O marido dela não conseguia ficar num mesmo lugar por muito tempo.

Ele dava de tudo para não demonstrar, mas depois de anos o observando atentamente, Sakura tinha ficado boa em entender o que se passava na mente dele sem que ele usasse suas palavras.

Então ela sabia que Sasuke estava se sentindo inquieto quando ele continuou a olhar pela janela naquele dia. Seus olhos presos nas nuvens e no infinito azul do céu, e ele parecia um pássaro com as asas arrancadas, ansioso para voar bem alto e bem longe.

Mas às vezes ele não estava olhando pela janela. Ela o encontrava sentado na varanda do quintal, sua xícara de chá fria e abandonada, enquanto ele afiava sua espada e suas kunai. Ele sempre parecia estar concentrado na lâmina enquanto fazia isso, mas seus olhos estavam vazios, sua mente provavelmente perdida em memórias, e suas mãos acabavam o trabalho mecanicamente.

O olhar de Sasuke vagava durante o dia, como se ele estivesse observando algo bem longe, e Sakura podia apenas imaginar o que ele via.

Depois de viajar com ele por um tempo, ela quase podia entendê-lo, já que em algumas ocasiões ela sentia falta do quão refrescante e novo era o mundo fora dos portões de Konoha. Mas Sasuke tinha vivido na estrada por anos. Ele tinha passado a maior parte de sua vida ao relento, então ele devia sentir que lá fora era o seu lar.

Sakura geralmente não se preocupava quando ele ficava daquele jeito. Ele parecia estar em paz, apesar da inquietude, então ela se sentia feliz em saber que ele não estava mais cheio de ódio.

Mas dessa vez era diferente.

— Você sente saudades? – Ela não pôde resistir à vontade de perguntar a ele, pegando-o de surpresa e fazendo-o se virar da janela para olhar para ela.

— Do quê?

Ela indicou o mundo além da janela do quarto deles com a cabeça antes de adicionar mais detalhes à sua pergunta.

— De viajar pelo mundo.

Ele seguiu o gesto dela com os olhos, olhando uma última vez para o céu vermelho e laranja, antes de se mover da cadeira para se levantar e caminhar em direção a ela, e se sentar na cama.

Houve um momento de silêncio enquanto ele tentava encontrar uma posição confortável ao seu lado. Sakura não olhou para ele, mas continuou assistindo o pôr do sol.

— Sabe... Não importa o quanto do mundo eu veja, – ele finalmente falou depois de alguns instantes, – quanto mais eu o conheço, mais parece que eu não sei nada dele.

— Parece fascinante.

Ela sabia que ela soava saudosa, mas ele também soava. E mesmo que ela se sentisse um pouco culpada pela decisão dele de abandonar a vida de nômade, ela podia fechar os olhos e imaginar o quão grande o mundo parecia ser naqueles dias.

— E é. – ele concordou e ela não pôde deixar de fazer outra pergunta.

— Você quer ir?

Sakura não protestaria se ele quisesse. Apesar de querer tê-lo ao seu lado, ela queria que ele fosse livre e feliz, então ela o apoiaria no que ele quisesse.

Mas quando ela olhou para ele, ela percebeu que Sasuke não estava mais olhando para fora da janela, mas para o pequeno bebê em seu colo, que tinha finalmente parado de chorar e caído no sono nos braços do pai.

— Não importa o quão grande o mundo lá fora seja, – ele disse suavemente, um sorriso se espalhando em seus lábios enquanto ele brincava com os dedinhos de Sarada, – Esse daqui é muito maior.