—Adivinhem que dia é hoje? - Edward perguntou assim que os filhos entraram na cozinha.

—Sexta? - Henry questionou confuso.

—Também. Mas hoje é dia de panquecas personalizadas. Escolham como querem as suas.

—Faz a minha de peixinho? - Hayley pediu animada, eles amavam quando o pai cozinhava.

—A minha vai ser rosa. - Lucy ficou de pé na mesa e Bella teve que fazer com que ela sentasse de volta.

—Eu quero a minha de um robô. - John sorriu para o pai.

—Certo. Já está saindo. - Bateu continência. - Agnes, cadê o sujeito?

—Connor saiu bem cedo. - Deu um beijo no rosto dele. - Pode fazer a minha com o desenho de um sol e morangos em volta? - Pediu manhosa.  

—Só porque você se comportou e não tivemos que colocar o sujeito para dormir no estábulo. - Apontou para ela.

—Quero a minha com bastante chocolate. – Henry interrompeu o que seria o início de mais um discurso da irmã.

—Só falta você Tyler. - Olhou para trás e viu que o filho se mantinha em silêncio.

—Não estou fome. Só vou tomar um café.

—Não tem treino hoje? - Bella depositou um beijo na testa dele e aproveitou para ver se ele não estava com febre.

—Tenho sim, mas não estou com fome. Como algo depois. Agnes pode me dar uma carona? Tenho que chegar mais cedo.

—Tudo bem, mas posso comer minha panqueca primeiro? - Ela não queria perder a oportunidade. A comida da universidade não chegava aos pés da do pai.

—É claro. Vou te esperar lá fora, então. - Ele não queria voltar a conversa da noite anterior.

—Aqui, cara. - Henry estendeu uma maçã para ele.

—Isso vai é me dar fome. - Sorriu para o irmão, mas agradeceu pelo irmão se preocupar com ele.

—Vou preparar um sanduíche e você come no carro, tudo bem? - Ele assentiu para a mãe e voltou a sentar, mas se manteve calado. Falar sobre o pai biológico era a última coisa que ele queria.

[...]

—Uma hora vai ter que falar sobre isso. - Agnes o olhou de lado e Tyler bufou.

—Eu já disse que estou bem. Não sei porque ficam insistindo em falar sobre algo que não quero e nem preciso falar.

—Você é meu irmão e eu te conheço muito bem. Sei que está com raiva e você tem todo o direito de estar. Poxa, o cara é seu pai biológico, mas ele te abandonou, escolheu uma vida que sabia muito bem que o levaria para trás das grades ou para o cemitério. Ele não pode simplesmente chegar e achar que você vai o perdoar tão facilmente assim.

—Sei que tem boas intenções, mas eu não quero ouvir um de seus discursos.

—Problema é seu, vai me ouvir sim. - Parou no sinal vermelho e mostrou a língua para ele. - Você tem direito e deve ficar bravo. Se quiser brigar, brigue, se quiser gritar, grite, mas não nos afaste e nem sofra sozinho. Isso só vai fazer te fazer mal, guardar rancor é prejudicial a saúde. Alerta de uma futura médica.

—Então devo simplesmente perdoá-lo e esquecer tudo?

—Não.  Deve fazer o que estiver no seu coração. Se quiser conversar com ele, posso te levar até onde ele estiver. Prometo ficar ao seu lado, te apoiar e ajudar a quebrar a cara dele se for preciso.

—Vai com calma aí, baixinha. - Tyler riu.

—Acha que é o único que pode defender alguém dessa família? Connor me contou o que conversaram e saiba que faria o mesmo por você. Não vou deixar ninguém ferir o meu irmãozinho.

—Você é uma boa irmã, Agnes. - Colocou a mão no ombro dela.

—Sabe, desde o primeiro momento que te vi, já gostei de você e prometi que ajudaria a te proteger.

—Você não tem que fazer isso.

—Tenho sim. Somos irmãos e é isso que irmãos fazem. Qualquer um de nós faria o mesmo pelo outro.

—Eu sei, disso. A Lulu parecia bem furiosa ontem. - Os dois riram.

—Ainda bem que o papai não a deixou pegar aquela cobra.  

—Até o John ficou bravo. - Suspirou e encarou a irmã. - Eu amo vocês e não quero ter outra família, sinto que se for atrás dele estaria traindo e sendo ingrato a tudo o que o papai e a mamãe têm feito por mim.

—Se meus pais biológicos estivessem vivos, eu gostaria de falar com eles. Nem que seja para gritar com eles e dizer tudo o que sinto. Você precisa disso para encerrar esse assunto e seguir em frente.

—E se o papai e a mamãe ficarem chateados?

—Eles não vão. Se você quiser ir embora…

—Eu não quero. Nunca e jamais. -  Garantiu com convicção. - Vocês são a minha família e onde mais teria tantas emoções assim?

—A vida em qualquer outra família seria bem sem graça. Nós somos os melhores.

—Somos mesmo. – Os dois deram um toquinho rápido com os punhos.

—Bem, não acho que ficarão chateados. Eles nunca impediriam nenhum de vocês de irem atrás dos pais biológicos. A mãe da Lucy vive mandando presentes para ela.

—Vou pensar no assunto. Obrigado por me obrigar a escutar o seu discurso. - Sorriu para ela.

—Não sei porque odeiam os meus discursos. - Revirou os olhos. - Eu fui aplaudida no meu discurso de formatura.

—É claro. Todo mundo ficou feliz por você ter finalmente acabado. Durou duas horas.

—Vai dizer que não gostou?

—Eu só ouvi os primeiros cinco minutos e depois peguei no sono. - Agnes deu um tapa no ombro dele.

—Que belo irmão você é.

—Ei, Henry e Hayley também dormiram e posso jurar que o papai tirou uns cochilos.

—Estou sem palavras para isso. - Estacionou em frente à escola do irmão. - Cai fora.

—Também te amo, irmãzinha. - Deu um beijo na bochecha dela. - Obrigado pela conversa e pela carona.

—Me avise quando se decidir. - Gritou para ele, enquanto ele subia as escadas.

[...]

—Vocês são cheios das emoções. – Jasper estava impressionado com o relato do amigo.

—Nem me fale. Só queira um dia de sossego, talvez esse dia seja hoje. – Retirou os óculos escuros e olhou em volta tentando decidir onde almoçariam. – O que acha de comida italiana? Jasper? – O cutucou ao ver que ele não prestava atenção na conversa.

—Claro, vamos logo. – O empurrou para o outro lado da rua e Edward travou no lugar.

—O que foi? Está maluco? – O segurou pelo ombro exigindo respostas.

—Não surte, mas a sua esposa está abraçada com um bonitão do outro lado.

—O quê? – Edward girou nos calcanhares e constatou que era verdade. Bella estava rindo ao lado de homem que ele não conhecia. Os dois pareciam bem íntimos e ele não gostou nenhum pouco disso.

—Deve ser alguém da ONG ou um colega de serviço. Não precisa se preocupar.

—Jasper, eu te falei que a Bella anda estranha e se ela estiver me traindo com esse cara?

—Lógico que não. Ela te ama e jamais faria isso. Deve ser coisa da sua cabeça. – Edward o encarou de mau humor.  

—O trocadilho não ajudou em nada. – Reclamou chateado.

—Desculpa. O que acha de irmos até lá e assim você pode esclarecer isso de uma vez por todas?

—Boa sugestão. – Ele estava prestes a ir ao encontro da esposa quando um segundo homem apareceu e aquele ele conhecia muito bem. – O que Mike Newton está fazendo abraçado a minha esposa?

—Newton? O que quase casou com ela? – Definitivamente, Jasper não estava sendo de grande ajuda para Edward.

—Eles estiveram longe de quase casarem, não exagere, por favor. – Pediu indeciso quanto ao que faria a seguir. – Bella jamais me trairia com o Newton. – Balançou a cabeça em negação.

—Com ninguém. Já disse que repito. Ela te ama demais e vocês são o melhor casal desse mundo. Vai ver ele quer ajudar com a ONG.

—Vamos tirar essa história a limpo. – Avisou e atravessou a rua correndo.

—Isabella! – A chamou e Bella empalideceu.

—Querido? O que faz aqui? – Gaguejou olhando para todos os lados, menos para ele.

—Tivemos uma reunião aqui por perto e decidimos almoçar. E você? – Ignorou a presença dos dois homens.

—Lembra do Mike? – Perguntou forçando um sorriso.

—Como não lembrar? Ele foi seu noivo. – Acusou e ela cruzou os braços na defensiva.

—Nunca fomos noivos. – O corrigiu. – Esse é o Miguel, amigo do Mike. Miguel, esse é o meu marido, Edward e o sócio dele, Jasper.

—É um prazer te conhecer. – Miguel piscou para Edward o analisando de cima a baixo.

—Mike e Miguel estão me ajudando em um projeto. – Bella explicou vendo que o clima só piorava a cada segundo que passava.

—Ótimo. Fiquei surpreso por te ver aqui. Achei que passaria o dia todo no aquário. Parece que mudou de ideia. – Ele não queria soar grosseiro, mas a insegurança estava falando mais alto no momento.

—Eu ia, mas precisava conversar com os dois e vim almoçar com eles. – Bella suava, ela não era boa em guardar segredos.

—Vamos todos almoçar juntos. – Jasper sugeriu. Ele estava com muita fome e queria pular logo aquele drama familiar.

—Por mim está ótimo. Assim posso conhecer melhor você. – Miguel inclinou e cutucou o peito de Edward. – Gente, como você é musculoso. – O elogiou com uma risadinha.

—Para falar a verdade, perdi a fome. Tenham um bom almoço. – Estava prestes a sair, mas Bella o impediu e os afastou do grupo.

—O que está acontecendo? – Perguntou segurando o rosto dele entre as mãos.

—Nada. – Resmungou igual aos filhos.

—Nada? Então por que não me olha? – Ela o abraçou e ele passou os braços ao redor dela. Queria mostrar aos homens que ela era dele e sentir o calor dela para se acalmar.

—O que está fazendo almoçando com o seu ex? Aposto que não gostaria de me ver almoçando com uma ex minha.

—Não mesmo. A diferença é que o Mike não é meu ex e eu nunca senti nada por ele. Eles estão me ajudando com uma coisa e é isso. Não fique vendo coisas que não existem, por favor. Sabe que eu te amo. – O beijou nos lábios. – Lembra de ontem à noite quando estávamos no quarto? – Ele assentiu corando um pouco. Não estavam sozinhos para ficarem relembrando aqueles momentos. – Tudo o que disse ontem e em todos esses anos que estamos juntos é verdade. Nunca duvide dos meus sentimentos por você. – Pediu e ele a beijou de volta.

—Não quero te perder, Bella.

—E nunca irá. – Garantiu e ele relaxou um pouco. – Quer almoçar conosco?

—Não. Tenho uma reunião daqui a pouco. Jackson, vamos. – Chamou o sócio e Jasper resmungou frustrado. – Eu te amo. – Beijou a esposa mais uma vez.

—Também te amo. – Ela viu o marido partir com uma pontada de dor no coração. Não gostava nenhum pouco de mentir para ele, mas era necessário.

—Pronta para mais uma etapa do nosso projeto? – Miguel a cutucou.

—Vamos lá. – Ela sorriu para os dois e os três entraram no restaurante.