Bella acordou cedo, como fazia todos os dias. Geralmente, Edward acordava antes dela, ele gostava de checar os animais antes do café da manhã, por isso ela estranhou ao vê-lo dormindo.

—Querido? - chamou o cutucando e ele tossiu em resposta. - Tudo bem? - perguntou preocupada colocando a mão na testa dele, pelo menos não estava com febre.

—Meu corpo dói. - reclamou e Bella deu um beijo na testa dele. Sabia como o marido ficava manhoso quando estava doente.

—Vou fazer um chá para você. Continue dormindo. - avisou levantando da cama. Ela iria se arrumar e depois acordaria os filhos.

Bateu a porta do quarto de Tyler e abriu uma fresta da porta para chamar por ele. Acordar cedo não era o forte dele e precisava de um empurrão para acordar.

—Só mais cinco minutos. - reclamou quando ela o cutucou.

—Quero você lá embaixo em quinze minutos e de preferência arrumado. - acrescentou saindo do quarto.

Abriu a porta do quarto de Hayley e ela já estava de pé com Lucy pulando na cama dela. A pequena tinha o próprio quarto, mas gostava de dormir junto com a irmã ou escapar para o dos pais no meio da noite. Ela não ia para escola, então não precisava acordar tão cedo, mas acordava junto com Hayley. Gostava de tomar café com os irmãos e aproveitava a confusão matinal para ir brincar com as ovelhas.

—Bom dia amores. - sorriu para as duas.

—Bom dia mamãe. - responderam juntas e Lucy correu para pular no colo da mãe.

—Quanta animação. - a sacudiu um pouco e ela gargalhou. - Está pronta, querida? - Hayley assentiu animada. Ela amava ir para escola. - Vou acordar seus irmãos e encontro vocês lá embaixo. - avisou colocando Lucy no chão.

Bella encontrou com Henry no meio do corredor.

—Que milagre é esse? - ele era o mais difícil de todos de acordar, precisava chamar várias vezes.

—Tenho aula de matemática hoje e ontem consegui fazer uma questão que ninguém mais conseguiu. Só eu. - abriu um largo sorriso. - Agora todo mundo acha que sou incrível.

—Você é incrível, meu amor. Eles só não sabiam disso ainda. - deu um beijo nos cabelos dele.

—O John já desceu. - avisou vendo que a mãe estava indo na direção do quarto dele.

—Parece que a disposição do seu pai passou para vocês, hoje.

Os dois desceram as escadas. Bella não era uma boa cozinha, mas sabia o suficiente para preparar um café descendente para os filhos. Aproveitou para colocar água para esquentar e preparar um chá para o marido.

—Cadê o papai? - Tyler perguntou bocejando. Ele odiava acordar cedo.

—Seu pai está doente, então vai passar o dia todo na cama. O que vão querer para comer? - todos já estavam devidamente sentados à mesa esperando pelo café.

—Panqueca. - Hayley respondeu sorrindo.

—Panquecas saindo, então. John, tomou banho direito? - ele assentiu orgulhoso por conseguir fazer aquilo sozinho. Eles estavam deixando com que ele fosse mais independente.

—Bom dia, Bella. - Leah a cumprimentou. Ela cuidava de Lucy e da casa enquanto Bella e Edward estavam fora.

—Oi, Leah. Pode me ajudar com o café? - Edward era quem cuidava disso, ela só tinha que ajudar os filhos.

—É claro. - arregaçou as mangas da blusa e assumiu o comando do fogão.

—Henry, pode levar o chá para o seu pai? Fala para ele beber tudo. - Sabia bem como ele odiava tomar remédio, era pior do que os filhos. Bella não tinha muita paciência quando o marido estava doente, mas levava a sério o na saúde e na doença. - Lucy? - a pequena já estava pronta para escapulir pela porta. - Sentadinha aqui. - a pegou no colo e a colocou na cadeira. - Tyler, pode me ajudar com os animais enquanto a Leah termina aqui?

—Claro. - levantou sonolento.

—Eu vi o cara novo cuidando deles. - Leah avisou e Bella suspirou aliviada. Cuidar dos animais e dos filhos levaria muito tempo e eles acabariam chegando atrasados. - Ele parece ser bem competente.

—Ah é? - ergueu uma sobrancelha para ela. - Só competente?

—Bem… Eu não… - gaguejou colocando as panquecas em um prato.

—Tudo bem. Acho que ele é solteiro e você também é, então, aproveite. - piscou para ela. - Não deixe a Lucy ficar muito tempo na aula de equitação. - alertou já imaginando o que a filha aprontaria. Como ela ficava sozinha em casa, teria aulas de equitação todos os dias, isso se ela conseguisse manter a concentração por muito tempo. Ela não parava quieta em lugar nenhum e perdia o interesse muito fácil.

—Quando vai ser a minha aula? - John perguntou interessado. Ele ainda não tinha atividades extracurriculares e estava muito animada para aprender a andar a cavalo, apesar de ainda sentir um pouco de medo do animal.

—Terei que fazer alguns arranjos. - Bella murmurou para si mesma. O sistema dela e do marido funcionava muito bem, contanto que os dois participassem dele. A escola de John era a caminho do trabalho dela, mas a dos demais era no caminho oposto. Edward era quem os levava, então ela teria que fazer uma manobra para deixar todo mundo na escola. Difícil, mas não impossível. A volta que seria complicada. Tyler tinha treino após a aula e Henry as aulas extras de matemática, como as duas coisas eram na escola, não seria problema, mas Hayley tinha aulas de arte, e alguém precisaria ir buscá-la na escola. - Leah, pode buscar o John? E tem que pegar a Hayley e levar para a aula de arte. Eu busco ela depois.

—Sim, senhora.

—Edward não vai sair da cama hoje, então pode pegar o carro dele. Ah, lamento muito, mas vai ter que ficar de olho nele também. - Ela gostava muito dos chefes, mas tinha que admitir que Edward era um tanto quanto difícil quando queria. - Se puder fazer uma sopa na hora do almoço.

—Não se preocupe. - garantiu a deixando mais aliviada.

—Querido, pode fazer a sua aula quando chegar da escola. E depois faça o dever de casa.

—Pode deixar. - sorriu e Bella sorriu de volta. Era tão bom vê-lo assim, a vontade.

—Quero todo mundo pronto em dez minutos. Vou dar uma olhada no pai de vocês.

—Papai mandou perguntar se estava tentando matá-lo com aquele chá horrível. - Henry entrou correndo na cozinha, teria pouco tempo para tomar o café.

—Papai está muito doente? - Hayley perguntou preocupada.

—Ah, não. Ele só é muito dramático. - balançou a mão em sinal de desdém. Ele raramente ficava doente, mas quando ficava… Era preciso ter paciência.

—Quase me envenenou com aquele chá. - Edward resmungou fazendo uma careta.

—Coitado do meu bebezão. - inclinou para dar um beijo nos lábios dele. - Está se sentindo melhor? - checou mais uma vez a temperatura dele. - Não parece estar com febre.

—É só um resfriado. - puxou as cobertas. - Já tomei um remédio e devo estar melhor amanhã. Pode avisar ao Jackson?

—É claro. Quer mais alguma coisa?  

—Que você fique aqui comigo. - fez um bico e se não fosse pelos filhos e pelo trabalho, ela teria cedido.

—Lamento, mas vou deixar uma representante.

—A Lulu?

—Ela mesmo. Não dá para ela te colocar dentro da blusa, então vai ficar bem. - ela amava cuidar dos animais, mas quase os sufocava. - Pedi para Leah ficar de olho em você, então não dê trabalho a ela. E o Sam cuidou dos animais. Você só tem que ficar deitadinho e descansar. - depositou um beijo na testa dele e saiu o deixando sozinho.

[...]

Edward estava sonhando quando sentiu algo cutucar o olho dele. Levou as mãos ao rosto impedindo uma nova investida e ouviu uma risadinha bem próxima. Sentiu também um peso sobre o peito dele e só então percebeu que era sua enfermeira particular.

—Papai está vivo. - comemorou animada, pulando sobre ele, o fazendo ofegar.

—Não vou estar por muito tempo se você continuar pulando assim. - a tirou com delicadeza de cima dele.

—Dormiu muito, papai. - reclamou passando as mãos no cabelo dele. Ele virou para ver as horas. - Fiz papa. - apontou para a tigela de sopa. Parecia que estava quente, já que saia fumaça da tigela.

—Você, é? - pegou com cuidado a bandeja e fez uma careta ao ver o aspecto da sopa. Não era água do aquário. Bella o mantinha limpo e Lucy não o alcançaria, fora que estava quente, mas poderia ser água da privada esquentada. A pequena era capaz de qualquer coisa.

—Espero que goste Sr. Cullen. - levou um susto ao ver Leah colocando um cesto de roupas limpas em cima da poltrona. - Ia trazer mais cedo, mas o senhor estava dormindo e não quis incomodar.

—Oi Leah. Obrigado. - ela cozinhava bem, então não deveria estar tão ruim assim. E não estava. Aprovou tomando rápido, estava com fome.

—Está melhor? - ele murmurou um sim em meio as colheradas. - Que ótimo. Vou sair para buscar o John, não devo demorar, mas se precisar de alguma coisa, o Sam está lá fora.

—Não se preocupe, está tudo bem. Acho que vou dormir mais um pouco. - avisou colocando a bandeja de lado.

— Vou cuidar do papai. - Lucy avisou deitando ao lado dele.

—Lulu, vamos buscar o John. Vem. - Leah a chamou, mas a garota a ignorou.

—Pode deixar. Eu fico com ela. - Edward avisou bem sonolento. Ele pegaria no sono e esperava que a filha também dormisse, assim não precisaria se preocupar com ela vagando pela casa sozinha e sem nenhuma supervisão.

—Tudo bem. - falou meio incerta. - Volto logo. - avisou recolhendo a bandeja.

—Vai cuidar do papai? - Edward perguntou abraçando a filha.

—Sim. - colocou a mão na testa dele e fez uma cara séria de quem sabia exatamente o que estava fazendo. É claro que ela não sabia, mas via a mãe fazer aquilo quando um deles estava doente. - Vai ficar bom, papai. - garantiu deitando com os braços ao redor do pescoço dele.

—Vou sim, bebê. - cantou baixinho para que ela pudesse dormir e ela o acompanhou com a mesma intenção.

[...]

—Você acordou. - Hayley exclamou aliviada ao ver o pai acordando.

—Já chegou? Cadê a Lucy?

—Está com a mamãe ou correndo atrás do Mamute. - Ela não sabia ao certo, a irmã estava fazendo as duas coisas quando ela subiu para cuidar do pai. Eles se revezariam, para que Edward não ficasse sozinho. John assumiu o turno após a aula de equitação e agora era a vez de Hayley.

—Como foi o seu dia? - perguntou espreguiçando. Os cochilos haviam renovado as forças dele e já se sentia bem melhor.

—Muito bom. Eu fiz um vaso, mas ainda não posso trazer para casa, porque precisa secar. Quando a professora liberar, vou trazer e colocar aqui com umas flores bem bonitas.

—Tenho certeza de que seu vaso é lindo. - deu um beijo na bochecha dela.

—Fiquei preocupada, papai. - confidenciou baixinho.

—Por quê? - encostou na cabeceira da cama e Hayley sentou ao lado dele.  

—Você está doente e não gosto que fique doente. Não quero que morra. - Edward a abraçou.

—Ei, princesa. Estou bem e não precisa se preocupar.

—Você e a mamãe se preocupam quando eu fico doente.

—Nós somos pais e é a função dos pais ficarem preocupados e cuidarem dos filhos.

—E dos filhos cuidarem dos pais. Igual eles cuidam lá onde tem aquele monte de velhinhos. - Edward ainda visitava o asilo e sempre que dava, levava um dos filhos.

—Está dizendo que estou velho? - fez cócegas nela.

—Não, papai. Só estou dizendo que você precisa de cuidados e eu vou cuidar de você, porque eu te amo e quero ver você bem. - ele a puxou para os braços dele e a apertou bem forte.

—Sabe que também te amo, não sabe?

—Sei sim papai. - ele teve que se segurar para não chorar. Odiava pensar no que poderia ter acontecido e em como quase a perdeu. Ele amava os filhos e jamais abriria mão deles. Demorou um tempo, mas ele finalmente entendeu o que Bella sentiu quando estava esperando Hayley. -Vou buscar o seu jantar. - ela tentou levantar, mas Edward a impediu.

—Depois. Agora quero ouvir sobre todos os detalhes do seu dia. - pediu sorrindo e ela riu do pedido dele.

—Tudo bem… - cantarolou as palavras e ajeitou o travesseiro para ficar mais confortável e pode relatar tudo o que fez. Edward também se ajeitou, precisava saber que a filha estava bem e feliz. Esperava que algum dia aquela sensação de culpa o deixasse. Tentava se convencer de que não havia nenhum remorso para sentir, mas a verdade era que aquilo o incomodava e a única coisa que o deixava em paz, era ver Hayley sorrir.