Cartas para Julieta escrita por Capitu


Capítulo 5
Um transbordar de sentimentos conflituosos


Notas iniciais do capítulo

Olá, bem-vindo novamente!

Este novo capítulo está organizado em uma forma diferente, para não ficar confuso o diário da Julieta estará em negrito, espero que gostem!

Um abraço,
Line
@cafeerosas



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Pequeno e ainda assim imenso
Calado e ainda assim intenso
Pesado e ainda assim flutua
Veneno e ainda assim me cura

Quando um sentimento fica assim fora de si
Coração perde a cabeça e o juízo voa
O universo na cabeça do alfinete
Tudo brilha diferente no olho da pessoa


(Lenine- O universo na cabeça do alfinete)

 

O dia amanheceu agitado na Fazenda Ouro Verde após o café da manhã Julieta recebeu um telefonema de seus advogados solicitando a presença dela e de Camilo em São Paulo para tomarem conhecimento de proposta inédita de investimentos que haviam recebido. Desde que ela e seu filho se reconciliaram os negócios de ambos foram tomando rumos surpreendentes, com os lucros obtidos tanto na exportação como na produção dos cafés nobres e especiais,  a rainha e o príncipe do café estavam prontos para tornarem-se a “família real” da indústria paulista.

As novidades vindas da capital animaram sobremaneira a Rainha do Café que saiu apressadamente para organizar a viagem que seria ainda naquele dia; conversou com seus empregados, avisou Camilo e Jane e finalmente rumou ao seu quarto para arrumar as malas. Estando ali diante de seus vestidos elegantes e coloridos Julieta recordou-se de como sua vida havia sido transformada por completo desde quando encontrou-se com os olhos profundos e bondosos de seu marido tão bem descritos em seu diário, também recordou-se da alegria vivida no dia anterior quando em duas cartas percebeu o quanto o destino a deu um homem que a amava mais que tudo- praticamente desde o dia que haviam se conhecido- e assim dentro destas lembranças percebeu que a viagem a São Paulo a impediria de dividir com Aurélio uma noite de retorno a suas memórias como casal, aquilo a deixou chateada e por isso decidiu mandar um bilhete ao marido para demonstrar o quanto o amava.

E assim o fez, após concluir a arrumação das bagagens Julieta rumou ao seu escritório e escreveu um recado para seu marido, pedindo a um dos empregados que o levasse até ele que se encontrava na Fazenda Williamson, onde trabalhava. Graças a seu trabalho, que ia de vento e poupa, Aurélio não poderia acompanhar sua amada nesta ida a São Paulo, e por isso, ela se encontrou em um misto de sentimentos conflituosos, estava feliz e orgulhosa de seu marido mas ao mesmo tempo enciumada e entristecida pois sentia que perderia a oportunidade de passar algum tempo com ele naquele mundo particular que haviam criado para compartilhar e cultivar suas memórias.

Contudo, antes de sair rumo a capital ela decidiu passar por aquele ambiente especialmente criado por ela para estar com Aurélio. Ao ingressar no quarto Julieta observou que ainda restavam algumas das guloseimas sobre a mesinha e riu-se ao perceber que com a emoção transbordante da noite anterior ela e o marido mal tocaram na comida, em seguida caminhou até a mesinha de estudos, tomou em suas mãos o bolinho de cartas feitas a ela por por seu amado e retirou-se do ambiente-  “se eu não posso ter um momento com Aurélio hoje pessoalmente terei em suas doces palavras escritas a mim”- pensou, planejando reler as suas primeiras cartas ao anoitecer.

Na Fazenda Williamson Aurélio recebeu o recado de Julieta que dizia- “Meu querido marido, tive que ir a São Paulo com urgência para receber novas propostas de negócios, sei que isto acarretará uma pequena pausa no nosso retorno às sensação que vivemos durante a construção de nossa história, porém, não poderia deixar de dizer o quanto isso tem me feito bem, mais que isso, como você me faz bem, eu te amo profundamente, nunca se esqueça. De sua Julieta” - um belo sorriso surgiu nos lábio do botânico, era incrível como sua amada não deixava de surpreendê-lo a cada dia, palavras como as ditas naquele bilhete, onde ela afirmava com todas as letras que o amava e que era dele, o deixava extasiado. Foi então que lhe ocorreu uma ideia, passaria aquela noite no quarto das memórias, assim sentiria menos saudade de sua amada, já que ali habitavam detalhes tão próprios dela que se ele fechasse bem os olhos, sentiria que ela estaria ali com ele.

Após o jantar com Camilo em São Paulo Julieta decidiu que iria até o escritório para ler algumas das propostas de investimento que haviam recebido, sentou-se em sua cadeira e começou a trabalhar. Após a leitura de algumas páginas ergueu a cabeça e de repente como que em um estalo viu-se tomada com uma memória em particular, o primeiro beijo trocado com Aurélio; lembrou-se de todas as sensações que viveu naquele dia, medo, raiva, desejo, atração, tensão, um misto tão inexplicável que talvez nem as letras descritas em seu diário poderiam ser capazes de descrever - “aí meu Deus meu diário...as cartas, o próximo momento que eu e Aurélio compartilharemos é esse dia, que será que ele vai pensar quando ler? O que será que ele sentiu”- pensou levantando-se da cadeira e caminhando de um lado ao outro do escritório reproduzindo um costume que tinha quando ficava nervosa e apreensiva.

Foi então que Julieta recordou-se do bolinho de cartas que havia em sua bolsa e que ali  possivelmente estaria a carta que ele escreveu sobre aquele momento, poderia ler sem ele? Não seria melhor assim pois sabia que  não suportaria ver sua reação na leitura de seu diário? Será que ele a compreenderia? Será que ele havia percebido o quão confusa ela havia ficado? - “ai que inferno eu preciso descobrir o que ele sentiu naquele dia e a solução está aqui em minha mão... quer saber, vou ler”- disse em alta voz tentando ser respondida favoravelmente por sua própria consciência. Sentou-se na poltrona próximo a porta e tomou a carta em suas mãos, respirou fundo e começou… “Estimada Julieta..”.

Na fazenda Ouro Verde Aurélio já havia jantado e se preparado para dormir quando ingressou no quarto das memórias. Como havia imaginado pode sentir menos saudades de sua esposa estando ali naquele local que havia sido preparado com tanto cuidado por ela, decidiu que antes de deitar-se na cama olharia algumas coisas pessoais de Julieta que a própria havia trazido para compor suas memórias, foi até a estante e pegou alguns livros  favoritos de sua esposa que embora conhecidos dele pareciam trazer um pouco do cheiro dela -aquele cheiro doce de Julieta Cavalcante que ele tanto amava- e sentou-se no sofá. Foi em um destes livros que encontrou algo que aqueceu seu coração, uma foto da jovem Julieta, provavelmente em seus 13-14 anos, estava sentada em um banco em um jardim repleto de rosas, vestida em um leve vestido vermelho, os cabelos castanhos soltos e um sorriso sereno nos lábios- “ sua juventude meu amor roubada de ti por aquele monstro, que bom perceber que este sorriso voltou aos seus lábios e que felicidade saber que eu sou parte dessa nova vida”- disse em voz alta.

Foi então que se recordou do diário de sua amada e percebeu que ele estava ali apoiado sobre a mesinha do lado da lareira. Sentiu uma enorme  curiosidade em lê-lo, contudo, pensou em o quanto aquilo era algo privado e particular dela, achou por bem não lê-las e resolveu desviar sua atenção para as suas cartas, afinal sabia que a próxima seria sobre o primeiro beijo e achou por bem lê-la antes de mostrar a Julieta; passou a procurá-la por todos os cantos e finalmente percebeu que elas não estavam ali- “será que Julieta levou as cartas para São Paulo?- pensou surpreso- “sendo assim, que faço? Será que ela vai ler sem mim? Será que ela entenderá o que eu senti naquele dia? A paixão, com um misto de surpresa e depois uma vontade desesperada de pedir desculpas? O que será que ela pensou?”- não aguentou de curiosidade e com muito receio abriu o diário buscando o dia em que de um tapa veio um beijo e assim começou a ler:

“São Paulo, fevereiro de 1910

Queria poder expressar em palavras tudo o que sinto nesta tarde, um dia depois do ocorrido entre eu e o senhor Aurélio aqui neste mesmo escritório em que agora me encontro, talvez palavras não sejam suficientes para colocar pra fora todos este turbilhão de sentimentos confusos e contraditórios que transbordam  dentro de mim (...) ”

 

Coincidentemente, no mesmo momento em que Aurélio lia o diário em São Paulo Julieta iniciava a leitura de sua carta.



Estimada Julieta,

 

Peço perdão por estar me referindo a senhora sem grandes formalidades, contudo, sinto que depois do que vivemos ontem eu possa, pelo menos nestas letras, abrir mão do uso das convenções e formalidades que cercam os termos que definem as negociações entre o filho do Barão  de Ouro Verde com a Rainha do Café, para me dirigir a ti apenas sendo eu mesmo, Aurélio, o homem que descobriu nestes nossos dois últimos encontros que a admiração que eu dizia ter pela senhora é real e tão palpável, capaz de transbordar dentro do meu peito (...)”



“ (...) tento até agora entender o que aconteceu neste lugar durante o baile de máscaras de meu filho, estou tão confusa, perdida, quase desesperada, o dono daquele belos olhos azuis que pareciam tão bondosos, a quem decidi que o tratamento que devo dar é apenas aquele dado pela implacável Rainha do Café, ousou me provocar e me revidar da forma mais inacreditável, como um bajulador, embora pareça tão real e sincero, um bajulador que está tentando me seduzir, é isto e nada mais. Aurélio Cavalcante teve a audácia de me dizer que eu me favoreci da minha condição de mulher para conseguir o que eu tenho, que tipo de mulher ele pensa que eu sou? Não me dou a estes desfrutes e a forma que consegui agir para me defender foi dando um tapa no rosto dele, atitude que tomei de forma impensada, apenas segui um profundo impulso de mostrar que eu não sou esse tipo de mulher, ou será que ele pensa isto só porque nós mulheres não podemos ser boas nas coisas baseadas em nossos próprios méritos ? (...)”

 

Aurélio respirou fundo, sabia que suas palavras, ditas no calor do momento poderiam ser mal interpretadas, e ali torceu para que ela entendesse o qual arrependido ele ficou por dizer aqueles impropérios no calor de sua aflição pela família….

 

“(...) Ontem quando em seu escritório fiquei observando-a trabalhar de forma tão compenetrada, com tanto afinco, elegância e seriedade, percebi o erro gravíssimo que cometi com a senhora na noite anterior onde a acusei - no calor do desespero por minha família - de utilizar a admiração que a senhora desperta nos homens como um favorecimento aos seus negócios, algo que eu não acredito ser real; por isso venho sinceramente pedir-lhe desculpas, não acho que a senhora utilize destes artifícios para obter sucesso, pelo contrário percebo o quanto a senhora é habilidosa nos negócios e o quanto é dedicada a eles; os logros que colhes são unicamente advindos de suas competências e talentos e é isto que desperta em mim uma grande admiração pela senhora, sua força, seu trabalho e aqueles tantos outros mistérios que escondes dentro destes olhos intensos.

Sei que as palavras que proferi a feriram e como resposta a senhora me deu um tapa no rosto; hoje percebo que embora agressivo este ato foi por  total merecimento meu, pelos motivos que já lhe indiquei anteriormente, contudo, queria também me desculpar pela forma indelicada a qual segurei seus braços e que resultaram em uma aproximação inesperada finalizada em um beijo, nosso beijo. (...)”

 

Julieta apresentava um semblante preocupado ao mesmo tempo que emocionado refletido em seus olhos cheios de lágrimas; Aurélio havia percebido o quanto aquelas palavras a  feriram e ofenderam, estava claro o que hoje ela sabia com toda certeza, seu marido era um homem raro, capaz de admirá-la em sua vocação e habilidades, capaz de perceber que uma mulher também poderia ter sucesso por ela própria sem favores alheios…

 

“(...) Sei que daquele tapa, dado com tanta força, daquelas verdade que eu gritei diante dele para que um homem nunca duvide de mim e de quem eu sou, iniciamos uma pequena luta, foi então que ele segurou com força em meus braços e a distância entre nós dois se tornou curta, fazendo com que se torna-se quase impossível respirar, e ali meus sentimentos nublam, meu raciocínio perdeu-se e eu só conseguia ser atraída por aqueles olhos azuis e por aqueles lábios, eu me entreguei, cedi aos pecados da carne, aos pensamentos luxuriosos e corruptíveis, cedi aos encantos de um homem.  Como eu pude ser tão fraca? como eu pude me deixar levar por olhares, por vontades? A pouco ele havia me subjugado como mulher e de repente ali estava eu me dando a estes desfrutes? Cedida e rendida diante daqueles doces lábios, perdida naquele inebriante perfume. Insolente, como pode abusar desta forma da minha condição de mulher para me revidar com um beijo? E naquela hora senti tanta raiva, raiva de mim mesma por ceder a um homem, ao mesmo tempo que sentia uma corrente elétrica percorrendo meu corpo me atraindo a ele, a aquele homem que parecia tão bondoso e amável, mas que é igual a todos os outros. E finalmente senti um enorme pavor, medo, pois ele me fez lembrar ao mesmo tempo que dos doces sentimentos da jovem e romântica Julieta, daqueles horríveis momentos em que fui agarrada com força por um ser que me subjugou por inteiro ainda em minha juventude me submetendo aos horrores inenarráveis que já vivi. Estou confusa (...)”



“(...) Deste ato que não consigo me esquecer, não me arrependo e nem me culpo, pois senti algo inexplicável quando a percebi tão próxima a mim, senti como se um ímã me atraísse a senhora, aos seus olhos, a sua boca, ao seu cheiro inebriante… perdão se estou sendo impróprio, porém tento decifrar em minha mente este misto de sensações conflitantes e conflituosas que a senhora desperta em mim, sinto como se houvesse aqui em meu peito um vulcão prestes a entrar em erupção, uma explosão de sentimentos que a muito eu não sentia.

Logo, não posso nomear o que sinto pela senhora, mas algo tenho certeza, eu não consigo parar de pensar em quem a senhora é e no quanto seus mistérios me atraem a ti. Quero deixar claro que o beijo que eu lhe dei não foi um revide ao tapa mas sim algo inesperado armado pelo destino, este, que parece nesta admiração que sinto pela senhora, querer me unir de maneira contraditória a aquela que eu poderia chamar de algoz, transformando-a  naquela que desperta em mim sentimentos que ainda não consigo decifrar mas que transbordam intensamente do meu interior.

 

Repito o quão  importante é que se permita ser admirada, e deste modo te peço quase como em uma prece, permita-me admira-la.

 

Com todo respeito,

Aurélio Cavalcante”



(...) estou muito confusa, sinto um transbordar de sentimentos que parecem impossíveis de serem descritos, raiva, medo, culpa, tensão, desejo, vontade, opostos colocados lado a lado, um beijo, algo tão pequeno mas imenso e tudo vivido neste escritório, algo tão pesado, que me fez sentir todo meu passado, os mesmos medos mas que ao mesmo tempo me fez flutuar- embora por apenas alguns segundos- naqueles lábios e naqueles olhos azuis, eu só posso estar perdendo meu juízo e este homem está se tornando quase um veneno para mim.

Não vou deixar me seduzir por cortejos baratos, de um homem que só quer me seduzir, me enganar e se aproveitar de minhas fragilidades para me manipular em favor de sua família, eu sou a Rainha do Café e fragilidade não está colocada nessa pessoa que eu construí para ser, se é guerra que Aurélio Cavalcante e seus lindos olhos azuis inebriantes querem, é isso que terão, e serei eu que a partir de agora cuidarei dos negócios com os Cavalcante, não me renderei, não posso e não deve me deixar abalar, mesmo que ele diga que eu precise aprender a ser admirada - por ele, quanta petulância-  isto não passa de uma armadilha e não serei rendida apenas em um beijo, o qual me arrependo e me culpo por ter cedido, já cumpri a minha penitência por ter cedido, não há prenúncios de nada nesta confusão de sentimentos, apenas a certeza de que nada deterá a Rainha do Café”.

 

Ao finalizar a leitura do diário Aurélio sentiu a dor de sua amada, sentiu como se pudesse reviver cada sentimento que havia causado nela apenas por tocarem seus lábios, sabia que aquele beijo quase roubado, saído após um momento de agressões mútuas a havia perturbado, porém não tinha ideia da dimensão disso tudo dentro dela; todo este furacão de sentimentos descritos ali, quase palpáveis; dava graças aos céus por hoje saber que o segundo beijo que haviam dado fora tão delicado a ponto de amenizar todas aquelas palavras que ele a havia dito naquela noite no escritório em São Paulo; foi então que lhe ocorreu uma ideia fazendo com que ele corresse até a sala…

 

Quando finalizou a leitura da carta Julieta se encontrava mais uma vez em um turbilhão de sentimentos, parecia revive-los um a um e saber que seu marido, o dono daquele par de olhos azuis inebriantes, também havia sentindo aquele vendaval de sensações fora de si, que tiravam o juízo das mentes e aproximavam seus corações, percebeu que talvez o amor  que ela sente por ele havia florescido naquele primeiro beijo, o prenúncio de um amor como o próprio padre a havia alertado, mas que ela não sabia dimensionar já que aquele beijo a trouxe sentimentos complexos, opostos, todos de uma vez.

Nesta hora, Julieta foi tomada por um enorme desejo de ouvir a voz de seu marido e então correu em direção a sala para usar o telefone, não se importando com o avançar da hora e em acordar toda a fazenda Ouro Verde se assim fosse necessário. Contudo, quando estava se aproximando do equipamento este soou alto a pegando de surpresa, ela atendeu conversou com a telefonista e abriu um enorme sorriso, ela e Aurélio tiveram a mesma ideia, na mesma hora- “talvez é a saudade que nos atraiu ”- pensou e disse ao perceber que a ligação se completará:

 

— Boa noite meu lindo marido, como soube que eu queria falar com você? -  sua voz era suave e tomada de emoção, afinal a vida não cansava de enchê-la de agradáveis surpresas.

 

— Ah Julieta, não sabe como me alegra ouvir sua voz, eu precisava falar com você, não poderia esperar até amanhã cedo-  fez uma pausa para suspirar tomando coragem para dizer- preciso lhe confessar algo- finalizou.

 

— O que houve Aurélio? Aconteceu alguma coisa? Estão todos bem?- disse Julieta já aflita, a voz de seu esposo parecia triste e preocupada.

 

— Não meu amor, não aconteceu nada, exceto que eu estava a pouco em nosso quarto de memórias e li seu diário sobre o nosso primeiro beijo e…- não conseguiu finalizar pois foi cortado por ela no outro lado da linha.

 

— Ah é isto? - disse em em meio ao riso- pois eu confesso que estava a pouco no escritório lendo a sua terceira carta que relatava exatamente o mesmo momento; não me canso de me surpreender com a nossa conexão, ela é mesmo de alma meu amor, também não me canso de perceber o quanto você é um homem maravilhoso, bondoso, fiquei tão feliz por saber que você percebeu que eu tinha me ofendido com seus comentários sobre meus negócios, você me conhece tão bem mesmo quando havia me encontrado tão pouco - finalizou emocionada.

 

— Meu amor, minha Julieta… ler seu diário e observar a confusão de sentimentos naquele dia só me faz reforçar o quanto este pedido de desculpas era sincero e necessário, você sabe que eu falei aquilo no calor do momento e que eu a admiro pela profissional que és, por seu talento e traquejo capaz de causar inveja a tantos homens já que és melhor que eles, a leitura de seu diário foi tão reveladora pra mim, hoje embora eu saiba de tudo que você passou meu amor, eu gostaria que esse nosso primeiro beijo tivesse sido de outra maneira- disse em tom de lamentação.

 

— Não diga isso meu querido, tudo o que passamos construiu nossa história e cada pedacinho dela foi necessário para consolidar o que vivemos hoje, eu de fato fiquei muito assustada naquele dia, minha cabeça rodava em mil sentimentos complexos e contraditórios, mas hoje eu sei que em parte tudo aquilo foi o ponto inicial para que eu começasse a me abrir a possibilidade de amar, eu me debatia porque eu me arrependia de ter aberto essa brecha, eu me culpava porque sabia que algo ali era diferente de todas as sensações que eu havia vivido até então, eu tinha medo, medo daquelas vibrações que se manifestaram em meu interior- Julieta concluiu.

 

— Como eu te disse no nosso segundo beijo, fazendo nosso corpo vibrar- suspirou na lembrança- logo leremos sobre isto não é?

 

— Sim meu amor, mas por hoje acho que podemos ir dormir, amanhã o dia será longo e estou empolgada, me espera ao telefone no final da noite? - Julieta  perguntou, pois sabia que ainda não poderia voltar ao Vale.

 

— Sim minha querida, esperarei ansioso por sua chamada, durma bem e lembre-se que eu te amo- finalizou.

 

— Eu também te amo Aurélio,tenha um bom dia amanhã, te esperarei neste mesmo horário neste mesmo lugar- finalizou desligando o telefone.

 

E assim foram dormir felizes, sabendo que mesmo em meio a um turbilhão de sensações conflitantes a chama que havia entre eles era mais forte que tudo, o coração falou mais alto que a mente e foi capaz de fazer tudo brilhar diferente nos olhos um do outro.


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Notas finais do capítulo

Comentários são um estímulo sempre, me contem o que acharam!
Até a próxima!

(@cafeerosas)



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