerie não compreendeu de imediato o que Diggory falou, levou alguns minutos apenas olhando para o lufano antes de responder.

"O que você disse?"

"Eu já tinha percebido que você gosta do Snape, por isso só te chamei pra sair quando ele e a Evans começaram a namorar. Mas agora que eles terminaram…"

"Eles terminaram?"

Amos pensou consigo mesmo que ela só poderia estar de brincadeira, como ela poderia não saber dessa informação ela vivia colada no Snape. Mas quando viu o olhar perdido da sonserina e logo depois disso a expressão angustiada dela ele percebeu que ela estava mesmo falando a verdade.

"Você não sabia mesmo né?"

Valerie apenas balançou a cabeça em negativo, sem poder ainda falar uma palavra. Como ela não ficou sabendo do rompimento dos dois? Porque Severo não lhe contou nada? Ele deve estar sofrendo e com certeza precisando de uma amiga. Valerie decidiu verificar aquela informação.

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Severo encarava o teto de seu quarto enquanto tentava colocar seus pensamentos em ordem.

Depois do término de seu namoro ele ficou se sentindo pouco sozinho principalmente agora que Valerie vivia sendo cercada pelo Diggory. Não sabia o que tinha dado nele para azarar o lufano no outro dia, mas tinha que admitir que era difícil vê-la nos braços do texugo maldito. Sentia a necessidade de quebrar a cara idiota do lufano toda vez que o via babar encima de sua melhor amiga. Repetia para si mesmo que era apenas por achar Diggory um conquistador barato que estava agindo dessa forma. Era óbvio que ele tinha a obrigação de proteger sua amiga desses tipinhos.

Estava perdido em pensamentos por isso demorou a ouvir o barulho que vinha de sua mochila, era o pergaminho a qual ele usava para falar com Valerie, o que só poderia significar que ela estava tentando falar com ele.

— Sev?

— Oi Val.

— Te acordei?

— Não estava dormindo.

— Graças a Merlin. Mexendo nas minhas coisas vi nosso pergaminho e senti falta das nossas conversas.

— Também sinto. Estava até pensando em arranjar outra detenção pra gente.

— NÃO! Há maneiras melhores de passarmos um tempo juntos sabia? rsrsrs

Enquanto escrevia uma resposta ouviu uma batida na porta, mas decidiu ignorar, já fazia tanto tempo que não passava suas noites conversando com Valerie.

— Não me diga que você ainda está com a idéia do Natal na cabeça?

Severo ouviu novamente a batida só que dessa vez mais forte. Mas que inferno será que a pessoa não entendeu que ele não queria ser perturbado?

—  Acho que tem alguém batendo na sua porta. Não seria melhor atender logo?

Demorou apenas um segundo para Severo entender como ela sabia que havia alguém batendo na porta. Correu para abrir a porta antes que alguém a visse em pleno corredor da ala masculina. Tinha sentido falta dessas loucuras que ela fazia.

"Você é doida. Alguém viu você?"

"Fica tranquilo ninguém me viu, usei o feitiço de desilusão que você me ensinou."

Severo notou que ela trazia uma bolsa nas mãos e ficou curioso.

"Para que a bolsa?"

Valerie abriu um largo sorriso e retirou de dentro da bolsa uma garrafa de cerveja amanteigada. 

"Não poderia deixar você sofrer um término de namoro assim sozinho."

O moreno ficou mudo, ele não imaginava que ela já sabia.

"Quem te falou?"

"Não importa quem falou o importante era que você deveria ter me falado. Poxa Sev, achou mesmo que eu deixaria você passar por isso sozinho?"

"Muito bem. E como uma garrafa de cerveja amanteigada vai me ajudar a passar por isso?"

"A bebida é só uma parte do que vamos fazer hoje. Na realidade eu vim aqui paravque nós dois possamos reclamar, chorar, beber, jogar as coisas da sua ex em uma fogueira. Essas coisas que se faz quando se está com dor de cotovelo."

"Porquê eu faria uma coisa dessas?"

"Porque você deve expressar seu sofrimento e depois seguir em frente."

Severo viu a castanha responder como se fosse a coisa mais óbvia do mundo o que saía da sua boca e lembrou de como ela tinha esse dom de ver a vida de um jeito diferente.

"Muito bem. O que eu tenho que fazer?

Valerie se alegrou ao ver Severo entrar na brincadeira.

"Certo. Vamos beber e como você foi quem levou um pé na bunda pode escolher um jogo para nos divertirmos."

"Eu não levei um pé na bunda."

Severo respondeu mal humorado.

"Tô vendo que vai ser mais difícil do que pensei passar pela primeira fase, que é a aceitação."

Severo respirou fundo antes de continuar.

"Eu não conheço nenhum jogo."

"Vamos brincar de verdade ou desafio. O que acha?"

"Por mim tudo bem."

"Para que não seja contada nenhuma mentira vamos usar um baralho com cartas que estão encantadas e vai ficar vermelho se a resposta não for verdadeira. Cada cartão possui uma pergunta e um desafio quem pegar a carta pode escolher qual dos dois vai querer fazer."

"Entendi. Então vamos começar?"

Valerie apenas balançou a cabeça em afirmativo e viu quando Severo lançou o feitiço abafiato no local o que lhe deu a idéia de coloca uma música animada.

"Você começa Sev."

Severo retirou uma das cartas de cima do baralho e virou bem no meio dos dois.

Verdade -  O que você menos gosta na pessoa a sua frente.

Desafio - Cante uma música de ópera.

"Verdade. Ela vive atrasada. Até parece que vive com o relógio quebrado."

Valerie fez uma careta para Severo antes de continuar a brincadeira e retirar uma carta também.

Verdade - Qual foi o sonho mais estranho que você já teve?

Desafio - Coma um ovo crú.

"Eu escolho verdade. Uma vez eu sonhei que meu antigo professor de transfiguração estava dando aula só de cueca samba canção um enorme sombrero mexicano, ambos roxo com bolinhas amarelas. Passei semanas sem conseguir olhar pra ele."

Severo riu na cara de nojo que a amiga fez ao lembrar do sonho, e então pegou mais uma carta.

Verdade - Qual a parte do corpo de um(a) garoto(a) que você considera mais sexy.

Desafio - Sussurre ao pé do ouvido de maneira sexy o modo de preparo da poção Wiggenweld.

A primeira coisa que passou pela mente de Severo foram os seios mas era claro que ele não diria aquilo em voz alta para uma garota era de muito mau gosto. Pensou em mentir mais lembrou que o baralho era enfeitiçado não havia outra opção ele iria sussurrar a poção Wiggenweld para Valerie.

"Desafio."

Valerie não conseguiu segurar a risada quando ouviu a resposta do amigo e foi inevitável pensar qual seria a resposta para aquela pergunta.

Mas seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu a mão de Severo afastar de maneira delicada seus cabelos expondo sua orelha, de modo lento ela viu o moreno diminuir o espaço entre eles e aproximar a boca de sua orelha. Por um momento Valerie perdeu o fôlego ao sentir o sopro morno da respiração de Severo a pouquíssimos centímetros de si. Mas quando o voz grave e levemente rouca saiu dos lábios do rapaz o coração de Valerie parou uma batida. Nunca na vida o modo de preparo de uma poção foi tão malditamente excitante para o castanha. Ela poderia permanecer ali para sempre. Poderia se enganar e acreditar que Severo era somente dela. Snape parecia acariciar as palavras em vez de pronunciá-las, e isso a estava inebriando.

O sonserino nunca tinha feito nada parecido com aquilo antes mas estava gostando muito de ouvir os suspiros que saíam da boca dela. Era algo entre um soluço e um gemido que estava fazendo certa parte do seu corpo ganhar vida involuntáriamente, ele fechou os olhos e continuou a recitar a poção e não soube em que momento ele envolveu o rosto delicado com sua mão a puxando para mais perto e afundando o nariz nos cabelos perfumados. Mas quando parou viu que ela precisou piscar algumas vezes para se recuperar e isso fez algo bem primitivo encher seu peito.

A castanha estava adoravelmente corada notou o sonserino e pela primeira vez ele a viu sem palavras.  Valerie preferiu não falar sobre o que acorreu durante o desafio era mais do que óbvio que ela se deixou envolver pelo momento. Então preferiu ignorar o ocorrido, quem sabe ele não tinha notado sua clara excitação ao estar tão perto dele. Virando a próxima carta ela viu que agora sim, ela estava realmente perdida.

Verdade - Qual sua fantasia mais selvagem e com quem você a realizaria?

Desafio - Beije (na boca) a pessoa a sua frente.

Ela jamais revelaria a Severo suas fantasias, e com quem ela fantasiava. Principalmente porque era ele o objeto de tais desejos. 

"Desafio."

Valerie proferiu sua decisão meio sem jeito e então aproximou seus lábios dos de Severo. Por um momento ela somente registrou o sabor dos lábios do sonserino, ele tinha gosto de hortelã e ela sabia que para o resto de sua vida hortelã a faria se lembrar dele.

Severo sentiu os lábios macios nos seus e algo estalou em sua mente.

O beijo não durou mais do que alguns segundos. Apenas alguns segundos e conseguiu fazer o que todos os beijos que o sonserino deu em Lílian não conseguiram. 

Seu coração corria desenfreado dentro do peito. 

Ele conseguia ouvir as batidas frenéticas de seu coração. E uma sensação de euforia percorreu seu corpo fazendo seu sangue ferver.

Então naquele momento tudo fez sentido. 

O porque de não gostar nenhum pouco das investidas do Diggory em sua melhor amiga. 

O porque de achar tão errado estar com Lily. Finalmente soube rotular o que sentiu ao ver o beijo de Valerie com Diggory e o motivo de ter azarado o lufano. 

Entendeu porque estar sempre ansiando pela presença dela e porque todas as noites a castanha povoava seus sonhos.

Finalmente Severo soube. 

Soube que estava apaixonado por sua melhor amiga. Não soube quando começou mas sabia quando queria que terminasse. Nunca.