Oh deus!

Oh deus!

Não posso acreditar. Megan... isso é sério? Como você conseguiu? Quer dizer... é impossível você ter deixado essa carta lá o tempo todo, certo?

Tá, calma. Eu sei que provavelmente é só alguém que fez uma brincadeira de mau-gosto. Aposto que foi Jeffrey, é bem a cara dele.

Mas ainda assim, uma parte de mim quer acreditar que é você.

Eu voltei pra casa. Depois que encontrei o bilhete, decidi voltar pro Bug e ele roncou por todo o caminho até chegar no conjunto. Subi as escadas correndo e bati a porta de tanta curiosidade. Eu sentei na sua poltrona para ler, espero que não se importe. Ela sempre foi a mais confortável, você sabe disso. Acho que é por isso inclusive que você nunca me deixava sentar sobre ela, mas toda vez que eu sentava em seu colo para te beijar e recostava no braço da poltrona, conseguia sentir o quão macia era.

Você é uma vadia, você sabe, né? Sempre achou que eu nunca fosse descobrir sobre essa poltrona. Bem... eu sempre soube. Acho que isso também é um pouco vadia de minha parte. Acho que estamos quites, certo?

Ok, o bilhete, eu sei. Eu... ainda não quero falar disso, ok? Ainda estou tentando entender.

Então ao invés disso eu vou tentar raciocinar lembrando das coisas. É engraçado, agora que eu deliberadamente quero lembrar das coisas, nada vem à cabeça.

Você tinha uma mente melhor pras coisas. Sempre lembrava dos detalhes, das matérias, de nomes. Eu precisava anotar tudo. Eu ainda preciso. Por isso tô gravando esse podcast. Você tinha uma mente ótima, nunca esqueceu uma data especial nossa. Nosso aniversário de namoro, o dia em que decidiu se mudar para meu apartamento, o dia em que conheceu meus pais. O dia em que nos conhecemos, quando você começou a trabalhar na edição.

Esse é especial. Esse eu nunca vou esquecer. Você estava lá, toda debochada conversando com a Tish, acho que você tava interessada nela na época, mas ela já namorava naquela época e, bem, ela não joga pro nosso time. Mas você estava lá, flertava naturalmente, com um sorriso que a gente via de longe ser sincero, e os cabelos todos bagunçados de propósito. Era sua marca, você dizia.

E então você olhou para mim. Desviei o olhar com vergonha, ninguém gosta de ser o novato sendo encarado. Quer dizer, ninguém além de você. Foi só depois do almoço que nós finalmente começamos a conversar e foi naquela hora que eu decidi que você seria minha. Você tinha os mesmos gostos que eu e, mesmo sendo um ano mais nova, já tinha vivido bem mais que eu também.

Uau... fazia tempo que eu não pensava nisso... Mas acho que faz sentido. Faz sete anos que isso aconteceu, Megan. Faz sete anos exatamente hoje. Por isso eu ainda não consigo acreditar nessa carta. Quando você a escreveu? Quando a deixou no museu? Como você sabia que eu ia buscar?

Merda... Eu sei que só vou saber a resposta quando te encontrar.

Mas eu preciso confessar, Megan. Eu já não tenho certeza se eu quero te encontrar agora. Não depois de tudo isso. Não depois dessa carta. Não depois de saber que você esteve aqui o tempo todo.

Talvez eu só esteja continuando nessa jornada porque eu realmente te amo, talvez eu só queira que isso tenha um fim. Sei que já falei isso antes, eu me repito as vezes, você sabe.

Eu tô com medo, Megan.

Mas sei que o medo não vai resolver nada.

Não adianta eu ficar aqui parada esperando alguma coisa acontecer, eu preciso seguir em frente, preciso cumprir o que te prometi. Eu prometi que ia te encontrar, Megan. Aqui estou eu, tentando te encontrar, seguindo qualquer coisa que meu coração diga quando você sabe muito bem que eu nunca sigo a droga desse meu coração.

Acho que é isso que você quer, afinal de contas, não é? Fazer eu enxergar o mundo com seus olhos loucos e livres, me jogar, me permitir sentir essas coisas, certo? Tudo bem, eu sou uma pessoa melhor sempre que faço isso. Acho que é por isso que eu te amo. Bom, não só por isso, é claro, mas é um dos motivos.

Tá bem, acho que está na hora de eu tornar isso real. Vou ler essa maldita carta e... você fica sabendo o que acontece depois, prometo.

“Ei nerd!

Você finalmente decidiu vir atrás de mim. Ok, ok, eu entendo, desaparecer do nada não é exatamente a melhor declaração de amor, mas fala sério, garota! Um ano? Eu só queria dizer que eu tô bem. Sinto saudades sua, mas ainda não posso voltar. Ainda tenho coisas a fazer e talvez quando você me encontrar você vai conseguir entender. Não posso explicar isso numa carta. Afinal, se eu pudesse eu não ia falar esse monte de merda, né?

Enfim, eu quero que você saiba que não deixo de pensar nessa sua cabeça oca nem por um minuto, os seus olhos aparecem nos meus sonhos toda vez que eu consigo dormir e, pra ser bem sincera, eu sempre tento não acordar esperando que o resto do seu corpo também apareça em cima do meu.

Só não desiste de me buscar, tá? Uma hora você me acha. Mal posso esperar por esse dia. Eu sei que ele vai acontecer, só preciso esperar pra saber quando.

E, ei. Eu sei que você tá puta comigo... Não é nenhuma novidade, mas se você achou esse bilhete é porque ainda me ama, e eu também te amo. Hoje é dia 30/09. Hoje faz sete anos que eu vi você pela primeira vez. E eu estou pensando em você.

Você também vai entender como eu sei o dia em que você achou essa carta, mas isso vai ter que esperar. Eu esperei. Um ano, mas esperei. Acho que essa espera valeu a pena porque, afinal, agora você está me vendo.

Bom... Não desiste de mim, sinto falta dos seus olhos, Clara.

M."