Flores de Rodório - A flor da Romãzeira escrita por Alcmena


Capítulo 9
Capítulo 8 O Jardim dos Sonhos




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Imagine-se nas nuvens, mas, ao olhar para baixo, não se avista Terra alguma, apenas quilômetros e mais quilômetros da mesma paisagem alaranjada que temos a nossa frente. Bem, se conseguir imaginar-se neste cenário, você já estará se vendo nos Jardins dos Sonhos.

Aquele era o local onde os deuses dormiam, onde apenas seres celestiais podiam encontrar seu descanso eterno, e era lá que Macária deveria estar. A jaula dourada dos meus sonhos era a representação perfeita para aquele local tão belo e, mesmo assim, tão terrível.

Estava sentada em uma porção de nuvem rosada, e, bem próxima a mim, eu via a figura calma e serena do que eu imaginava ser a deusa Hera. Mais à frente, abaixo e acima havia vários outros corpos deitados, dormindo como se nada pudesse atormentá-los.

— Por que eles estão dormindo? Era para estarem na Terra ou no Olimpo! – disse a mim mesma, confusa demais ao ver tantos rostos desconhecidos e divinos.

— Eles são os deuses que escolheram se afastar dos embates por poder...

A voz suave e delicada veio acompanhada da visão surreal de uma mulher com a pele azul-celeste, muito brilhante, e longos cabelos que mais pareciam fios luminosos que serpenteavam ao redor de seu rosto fino e angelical. Ela usava um longo vestido furta-cor e seus olhos azuis miravam-me com gentileza.

— Olá, Diana! – surpreendi-me ao ouvi-la me chamar pelo nome. – Bem-vinda aos Jardins dos Sonhos.

— Quem é você? – perguntei, sem nem ao menos sentir um pingo de medo ou receio. A figura magnífica a minha frente era completamente doce e não apresentava qualquer perigo, eu podia sentir bem dentro do meu coração.

— Eu sou Fantasia, – sorriu ela, aproximando-se ainda mais de mim, praticamente sentando-se sobre a nuvem. – meu pai, Hypnos, me deu este lugar para que eu cuidasse do descanso dos Deuses e dos Mortais. Eu sou a responsável por criar sonhos perfeitos e entregá-los a vocês.

— Você é irmã de Oneiros. – volvi, olhando-a com mais atenção. – É tão linda! E tão diferente dos outros!

— Meu irmão me contou sobre você. – sorriu ela, tocando meu rosto de forma gentil. – Ele disse que era linda, mas não imaginava que seria tão linda assim! Ele me pediu para ver seus sonhos várias vezes, peço desculpas, pois permiti várias vezes, mas você deveria ter visto o olhar no rosto dele! Nunca o vi tão animado com algo.

— Seu irmão sempre me tratou muito bem. – disse, sorrindo. – Sinto muito por ele só ter se dado a chance de me conhecer em sonhos... E agradeço por ter permitido que eu sonhasse com a Senhora Macária.

— Já era hora de alguém conseguir vir até ela. – sorriu Fantasia, olhando-me de forma tranquila. – Não se preocupe, meus irmãos estão bem, logo se refarão e voltarão a atormentar a todos.

— Eu não estou certa de que isso é uma boa coisa. – confessei, no que ela meneou de forma rápida a palma esquerda.

— É a balança da vida, para cada bem, existe o mal. – sorriu Fantasia, trazendo para perto de nós uma nuvem arroxeada, onde uma jovem de longos cabelos negros dormia, com as grandes asas de borboleta abertas e decoradas por flores e um vestido longo de tule e cetim cor-de-rosa. – É hora de Macária voltar para casa, para seus familiares e continuar levando uma morte tranquila a todos. – e Fantasia fez com que Macária flutuasse até meus braços, deixando-a em meu colo como se a deusa fosse uma criança adormecida.

— Como eu a acordo? – perguntei confusa ao perceber que Macária ainda dormia.

— Ela acordará assim que chegarem ao Submundo. – sorriu Fantasia. – Falando nisso, vou mandá-las de volta para os Campos Elísios, não se preocupe.

— Você é muito gentil, Fantasia, não sei por que me ajudou, mas obrigada. – agradeci, beijando as mãos da deusa etérea.

— Disponha, querida. – sorriu ela, começando a ferver seu cosmo. – Oneiros me pediu par ajudá-la. Faria qualquer coisa por meu irmão.

— Obrigada. – e acenei com a cabeça, abraçando Macária com toda a força.

Um calor agradável nos envolveu e, após ele, uma luz incrível surgiu bem diante de nós, quase cegando meus olhos com a profusão de cores a minha frente enquanto a sensação de queda tomava conta do peito. Era quase como dar um mergulho no próprio arco-íris e depois ser lançada em um poço sem fundo!

E então, tudo ficou escuro...

Quando acordei, avistei sobre mim o céu azul dos Campos Elísios, assim como ouvi o som calmo das ondas que batiam na praia ao longe e a agradável sensação das flores que cresciam ao meu redor.

— Bom dia. – sorri ao olhar para o lado e encontrar Perséfone abraçada à Macária, ainda desacordada. – Você teve bons sonhos, Diana?

— Os melhores, minha senhora. – respondi, passando a mão pelos cabelos de Macária enquanto me colocava de joelhos. – Ela está bem?

— Ela vai ficar bem. – sorriu ela, beijando a testa pálida da filha.

Naquele mesmo instante, Macária remexeu-se nos braços da mãe, piscando algumas vezes antes de abrir os grandes olhos violeta, olhando ao redor com uma cara de quem não fazia ideia de onde estava. Confusa, ela olhou para cima, avistando a mãe.

— Mamãe? – questionou ela, no que Perséfone sorriu amplamente, beijando-a mais uma vez na testa, mantendo-a abraçada a si. Só então eu percebi que lágrimas escorriam por meus olhos em profusão. – Mamãe, onde eu estou?

— Está em casa, minha borboletinha. Está em casa. – Perséfone suspirou, deixando algumas lágrimas caírem por seus olhos também. – Eu senti tanto a sua falta, Macária.

— E eu senti a sua, mamãe. – garantiu Macária, sorrindo de forma letárgica.

— Obrigada, Diana... – agradeceu-me a deusa da primavera, no que eu solucei mais uma vez, enxugando os olhos com o dorso da mão. – Minha garotinha está de volta! Eu e Hades jamais nos esqueceremos de sua obstinação.

— Eu só quero que vocês sejam muito felizes juntos. – ditei, acenando com a cabeça quando Macária e Perséfone seguraram minhas mãos com carinho. – Bem-vinda de volta, senhora Macária.

— Obrigada, Diana. – ela me agradeceu, também deixando lágrimas rolarem.

— Vou deixá-las a sós, senhoras. – funguei, colocando-me de pé. – Acho... Acho melhor voltar para o castelo, preciso trocar de roupa e comer alguma coisa, me sinto um trapo.

— Diana, – Perséfone chamou-me, e eu rapidamente a encarei. – uma audiência com Zeus, Athena e Poseidon está acontecendo agora! Estão decidindo se os cavaleiros serão trazidos de volta à vida.

— Mas... A guerra já acabou? – perguntei, levando as mãos até a cintura.

— Sim. – concordou minha senhora. – Athena saiu vitoriosa e estamos negociando os termos da Paz Eterna. Seu irmão está lá. Vá, corra vê-lo!

— Milo? – questionei, muito animada. – Posso vê-lo, senhora?

— É claro que sim, menina! – exclamou ela, sorrindo. – Vá, vá!

Erguendo minhas saias, corri como nunca antes e, ao chegar à beira do Rio Estige, que também passava pelos Campos Elísios, gritei por Caronte, parado no outro lado do rio, acenando efusivamente com as mãos. Quando ele chegou ao meu lado da margem, prontamente pulei sobre o barco, pedindo para que ele fosse o mais rápido possível até a Primeira Prisão.

Acho que o caminho se alongou apenas porque eu estava ansiosa, pois mesmo depois de vencer chão atrás de chão, parecia não chegar até o castelo! Quando cheguei, adentrei as enormes portas como se Cérbero me perseguisse e nem mesmo parei para responder as perguntas das várias almas que me cercavam.

Virei alguns corredores, correndo com a mesma vontade de sempre, finalmente chegando até a sala de reuniões, com as enormes portas fechadas. Não houve dúvidas, eu as abri com um estrondo fortíssimo, atraindo os olhares de todos na sala para mim, principalmente o de Hades, que ergueu-se de seu trono de obsidiana, olhando-me com esperança nos olhos.

Acho que seria melhor avisar que consegui resgatar Macária e depois buscar meu irmão no meio das pessoas da sala. Era o único jeito de sair de lá com a alma ainda presa ao meu corpo!

— Meu senhor, meu senhor! – chamei, avançando por entre os homens dispostos no salão, recebendo olhares duros de Zeus e Poseidon, enquanto que Athena mantinha-se aparentemente calma. Ao chegar próxima às escadas do trono, coloquei-me de joelhos. – A senhora Perséfone está com a senhora Macária nos Campos Elísios, meu senhor. Conseguimos trazê-la de volta para casa!

— Diana Alessandros! – exclamou Hades, vindo até mim e me ajudando a me levantar, pegando-me pelo rosto e me dando um beijo no topo da cabeça. – Eu sabia que você era a pessoa certa! – e virou-se para os irmãos, parados ao lado do trono de Hades. – Eu cedo a todos. Assinemos o tratado de paz e deixe que os homens voltem à vida! Lune. – e Lune surgiu ao meu lado, quase me matando de susto. – Prepare tudo, eu tenho que ver minha filha! – e me olhou com um brilho quase infantil nos olhos, beijando minha testa mais uma vez. – Peça o que quiser ao Lune, querida, é seu! – e saiu alegre da sala, deixando para trás dois exércitos e três deuses muito confusos.

— Trouxe de volta a Deusa Macária? – perguntou Lune, estupefato.

— Bem-vindo, Lune, aqui a missão dada é missão cumprida! – ditei, jogando meus cabelos para trás. – Agora, cadê o meu irmão? – perguntei, olhando ao redor. – MILO!

— Diana! – ouvi um chamado mais ao fundo, e os homens se separaram, revelando meu irmão mais velho lá no meio, sorrindo e me olhando desacreditado. Nem mesmo pensei, apenas corri para abraçá-lo, agarrando-o com toda a força e enterrando meu rosto na curva do pescoço dele. Parecia que todos meus sentimentos de saudade haviam voltado naquele momento. – Minha Dianinha! – e ele me rodopiou no ar, beijando todo o meu rosto. – O que aconteceu com você? Com seu cabelo?

— Foram tantas coisas, querido, mal posso esperar para te contar sobre tudo! – sorri, abraçando-o novamente.

Enquanto Lune lidava com os deuses, eu era cercada por Milo e seus amigos que me cumprimentavam e puxavam conversa, era como estar em casa novamente!

— Você está exatamente do jeito que eu me lembrava. – comentou Camus, puxando uma mecha do meu cabelo esverdeado.

— Pare de ser insuportável. – pedi, dando um tapa na mão dele. – Conte-me, Milo, como está o papai? E nossas irmãs?

— Estão todos bem! – garantiu ele, passando a mão por meus cabelos. – Se acalme, certo? Todos estão sentindo muito sua falta! Eu, principalmente.

— Meu irmão. – eu o abracei mais uma vez. Foi quando eu vi de relance o cavaleiro de Leão, Aiolia, conversando com a figura inconfundível do meu Mestre Aiolos. Ele estava um pouco afastado, conversando e rindo animadamente com o irmão mais novo. – Milo, dá-me licença por um momento? É só um minutinho!

— Certo, mas volte bem rápido ou eu vou lá e te busco pelos cabelos. – riu ele, dando-me um tapinha na nuca antes que eu me afastasse.

Calorosamente, aproximei-me dos cavaleiros de Leão e Sagitário, sorrindo amplamente e indo direto abraçar Aiolos. Mas, quando o fiz, senti-o tenso e surpreso, e mesmo assim ele retribuiu o abraço.

— Senhorita, que alegria! – riu ele, quando eu me afastei e olhei no fundo de seus olhos azuis. Eles eram tão felizes e sem qualquer fundo de culpa... Não eram os olhos que eu me lembrava.

— Mestre, eu consegui, trouxe Macária para casa! – disse alegremente, segurando-o pelas mãos.

— Eu ouvi, senhorita. – ele sorriu, olhando-me com confusão. – Mas, não precisa me chamar de mestre! Pode me chamar pelo meu nome, Aiolos. E qual seria o nome da senhorita?

Naquele momento, meu coração deu um pulo e quase caí sentada ali mesmo, sentindo todo o mundo girar.

— Ora, mestre, meu nome é Diana, se lembra? – questionei, sorrindo sem nenhuma graça. – Você... Você foi quem me treinou para entrar no Mundo dos Sonhos...

— Perdoe-me, senhorita. – pediu ele, negando com a cabeça. – Mas eu acho difícil. Estive em uma região isolada dos Campos Elísios e não a conheço...

— O quê?... – perguntei, sentindo-me aturdida. – Mas, Aiolos...

— Diana Alessandros, eu disse para não demorar. – e Milo surgiu atrás de mim, pegando-me no colo e me dando um tapa nas coxas. – Ah, vejo que já conheceu o Aiolos. Diga-me, Aiolos, ela não é linda?

— Com certeza, Milo, mas só porque não se parece em nada contigo. – riu o sagitariano, colocando os braços para trás.

— É, mas não é pro teu bico, tá? – e meu irmão me levou para longe, no que Aiolos e Aiolia voltaram a conversar.

Pelo resto da conversa fiquei completamente aérea, e esse estado continuou até que Hades retornou ao salão, acompanhado de Perséfone e da deusa Macária. Após um longo discurso sobre a vida e a morte, Hades sentenciou que assinaria a paz e que daria a vida de volta aos guerreiros dos deuses.

É claro que eu comemorei junto de Milo, e quando chegou a hora de todos irem para suas moradas, meu irmão quase surtou ao saber que eu não poderia retornar a Rodório. Precisei da ajuda de Camus para convencê-lo de que agora o Submundo era o meu lugar.

— Diana. – curvei-me quando Hades surgiu a nossa frente, acompanhado da filha e da esposa. – Perséfone me contou que você comeu as sementes da romã para poder adentrar os Elísios e procurar por Macária. Eu novamente agradeço a você. – e ele fez uma vênia com a cabeça, deixando-me envergonhada. – Não posso reverter os efeitos da romã, mas, posso lhe dar um mês para que fique com seus familiares no Mundo dos Vivos. Faço isso pois você serviu a nós como poucos fizeram.

— Meu senhor! – exclamei, feliz. Extremamente feliz. – OBRIGADA! – e abracei meu irmão rapidamente. – Por todos os fios de cabelo da minha senhora Perséfone, OBRIGADA!

— Um mês será o suficiente? – perguntou ele, olhando-me com simpatia.

— É mais do que suficiente! – acenei com a cabeça. – Obrigada, senhor Hades – beijei as mãos de Hades com cuidado.

— Pode ir hoje, se quiser, Diana. – Perséfone falou, sorrindo de orelha a orelha. – E, quando você voltar, poderemos discutir sobre suas novas funções!

— Novas funções? – perguntou Milo, confuso.

— Você acha que eu sou desocupada que nem você? – bufei em escárnio. – Por favor, meu bem, eu trabalho e muito, querido, não sou que nem você que fica o dia inteiro se aproveitando das suas servas.

— EI!

— Minha senhora, não vai precisar de mim durante esse período? – perguntei, fazendo uma vênia.

— Fique tranquila, querida, vá para casa e aproveite! – ditou ela, passando a mão por minha cabeça. – Vá, eu sei que seu irmão está ansioso para te levar para rever sua família!

— Obrigada, minha senhora! Obrigada.

Naquela noite, me despedi da minha senhora e dos meus amigos e parti para o mundo dos mortais, acompanhada de Milo, Camus e da deusa Athena.


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