A vida de um otaku de antes da era da Internet escrita por Malk


Capítulo 2
Cavaleiros do Zodíaco - parte 2




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Poucas semanas após a estreia, Os Cavaleiros do Zodíaco virou o novo vício das crianças e adolescentes do Brasil. Mas como Melc conseguiu acompanhar a série, apesar da escola e da novela da Globo?

Primeiro, havia aquele dia da semana que ele saia mais cedo da escola. Sim, o horário da saída era apenas dez minutos antes do desenho começar e normalmente se levava pelo menos vinte minutos no trajeto entre a escola e a sua casa, mas com a força do cosmo, Melc conseguia correr na velocidade da luz e chegar em casa a tempo. E depois de cansado, suado, ofegante, percebia que a programação estava atrasada e o desenho começava meia hora depois.

Todavia, para um desenho “de continuação”, como era o caso, um episódio por semana não era suficiente, então vinha a segunda opção: chorar com sua mãe pra deixá-lo ver no horário da noite.

— Mãe, me deixa ver os cavaleiros? – pedia Melc.

— Mas esse desenho do olhão passa no horário da novela, a noite não é hora de desenho – ela respondia.

— Mas esse é diferente.

Digo que poucas vezes ela cedeu, mas nem tudo estava perdido. Melc tinha uma irmã dois anos mais velha que também gostava do exótico e único desenho e que também estudava de manhã, ou seja, os dois estavam no mesmo barco. E qual o principal motivo pelo qual a garota gostava dos cavaleiros? Shiryu! Toda garota que assistia Cavaleiros do Zodíaco gostava do Shiryu, me admira ele nunca ter saído na capa da “Querida”, “Capricho” ou outra revista voltada para o público adolescente feminino.

Continuando, a irmã do Melc teve uma ideia mais eficaz do que implorar: negociar. E qual era a negociação? Se Melc e sua irmã lavassem a louça, a TV ficava liberada para eles na hora do desenho. Uma troca razoável e mesmo a mãe não aceitando a troca todo dia, já era possível alternar entre a novela e o desenho, isso fazia os filhos conseguirem ver os Cavaleiros de duas a três vezes por semana.

Mas, e quando tudo dava errado? Vai parecer história de pescador mas é pura verdade: naquele tempo, se você pegasse um rádio FM e sintonizasse antes da primeira estação, era possível ouvir o áudio do canal 6, que era a Rede Manchete no estado do Rio de Janeiro. Resumindo, quando não conseguia ver os Cavaleiros do Zodíaco, ao menos podia ouvi-los.

 

O tempo passou e surgiu tudo de Cavaleiros do Zodíaco.

Teve um disco de músicas (ou CDs, para os mais abastados) na qual se podia ouvir a abertura brasileira e mais um monte de músicas infames sobre o desenho, mas que fizeram muito sucesso na época.

Os bonequinhos dos cavaleiros de ouro eram o sonho de consumo de todo moleque, porém eram caros e difíceis de serem encontrados. Há quem diga que a empresa que importou os bonecos não esperava que a série fosse fazer tanto sucesso, então a procura foi muito maior do que a oferta.

E as revistas. Começou com a revista Herói, uma revista semanal que falava sobre heróis, mas sempre a matéria da capa era sobre os cavaleiros. Custava R$ 1,90, o que equivale a uns quinze reais hoje em dia.

Ainda sobre a Herói. Durante doze semanas, o tema da edição era simplesmente contar o que ia acontecer em cada uma das doze casas dos cavaleiros de ouro e essa foi a época que a revista mais vendeu, o próprio Melc juntou suas moedinhas e comprou a edição que falava sobre a casa de Capricórnio, seu signo. Vocês reclamam quando alguém dá spoiller de graça na internet? Em 1994, os garotos compravam spoillers por R$ 1,90.

 

Até agora, vocês ouviram este narrador exaltar a falecida TV Manchete, mas ela também tinha seus problemas, e vocês saberão um deles agora.

Certo dia, lá pelo fim de outubro de 1994, Melc estava na casa do seu primo Edil-Son vendo um episódio e estava uma das partes mais empolgantes de toda a série, a luta do Ikki com Shakka de virgem. Ao fim, no encerramento, estava uma legenda enorme escrito “21 JANEIRO, EPISÓDIOS INÉDITOS DE CAVALEIROS DO ZODÍACO”.

Ninguém entendeu essa mensagem, porém no dia seguinte ela fez sentido. Estavam todos empolgados, esperando a conclusão da fatídica luta, quando… What? Seiya lutando com Cassius pela armadura de Pégaso? Que droga é essa?

Minutos depois, finalmente a ficha caiu. A série voltou para o começo, seriam reprises até o prometido dia vinte e um de janeiro do ano seguinte. Mas tudo bem, pelo menos assim Melc conseguiria ver os episódios que perdeu por causa da novela das seis e rever os que já havia visto também não era nada mal.

Começou o ano de 1995 e também a contagem regressiva para os episódios inéditos. Veio a luta na casa de virgem, todos empolgados para ver a conclusão (apesar dos spoilers da revista Herói) quando… Luta do Seiya com Cassius pela armadura de Pégaso? Arrrggg, morram executivos da Manchete, morram e vão queimar nas profundezas do Tártaro!

Então, finalmente após muitas e muitas reprises, vieram os capítulos inéditos. E acreditem, valeu a espera, como valeu. E a melhor parte, depois de todos esses meses, aquela novela das seis acabou e a mãe do Melc resolveu não ver a novela que estreou, assim, ele podia ver Cavaleiros sem restrições. Vá embora Tropicaliente, e não volte nunca mais!

Enfim, após muitas lutas, emoções, reprises, sátiras, Paty Beijos e tudo mais, o tempo dos Cavaleiros na TV brasileira chegou ao fim, pelo menos naquela era. Mas eles deixaram sua marca no coração do Melc e de inúmeros brasileirinhos daquele tempo e abriu espaço para os desenhos japoneses, hoje mais conhecidos como animes. Depois vieram Dragon Ball Z, Pokémon, Naruto e outros excelentes animes de muito sucesso, mas tenha certeza de que nenhum deles fez tanto sucesso aqui no Brasil quanto Os Cavaleiros do Zodíaco.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo! Paty beijos pra vocês!!!



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