O Ex-Namorado Perfeito escrita por Mr D


Capítulo 5
O Sorvete


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo, espero que goste!
Boa leitura :)



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Como uma mulher consciente que sabe dos riscos de entrar no carro de qualquer estranho, Victória tinha uma curiosa mania de sempre que chamar um uber, em caso de motorista do sexo masculino, focar apenas na média e nos comentários sobre o motorista, muitas vezes quase não se dando ao trabalho de olhar o nome. Enquanto estava sentada no banco de trás do carro dirigido pelo “média 4.68”, Victória não conseguia parar de pensar em tudo o que tinha acontecido desde que levou um fora do Carlos.

Do lado de fora do carro, era um começo de tarde agradável em São Paulo, não estava chovendo, embora algumas nuvens cinzentas começassem a se formar no céu, e as ruas não trazia nenhuma agitação fora do habitual, diferente da parte de dentro do carro, onde Victória digitava impetuosamente em seu celular.

Não acredito que armou uma emboscada para mim.

Digitou para a Fernanda, mas apagou logo em seguida. Não queria parecer excessivamente dramática. Além do mais, ela havia a convidada para um jantar com um homem atraente, não para empurrá-la da beirada de um penhasco.

Eu não estava preparada! E agora, graças a você, fiz papel de maluca!

Digitou ainda mais agressiva, mas voltou a apagar ao perceber que não era exatamente verdade. Se tem algo que tanto a Fernanda quanto a própria Victória sabiam é que ela nunca está preparada. Nunca houve um momento sequer em que ao tocar um homem pela primeira vez, Victória estivesse preparada para assistir ao provável término do relacionamento que ainda nem tinham começado. Então, agir da forma que agiu àquele encontro, nada tinha a ver com o momento.

Com o traço vertical piscando na tela do celular, Victória pensou em algo genuíno para dizer à sua melhor amiga para não iniciar uma briga com falsos argumentos, afinal, estava verdadeiramente chateada, só não sabia exatamente com o quê.

Precisa me dar um tempo e respeitar o meu término, não faz ideia do quanto estou sofrendo por causa do Carlos.

Parecia correto. Tinha passado exatamente apenas vinte e quatro horas após levar um fora do seu mais recente ex-namorado, então era totalmente aceitável que sua melhor amiga respeitasse esse momento. Pouco antes de quase enviar a mensagem, Victória olhava fixamente para o trecho “respeitar o meu término”, quando sua mente foi invadida por uma recordação.

Há pouco mais de seis meses, Victória estava em um corredor de supermercado com o carrinho cheio de sacos de açúcar e caixas de leite condensado, ostentava um sorriso bobo que se esvaiu rapidamente ao ser surpreendida pela Fernanda surgindo de repente.

— Não encontrei daquele salgadinho que você gosta… O que houve?

Victória contou empolgada sobre como esbarrara com Carlos pouco tempo antes e logo a empolgação deu lugar a descontentamento ao citar a parte em que, antes mesmo que pudesse descobrir o nome dele, já havia assistido ao fora que levaria dali a algum tempo em uma tarde melancólica na sua cafeteria favorita.

— Ele parece um cara legal, mas não sei se estou pronta para passar de novo por isso.

— Ninguém nunca está. E daí que vocês vão terminar um dia? O importante é que vocês aproveitem ao máximo o tempo juntos – Fernanda segurou as mãos de sua amiga tentando confortá-la.

— Ele vai terminar comigo – corrigiu Victória.

— Isso é só um detalhe técnico. Eu sei que deve ser horrível ter a certeza de que algo em sua vida vai chegar ao fim e que isso pode dificultar as coisas na hora de planejar um futuro com alguém, mas devia realmente parar de se concentrar na volta para casa e aproveitar mais a viagem.

Enquanto assistia sua amiga absorvendo as palavras que acabara de dizer, Fernanda a agarrou pelo braço e a puxou pelo corredor.

— Agora vem, vamos comprar sorvete e curtir a fossa, afinal de contas, você acabou de levar um fora.

Desculpa, entrei em pânico. Conversamos mais tarde. Te amo.

E finalmente apertou enviar.

— Está tudo bem? - Perguntou o motorista do Uber ao perceber o desconforto de Victória no banco de trás.

— Já teve uma sequência consecutiva de situações embaraçosas em menos de vinte e quatro horas?

Evidentemente, o “média 4.68” não levou um fora já previsto do seu namorado, que levou a um jantar catastrófico, que levou a um trágico encontro com um novato no condomínio, que levou a uma péssima atitude no trabalho, que levou a um terrível segundo encontro com o novato em seu restaurante. Mas ele contou sobre o dia tão calamitoso quanto o dela, em que teve uma crise de gota, sua mulher fora demitida e seu filho mais velho bateu com o carro dele escapando para uma festa.

Durante o caminho de volta ao buffet, Victória aproveitou para deixar de lado um pouco os seus problemas pessoais e conversou com o “média 4.68” sobre como ele havia se tornado motorista e sobre como a economia atual havia contribuindo para que arrumasse um segundo emprego. Já no buffet, estava totalmente concentrada em todas as palavras ditas pelos seus clientes e também se reuniu novamente com Mariana, sua gerente, para resolver alguns dos problemas pendentes que lhe foram apresentados durante a manhã, quando estava com a cabeça nas nuvens. Uma nuvem, na verdade. Chamada Pedro.

As coisas estavam começando a se normalizarem na vida de Victória, que mesmo após passar a tarde toda trabalhando, quando a noite chegou, mandou todos embora e ficou em sua sala, aproveitando a tranquilidade do ambiente para escrever. Já não havia mais nada em sua mente a impedindo de fazer as coisas pelas quais era apaixonada. E foi o que fez horas adentro, digitando incansavelmente, colocando toda a sua paixão em páginas em branco, uma após a outra. Estava na parte do livro que descrevia sua experiência fora do Brasil, onde surgiu sua paixão pela confeitaria.

Foi apenas quando a tela de seu celular acendeu entre os papéis espalhados pela sua mesa que Victória percebeu que já estava ali há quase três horas digitando. Ao desbloquear o celular, viu duas mensagens de Fernanda.

Está em casa?

Acabei de passar no seu apê, cadê você?

Victória se levantou e só então percebeu que estava exausta, depois respondeu sua amiga avisando que estava a caminho de casa, se a viagem não fosse tão curta, teria dormido no banco de trás do Uber, dessa vez dirigido por Vanessa.

— Boa noite – a motorista falou ao deixar Victória na frente do prédio onde morava.

Aproveitando a pouca energia que tinha, Victória checava sua caixa de e-mails enquanto esperava pelo elevador, marcando alguns como importantes para responder assim que levantasse pela manhã, no estado que estava, era a única solução para evitar erros de digitação.

O elevador chegou e ela entrou ainda de olho na tela do celular, tão desligada do mundo real que nem percebeu alguém correndo desesperadamente até o elevador antes que as portas se fechassem.

— Segura para mim! - Gritou com o braço esticado.

Victória reconheceu rapidamente a voz grave de Pedro, mas instintivamente apertou o botão para que as portas se abrissem, permitindo que ele entrasse no elevador. Ela não conseguia parar de se perguntar quando aquelas terríveis coincidências acabariam de ocorrer.

— Posso pegar outro se quiser – Pedro falou, não sabendo exatamente como agir perto da mulher que sempre agia de forma estranha perto dele.

— Imagina. - Há poucos centímetros de distância dele, Victória se virou para encará-lo. - E desculpa por mais cedo, não é nada com você.

— Eu sei, sua amiga me contou.

— Deixa eu adivinhar… misofobia?– Fernanda era tão previsível, pensou.

— E não é isso?

— É bem mais complicado. Essa coisa do TOC é só uma piada interna.

— Não parece engraçada.

Pedro ainda agia com extrema incerteza perto de Victória, temendo falar qualquer coisa que a fizesse fugir dele pela terceira vez. O lado positivo é que estarem dentro de uma cabine metálica fechada presa por cabos dentro de um poço há vários metros do chão impossibilitava o fator fuga naquele exato momento.

— Acredite, não é nada engraçado.

— Então pode me dizer por que não pode apertar minha mão?

O elevador parou no andar de Victória e as portas se abriram. Ela deu um passo e ficou entre o corredor e o elevador, para que as portas não se fechassem.

— Boa noite – ela falou, estendendo a mão para ele num ato impensado de coragem.


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Notas finais do capítulo

Cliffhanger com um simples aperto de mão? A vida da Victória não é fácil mesmo xD
Até o próximo capítulo!



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