O andarilho escrita por Jude Melody


Capítulo 10
Capítulo 10




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Ele às vezes pensava em tudo o que fizera de errado. Lembrava-se da primeira partida, do quanto machucara sua mãe. Lembrava-se dos olhos azuis de Jack, do riso escandaloso de sua primeira mestra de nen, das mãos e dos pés de Hotaru quando ele dançava. (Deixar que Hotaru partisse entristecera seus dias. Ele fora um companheiro leal, alguém que sempre estivera a seu lado apesar de sua estupidez.) Lembrava-se de Rain e da faceta oculta dela, a faceta ruidosa como uma tempestade. Lembrava-se de seus filhos — o primogênito que seguira por maus caminhos; a do meio, que falecera ainda tão flor; o caçula, que estava perdido em qualquer canto do mundo. (Rain ainda estava viva. Eles trocavam cartas. O coração de Kenshin não doía mais; a saudade se transformara em algo sereno. Mas a culpa pela morte dos filhos... disso ele nunca se livrou.) Lembrava-se de Saber, agora uma mulher segura de si e quase tão escandalosa quanto sua mestra. (Devia uma cerveja às duas qualquer dia desses, embora ele mesmo não fosse de beber.)

E havia Ayumi. Ela morrera cedo demais. Não teve a chance de ver os lugares que Kenshin prometera. Em uma manhã, estava em casa, do jeitinho que ele deixara, um sorriso no rosto, um rubor nas bochechas e um olhar apaixonado. Ao cair da noite, a vida que ela tanto cultivara abandonou-a. Sem consideração ou piedade. Esvaiu-se como a água da chuva escorrendo por seus cabelos e indo de encontro ao chão. Kenshin descobriu quando já era tarde. Ficou surpreso ao ver aquele pingo de menina parada em meio a estrada, os olhos castanhos parecendo tão grandes e profundos... Uma tristeza imensa cabia ali. E Kenshin tomou Arrietty nos braços, desejando poder tomar uma parte da dor dela, mesmo que a sua própria dor já fosse imensa. Porque é isso que um pai deve fazer.

Os anos se passaram. Arrietty cresceu. Tinha a ferocidade de Rain e de Saber, a inteligência de Hotaru e o caráter bondoso da mãe. Kenshin poderia se perder para sempre naqueles sorrisos. E os dois viajaram pelo mundo inteiro, o pai mostrando à filha todas as belezas que não pudera mostrar a Ayumi. E a cada beijo, a cada risada, a cada “eu te amo”, aquele homem tão velho e vivido dava-se conta de como a vida é clichê e como tudo, no final, acaba desaguando nos mesmos campos. Porque, quando Arrietty sorria para ele, ela era o seu Mundo.


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