Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 25
Encontrada


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Sei que o dia de postagem era ontem, mas ontem aqui choveu o dia INTEIRO e a internet SEMPRE dá chá de sumiço quando chove. Mil desculpas, venho aqui no dia seguinte pra postar ♥ como vão vocês? Espero que bem, hehe.
Boa leitura!



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Lutar contra um amor verdadeiro é boxear sem luvas

Química até explodir, mesmo que não houvesse "nós"

Por que eu tinha que partir o que eu amo tanto?

Está na sua cara, e eu sou a culpada, eu preciso dizer (...)

Só não vá embora

Encontre-me no crepúsculo

AFTERGLOW, Taylor Swift.

 

Alguns anos antes, Marla era uma defensora ferrenha da ideia de que bons relacionamentos eram necessariamente relacionamentos acalorados. Afinal, como um casal poderia se conhecer sem discussões? De que adiantava um relacionamento duradouro se ele variava entre o morno e o frio? Agora, refletindo enquanto atravessava a estrada no banco do carona, Marla compreendia que não sempre esteve errada sobre o assunto.

Após reparar que passava mais tempo em Austin do que em Fredericksburg, ela e Joelle tomaram a sábia decisão de juntar um dinheirinho para fazer a mudança. Fredericksburg era confortável. As duas, entretanto, eram crias de cidade grande.

Além disso, Louna estaria lá. Todos seus amigos, na verdade. E...

Pietr estaria lá. E Marla ainda não sabia o que pensar acerca do assunto. Depois daquela demonstração pública de afeto no The Roosevelt Room, pouco havia sido dito. E tudo era culpa de Marla.

Ela e seu medo de continuar errada. E mais o medo de tentar e errar de novo. Certo, ela e Pietr nunca haviam namorado sérios, mas era difícil negar que durante a ausência dele em sua vida não tinha sentido falta de sua companhia.

Era seu segredo mais bem-guardado.

Quer dizer, costumava ser.

Agora, não fazia ideia de como as coisas iriam ser. Mas se Pietr sentisse ao menos um pouquinho do que ela sentia... Seria suficiente. Seria bem melhor nunca ter amado do que amar e perder, como ela.

Marla suspirou, atraindo a atenção da motorista ao seu lado.

— Desculpe... Eu ainda não lidei com as marchas desse caminhão — Joelle pediu, franzindo a testa. — E esse amortecedor, nossa!

— Tudo bem, Jo. Só estou com a cabeça em outro lugar.

— Ansiosa?

A baterista do The Bats deu de ombros. Não tinha mesmo uma resposta para a pergunta. Nem mesmo as Spice Girls a salvariam agora. Joelle notou o gesto e, apesar de hesitar um tanto, no primeiro farol vermelho que encontrou, virou para a amiga com cuidado.

— Tem algo te perturbando.

Não era uma pergunta. Joelle não era do tipo que fazia palpites. Para ela, palpites eram inúteis na resolução de um problema. Antes ter uma solução do que especular e andar em círculos. As duas eram complementares em seus silêncios.

— Tem, sim. Só estou categorizando para ver se ele vale a pena gastar tanto tempo pensando nessa preocupação em específico.

— Se está categorizando, é porque é algo que vai e vem. Diz aí o que está sobrecarregando o seu coraçãozinho.

E Marla contou. Apesar de Joelle saber a parte da história que presenciou, seus sentimentos sobre o assunto tiveram de ser desenterrados pouco a pouco.

Marla contou sobre o casamento conturbado dos pais, de como ambos aparentavam serem dois pombinhos em público, sobre como o divórcio deixou cicatrizes para todos os três. A filha, que cortou o contato com os pais após decidir ser o melhor para sua saúde mental, foi tida como ingrata por dois votos contra um. Marla não passava de um rostinho bonito com quem as pessoas se divertiam mais dormindo do que compreendendo. E a única pessoa que estava disposta a compreendê-la...

Foi punida por algo que não havia feito.

E ela não sabia se merecia mais uma chance. Apesar de nunca querer tanto aproveitar a que estava tendo agora.

— O silêncio confortável é tão superestimado — Joelle citou, sabiamente.

— O que quer dizer com isso...?

— Quero dizer que isso tudo que me disse... Precisa dizer a ele, com outras palavras. Se não se abrir, Pietr vai achar que o problema mora nele. E sem ofensa, mas não é o caso. Não é nada vergonhoso admitir que tenha um problema, Mar.

Marla assentiu com a cabeça, ainda mais pensativa do que quando colocou os pensamentos em pauta.

 

Uma vez instaladas no novo “lar doce lar” – paredes descascadas e uma bela garagem –, Marla e Joelle sentaram-se cansadas no sofá gasto. Sempre havia coisas mais importantes a serem compradas antes de trocar o sofá, ou contas atrasadas a serem pagas antes. Ah, céus.

— E aí, vai sair hoje? — Joelle apoiou os pés na mesinha de centro.

— É a intenção... Preciso de um banho.

— Para onde a senhorita Hayes está convidada hoje?

Marla gargalhou, imitando o gesto e esticando as pernas confortavelmente.

— Para o The Oasis. No Lago Travis.

— Ah, meu Deus... Comida mexicana ao pôr do sol? — Joelle virou-se para ela, rindo generosamente. — Vocês são mesmo o Shrek e a Fiona que a gente ama. Vai tomar banho e se ajeitar que eu termino de arrumar as coisas aqui.

— Certeza?

— Absoluta. Só preciso de um cochilo primeiro.

Marla levantou-se num pulo, com as energias renovadas. Hoje usaria seu melhor delineador vermelho e o vestido marrom com franjinhas. É claro, não partiu correndo para o banho antes de encher a amiga de beijos – e receber grunhidos em resposta.

Ai de quem segurasse Marla Hayes num surto de inspiração. Afinal, a única pedra em seu caminho era ela mesma.

 

Pietr veio buscá-la com O Carro. Seu cabelo alaranjado contrastava com o sol que já começava a baixar no horizonte, e Marla teve de suprimir um sorriso babão. Por pura provocação, a primeira coisa que comentou ao entrar no banco do carona pela segunda vez no dia foi:

— Você roubou O Carro ou a Louna te emprestou por dó?

Pietr gargalhou com gosto, como sempre fazia. Marla tinha a impressão de que o mundo todo o entretinha.

— Ela me devia um favor. Eu me lembrei de uma coisa que eu fiz pra ela quando tínhamos 17 anos. Aí, já viu.

— Eu nem quero saber o que é que a Lou-Lou aprontou com 17 pra precisar de um favor seu... — Marla riu, um tanto mais contida. — De qualquer maneira, eu achei um charme.

— Para levar a princesa, uma carruagem — ele brincou, realizando uma mesura tão charmosa quando O Carro. — Aliás, sabe que agora ele tem nome?

— Ele?

— Sim, O Carro agora se chama Lola Riggs.

— Ah, meu Deus.

Pietr riu uma vez mais, enquanto Marla ocupava-se de olhá-lo de escanteio por todo o caminho. Como bom discursista, Pietr fez um resumo breve de todos os pontos turísticos e de interesse de Austin – que ele e Louna apelidavam de “Gotham City”, pelo fenômeno com os morcegos. A cada minuto, Marla tinha mais certeza de que estava no lugar certo e com a pessoa certa. Ela sorriu.

— O que foi? — Pietr indagou assim que chegaram, estendendo uma mão para que pudessem entrar no restaurante. — Estou com a cara suja?

— Não, não — Marla gargalhou, não apenas aceitando a mão como optou por entrelaçar os dedos nos dele. Pietr pareceu apreciar o gesto, porquanto que acariciou as costas da mão da acompanhante sem nenhum pudor. — É que você fica bonitinho quando tá com fome.

— É... Eu não sei se você iria concordar se me visse com fome no campus. É um pandemônio que só, pode perguntar ao Adrien.

Marla segurou a risada por questão de respeito. Em parte, porque também já haviam se sentado e ela adoraria exibir uma pose de garota séria e tudo o mais. Lembrando-se do que prometera a si mesma que faria, enquanto esperavam os tacos Marla estendeu uma mão pela mesa até alcançar a de Pietr, adoravelmente salpicada de sardas. O garoto pareceu surpreso com o gesto, no entanto não recuou.

— Pietr, eu... Eu te devo desculpas por...

Ela suspirou, sentindo a garganta fechar-se num nó.

— Por tudo — a baterista finalizou por hora, preferindo que ele conduzisse a conversa pelos caminhos necessários.

— Tudo...? — Pietr murmurou, observando suas mãos unidas. — Quer dizer... Pelo fora? De antes?

— Sim. Pelo... Fora.

Pietr assentiu com a cabeça, permitindo que ela prosseguisse com o assunto. Aparentemente, era algo que ainda o transtornava o suficiente para ser incômodo.

— Confesso que até hoje não entendi muito bem o que aconteceu, mas são águas passadas...

— Não. Eu sei que são. Porém, isso não me impede de ser sincera com você. Não é porque estamos ignorando o problema que ele deixou de existir. Certo?

Ele concordou, pegando para si um gole da água de cortesia. Marla tomou como incentivo, apesar de achar a água particularmente enjoativa na situação.

— Eu achei que você me trataria como meu pai tratava minha mãe — Marla sussurrou, desviando o olhar para as mãos. — E achava que eu nunca seria boa com relacionamentos. Que eu... Só servia para...

— Diversão — Pietr completou num tom gentil. Não era bem essa a palavra que tinha em mente, mas agradecia por ele ter entendido.

— Isso. E... Aí chegou você, todo cavalheiro me tratando como uma rainha mesmo sem termos nada de sério. Meu Deus, eu fiquei... Tão perdida e tão chocada! E eu era tão imatura e egoísta, pensando que era a única opção para mim. Eu sequer pensei em você, que só... Só queria o meu bem.

Marla abaixou o tom de voz gradativamente, para finalizar sua fala com não mais de um sussurro. Ao ver a multidão de pessoas que se dispersava do píer, ela ainda teve de suprimir um suspiro de frustração.

— E ainda fiz a gente perder o pôr do sol... Sinto muito por isso também.

Ao invés de virar o rosto ou expressar tristeza, Pietr riu quase imperceptivelmente. Marla encarou-o, não entendendo como isso poderia ser possível.

— Quem liga para o sol lá fora quando eu tenho um bem aqui na minha frente? — sorrindo, Pietr ergueu sua mão até os lábios, deixando ali um beijo cuidadoso. — Ah, Mar, eu não entendi nada na época. Mas teria sido terrível se te forçasse a dar as respostas na hora ao invés de te dar espaço. Estamos aqui de novo, não estamos?

Marla aquiesceu, sentindo o coração esquentar com o comentário.

— Não acha que eu só sirvo para uma noite...?

— Só pensarei isso se quiser que eu pense isso — Pietr não precisou pensar para dar sua resposta. — Mas adoraria que nós... Tentássemos de novo, com outra mentalidade. Com espaço suficiente para pensar. Eu jamais faria aquela comoção toda no Roosevelt por uma noite só, Hayes.

Apesar de não fazer ideia de que ele diria algo cômico – mas, afinal, era Pietr. O que esperava que ele fizesse diferente disso? – numa situação delicada como aquela, Marla riu com sinceridade. Talvez estivesse mais caída por ele do que se permitia pensar sobre. Portanto, ela apoiou o queixo nas mãos que ele estava segurando, arrancando um sorriso do ruivo.

— Eu quero — sussurrou ela, como se ele a tivesse proposto em casamento, e não em namoro indiretamente. — Acha que eu teria colocado meu vestido marrom de franjinha se viesse até aqui não o querendo por mais que uma noite, Benoit?

— De fato. E o delineador vermelho?

— Eu não podia investir num batom vermelho se a intenção era tirá-lo, não acha?

Pietr gargalhou, mais do que contente. A tensão entre os dois dissipou-se como uma cortina de fumaça. Porém, logo quando o ruivo ia inclinar-se para frente para seu próximo ato romântico, o garçom pigarreou e pediu licença para colocar os pratos na mesa. Ambos riram nervosamente, quase como dois adolescentes num primeiro encontro.

— Ufa. Viu só? Já ia ir até aí morder um pedaço.

Marla sorriu, segurando as mãos dele por mais uns segundos.

Seria diferente dos pais. Seria alguém novo. E daria o melhor de si, pois Pietr merecia o sol. Se Marla não podia resgatar o sol para entregá-lo numa bandeja , Marla seria o próprio sol.

Ela havia sido finalmente encontrada.


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Notas finais do capítulo

Marla é um neném que só merece amor e carinho, e nobody changes my mind.
E aí, gostaram dessa reconciliação dos dois depois daquela serenata toda no show? Eu particularmente amo esses dois ♥

Para finalizar, resta o spin-off da Louna e do Adrien. Como o da Louna é bem mais atrás na história e o do Adrien é após os eventos da história, vou optar por dessa vez fazer o dela primeiro, senão fica meio sem sentido cronologicamente. Tudo bem pra vocês?
Até mais!! ♥



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