Agnes entrou na cozinha e encontrou o namorado debruçado sobre a mesa, enquanto os irmãos dela riam dele.

—Acordou cedo, amor. – O cutucou de leve e ele acordou.

—Estou acordado desde às 5 horas. – Resmungou coçando os olhos.

—Perdeu o sono?

—Não. Seu pai disse que vocês acordam nesse horário para cuidar dos animais e tirar leite das vacas. - As crianças riram dele.

—Nós não temos vacas. – Henry zombou.

—Agora eu sei disse. - Revirou os olhos. - Seu pai disse: Combo, nessa casa todos têm tarefas e a sua será tirar o leite das vacas amanhã bem cedo. Fiquei meia hora procurando pelas benditas vacas até me dar conta de que ele só estava tirando onda com a minha cara.

—Oh, querido. Sinto muito por isso, papai é bem piadista. Vamos fazer o seguinte, confirme a informação comigo ou com a mamãe antes de seguir o que o meu pai fala.

—Pode ter a certeza de que serei mais esperto agora.

—Vem cá, você merece um beijo. - O chamou e John ergueu as mãos.

—Nada de beijo. São ordens do papai. – Avisou e ela encarou o irmão.

—O quê? Só podem estar de brincadeira.

—Não. Ele disse: sua irmã e o Combo não vão se beijar. Fiquem de olho neles.

—Que absurdo isso. E depois ele critica os seus pais por serem tão retrógrados.

—Tudo bem, amor. É a casa dele e temos que respeitar as regras. Já sou muito grato por tudo o que eles têm feito por mim. Seus pais são incríveis. E é dessa forma que quero criar os nossos filhos. – Levantou e a abraçou depositando um beijo na testa dela. Como ninguém protestou, ele entendeu que ali estava liberado.

—Você vai ter um bebê, Agnes? - Hayley perguntou e começou a cantarolar: Agnes vai ter um bebê… Agnes vai ter um bebê.

—Hayley, fica quieta. - Pediu fazendo sinal de silêncio. - Não vou ter um bebê. Connor está falando que no futuro, daqui vários anos, vamos ter um ou dois filhos e criá-los como papai e mamãe tem nos criados, é só isso. - Explicou e Hayley fez uma cara de decepção.

—Então ninguém vai ter um bebê?

—Talvez a mamãe tenha um. - Ela ainda não estava 100% convicta de que a mãe não estava grávida.

—A mamãe está grávida? - Tyler perguntou e Edward entrou na cozinha.

—O quê? Como assim ela está grávida? - Apoiou na parede com uma mão e a outra colocou em cima do coração.

—Quer que eu explique de onde vem os bebês? - Agnes perguntou rindo.

—Vou ignorar a gracinha só porque estou tendo um ataque do coração, agora.

—Sr. Cullen, o que está sentindo? - Connor correu até ele e o ajudou a sentar.

—Estou morrendo. - Declarou fechando os olhos.

—O que está acontecendo? - Bella perguntou ao ver a confusão que estava na cozinha.

—Papai está morrendo. - Hayley explicou chorando.

—Acho que foi só uma queda de pressão.

—E você já é médico por acaso? - Edward desvencilhou do genro e abraçou a esposa. - Por que não me contou que está grávida?

—Deve ser porque eu não estou. De onde tirou essa ideia? - Agnes olhou para o chão, evitando contato com a mãe. - Já que estão todos aqui, gostaria de anunciar que NÃO estou grávida. Agora você pode me soltar e parar com esse drama.

—Se estiver com medo de me contar, não precisa ter. Tudo vai ser diferente dessa vez, eu juro. Vou te apoiar e fazer o que você quiser. Vamos fazer o acompanhamento médico e seguir à risca todas as instruções. Sem estresse a partir de agora. Você vai subir e ficar quietinha na cama. Eu farei tudo para você, não quero que se preocupe com nada.

—Amor da minha vida. - Bella segurou o rosto do marido. - Eu juro que não estou grávida. Se estivesse você seria o primeiro a saber. - Garantiu e ele respirou aliviado.

—Você fez o teste?

—Não e não vou fazer.

—E como sabe que não está?

—Bem. Eu tomo todas as precauções para não ficar.

—Já vi vários casos de métodos que falharam. - Connor interferiu na conversa.

—Viu? O Combo é médico, sabe do que está falando. Vamos fazer um teste.

—Não preciso de teste nenhum. - Bella tinha toda a certeza de que não estava grávida, mas cogitava fazer o teste só para Edward deixar de lado aquela história.

—Se ela estiver em breve saberemos, com teste ou não.

—Agnes! - Bella a repreendeu.

—Só estou dizendo o óbvio. - Desculpou erguendo as mãos.

—Não entendi nada. - John cochichou cutucando Henry.

—Agnes e papai estão dizendo que a mamãe vai ter outro bebê, mas ela disse que não. – Henry explicou e voltou a comer os cereais.

—Vamos esquecer essa história de bebês e fazer a distribuição da mesada. – Bella anunciou indo até o quadro de atividades. – Agnes cumpriu todas as tarefas.

—Sim, mas vai perder 20% do valor. – Edward anunciou contando o dinheiro.

—Por quê?

—Ora filha, você sabe muito bem o motivo. Ou prefere que conte para todo mundo aqui o que você e o Combo estavam fazendo?

—Aceito minha punição. – Resolveu não retrucar ou acabaria perdendo ainda mais.

—Alguma punição para o Tyler? – Bella perguntou em tom irônico. Edward não havia contado o que aconteceu no dormitório da filha e ela não gostava de ficar sem saber o que acontecia com os filhos.

—Nenhuma. – Respondeu e entregou o valor integral para o filho.

—Obrigado pai.

—Menos 10% para o Henry por não ter arrumado o quarto todos os dias da semana.

—Isso é injusto, mãe. Tenho muitas atividades da aula avançada de matemática e fico sem tempo para ajudar em casa.

—Vamos avaliar a sua reclamação. – Edward avisou e o filho agradeceu.

—Eu fiz tudo direitinho e não briguei com a Lulu. – Hayley avisou e foi parabenizada pelos pais.

—Arrasou, querida. – Edward entregou o dinheiro para ela.

—John também ganhou 100% - Bella avisou colocando uma estrelinha para o filho. – Agora vamos a Lucy.  – A pequena sempre perdia pontos por brigar com a irmã e deixar os animais ficarem na cama dela.

—A Chinchin tava com medo. – Justificou fazendo bico.

—Sinto muito filha, você conhece as regras. – Edward agachou ao lado dela. – Nada de animais na sua cama. Enche de pelo e depois você fica espirrando. – Ela espirrou e ele a ajudou a retirar a chinchila de dentro da blusa dela.

—Ela entrou sozinha. – Ergueu as mãos em sinal de inocência.

—Vai ganhar só metade da mesada. – Avisou dando um beijo na testa dela. Apesar de ela só ter dois anos, eles queriam que ela entendesse as regras e as cumprisse. – Agora o Combo.

—Eu? Não precisa, senhor Cullen.

—Você faz parte da família e tem suas próprias tarefas. – Bella apontou no quadro. – E se as cumprir terá uma recompensa. A cada tarefa ou regra não cumprida você perde uma porcentagem da mesada. – Explicou e ele assentiu. Estava sendo tratado como parte da família e era muito agradecido por isso. – Como você não tirou o leite da vaca vai perder 50% da mesada.

—Mas vocês não têm vaca nenhuma.

—Eu não disse que tínhamos vacas, falei para tirar o leite da vaca. Presta atenção garoto. – Entregou o dinheiro para ele.

—Connor. – Bella sentou ao lado do genro. – Você é muito bem-vindo aqui, mas se quiser pode ficar no meu antigo apartamento, é mais perto da universidade. Tem muito tempo que ele está fechado e deve ter algumas bagunças por lá. Nada que uma boa limpeza não resolva.

—Vai ter que chamar um dedetizador. – Edward avisou.

—Não é para tanto. – Bella reclamou o cutucando.

—Não? Só estive lá uma vez e quase fui atacado por ratazanas e baratas. Aquele lugar é uma bagunça gigante.

—Você é um chato. – O empurrou de lado.

—Posso pedir uma coisa? – Tyler perguntou hesitante. Ele queria visitar o pai biológico, mas não queria que os pais ficassem bravos.

—É claro que pode. – Edward puxou uma cadeira para sentar ao lado dos filhos.

—A Agnes pode me levar para visitar o Nate? – A pergunta dele saiu baixa e eles quase não ouviram.

—O seu pai? – Edward gaguejou.

—Você é o meu pai. – Segurou a mão dele. – Eu só quero conversar um pouco com ele. Não quero que vocês fiquem decepcionados comigo.

—Tyler, você, John e Lucy tem família biológica e talvez a Agnes tenha alguns parentes distantes também. Nós sempre soubemos disso e que um dia poderiam querer entrar em contato com eles. Vocês quatro são adotados, tem uma origem diferente e nós não falamos sobre isso, pois para nós, não há nenhuma diferença entre vocês seis. Todos são nossos filhos, independente de terem ou não o mesmo sangue. Nós amamos vocês de todo o nosso coração.

—É por isso que eu não queria ir papai. Vocês me acolheram e não acho justo trair vocês assim. Mas ao mesmo tempo eu quero muito falar com ele. Saber porquê ele fez isso. Eu não sei bem. Preciso de respostas.

—Então vá atrás de suas respostas. – Bella colocou as mãos no ombro dele. – Você não está nos traindo. Já tem idade o suficiente para tomar suas decisões, sabemos que é maduro e que vai nos consultar antes.

—Não estão bravos comigo?

—De forma alguma. Só temos medo de te perder. – Edward confessou. Eles amavam os filhos e tinham medo de um dia irem embora atrás da família biológica deles.

—Vocês nunca vão me perder. Mesmo que eu perdoe o Nate, eu jamais deixaria vocês. São a melhor família desse mundo e não saio daqui nem que me expulsem.

—Não vamos deixar você ir embora, Ty. – Hayley avisou e ele abraçou a irmã.

—Tenho os melhores amigos/irmãos do mundo. Vocês são incríveis.

—Podemos levar você. – Bella avisou. – Vou mostrar ao Connor o apartamento.

—Não precisa mãe. A Agnes me leva.

—Vou cuidar dele. – Ela garantiu. – Só preciso pegar o Fish II.

—Confiamos em vocês. Nos encontramos na casa dos meus pais? – Edward começou a arrumar a mesa.

—É claro. Temos mata insetos? – Bella começou a vasculhar o armário. O apartamento dela era uma bagunça e sem dúvidas haveria muitos insetos por lá.

Charlie transferiu o apartamento para o nome dela como havia prometido e Bella pensou em vende-lo, mas decidiu deixá-lo fechado para o caso de um dos filhos precisar usá-lo. A casa deles era afastada do centro e o apartamento ficava bem próximo da universidade, o que seria de grande ajuda para Connor. As aulas dele começavam bem cedo e quase sempre ele saia já a noite de lá.

[...]

—Vai mesmo entrar com ele assim? – Tyler perguntou ao ver a irmã acomodar Fish II no ombro dela.

—É só por garantia. Se ele agir como uma babaca, solto o Fish para cima dele. Se ele for gentil, ficaremos quietos. Quer que eu entre?

—Por favor. – Ele não sabia como agir e queria o apoio da irmã. Os dois caminharam até a porta e Nate a abriu antes que eles batessem.

—Meu garoto. – Puxou o filho para um abraço. – Como senti a sua falta. – Tyler afastou dele um pouco.

—Oi. Lembra da minha irmã? – Agnes o cumprimentou com um aceno de cabeça.

—A garota que é filha do casal que te adotou. Isso é um lagarto? – Apontou para Fish que tentava escalar a cabeça da dona.

—Fish é uma iguana. Todos nós temos um animal de estimação. E Agnes é minha irmã. – Enfatizou a última palavra.

—É bom que vocês se deem bem. Sua mãe e eu sempre quisemos te dar um irmãozinho. Vamos entrar. – Ele retirou alguns objetos de cima do sofá para que eles pudessem sentar. – Desculpa a bagunça, meu colega de quarto não é muito organizado. Querem uma cerveja? – Perguntou rindo.

—Somos menores de idade. – Agnes forçou um sorriso e colocou Fish no colo.

—Só estava brincando garota. Tenho refrigerante.

—Estamos bem, obrigado. – Tyler olhou em volta e viu várias garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. Sentiu um cheiro estranho e Nate abriu a janela.

—Meu amigo fumou um pouco ontem.

—Maconha? – Agnes arriscou.

—Conhece?

—Nunca experimentei, se é isso que está perguntando. – Cruzou os braços o encarando.

—Se quiser posso te arranjar um pouco.

—Achei que tivesse parado com as drogas. Não foi assim que te prenderam? – Tyler o acusou.

—Naquela época mexia com outras coisas. Aquilo já era. Estou limpo agora. Mas não vamos falar de mim. Quero saber como você está. Quando tem jogo?

—Na quarta. Meu time está na semifinal.

—Uau! E você joga bem mesmo?

—Acho que sim. Um olheiro da Universidade da Califórnia viu um jogo meu e quer que eu jogue lá.

—Você recebeu uma oferta da UCLA Bruins? Você é o cara mesmo. Eles são os melhores.

—Sim. Estamos considerando. Meu pai falou para irmos com calma e que vão aparecer várias ofertas.

—Seu pai? – Nate cerrou os punhos irritado. – Eu sou o seu pai. – Bateu no peito. – Se não fosse por mim você não estaria aqui.

—Não. Se não fosse por você eu não teria sido gerado. Mas só estou aqui porque o meu pai me achou e cuidou de mim.

—Bobagem. – Balançou a mão o ignorando. – Vamos falar dessa proposta que recebeu. Eles ofereceram algum valor? Pesquisei o salário dos jogadores e vai dar para nos mantermos sem o menor problema. Vamos comprar uma mansão, comprar um Lamborghini ou dois. Vamos viver sendo servidos e ninguém vai se meter conosco. Quero ver esses ricaços nos menosprezar. Vamos ser iguais a eles. – Tyler levantou e respirou fundo.

—Eu vim para te conhecer melhor, mas tudo o que você fez foi ser um babaca.

—Olha como fala comigo, sou o seu pai. – Apontou o dedo para ele.

—Não. O nome do meu pai é Edward Cullen. Ele sim se importa comigo. Tudo o que você quer é o dinheiro que eu posso ou não ganhar um dia. Você não se importa comigo. Não quero ver você nunca mais. E por favor, não me procure. Vem Agnes. – Saiu batendo a porta com você.

—O Tyler é incrível. Um garoto doce e gentil. Eu amo demais o meu irmão e se você se aproximar dele, acabo com você. – Fish colocou a língua para fora e ele encolheu um pouco. – Você é mais do que um babaca. Passar bem. – Saiu correndo atrás do irmão. – Tudo bem?

—Eu queria conhecê-lo e o conheci. – Ele secou uma lágrima.

—Eu vou voltar lá e acabar com esse cara por fazer você chorar.

—Não, Agnes. – A abraçou. – Obrigado por ter ficado ao meu lado. Você é a melhor irmã do mundo inteiro.

—Não quero ver você chorando.

—Já parei. – Garantiu afastando para que ela visse. – Por que eu choraria quando tenho uma família que me ama?

—Não há porque chorar, meu irmão. E eu te amo. – Deu um beijo da bochecha dele.

—Está encolhendo, hein? – Ela estava na ponta dos pés.

—Você que está virando um Avatar. Agora segura a minha iguana e vamos embora. Henry mandou mensagem e vovó fez torta de maçã.

—Amo a torta da vovó. – Pegou Fish no colo. – E amo você, baixinha.

[...]

—Podemos manter isso em segredo? – Bella perguntou dando a partida no carro.

—Não vou dizer uma palavra. – Connor garantiu ainda pálido. – Achei que o Sr. Cullen estivesse brincando quando falou sobre as ratazanas e baratas.

—Tem muito tempo que o apartamento está fechado, essas coisas acontecem. – Tentou justificar e ele deu um sorriso fraco. 

—É claro. Os dedetizadores vão cobrar uma fortuna. Posso arranjar um vaga no dormitório.

—Ah não. Eles vão dar um jeito no lugar e você poderá ficar tranquilo. Estará seguro.

—Obrigado, Bella. Você é muito gentil. Não sabia que você tinha gatos.

—Eu nunca tive gatos. – Ela o olhou sem entender do que ele estava falando.

—Não? Eu vi os restos mortais de uns.

—Aquilo não eram gatos. Eram ratazanas. – Ele estremeceu.

—Vou ter pesadelos. – Balançou a cabeça tentando afastar as imagens. Os dois ficaram menos de um minuto dentro do apartamento, mas foi o suficiente para verem que o lugar precisava de uma boa faxina.

—Não seja fraco, Combo.

—Até você? – Perguntou rindo. – Ele nunca vai falar o meu nome certo?

—Possivelmente não, mas não se preocupe, Edward gosta de você. Se não gostasse já teria te colocado para correr.

—Vocês são incríveis e estou muito feliz por fazer parte da família. Vou tornar aquele apartamento um lugar habitável. Só não sei como conseguiu morar lá por tanto tempo.

—Na época ele não era tão bagunçado assim. E o Fish comia algumas baratas. Que o Edward nunca escute isso ou vai ficar se achando. A verdade é que a proposta dele foi a melhor coisa que me aconteceu e é por isso que quero organizar o melhor casamento desse mundo.

—Então é essa a surpresa que está preparando? Ele acha que vai ser um casamento pequeno.

—Vamos deixa-lo achando que será assim. Vai ser uma surpresa e tanto. Melhor renovação de votos de todos os tempos. Espero que mantenha o bico fechado.

—Pode deixar. Não vou estragar a surpresa. – Garantiu e começou a planejar a limpeza do novo apartamento.