Tropa Ômega escrita por Cler Night


Capítulo 1
Recrutas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/766539/chapter/1

Talvez pela centésima vez o ônibus que transportava os recrutas sacolejou quando passaram por algum buraco naquela estrada. Chamar aquilo de estrada provavelmente era ser generoso, lá fora devia ser um grande deserto, tudo uma grande suposição, já que não haviam janelas naquela caixa de sapato, se estivessem realmente andando por uma estrada, alguém precisaria levar uma bronca pelo péssimo trabalho de pavimentação.

— Como acham que vai ser? – Chan, o recruta mais novo entre todos ali, perguntou, claramente animado com a sua "nova vida".

— Nada tão empolgante a ponto de você ficar com essa cara de bobo alegre – Seungkwan respondeu, logo em seguida cruzando os braços, claramente se colocando na defensiva. – Nós podemos morrer. . .

Não era um bom começo de conversa. Quase foi audível as engolidas em seco que cada um presente deu com esse pensamento.

Cada um recruta reagia de uma maneira diferente aquela situação. Seungkwan se mantinha de braços cruzados, como se quisesse evitar que algo inesperado o atingisse, o que era o completo oposto de Chan, que parecia o mais empolgado ali. O chinês, Minghao, era o mais quieto, encolhido em um canto, talvez estivesse até dormindo, ninguém havia parado para prestar atenção. Mingyu parecia ser o mais calmo ali, o mais responsável, mas talvez só parecesse, poderia ser apenas uma fachada intencional. Já Seokmin não parava de bater com seus pés no chão de maneira nervosa, tentando descarregar sua ansiedade em algo. Por último, Hansol Vernon apenas observava os outros, tentando ocupar sua mente com algo que não fosse a morte.

— Será que dá pra parar? – Seungkwan bateu as costas de sua mão na cocha de Seokmin, que parou com os pés nervosos. Agora eram mãos nervosas.

— É inevitável – Seokmin resmungou. – Isso está demorando muito. Será que não estão nos sequestrando?

Uma leve risada escapou do lado aonde Minghao estava. No final das contas, ele não estava dormindo.

— Ninguém está sequestrando a gente – Finalmente Mingyu resolveu dar o ar de sua sabedoria, foi o que Hansol pensou, de forma irônica. – É obvio que uma base secreta não seria logo virando a esquina, apenas se acalmem.

Não importasse o que ele disse-se, ninguém ali estava calmo, e isso era perceptível pelo ar, a tensão era quase visível.

Mais um longo tempo se passou depois que todos voltaram ao silêncio, talvez uma, duas, ou três horas, ninguém saberia dizer, ninguém havia se dado ao trabalho de contar os segundos.

A maioria acabou por se desligar da realidade, para assim tentar acalmar seus nervos, e talvez por isso tenham demorado um certo tempo até se tocarem de que o caminhão que os transportava havia parado.

— É agora! – Chan exclamou empolgado, pela primeira vez tremendo, mas uma tremedeira de ansiedade, como um cachorro preso a coleira, que não espera a chance de ser solto pelo dono em meio a um grande campo.

Ninguém disse nada além de Chan, todos se mantiveram em um silêncio até a porta do caminhão ser aberta finalmente.

A luz invadiu aquele compartimento, o que cegou os garotos por um curto tempo, até finalmente seus olhos se acostumarem com a claridade e seus queixos caírem ao observar a imensidão do local aonde estavam.

Diversos caminhões e outros tipos de veículos, maiores ou menores, estavam estacionados por toda a área do que parecia ser um galpão, mas um galpão imenso, o tipo de lugar que poderia comportar centenas de veículos diversos. E afinal, era aquilo mesmo.

Todos pularam um por um para fora do caminhão, e novamente, juntos continuaram a observar todos os detalhes daquele local. Algo que chamou a atenção de alguns deles foi o fato de não haver janelas em parte alguma, era como estar preso em uma caixa, sem a visão do mundo exterior. Seria tão ruim lá fora? foi o que passou pela cabeça de alguns deles.

— Vejo que os nossos recrutas já estão aqui – Uma nova voz falou, atraindo o olhar de todos.

Um rapaz, que aparentava ser bem jovem, havia parado a uma curta distância dos recrutas e os observava com um genuíno interesse, como se fossem um tipo de espécie rara encontrada apenas nas exóticas florestas de algum lugar distante.

— Eu sou o tenente Yoon Jeonghan – Ele sorriu para eles, indicando o próprio peito com uma das mãos. – E vim dar as boas vindas para vocês.

Mesmo inexperientes em praticamente, estes recrutas haviam recebido um certo treinamento sobre como agir em frente a um oficial superior, mas essa preparação pareceu cair por terra com o choque de todo aquele mundo novo.

Finalmente, alguém entre eles pigarreou, o que aparentemente acordou todos para a realidade, que rapidamente se organizaram em uma fileira e fizeram uma continência adequada.

— Mas olha só, parece que já temos um concorrente ao cargo de líder aqui – Jeonghan sorriu insinuante, enquanto caminhava para mais perto de Mingyu. O leve surgimento de um possível favoritismo não fez os ânimos ficarem melhores. – Meus caros, não vou me prolongar demais aqui, preciso resolver outros assuntos. O que precisam saber agora é que vocês serão levados para a área de dormitórios, cada um vai encontrar seu quarto, nele vocês encontraram tudo que precisam por hora, uniformes, livros, programação e mapa da base. Nós nos veremos mais tarde.

Jeonghan se moveu para se virar e ir embora, e por um breve momento Seungkwan teve a leve impressão de que ele havia olhado tempo demais para algum dos seus companheiros, mas não consegui identificar quem era. Talvez fosse Mingyu novamente, era o membro que havia aparentemente chamado a atenção do tenente.

Quando finalmente ele os deixou, um outro soldado se aproximou e guiou os jovens para aonde eram os tais dormitórios.

— É tudo muito perto – Mingyu constatou, fazendo os olhos de Hansol revirarem, ele era por acaso o capitão obvio? – Somos praticamente todos vizinhos.

— Se alguém começar a gritar durante a noite, e não for um bom motivo, serei obrigado a cometer um crime de ódio – Seungkwan resmungou. Felizmente todos sabiam, mesmo com o pouco tempo de convivência, que Seungkwan era muito de ameaçar, mas que na verdade nunca teria coragem de fazer nada contra nenhum deles, ele era uma pessoa doce, só era muito esquentado.

— E o que seria um bom motivo? – Chan questionou.

— Ataque do coração, coisas do tipo, tudo fora da área de risco de morte não conta.

— Mas olhe – Minghao chamou nossa atenção, enquanto estava parado de frente para a porta de um dos dormitórios. – Impressão de digital, é assim que acessamos nossos quartos. Parece que a sua vingança pela gritaria vai ser barrada pela lei.

Seungkwan soltou um longo suspiro, como se estivesse frustrado, enquanto colocava suas mãos na cintura, o que fez todos rirem, pois claramente ele apenas estava fazendo um de seus dramas casuais.

— Bom, acho que é melhor irmos nos arrumar – Mingyu finalizou o assunto.

A fala do mais alto fez com que todos voltassem a realidade, e por algum motivo pareceu que aquela acordada havia feito um momento de descontração acabar e o ar esfriar automaticamente. Mas nenhum deles se deu ao trabalho de parar para pensar sobre isso por muito mais tempo, precisavam cada um conhecer sua nova casa.

Todos os dormitórios eram quase que completamente iguais. O cômodo era como um quarto pequeno, mas provia muito mais espaço do que muitos ali já haviam tido só para si. Havia uma cama toda vestida com uma roupa branca e era mediana, claramente de solteiro, mas também não minúscula, se duas pessoas deitassem perto uma da outra era possível conseguirem dormir, não de maneira confortável, mas conseguiriam. Na parede havia tanto um armário de ferro embutido quanto pequenas prateleiras.

Era nas prateleiras que se iniciava as poucas diferenças entre os dormitórios. Em cada uma delas estavam depositados os objetos pessoais que cada um dos recrutas havia escolhido para trazer, como a foto de família de Seungkwan ou as medalhas do pai de Chan.

Ao reparar nesse detalhe, Mingyu sorriu ao pensar que algo que aparentava ser tão frio, como a organização do Comando da Terra, havia se dado ao trabalho de pedir que alguém arrumasse esses pequenos detalhes para os novos recrutas.

Após admirarem seus pertences, o que lhes puxou uma sensação de nostalgia e uma variedade de sentimentos que pertenciam apenas a cada um deles, os recrutas voltaram sua atenção para uma bolsa grande que estava posta em cima de suas camas.

Dentro dela havia dois pares de um mesmo uniforme, mas o que reparam logo de cada era que ele não era igual a nenhum outro uniforme do Comando que já haviam visto antes. O tecido era firme, da cor azul royal, diferente por exemplo do uniforme de Jeonghan, que vestia um uniforme vermelho, e no lado esquerdo do peito havia o símbolo da letra ômega bordado em dourado.

Procurando mais um pouco, cada um achou também um par de sapatos e uma bolsa pequena com itens de higiene dentro da bolsa maior.

Cada quarto possuía seu próprio banheiro, o que parecia um luxo inacreditável para alguns, que não hesitaram em correr para este e vestir seus uniformes. Para os poucos que já estavam acostumados com esse tipo de coisa, apenas se renderam a vontade de se ver vestidos com seu novo uniforme.

Quando cada um se admirou no espelho, foi um momento particular para cada um, com memórias e sentimentos diversos. Alguns se sentiram tão orgulhosos de si mesmo quanto poderiam, outros apenas sentiram medo, um aperto no peito. Mas não importava quais eram esses sentimentos, agora todos eles faziam parte de um conjunto, eram uma equipe, e aquela vestimenta era um símbolo disso.

Foi com esse pensamento em mente que Mingyu pegou a pasta, que ele havia encontrado posta sobre a escrivaninha de ferro que havia no quarto logo que entrará no quarto, e leu rapidamente seu conteúdo.

Era a tal programação que Jeonghan havia mencionada, junto com algumas folhas de regras e um mapa, não um mapa exatamente, mas uma planta de todo o local. Mingyu era inteligente o suficiente para saber que eles tinham apenas parte da planta de tudo aquilo, não iriam entregar toda a organização da base assim de mãos beijadas para um bando de recrutas.

Na mesma escrivaninha aonde antes estava a pasta, havia uma pilha de livros, que Mingyu daria atenção depois, juntamente com alguns itens de papelaria, um pequeno notebook e um relógio.

Em sua programação dizia que o jantar de apresentação iria começar as oito horas, o que, Mingyu constatou, não iria demorar muito, eles tinham apenas mais uma hora até o tal jantar. Também estava escrito que o uso do uniforme era obrigatório, o que provavelmente nem era necessário de se pedir, já que a animação para experimenta-lo era inevitável.

Todos tiraram esse tempo para se familiarizar com o mapa do local e com seus novos materiais de estudo.

Seungkwan e Seokmin se encontravam na mesma confusão ao ver todos aqueles gráficos e cálculos novos que teriam que se obrigar a aprender. Lee Chan poderia aparentar ser uma criança imatura, mas com certeza entre todos ele era o mais confiante sobre todo aquele material novo, um verdadeiro gênio escondido em um disfarce infantil. Talvez fosse o mesmo para Hansol, um rostinho bonito, que iria se provar muito mais do que isso.

Mingyu foi o único que não estava concentrado de verdade na complexidade daquilo, mas sim pensava em coisas como – Se teremos que aprender coisas tão difíceis, o que afinal querem da gente? – E ele não era o único com esse tipo de pensamento. O lábio de Minghao se retorcia levemente apenas com a reflexão do que o Comando realmente poderia querer de um bando de jovens imaturos e sem grande experiência.

Quando o relógio mostrou o horário das sete e meia, Mingyu e Minghao foram os primeiros a saírem de seus dormitórios. Os dois trocaram olhares e inconscientemente trocaram uma mesma mensagem, deveriam esperar os outros.

Após cinco minutos o resto do grupo também já havia saído. Não que todos fossem muito pontuais, mas a ansiedade para ver o que iria acontecer era maior do que a vontade de ficar na cama descansando. Isso quando não se queria fugir das contas de matemática complicadas ou das palavras difíceis dos livros.

— Bom, é agora – Chan repetiu a mesma coisa que havia dito ao chegarem na base, mas agora em um tom mais baixo, como se estivesse realmente refletindo sobre aquilo.

— É, é agora – Mingyu murmurou em resposta, mesmo que todos os outros houvessem permanecido em silêncio.

Com o silêncio chegaram a conclusão que ninguém mais diria nada, e o mais alto se deu a liberdade de sair na frente da marcha, na direção que ele havia decorado como a do refeitório, e foi seguido pelos demais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tropa Ômega" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.