Mais de dez minutos e dois dias escrita por Mitsuki Hayashi


Capítulo 1
Capítulo 1




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Não passava de um dia comum da semana. As ruas lotadas, e a estação de metrô mais ainda.

O famoso horário de rush que fazia Karma repensar o porque de ter escolhido voltar de ônibus pra casa.

Terei que andar menos….” a lembrança o fez suspirar, descontente com a ideia. Depois de um dia cheio, com o estudo e o trabalho de meio período, a última coisa que gostaria era ter que andar mais de cinco quarteirões do metrô até sua casa.

De onde os amigos tiravam energia para sair andando do centro da cidade, e depois ainda sair pra ‘curtir’ com a galera nem sabia, e preferia ficar sem saber, caso contrário o arrastariam.

Se arrependia de cada ação sua no fim do dia quando aconteceu. Ele entrou no veículo na terceira parada.

Inicialmente não o notou. Sua baixa estatura permitia que não chamasse tanta atenção, mas quando o ônibus esvaziou e permitiu que o garoto de cabelo azul se sentasse ao seu lado, foi impossível ele passar despercebido pelo maior.

Pelo canto do olho, o jovem Akabane o analisou.

Baixo, olhos e cabelos azuis curtos tão claros quanto um céu livre de nuvens, além da carinha de criança. Um estudante do fundamental? Considerou a ideia, logo a descartando. O azulado não usava uniforme de instituição alguma, e a pasta que aparentava pesada em sua mão denunciava que era no máximo um estudante de ensino médio, igual a Karma.

O azulado se mexeu, ajeitando a posição desconfortável que estava e ajeitou os documentos que escorregavam de seu colo. Agora quem se sentia estranho era o maior.

Espera, documentos?

Ele não usava uniforme, mas no canto superior das folhas estava a logo de um colégio, que obviamente Karma não conhecia, senão teria se lembrado de imediato.

Desde quando o ruivo se sentia tão interessado na vida de alguém? E por que?

Nunca esse se costume, o de sair por aí querendo saber das pessoas. Mas de repente, um garoto que surge do nada – ou estivesse apenas seguindo sua rotina, e ele fosse o invasor – o interessa pela ‘aura’ que ele transmitia?

O viu pegar o celular e atender o celular, e como um ninja desligou a música que escutava enquanto estava entediado.

— Hiroto-san?

Ah, sim, o desgraçado também possuía uma voz parecida com as dos anjos dos animes que assistia. Porém os anjos dos animes eram sempre os vilões de tudo.

Parecia até que estava tendo aquelas paixões de cinco minutos de quando as pessoas estão sem o que fazer no caminho pra algum lugar.

E antes de tudo: o Hiroto que ele falava, não era seu colega de classe? Maehara Hiroto? Um dos que o arrastava pras festas estranhas e aprontava muito junto com ele no colégio? Antes de tudo, rezava para que fosse um outro Hiroto.

O viu ficar calado durante um tempo, somente ouvindo a pessoa do outro lado da linha, como se estivesse levando uma bronca, e depois rir minimamente.

— Hai, hai. Então, Maehara-kun, algum problema?- calou-se de novo, e depois voltou a falar. - Posso te ajudar com isso, mas por que não tirou essa dúvida com seu professor?

O destino ama brincar com as pessoas. Principalmente com Karma.

— Mesmo assim, não é porque sou seu amigo que te ajudarei com tudo. Deve se esforçar pros testes sozinho.- e ele sorriu. Merda, um anjo. - Fico contente que me trate como um professor já, mas sabe que ainda falta muito, e até lá é só meu nome, sem formalidades.- e cobriu a boca com a mão livre para abafar as risadas que escaparam para não incomodar os outros passageiros.

Ei, já não havia passado do ponto que deveria descer? Mas a conversa estava mais interessante, e só com ela descobriu algumas coisas da vida dele.

O menor passou um bom tempo conversando com seu amigo, o tirou até algumas dúvidas em algumas matérias até que finalmente se despediu e desligou. E mesmo não querendo aceitar isso, a verdade socou a cara do Akabane:

Ele era um professor. Estagiário na verdade.

Por graça do destino – ou do motorista que precisava imediatamente renovar a carteira por conta disso –, o ônibus passou numa lombada. Se não fosse patético, seria até engraçado ver aquele monte de gente voando, principalmente os que estavam em pé, e esbarando uns nos outros. É engraçado quando se vê, não quando acontece com você.

Karma acabou sendo jogado pro lado, e de uma maneira incrivelmente estranha esbarrou – ou caiu em cima – do azulado, enquanto a pasta que ele carregava voou na cara do ruivo.

Rapidamente, o menor corou e retirou a pasta de perto de Karma, e esse voltou a sua posição inicial, agora mais desconfortável.

— Desculpe.- o azulado se desculpou pro Akabane, ainda corado e abraçando ainda mais a carteira, para que o mesmo não acontecesse de novo. - Não foi intencional, eu juro.

Que não era intencional, ele sabia. Mas com esse pedido de desculpas, com um rosto todo rubro e voz afinada, o maior podê só o olhar, agora descaradamente.

Percebendo isso, o azulado o cutucou. - Hum, está tudo bem?- o perguntou, tombando levemente a cabeça pro lado e o encarando com curiosidade.

Piscou uma vez, duas, três… O anjo em forma de criança estava falando com ele?

Virou a cabeça, olhando para trás. Não havia ninguém além dele naquela situação, e tudo por causa do motorista.

— Moço?- o azulado o chamou.

Se voltando pro azulado, Karma apontou para si próprio, como se perguntasse se era com ele que o menor falava, e recebeu um aceno em resposta.

Forçou uma tosse, um tom vermelho tomando conta das maças do rosto. - Estou. Não se preocupe com isso.- coçou a cabeça.- Er… Obrigado por perguntar.- os olhos azuis se fecharam e um sorriso largo apareceu.

— Que bom, senhor…

— Akabane Karma, Karma.- imediatamente falou seu nome, ao lembrar que não havia se apresentado.

— Shiota Nagisa.- Um nome de menina. - Então, Akabane-kun,- começou. - por que estava ouvindo minha conversa?

Ah, legal. Ele sabia que ele estava ouvindo… As habilidades ninja que havia demorado tanto tempo para assistir falharam.

— Não foi de propósito.- mentiu. Bom, no início não foi por querer, foi por puro tédio. E aí surgiu o nome de um dos poucos melhores amigos que tinha, claro que se interessou pela conversa, a tornando um passatempo que durou uns dez minutos.

Shiota moveu a cabeça positivamente, dizendo com o olhar que acreditaria naquilo.

E um silêncio estranho apareceu entre os dois. Somente o barulho de algumas pessoas conversando e ônibus se movendo fazia presente.

Espera, ele não havia passado do ponto a um tempo?

Arregalou os olhos. Se levantou para apertar o botão da próxima parada, tocando outra mão no processo.

Nagisa o olhava um pouco assustado, era muita vergonha só pra um dia. Se afastou e olhou pra longe, esperando o veículo parar de se mover.

Assim que parou, rapidamente Karma se moveu em meio ao transporte lotado e saiu, respirando o ar gelado da noite. Se lembrava de ter entrado naquele amontoado de gente quando o Sol ainda estava no céu, e agora lá estava a Lua, iluminando a rua com a ajuda de uns postes.

Sentiu um cutucão na cintura e se virou, crendo que a sorte de ter tanto azar colaboraria consigo mais uma vez no dia enquanto era assaltado. Mas não. Era só Nagisa.

— Akabane-kun.- lhe lançou um sorriso tímido e o entregou uma mochila. Sua mochila. Ele tinha esquecido?

— Ah.- ficou calado, sem saber como reagir. O azulado não teria descido para entregar pra ele, né? - Obrigado.- agradeceu e sorriu.

— Sim. Para onde está indo?- O Shiota o perguntou e começou a andar, Karma o acompanhou.

— Voltando pra casa.- falou simples.

— Quer que eu te acompanhe?- Akabane parou de andar – ou melhor, travou no lugar –. Relembrando tudo, havia pego o ônibus para evitar ter que andar cinco do metrô até em casa, e agora, se bobear, estava do outro lado da cidade. Tudo por que sua curiosidade sobre o menor falou mais alto que a razão.

— Não precisa, estou indo pra casa de um amigo.

— Não estava voltando pra casa?- merda, é nisso que dá falar da boca pra fora. Amaldiçoou até a última geração possível de sua família. Ele era a última geração possível.

— Estou voltando pra casa de um amigo.- riu sem graça, coçando a nuca.- Realmente não precisa. E pode me chamar de Karma. Não é perigoso um adolescente como você voltar sozinho? Acho que é mais provável te atacarem do que eu. Posso ir junto se quiser.- ofereceu.

Nagisa o olhou por um tempo, achando que não tinha ouvido aquilo. E então começou a rir alto. Karma o encarou, vendo o garoto rir como se tivesse achado graça.

— Karma-kun, quantos anos você tem?- o azulado começou a rir, limpando as lágrimas que se juntaram no canto dos olhos.

— 19?- o ruivo respondeu, quase perguntando. Se fizesse parte de um anime, essa seria a parte que teria uma interrogação em cima de sua cabeça. E ajudando o tom vermelho estava voltando nas bochechas.

— E quantos você acha que eu tenho?

— Inicialmente achei que deveria ser no máximo uns 14, mas quando ouvi sua conversa, - confessou.- uns 16.

O menor riu alto de novo. - 25.- falou em meio aos risos. E o maior continuou com a cara de que não estava entendendo. - Karma-kun, tenho 25 anos. Sou mais velho que você seis anos.

Os olhos cor mercúrio do ruivo se assemelhavam a pires, a boca abria e fechava, sem saber o que dizer e Shiota ainda ria, claramente se divertindo mais que antes.

Desistiu de tentar fazer qualquer comentário sobre o assunto. O azulado era um adulto em um corpo de pré-adolescente, com a aparência de uma garota. O que falaria sem que o magoasse?

— Bem, se é assim.-ficou sem graça.- Estou indo, nos vemos por aí.- se despediu, e vendo o menor acenar, foi embora.

O destino tirou o dia pra zoar com a minha cara.

Dia seguinte – Hora do Rush

O nível de chatice de seus amigos superava qualquer irmão mais novo. Lá estava ele, de novo no mesmo ônibus que passara a vergonha do século no dia anterior. Um lado positivo daquilo era que estava acompanhado e o transporte não estava tão cheio.

Preferia não ouvir as bobagens que Maehara e Isogai, então estava novamente de fone, lendo uma folha que havia ganhado.

Sentiu o fone sair de um de seus ouvidos e levantou o olhar, prestes a xingar o ser que ousou cometer tal ato.

— Nagisa-kun?

O azulado estava em pé, na sua frente, sorrindo enquanto segurava a mesma pasta de antes.

— Shiota-sensei!- Hiroto notou o menor, e se inclinou para conversar.- Se conhecem?- percebeu Karma corado, olhando pro azulado.

Nagisa balançou os ombros. - Mais ou menos, é uma longa história.- olhou para os meninos. - Yuma-kun.- cumprimentou o moreno.

— Nagisa-sensei, você conhece esse aqui?- o loiro deu um tapa na parte de trás da cabeça de Akabane.

— Você se conhecem?- dessa vez, Shiota que perguntou. - Por isso estava ouvindo minha conversa ontem, Karma-kun?- brincou com o ruivo, que corou ainda mais, e deixou um sorriso de canto escapar.

— O que? Eu quero ouvir essa!- empurrando Karma, Maehara liberou o lugar para Nagisa se sentar. O azulado o fez e começou a contar do estranho caso do fim do dia daquela quinta.

Enquanto o menor contava a história por sua perspectiva, Karma ouvia tudo, toda vez que riam de algo, imaginava uma maneira de os matar. Menos Nagisa. Ele não, nunca.

O destino gostava de brincar com sua cara. Deveria ser um hobby, ou algo parecido. E Nagisa era a sua paixão de mais de dez minutos e a vergonha de dois dias.


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Notas finais do capítulo

Também postada do Social Spirt e no Wattpad (ambos com o mesmo nome de usúario)



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