Nature Boy escrita por sabrinavilanova


Capítulo 1
Parte Um - Menino Da Natureza


Notas iniciais do capítulo

Hello, hello, minha gente!
Como foi avisado nas notas da história, esse conto foi escrito para o desafio do Inkspired e, aqui no Nyah, será dividido em dois capítulos, porque achei que ficaria muito grande para aqui.
De qualquer modo, desculpem-me qualquer erro de digitação.
E boa leitura!



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Se houvessem lhe contado, não acreditaria de jeito nenhum. Nunca antes havia visto tão bela criatura, caminhando entre as flores do jardim. Se houvessem lhe contado, pediria mil explicações minimamente plausíveis para que aquele ser estivesse em sua frente. Mas, por alguma razão, não duvidou que a criatura estivesse ali, não se questionou, nem havia passado por sua cabeça que poderia estar alucinando, pois percebeu que era ele, com o olhar em tamanha intensidade que lhe fez arfar antes que as lágrimas atordoadas banhassem a face empalidecida.

 

***

A colher fazia movimentos circulares dentro da xícara cheia de café. Mesmo que não houvesse o que ser misturado, o pobre talher era afogado nas águas negras pelo simples prazer de seu dono, um prazer estranho, porém necessário. O barulho feito pelas batidas na porcelana branca combinavam perfeitamente com o jazz suave que tocava naquele ambiente, tão baixo que mal podia ser escutado pelas pessoas fora dali, o trompete era acompanhado pelo som da respiração pesada do homem sentado na poltrona verde-musgo, que em nada combinava com o tom daquela sala. Naruto podia sentir, ele o olhava com determinado fascínio, não, fascínio não, surpresa, o que era algo bastante inesperado, já que quem deveria estar surpreso em toda aquela situação era o loiro com uma expressão desgostosa na face. Tentou levar a xícara aos lábios novamente, porém de nada adiantou, café puro não era algo que gostava muito, apesar de ter adquirido o hábito de bebê-lo assim há alguns anos, porque aquilo o lembrava dele.   

― Naruto… ― começou.

― Um segundo ― respondeu ele, levantando o dedo indicador. ― É falta de educação interromper uma pessoa quando ela está a beber seu café, Sasuke. Se é que posso te chamar assim ― Sasuke hesitou, porém nada mais disse, teria que respeitar o tempo do outro, querendo ou não.

Naruto se escondia naquela pose impenetrável, como quem não revelaria o que realmente passava pela mente. A verdade era que nem mesmo ele sabia, tudo estava tão… confuso, sentia que estava a ponto de enlouquecer pela bagunça que se apossava de sua mente pouco a pouco, queria chorar, mas não o faria, não de novo e não na frente de Sasuke. Estava perdido na neblina espessa e duvidava que conseguisse sair dali tão cedo. Bebeu mais um pouco do líquido escuro, mas dessa vez, mal sentiu o gosto ruim, até parecia que havia se acostumado, nunca se acostumou.

E sorriste porque tudo te é falso e inútil¹ ― murmurou, quando a cabeça começou a ser bombardeada por lembranças dos velhos tempos, dos tempos que considerava bons. ― Você recitou isso tantas vezes que pensei que acreditava, mas não achava que fosse nesse sentido. De pensar que, depois de tudo, era você o falso a quem a noite sorriria, não?

― Eu não…

― Corta essa, Sasuke ― falou o outro, dando uma pausa para analisar o que havia saído pela boca sem que notasse. ― Eu não preciso de suas explicações imbecis, bastardo. Você se deu o trabalho de vir até aqui pra nada, já pode ir se quiser.

― Naruto, só me deixa explicar, por favor.

― Droga, qual parte “ já pode ir” você não entendeu? Vai embora! Por favor, só vai embora! ― Um suspiro resignado deixou os lábios finos, continuava parado, apoiado na janela de vidro fechada, onde deslizavam, vagamente, as gotículas de água provenientes da chuva fraca que há pouco caíra por ali.

Doía-lhe o peito ver Naruto escondido naquela expressão indiferente, que deveria ser apenas dele. Sasuke sempre havia carregado aquela pose, ela não combinava com Naruto, nunca combinaria com Naruto. Deixou que seus ombros caíssem, tentando não encará-lo. Pela primeira vez em muitos anos, Sasuke não sabia o que fazer, não sabia se deveria realmente ir embora e não sabia em que aquela ação culminaria.

― Tudo bem ― respondeu, depois de alguns minutos. Olhou hesitante para o bloco de notas em cima da escrivaninha no canto direito e deu alguns passos, pegando-o e anotando algo em letras miúdas e bonitas. Destacou o papel, piscando várias vezes e o colocou no mesmo lugar. ― Eu tenho algumas coisas pra te falar. Sei que não quer me ouvir agora, mas, se mudar de ideia, me procure, por favor, não hesite em me procurar. Nós precisamos conversar, Naruto. E juro que, dessa vez, eu respondo todas as suas perguntas, todas mesmo.

Identificou o silêncio como uma concordância implícita, não podia fazer mais nada além daquilo, não iria forçar Naruto a falar, não era assim que fazia as coisas. Suspirou mais uma vez antes de se dirigir até a saída e abrir a porta sem muito impedimento, porém ouviu a voz baixa, um tanto calejada, chamar pelo nome o qual sua mãe havia lhe dado e parou, não olhando para trás.

― Seu nome… seu nome é Sasuke? ― Talvez aquela pergunta não fizesse sentido aos olhos dos desavisados, no entanto, quando o olhar escurecido cruzou com o céu azulado de seu eterno conhecido, seu coração passou a palpitar, porque sabia o que ela simbolizava e doía em seu peito de uma forma estranha.

― Não, Naruto, não é. ― E assim, deixou que o loiro derramasse as lágrimas sem culpa ao fechar a porta e abandoná-lo em sua dor mais uma vez.

 

***

 

“Vem, dolorosa,

Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,

Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,

Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes.

Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados” ²

 

Ele lembrava.

Lembrava de todas as vezes em que olhou para aquele mesmo céu em busca das preciosas estrelas que representavam a sua alegria. Havia começado a observá-lo desde muito novo, quando sua mãe morreu por causa um câncer agressivo, Minato havia lhe dito que, se olhasse para o céu, poderia vê-la entre os mais belos astros, que não passavam de pontos aos olhos humanos. Ela era bela como as estrelas, Naruto sabia, lembrava do rosto, do tom de pele e dos cabelos ruivos, que ficavam bagunçados quando estava brava. Lembrava da voz doce que chegava aos ouvidos em noites de tormento, cantando e contando histórias sobre anjos e reis de muito tempo, sobre os salvadores e os impiedosos, dos belos aos horrendos.

Mas deixou aquele hábito para trás quando chegou a adolescência, não mais se importava com as estrelas, nem com o céu ou as histórias contadas em sua infância. Tudo era passado, não adiantava fuçar aquelas coisas, já que só trariam mais dor ao coração que tentava se recuperar com o tempo. Porém, quando mais tempo vivia, mais percebia o quão irônica era a vida. Naruto, que fugia do céu como o diabo foge da cruz, acabou por encontrá-lo novamente, só que, daquela vez, no olhar escurecido de Sasuke.

Na escola, havia aprendido que o universo tinha uma infinidade de astros e galáxias, tão longínquas que nunca poderia vê-las na vida, talvez nenhum humano pudesse. Por isso, Naruto começou a odiar o infinito, passou a odiar os números, principalmente, o infinito que existia em pi, o céu já não olhava há algum tempo, mas começou a odiá-lo naquele ponto também. O que não entendia era que, por alguma razão desconhecida, não conseguia odiar o infinito existente no olhar de Sasuke.Talvez porque nunca conseguiria odiar parte alguma dele. Aquele Uchiha desgraçado era como um anjo aos seus olhos, um anjo ao qual teve o desprazer de amar.

Só que aquele Naruto havia ficado no passado, não fugia mais do céu, nem do infinito. Convenceu-se de que de nada adiantaria fugir de algo tão simples, já que sabia que o que era considerado infinito poderia, sim, acabar, assim como o tempo que haviam passado juntos. Entre um suspiro e outro, pegou o celular no bolso esquerdo da calça jeans que usava, precisava falar com alguém. Alguém que pudesse entendê-lo.

― Itachi… ― A voz saiu em um tom receoso, ponderava se fazer aquilo seria sensato, mas já era tarde para pensar sobre aquilo. ― Precisamos conversar.

 

***

Itachi estava sentado sobre o último degrau da escada em frente a sua casa, seu rosto era impassível, nem mesmo Shisui havia conseguido tirar uma palavra sequer da sua boca e ele sabia como o namorado poderia ser teimoso. Se Naruto queria conversar tão urgentemente, aquilo significava que Sasuke havia falado com ele ou, pelo menos, tentou. Naquele momento, deixou fluir os pensamentos sobre aquele assunto, o qual não tocava há bastante tempo, enquanto a fumaça deixava a boca.

As portas do inferno tinham sido abertas. A única coisa que poderia fazer era esperar, talvez os anjos descessem à terra para protegê-los, finalmente.

 

***

Não sabia quantas vezes havia olhado para aquele relógio de pulso, talvez a mesma quantidade de batidas que os pés deram no chão abaixo da cadeira. Não ficava daquela forma desde a faculdade, não desde o desaparecimento dele. As mãos se encontravam sobre as coxas cobertas por uma calça de linho, passou a dedilhar o tecido, sentindo a maciez, aquele seria o seu atalho para espantar o nervosismo. Os olhos azul-claros focalizaram na imagem da vitrine, um homem de cabelos longos e escuros olhava-o com um pouco de seriedade além do normal, ele já sabia do que se tratava. Por isso, levou o copo da bebida amarelada até a boca, tomando bons goles do líquido, tinha que pedir algo mais forte na próxima vez.

Escutou a cadeira a frente ser arrastada e fechou os olhos, terminando com toda a bebida. Sim, estava muito nervoso e sabia que Itachi havia percebido aquilo. Deixou o copo sobre a mesa de madeira, lambendo os lábios cheios de espuma. Olhou mais uma vez para o garçom, que assentiu como se já soubesse o que queria. O homem do outro lado soltou um suspiro audível quando reparou que Naruto mordia os lábios com força. Não gostava nada quando ele resolvia fazer aquilo, já havia presenciado cenas em que os lábios do loiro haviam sangrado tamanha força que era colocada ali.

― Olá, Naruto ― Itachi falou, com um falso sorriso.

― Não.

― Não o que?

― Você não pode sentar aqui com esse sorrisinho de merda no rosto e falar um simples “olá, Naruto” como se nada tivesse acontecido.

Mais um suspiro, ele não sabia como agir.

― Então, você já sabe. Ele te ligou, presumo. ― Olhou para o garçom que, naquele momento, colocava cerveja em um dos copos e assentiu, levantando dois dedos e pedindo o mesmo que o ex-namorado.

― Não.

― Como não? Se ele não te ligou, ele…

― Apareceu no meu jardim, pelado, com as asinhas abanando ― falou de uma vez. ― E o pior de tudo, ele apareceu literalmente com as asinhas abanando. Asas, Itachi, asas.

― Asas, Naruto, asas ― repetiu, entediado. ― Asas branquinhas que não sujam de jeito nenhum.

― Meus deuses, cara, o seu irmão tem asas e é isso que importa pra você?

― Sim.

― Itachi!

― O que foi? ― perguntou, inocente. ― Você queria que eu dissesse o que? “Nossa o Sasuke é a porra de um anjo, oh, que surpresa?” Corta essa, Naruto, eu amo meu irmão,  ele sendo humano ou não, o resto não é problema meu.

― Então, você sabia o tempo todo que era assim? ― Coçou a nuca, levemente. ― Você sabia e não me contou, mesmo quando… quando nós…

― Não, naquela época eu não fazia ideia. ― Respirou fundo, preparando-se para o que ia contar. Sabia que aquela hora chegaria, então por que se sentia tão inseguro? ― Eu soube há dois anos, ele veio até aqui e contou tudo, desde o que ele era até o motivo de ter sumido.

― Dois anos?

Itachi ficou calado diante da expressão surpresa de Naruto, talvez não tivesse tomado a melhor decisão ao esconder aquilo do loiro. Só que, naquele momento, não tinha por que esconder, não depois de tanto tempo.

― Nós não estávamos juntos nessa época? ― Anuiu em silêncio. ― Você escondeu isso de mim quando sabia que eu precisava saber? Itachi, você viu como eu fiquei, eu pensei que você tivesse o mínimo de consideração por mim.

Parou de falar ao ver o outro colocar um sorriso afetado no rosto quando viu o garçom colocar os dois copos sobre a mesa. O moreno agradeceu com um tom falsamente bem-humorado, enquanto a sua expressão facial só mudou de surpresa para decepcionada. Mentiras e mais mentiras, não podia acreditar.

― Ele me pediu ― começou. ― Sasuke. Ele me pediu pra não contar.

― Ah! E você como um bom irmão decidiu acatar a decisão do seu belo caçula, não é?

― Naruto, ele estava sendo perseguido. ― Olhou para o loiro, que exibia um sorriso descrente. ― Não me olhe assim, ele me pediu porque você era, bem, você. Iria tentar ir atrás ele.

― E você estava, o que, com ciúmes? Do Sasuke, é sério? Eu posso ser idiota, mas não trouxa, Itachi, não correria atrás do seu irmão só porque ele resolveu que era uma hora boa para voltar.

― Não, ciúmes não. Eu te amava e você sabe disso, nós terminamos porque eu te amava pra caralho, mas você não. Sou um bom perdedor, não te afastaria de alguém que você amava pra caralho por ciúmes, eu não sou assim, você deveria saber. ― Tomou um gole da bebida, deixando que o outro pensasse um pouco sobre aquelas palavras. ― Não te contei porque te conheço, entrar nas confusões do Sasuke seria insano e eu, nós, sabíamos que você poderia tentar fazer isso. Mas esse troço envolvia anjos, Naru, anjos. Sabe, do tipo que queimam a retina só de olhar. Eles estavam o perseguindo e o pior é que parecia que o inferno inteiro também.

― E você simplesmente acreditou nisso tudo? Assim fácil? Ele só te contou e puff você acreditou em tudo? Ele sumiu por cinco anos, Itachi, cinco funcking anos. Aí, seu irmão aparece, conta mil baboseiras e você acredita?

― Fica meio difícil não acreditar nisso quando ele tem duas asas enormes saindo das costas.  

Aquele foi a vez de Naruto ficar calado, mordeu o lábio de novo, mas dessa vez com menos força. Aquela história parecia-lhe muito confusa, talvez Itachi estivesse de complô com Sasuke para aquilo tudo. Entretanto, se pensasse melhor, veria que Itachi não teria por que fazer aquilo, só não queria acreditar que tudo era real.

― O que vai fazer? ― Itachi perguntou ao vê-lo levantar.

― Não sei.

― Você devia procurá-lo.

― Eu não…

― Naruto, dê uma chance.

― Merda, meu ex me fala pra procurar meu outro ex maníaco que foi embora há cinco anos. É, essa semana não é das melhores.

Itachi sorriu.

― Você supera.

― Espero mesmo.

― Você vai?

― Quem sabe?

― Naruto, você vai? ― repetiu, vendo o loiro revirar os olhos.

― Vou, só porque você é um chato.

Trocaram sorrisos complacentes e apertaram as mãos. Não perceberam quando óculos escuros foram abaixados e íris verde-mar perseguiram-os até a saída.  


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Notas finais do capítulo

[1] [2] Trechos do poema "Ode a Noite" de Alvaro Campos.


E aí, mozanjos? Que acharam?
Acham que Naruto está exagerando? Ou concordam com ele em relação ao nosso menino Sasukecu?

Bem, obrigada pela leitura e até o próximo capítulo.



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