Algo sobre Solidão escrita por Holanda


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Um AU moderno onde Raven é lider de gangue e Kali uma viúva.



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Algo sobre Solidão

Quando Raven Branwen entra em algum lugar… a atmosfera muda. Ela era uma mulher naturalmente intimidadora, alta, com seu cabelo negro e longo, sua pele pálida e seus olhos cor de sangue. Uma expressão selvagem no rosto como se a qualquer momento, ela fosse rosnar e morder qualquer um que a contrariasse… bem, quem a conhecia melhor, sabia que Raven era exatamente o tipo de pessoa que faria bem pior do que isso caso você merecesse.

Ela deslizou a porta para o lado entrando no estabelecimento de estilo oriental, as mesas eram baixas e os clientes sentavam no chão que era coberto por tapetes vermelhos e  almofadas redondas. Lanternas de papel ficavam em duas filas no teto, no balcão à esquerda era servido comes e bebes tudo seguindo o tema asiático.

Aquele era o local preferido de Raven a vários anos. Era afastado e tranquilo, geralmente, pouco movimentando na maior parte do tempo, isso tudo, tornava o lugar perfeito para tirar um tempo a sós, o fato de que eles serviram uma boa comida e as bebidas eram de qualidade, era um excelente bônus.

Raven se sentou em uma mesa mais afastada, mas que dava um excelente visão de tudo que acontecia a seu redor, nem mesmo em momentos assim, ela tinha o direito de baixar a guarda. Fazia mais de dez anos que Raven comandava uma das gangues mais temidas da cidade, isso a deixava cercada de inimigos, apesar de saber que poucos teriam a coragem de enfrentá-la, ainda sim, relaxar não era uma opção.

Uma garçonete usando um vestido cheongsam vermelho veio atendê-la.

— O mesmo de sempre. — Raven disse e em alguns minutos, um prato de petiscos de frango com shoyu e uma pequena chaleira com chá-verde lhe foi servido.

Quando Kali Belladonna entre em um lugar… a atmosfera muda. Ela era uma mulher naturalmente terna e agradável, seu cabelo curto e escuro moldado em seu rosto de feições suaves e amistoso a deixando parecer mais jovem do que realmente era. Seus olhos eram de uma cor âmbar calorosa e apesar de algumas marcas da idade em sua pele, Kali parecia ainda jovial… ou parecia.

Ela esteve a tanto tempo casada que nem lembrava direito da época que não estava ao lado de Ghira. Kali desde muito jovem caminhou ao lado do marido em suas lutas dentro da política, fosse na derrota ou na vitória, ela estava ali, ao lado no homem que ela amava.

Ghira foi eleito e virou um político importante na defesa dos menos favorecidos, isso só contribuiu para ela o admirar ainda mais, ela não foi a única. Muitos achavam que ele era um tipo de revolucionário e infelizmente, quando se agrada alguns, incomoda muitos outros…

A quase um ano, seu marido perdeu a vida em um acidente que já havia sido comprovado que foi armado por terceiros. Algumas pessoas assumiram o crime e foram presas, mas Kali sabia que eles eram apenas “laranjas” na história toda, outras pessoas bem mais poderosas estavam por trás de tudo.

Ela só queria esquecer tudo aquilo e quem sabe, assim diminuir a dor de seu luto, mas sua filha pensava como o pai, ela era uma lutadora. Agora ela via Blake trilhar o mesmo caminho que Ghira.

Kali não podia deixar de temer que sua filha tivesse o mesmo destino que o pai.

Ela pediu, implorou e argumentou de todas as formas, mas sua única filha, não ouviu suas súplicas, agora não lhe restava muito a não ser rezar para que nada de ruim voltasse a acontecer… se Blake também fosse embora… Kali não tinha certeza se teria forças para continuar.

Mas ela tentava seguir a vida, era isso que a fazia sair de casa na intenção de se distrair. Kali entrou no pequeno estabelecimento que servia comidas orientais, já era a terceira vez que ela ia ali, um indicativo de como ela gostou do lugar.

Raven sentiu algo de diferente no ar, ela levantou os olhos de seu copo de chá e vasculhou o local, era como se subitamente a atmosfera tivesse ficado mais leve e gentil. Ela percebeu a mulher que havia acabado de entrar e ficou evidente que a aura diferente vinha dela.

Era algo quase alienígena para Raven, vivendo nas margens da cidade, no limite do crime, ela via todo o tipo de energia ruim o tempo todo, ver alguém com uma aura oposta era uma experiência incomum.

Kali pediu um chá e se sentou em uma mesa no canto, ela tirou um livro de dentro da bolsa e começou a ler. Raven acompanhou todos seus movimentos com os olhos.

Com uma acenar de dedos, ela chamou a garçonete que correu apressada para seu lado.

— O que deseja, senhora? — Ela perguntou nervosa.

— Quem é aquela mulher? — perguntou sem tirar os olhos de seu alvo.

A garçonete seguiu seu olhar e encontrou Kali distrair em sua leitura.

— É uma cliente, nada de grave, senhora Branwen.

— Sinto que já a vi antes…

— Ah, ela era a esposa do Ghira Belladonna!

Raven se virou para avaliá-la e a mulher se encolheu um pouco, ela era informada nas notícias o suficiente para saber de tudo do caso do ex-senador que foi assassinado em um acidente de carro provocado por militantes contrários às suas ideias.

— Suma! — Ela ordenou a garçonete desapareceu de vista.

Kali sentiu algo estranho, como se um pássaro estivesse a observando de cima de uma árvore. Que pensamento tolo… Não havia árvores ali, mas havia um pássaro a observando. Ela tentou afastar a sensação, mas era persistente, quando pensou em fazer algo a respeito, Kali sentiu alguém sentar-se a sua frente, ela levantou os olhos para encontrar uma mulher de olhos vermelhos a encarando séria.

— Ah, oi! — Kali a cumprimentou sorrindo o mais cordial que podia, mas a mulher não esboçou nenhuma reação.

— Você não me conhece? — Raven perguntou.

— Não, deveria?

Raven ficou em silenciou por um tempo, depois um leve sorriso surgiu em seus lábios.

— É melhor não. — Ela ergueu uma mão chamando a garçonete. — Traga aquela garrafa de saquê.

— Não está um pouco cedo para beber? — Kali disse rindo suavemente.

— De onde eu venho, toda hora é uma boa hora para beber. — Raven comentou. — Mas se quer saber… não, não está cedo demais. — Ela deu uma olhada para o relógio na parede, Kali seguiu com os olhos e se surpreendeu.

— Nossa, já está quase a noite.

— E você tem alguém te esperando em casa? — Raven perguntou de repente e o semblante de Kali se entristeceu.

— Não… — admitiu abatida.

— Então, acho que minha companhia não será a pior opção para você hoje.

— Acho que qualquer companhia seria uma boa opção para mim…

— Por que diz isso? — Raven perguntou no momento que a garçonete deixava uma garrafa pequena de porcelana e dois copos rasos próprios para essa bebida em cima da mesa.

Kali encarou a mesa como se os pensamentos estivessem a esmagando, Raven havia colocado um pouco da bebida destilada a base de arroz nos copos e deixando um na frente da outra mulher enquanto começava a beber.

— Se sentindo meio solitária depois da morte de seu marido?

Ela levantou a cabeça com os olhos arregalados para Raven:

— Como sabe disso?

— Eu sei de muitas coisas… — Sorriu com a própria resposta enigmática, Kali acabou rindo o que chamou a atenção de Raven para ela. — Do que está rindo?

— Você me lembra aqueles vilões charmosos de filmes da máfia.

Raven ficou tensa por um segundo, será que aquela mulher que aparentava tanta inocência sabia de sua vida na criminalidade? Depois de gastar um tempo a olhando avaliativa enquanto Kali ainda ria, Raven concluiu que não e resolveu seguir no caminho que ela mesma havia iniciado.

— Está querendo dizer que sou charmosa?

— Huh? Eu não quis dizer… eh que… ah, me desculpe se isso te ofendeu.

Raven riu baixo, até ela própria se surpreendeu, fazia muito tempo que ela não ria de nada.

— Isso não me ofende. — Raven disse tomando outro gole de sua bebida. — Tome o seu.

— Isso foi uma ordem? — Kali perguntou sorrindo divertida.

— Desculpe, é difícil tirar a voz da autoridade.

Kali pegou seu copo e provou a bebida.

— Devo perguntar em que você trabalha?

— Melhor não.

— Ok, parece que você também é misteriosa. — Kali riu bebendo mais do saquê.

— Por que diz isso? — Raven colocou mais bebida em seu copo e voltou a levá-lo aos lábios.

— Aparentemente, sou proibida de saber qualquer coisa a seu respeito mesmo você sabendo coisas sobre mim. — Ela disse quase tímida tomando o resto do saquê de seu copo.

— Posso falar sobre minha vida, mas não sobre meus negócios. — Raven respondeu com um sorriso torto e oferecendo para encher o copo de Kali.

— Hum… entendo. — Kali aceitou e deixou Raven encher seu copo com mais saquê. — Você me perguntou se eu tinha alguém me esperando em casa… você tem? — perguntou levantando o olhar para a mulher a sua frente.

Raven esboçou um sorriso forçado enquanto jogava um olhar distante e amargo para a parede.

— Eu moro só. — Foi a única resposta que ela deu.

— Por opção?

Raven se virou para ela tão rápido que seu cabelo chicoteou atrás de suas costas, ela apertou os olhos na direção de Kali que fez uma expressão gentil, ela se sentiu confortável, parecia que aquela mulher viúva tinha algum tipo de poder para acalmar os outros.

— Sim, por opção… — respondeu Raven abatida.

— Que conversar sobre isso? — perguntou Kali chegando um pouco mais perto.

Raven se inclinou para perto dela tomando mais de sua bebida, ela já sentia o efeito lhe deixando menos tensa.

— Eu larguei minha família a muito tempo…

O rosto de Kali ficou transtornado por um instante, então ela colocou uma mão no ombro de Raven e disse compassiva:

— Você deve ter tido seus motivos…

— Motivos covardes e egoístas. — Ela tomou o resto do saquê do copo e voltou a enchê-lo com mais bebida.

Raven se inclinou na mesa e deixou seus ombros caírem, ela olhou para o interior do seu copo, era como se ela pudesse ver toda sua vida dentro do líquido alcoólico, decisões que ela poderia ter feito diferente, lembranças de coisa que poderia ter acontecido se ela tivesse tomado outras escolhas. Cenas bonitas que só lhe deixavam com um gosto acre na boca e seu estômago revirado.

Ela sentiu uma mão acariciando suas costas, Raven se virou para encontrar o olhar entristecido de Kali, a princípio, achou que ela estava com pena, se fosse o caso, Raven nunca aceitaria tal coisa, mas percebeu que Kali tinha suas próprias feridas para se entristecer por si mesma.

— Eu nunca me vi longe da minha família… mas agora…

Ela não precisou terminar a frase para Raven entender, elas era mais diferentes uma da outra do que se podia imaginar. Kali não teve escolha em está só, em estar longe da sua família… Raven teve e mesmo assim, estão ali na mesma situação e compartilhando da mesma dor.

— Parece que nós duas estamos na merda. — Raven sorrir amargamente.

— Acho que podemos contar uma com a outra. — Kali disse soando simpática. — Não é tão ruim quando tem alguém que te entende…

— Acho que sim, mas eu não sou muito de falar. — Raven disse e Kali a olhou curiosa, mas antes que ela pudesse perguntar o que aquilo significava, ela se viu sendo puxada para perto de Raven e seus lábios se encontraram.

O primeiro instinto de Kali foi afastar Raven, mas alguma parte inconsciente e primitiva de sua mente não lhe permitiu. Fosse por curiosidade ou por carência, ela se viu retribuindo o beijo de uma forma quase urgente, Kali simplesmente não lembrava de já ter beijando outra pessoa na boca que não fosse seu marido.

Agora ela estava ali, beijando uma mulher que ela acabou de conhecer e nem sequer sabia seu nome.

Kali se afastou respirando com dificuldades contras os lábios de Raven que se afastou mais ainda para olhá-la nos olhos.

— Como eu disse, eu não sou boa com palavras. — Raven falou com uma expressão neutra.

— Vejo… — Kali acabou sorrindo. — Seu jeito não parece tão ruim.

Raven se virou a avaliando e um sorriso torto pintou em seus lábios:

— Podemos nos encontrar outro dia.

— Isso seria ótimo… — Kali não estava muito disposta a pensar se aquilo era certo ou errado, agora ela estava apenas vivendo um dia de cada vez e Ghira iria querer que ela seguisse a vida.

— Posso saber seu nome? — Raven disse se levantando.

— Kali.

Raven sorriu para ela.

— O meu é Raven. — Ela disse e jogou algum dinheiro na mesa para logo em seguida começar a andar da direção da porta. — Depois eu acho você por aí.

E ela se foi, o único pensamento que Kali tinha em sua mente era… que tipo de coisa poderia acontecer aconteceria da próxima vez que se encontrasse, fosse o que fosse, ela apenas aproveitaria o momento.




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