Desengano escrita por nathaliacam


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/766513/chapter/1

Antes de ler Desengano, leia Engano e Acerto.

 

Desengano

Victoria estava atrasada, mas isso não era novidade. Ela, provavelmente, trabalhava na única empresa no mundo que, às sextas, estendia o expediente. Todas as outras pessoas normais já estavam em bares, começando a ficar bêbadas, ou no conforto de suas casas, enquanto ela sentia, com atraso, o alívio do fim da semana.

Pelo menos ela não pegava o trânsito da hora do rush.

A respeito de sua empresa, era diferente também o fato de quase todos os seus colegas serem casados e terem filhos, o que significava que raramente alguém topava fazer alguma coisa às sextas à noite, por demais preocupados em voltarem para suas famílias o quanto antes. Por isso, quando muito a fim de fazer algo, ela tinha que recorrer aos amigos de outras partes de sua vida, e misturar-se aos colegas de trabalho deles.

Não que isso fosse de todo ruim; era sempre bom conhecer gente nova. Especialmente quando a gente nova valia a pena.

Hoje, em especial, poderia valer a pena. Pela segunda ou terceira vez, ela não se lembrava, se encontraria com os amigos do escritório de Laurent. Ele, por si só, já era uma companhia que valia a pena, mas ela receava ter de desapontá-lo quanto à possibilidade de sua companhia noturna, uma vez que estava mais interessada num de seus colegas.

Edward Cullen era um babaca, ela estava cansada de saber. Do tipo de homem que não faz questão de salvar contatos no telefone, ou de saber o seu nome. Isso poderia machucar alguém por aí, mas não a Victoria, uma vez que suas intenções com ele nunca passaram de casos de uma noite.

Ou casos de algumas noites, repetidas vezes.

Com essa intenção, ela tentou fazer um charme para atrai-lo. Quer dizer, quem não faria isso? Edward sabia o que fazia na cama, não custava tentar repetir a dose. Eles tinham se divertido muito naquela noite, não faria mal tentar novamente. Fazer-se de magoada quando ele perguntou por sua identidade quando ela lhe mandou uma mensagem, revelando assim que ele não tinha salvado o número dela, talvez surtisse o efeito que ela gostaria.

Mas não surtiu.

Isso também não fazia diferença – pessoalmente, as coisas sempre funcionavam melhor.

Victoria ajustou a saia-lápis no corpo e abriu um botão da camisa justa. Ajeitou os cachos ruivos, para que tivessem o volume que ela gostava, e pressionou os lábios juntos, certificando-se de sentir o batom perfeitamente contornado. Subiu os degraus que davam acesso ao bar karaokê e sorriu para o segurança na portaria. Caminhou sobre os saltos finos que lhe davam a postura que melhor lhe valorizava, e procurou pelo grupo de conhecidos.

Ela parou por alguns segundos para observar e calcular como melhor se aproximaria. Edward, como previsto, estava sozinho e estonteantemente bonito. Ele vestia uma camisa perfeitamente passada, não usava mais o paletó e estava sem gravata. Estava de costas, mas ela podia apostar que um ou dois botões de sua camisa estavam abertos também. Ele ria de alguma coisa que seus colegas diziam, jogava a cabeça para trás, gargalhava. O assento à sua direita estava ocupado por Laurent (excelente!), mas, o de sua esquerda, estava vazia. Victoria sorriu, porque parecia perfeito demais.

 Ela deu um passo à frente. E então uma figura ocupou o assento ao lado dele.

Uma figura loira. Ela tentou apurar a visão para identificar a mulher, e a reconheceu rapidamente. Era Tanya, de quem recebeu alguns olhares atravessados no último encontro em que esteve, provavelmente porque tinha roubado a atenção de Edward. Ela provavelmente acreditava que hoje teria mais sorte, mas Victoria tinha acabado de chegar e, desculpe Tanya, sua oportunidade terá de ficar para outro dia.

Victoria tocou os aros do sutiã sobre a camisa, ajustando o decote e decidindo abrir mais um botão. Tanya era uma mulher bonita, e subestimar as adversárias nunca era uma boa estratégia. Victoria, entretanto, confiava em seu taco, e tinha a vantagem de já ter dormido com Edward uma vez, além de toda a história de estar chateada... Edward, hoje, se redimiria.

Respirando fundo e decidindo que ela cumprimentaria a Laurent primeiro, para depois dirigir-se a Edward, ela se aproximou mais um pouco.

“Opa!” piscou e parou quando alguém tocou seu ombro para se equilibrar. “Me desculpe. Aquele cara ali esbarrou em mim e quase me derrubou.”

Victoria encarou a mulher magra e de cabelos castanhos, que sorria sem graça, esperando pela aceitação das desculpas. Seguiu com o olhar o dedo que ela apontava, e o homem que tinha esbarrado nela olhava para trás e revirava os olhos.

“Não se preocupe,” sorriu e deu de ombros, “Que babaca!”

“Não é?” ela riu, “Desculpe novamente!”

E então a mulher voltou a se mover, sacudindo os dedos na direção de Victoria para se despedir.

Exceto que ela tomava a mesma direção que Victoria estava decidida a seguir. Caminhava com pressa, e Victoria ia mais lentamente atrás dela, inconscientemente observando os passos da mulher. Os cabelos dela voavam com o movimento, e ela não hesitou nem uma vez ao contornar as mesas e parar junto às pessoas do escritório de Laurent. Bem à frente de Edward.

Victoria parou novamente e franziu o cenho com o que veio a seguir. Tanya ainda falava quando a mulher de cabelos castanhos e longos chegou. Mas Edward desviou os olhos sem que a morena falasse nada. Quando os olhos dele pousaram nela, ela sorriu. Sorriu largamente. E então foi puxada pelo pulso direito, caindo diretamente no colo dele.

No colo dele!

O fôlego ficou preso no peito de Victoria enquanto ela assistia à cena. Edward beijou a têmpora da mulher, que gargalhava. Não dava para ver a expressão de Tanya, mas ela não tinha se mexido nenhuma vez até agora. Edward beijou a mulher na boca rapidamente e levantou-se junto com ela. Da distância em que estava, Victoria conseguiu ouvir as palavras ditas por ele:

“Pessoal, esta é a Bella, minha namorada.”

Namorada. Ela era namorada dele. Mas desde quando?

Victoria calculou rapidamente as datas em sua mente. Não fazia dois meses desde que estivera com Edward, e, àquela altura, não fazia o menor sentido que ele estivesse pensando em namorar ninguém!

Entretanto, o sorriso que ele carregava, a forma como ele abraçava a mulher – Bella – pelos ombros, o orgulho em sua voz e o brilho em seus olhos quando ele olhava para ela, revelavam que nem Victoria e nem mais ninguém tinha qualquer chance.

Edward Cullen estava comprometido. E por um longo tempo.

Ela pensou em dar meia volta e se afastar sem olhar para trás, aproveitando que ninguém tinha conhecimento de sua presença ainda. Mas Edward não tinha qualquer relevância em sua vida que não fosse o benefício sexual mútuo e sem compromisso. Toda a sua chateação e mágoa eram apenas maneiras de mantê-lo interessado o suficiente para que próximas vezes acontecessem.

Como o assento ao lado dele estava ocupado por Tanya, Edward direcionou-se ao outro lado da mesa, onde Bella poderia ficar ao seu lado. E somente quando os dois estavam sentados, Victoria chegou à mesa, sorrindo como se nada soubesse, e ocupou o lugar onde ele estava antes com um cumprimento silencioso acompanhado de um sorriso a todos os participantes daquele encontro.

“Namorada dele?” Victoria perguntou a Tanya, sentada ao seu lado, enquanto a loira tomava um gole do vinho, que parecia estar amargo por sua expressão.

“Sim,” ela respondeu e pousou a taça de volta na mesa. “Bella.”

“Bom,” Victoria pegou o cardápio e passeou os olhos sobre os drinks. “Felicidade ao casal. Não temos chance.”

[...]

“E por que é que você sempre organiza encontros num bar de karaokê se ninguém nunca canta?”

Edward deu de ombros. A pergunta de Bella fazia todo o sentido, é claro, mas ele nunca tinha parado para pensar.

“O lugar é legal, a bebida não é cara. E sempre podemos rir das pessoas cantando ali.”

Bella negou com a cabeça em reprovação, mas sua expressão dizia que ela não estava tão escandalizada assim. Ela podia entender como deveria ser divertido ver pessoas tentando cantar e desafinando pela falta de talento e excesso de bebida. Bebida boa e barata, Edward tinha um bom argumento.

“Mas eu desconfio que esse não seja o motivo que trouxe uma certa loira para cá hoje...” olhou para o namorado, diminuindo o tom da voz e cruzando as pernas. “Ela já sabia que eu vinha?”

Edward entendeu a quem Bella se referia e passou um braço pelos ombros dela.

“Eu disse que a minha namorada vinha, mas não sei se ela acreditou,” deu de ombros. “Tanto faz.”

Bella riu baixo e encostou a cabeça no ombro de Edward. Recebeu um rápido beijo na testa como reação e tomou um gole do vinho rosê da taça de Edward.

“Tenho certeza que ela conseguirá outra companhia. Ela é muito bonita, você não tinha me dito isso.”

Ele lambeu os lábios antes de responder.

“Nunca fui fã de loiras.”

Bella gargalhou alto, jogando a cabeça para trás. É claro que aquilo era uma piada, visto o passado que ela sabia que Edward tinha. Ele mesmo havia contato a ela como nunca pensou em ter relacionamentos pelos últimos cinco, seis anos, mas que isso jamais o impediu de ter companhia na cama quase toda semana. Ela duvidava que ele excluísse alguma possibilidade de sua lista naquela época. Certamente o único quesito a ser preenchido para aprovação era o fato de ser mulher.

“Você pode fingir que me engana e eu posso fingir que acredito,” ela tomou outro gole do vinho antes de devolver a taça ao namorado. “Mas, se ela não conseguir outra companhia masculina, pelo menos ela arranjou uma amiga. Viu como ela e a ruiva estão conversando há um tempão?”

Edward olhou na direção de Tanya. E então, pela primeira vez na noite, reconheceu a ruiva que estava ao lado dela. A mulher olhou para ele no mesmo momento e, por meio segundo, um desconforto horrível tomou conta do corpo de Edward. Victoria sorriu timidamente e voltou a se concentrar no que Tanya dizia.

“Hm...” Bella comentou ao notar o que tinha acontecido, “Ela é alguém que você conheça?”

Ele lambeu o lábio inferior antes de fitar Bella. Ela o olhava atentamente, certamente curiosa pelo que havia acabado de presenciar. Moveu-se, depositando a taça sobre a mesa à frente deles e virou o corpo levemente de lado para encarar Bella com mais atenção. Acariciou a mandíbula dela com a ponta dos dedos e tocou-a nos lábios antes de sorrir.

“Ela... Ela é a razão pela qual nos conhecemos.”

Bella precisou processar a informação por alguns segundos e depois arfou audivelmente. Edward riu baixo e beijou-a nos lábios rapidamente.

“Ela...” baixou o tom da voz e sussurrou para Edward, “Ela é a Vic?”

“É,” assentiu, brincando os cabelos de Bella que formavam uma moldura em seu rosto. “A própria.”

“Puta que pariu,” disse no mesmo tom, “Não acredito que estamos os três no mesmo ambiente!”

“Os quatro,” ele corrigiu, “Se você contar com a Tanya.”

Bella riu, sua expressão ainda afetada pela surpresa, e então relaxou novamente, abraçando os ombros de Edward e apoiando o queixo em seu braço.

“Cacete,” ela disse depois de olhar discretamente na direção de Vic, “Ela é muito linda!”

Edward não negaria, porque Bella tinha razão. Vic era realmente linda e sexy na mesma medida.

“Acho que você já sabe que eu prefiro você.”

Bella desviou os olhos da mulher e riu de Edward. Mas riu com vontade, gargalhando alto e até chamando a atenção de algumas pessoas ao redor deles.

“Ai, Edward,” ela disse tomando ar, mas ainda rindo. Ele a questionou, também rindo, a respeito do motivo do ataque que ela dava. “Você é hilário.”

“Eu?” ele perguntou, rindo.

“Você,” limpou as lágrimas no canto dos olhos, “Você mesmo. Fica tranquilo. Não estou com um pingo de ciúmes da Vic. Pode assumir que ela é linda.”

Edward revirou os olhos.

“Aqui estou eu tentando ser um cara romântico e você me corta desse jeito!”

Bella piscou o olho direito e deu de ombros antes de pegar a taça dele novamente.

“Você sabia disso tudo e ainda assim salvou o meu número ‘antes de saber o meu nome’.”

Ele tocou o queixo dela e puxou para perto:

“A escolha mais acertada que eu fiz.”

“Disso, eu já sabia.”

Talvez fosse desconfortável para as pessoas ao redor que Edward tivesse levado a namorada apenas para se esquecer da presença de todos os presentes. Talvez fosse desconfortável para Victoria e Tanya assistirem ao homem que tinham esperanças de levar para casa naquela noite, ficar absorto à presença de outra mulher. Talvez não fosse adequado que eles se beijassem com tanta frequência, às vezes de uma maneira não tão educada para o público.

 Com toda certeza, porém, nenhum dos dois percebia nada disso. E, mesmo que percebessem... Jamais se importariam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me conta o que você achou da narração sob o ponto de vista da Vic.
Um beijo e até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desengano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.