Aways you escrita por Jullie Santana


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Gente, só para esclarecer, a personalidade dos personagens nesses dois primeiros capítulos pode parecer meio diferente do original, mas eu acredito que as pessoas são diferentes quando eles são crianças/adolescentes então deem um desconto, tá?



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Bruce 18 anos, Tony 15.

 

Com o passar dos anos, tornou-se uma tradição que eles passem o início das férias de inverno juntos, porque os pais de Tony sempre viajam antes do Natal e só voltam para casa as vésperas do dia vinte e cinco de dezembro. Além disso, desde que Bruce foi para Princeton e Tony entrou no MIT, não era incomum que eles resolvessem visitar um ao outro em feriados e finais de semana prolongados. Juntos eles se tornaram, irrevogavelmente, a alegria dos tabloides e revistas de fofocas.

A primeira vez que eles se beijam de verdade, para Bruce, foi como finalmente encontrar o caminho de volta para casa. Ele olhou dentro daqueles olhos castanhos e pensou, pela primeira vez em anos, em uma vida que não envolvesse vinganças, ódio ou culpa. Ele pensou em uma forma de ser feliz.

Tony estava sentado no balcão da cozinha do apartamento de Bruce em Nova Jersey, usando apenas um moletom do MIT, grande demais para ser realmente dele (pertencia a James Rhodes), cueca e meias vermelhas. O cabelo cor de chocolate amargo bagunçado em ondas e os olhos inchados de sono. Bruce estava enfiado entre as pernas dele enquanto esperava o café ficar pronto, usando apenas suas calças de pijama.

Contra todas as expectativas, o beijo não foi estranho ou desconfortável como um beijo entre melhores amigos supostamente deveria ser. Eles se conhecem a muito tempo e estar juntos daquela forma parecia apenas a progressão natural do relacionamento.

Tony enrostou as mãos nos cabelos de Bruce e cruzou as pernas ao redor da cintura dele, trazendo-o para mais perto. Eles ficaram ali, fascinados com aquela nova etapa, respirando o ar um do outro até que a cafeteira apitou.

Mais tarde, enquanto estavam enroscados no sofá, Bruce finalmente pensou sobre o que ele está fazendo. A cabeça dele era uma bagunça a muito tempo e simplesmente não parecia certo que ele trouxesse Tony para isso com ele.

— Tonio, eu não sei se isso é uma boa ideia. – Ele sussurrou, mas seus dedos permaneceram enfiados nos cachos escuros do garoto deitado em seu colo. – Eu não sei se eu posso ser a pessoa certa para você.

Tony tirou os olhos da televisão. Bruce quase conseguia enxergar o fluxo de pensamentos através daquelas íris castanhas.

— Eu sei exatamente quem você é, Bruce. – Ele respondeu cautelosamente. – Eu vejo você.

Tony se levantou e segurou as mãos de Bruce entre as dele antes de continuar.

— E quando eu digo que vejo você, eu estou falando sobre essa sombra nos seus olhos que nunca foi embora desde que seus pais morreram. Eu estou falando sobre a sua obsessão por lutas e criminologia e sobre como você sempre parece estar carregando o peso do mundo nas costas. – Tony apertou ainda mais as mãos de Bruce. – Na minha cabeça, as vezes eu te chamo de Rue*. Eu não estou sendo enganado aqui, Cupcake, eu vejo você.

            Bruce não tinha qualquer resposta para aquilo então ele simplesmente puxou Tony para seu colo e o beijou até que nenhum deles se lembrasse sequer de como aquela conversa começou.

            Mais tarde naquela semana, Tony convenceu Bruce a tatuar seu pulso esquerdo com um pequeno sol, bem em cima do ponto de pulsação enquanto ele tatuou uma lua no mesmo lugar. Eles estavam bêbados e os paparazzi quase enlouqueceram ao vê-los saírem juntos do estúdio de tatuagem, ainda assim, tudo o que Bruce conseguia pensar era o sorriso aberto e feliz de Tony sob as luzes artificiais da cidade.

(Você se lembra de pensar que nunca tinha visto alguma coisa mais bonita em toda sua vida)

 

Bruce 19 anos, Tony 16.

 

Tony se sentou preguiçosamente na escadaria de pedra, colocando a mochila ao seu lado.

— Você tem certeza que não quer vir passar o final de semana comigo? – Aquela era a decima segunda vez que Rhodes tentava convencê-lo na última meia hora. – Você sabe que minha mãe não se importaria.

— Não se preocupe comigo, Honeybear. – Tony cantarolou alegremente. Ainda que desnecessária, a preocupação de seu colega de quarto faz com que ele se sinta aquecido e amado. – Brucie-bear e eu vamos apenas relaxar e nos divertir no final de semana.

Rhodes franziu a testa em uma careta de desgosto e Tony teve certeza que se ele tivesse cabelos brancos precoces, ele seria cem por cento responsável por isso.

— Esse é justamente o problema, da última vez que você disse que iria ‘se divertir’ com Bruce Wayne você voltou para a faculdade com cinco novos escândalos em tabloides e uma tatuagem.

Rhodes pareceu ainda mais exasperado quando Tony riu abertamente. E então a Ferrari vermelha virou a esquina do campus, cantando pneus e Tony se levantou e colocou a mochila nas costas.

— Brucie e eu somos duas partes de uma coisa só, ornitorrinco. Não há nada que se possa fazer sobre isso.

(Aquilo te fazia feliz.)

 

Bruce 20 anos, Tony 17.

 

Haviam dois caixões, incontáveis falsos pesares, um mar de jornalistas sedentos e o peso da mão de Obie no ombro de Tony.

Haviam dezenas de garrafas de bebidas caras jogadas pela casa e centenas de fotografias e vídeos nos álbuns sofisticados, mas nenhuma dessas coisas poderia compensar sua dor.

 Haviam desejos, arrependimentos e amargura e milhares de memórias queimadas em seu córtex cerebral.

Havia Jarvis e Rhodes e Alfred e todos eles se importavam profundamente, todos eles o amavam, mas nenhum deles poderia ancora-lo.

E então havia Bruce.  

E Bruce entendia.

(Ele sempre entendeu.)

 

Bruce 21 anos, Tony 18.

Tony estava bêbado. Não que isso fosse algo incomum naqueles dias para falar a verdade. Qualquer outra pessoa com o mínimo de noção de auto preservação saberia que não era uma boa ideia se embebedar em um iate privado no meio de uma madrugada de inverno, mas Tony nunca foi dado a boas ideias e muito menos a auto preservação.

Ele observou atentamente enquanto Bruce virava uma garrafa de uísque nos lábios, sequer demonstrando qualquer descontentamento pela queimação que, com certeza, desceu por sua garganta. Quando a garrafa finalmente esvaziou, ele a largou de qualquer jeito no chão e finalmente se juntou a Tony, deitando-se no convés para observar o quadro escuro do céu estrelado bem acima de suas cabeças.

— Eu vou me mudar para a Califórnia. Algum lugar que seja quente o ano inteiro e em que eu possa ouvir o som do mar todos os dias... – Ele sentiu o calor emanando da pele de Bruce quando os dedos do rapaz se entrelaçaram com os dele.

— E o que Jarvis e Obadiah pensam sobre isso? – Tony sorriu e quando se virou, olhos azuis o estavam encarando no escuro.

— Obie pode tomar conta da parte burocrática da empresa sozinho, ele já fazia isso pelo papai, pode continuar fazendo e Jarvis vai comigo, claro. A maresia vai fazer bem para ele e você sabe muito bem que eu não saberia viver minha vida sem o J.

Bruce acenou em concordância, ambos sabiam que Jarvis era tão importante para Tony quanto Alfred era para Bruce. Eles são tão parecidos que não há qualquer dúvida em seu entendimento silencioso.

Quando Bruce se aproximou ainda mais e o beijou, Tony derreteu nos braços dele. O relacionamento deles já durava anos, e mesmo entre as alegrias e dificuldades de um namoro à distância, nenhum deles nunca duvidou que deveriam estar juntos.

Algumas coisas são feitas para ser.

Tony e Bruce eram uma delas.

Sob a luz difusa das estrelas, Tony traçou com as pontas dos dedos o rosto de Bruce Wayne. Em sua mente embriagada, cada pequeno traço das feições do homem parecia perfeito sob suas digitais, cada mínimo detalhe moldado cuidadosamente para se encaixar em tudo o que Tony amava. Ou talvez fosse o contrário. Talvez fosse Tony aquele que foi moldado para amar cada minúscula parte daquele homem.

— Você deveria vir comigo...

Bruce arregalou os olhos por um instante, como se a ideia de que Tony fosse convida-lo nunca tivesse passado por sua cabeça.

— Não para sempre, eu sei que vocês, filhos de Gotham, nunca conseguem ir embora para sempre, mas sempre que você puder...

— Tonio...

— Eu amo você, Bruce. Eu te amo mais do que eu jamais pensei que era possível amar alguém na vida.

Naquela noite, Bruce fez sexo com Tony tão lenta e cuidadosamente que ele não saberia descrever aquilo como nada além de “fazer amor”. Na tarde seguinte, sob a mesa de cabeceira de Tony havia um bilhete escrito à mão com apenas uma frase:

“Eu espero que um dia você possa me perdoar. - BW”

Dois dias depois, o desaparecimento de Bruce foi noticiado em todos os jornais do país.

(Você não pode evitar pensar que todo mundo que você ama vai embora mais cedo ou mais tarde)


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Notas finais do capítulo

*Rue: Significa pesar; lamento.



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