Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 21
Capítulo vinte, ano quatro


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, cá estou eu de volta ♥ Não vou me prolongar muito porque cês quiseram me dar chinelada no capítulo passado xD



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Como todo bom filme que não terá um plot bem desenvolvido, eu pigarreio e começo:

― Mesmo se eu tentasse explicar, você não iria acreditar em mim.

― Ah, sério? É essa sua justificativa? ― Adrien se vira para me olhar bruscamente, diferente do olhar paciente que me ofertava há apenas alguns minutos antes. ― Eu acredito em tudo que venha de você, Louna. Mas não tente me comprar com frases feitas como… 

― Adrien ― eu o advirto, cansada. Por sorte, ele para de falar na hora, provavelmente resmungando por conta de ter levado uma advertência tão curta. ― Por favor. Me pediu para falar, então… por favor, me deixe falar.

Ele me dá uma chance. Uma chance, pelo que consigo ler em seu olhar. Adrien está tão exaurido de quatro anos de tentativas que, apesar de já ter sido óbvio em nutrir sentimentos pela minha pessoa, quer logo colocar um ponto final nisso tudo. Sinceramente, eu não faço ideia se isso me aterroriza ou me reconforta. Imagino que terei mais certeza quando começar a falar, não…? 

― Desculpe. Eu estou muito nervoso. 

― Eu estou vendo… ― suspiro, enrolando um cacho entre os dedos para distrair. ― Você disse que há lacunas que não consegue preencher… e nem eu. Sempre numa época específica do ano, a que estamos agora inclusive, parece que você… some dos meus pensamentos. Como se jamais tivesse existido. E eu tenho a ciência de que eu sei quem é, porque sempre está com o Pietr, mas… no meio tempo, é tudo um borrão. E quando me lembro de você, do que vivemos juntos nos dias que foram apagados, você é quem parece não fazer ideia de quem eu sou.

Pontuo tudo com um tom calmo e baixo, porque me lembro bem de como foi o primeiro ano. Isso ainda me traz calafrios à noite antes de dormir, quando começa a se aproximar o mês de abril. Em meio ao meu calendário mental, ao mesmo tempo que quero fugir de Austin, toda minha curiosidade se concentra nos porquês de isso acontecer com tanta precisão. Que tipo de força cruel do universo quer me impedir de estar com alguém que me queira bem, hein?

― Certo… 

― Na primeira vez que isso aconteceu, foi no nosso encontro em Cedar Valley ― prossigo, ainda que um tanto constrangida. No entanto, é necessário um pouco de humilhação. ― Quando me convidou para conhecer a cidade com você. Se lembra disso?

Adrien assente com a cabeça, abaixando-a com cuidado para observar suas unhas fingindo algum interesse. Sempre achei tão bonito o contraste de cores que suas mãos tem – aquelas nuances cor de mel e canela, tão doces quanto ele é por inteiro. Tal pensamento faz meu coração contrair-se de saudade dentro do peito, e preciso me esforçar para que meus olhos não marejem logo agora. Por isso, aperto minhas unhas contra as palmas das mãos com força suficiente para me recordar de que não estou sonhando. Temos coisas em jogo, Louna.

― Eu não conseguia me lembrar do que tinha acontecido, só que tudo tinha sumido e… ― respiro fundo, não evitando de estremecer um tanto no processo. ― Contei para o Pietr, e ele contou para os meus pais. E, daí, meus pais me obrigaram a ir para um psiquiatra, achando que eu era louca ― rio fraco, me interrompendo um tanto para pensar. ― Confesso que… que eu também achei que era louca. Até que no ano seguinte aconteceu a mesma coisa. Aí passei de louca para teórica da conspiração.

Ao meu lado, Adrien me olha de soslaio. Consigo sentir que ele deixou de analisar as unhas para pousar as mãos ao lado das minhas na traseira da caminhonete. A sensação é tão familiar que preciso que ele fale para ocupar o silêncio.

― Eu… mandei mensagem para você. E pensei que não quisesse entrar mais em contato comigo.

Minha garganta ameaça fechar com as lágrimas que não consigo mais prender. O que tenho como opção agora é não fungar como uma pobre coitada, no entanto as palavras “sempre foi ele” se instalam no fundo da minha consciência como uma dor de cabeça terrível.

― E o que mais? Os outros anos? 

Ao menos, seu tom de voz já não é mais agressivo… 

― No segundo ano, não quis me aproximar muito de você porque não conseguia tirar o garoto que eu não sabia quem era da cabeça. Me afeiçoava a você por ver como tratava seus irmãos com tanto carinho, mas… eu sentia que, de alguma maneira estava traindo alguém que eu não lembrava quem era ou como era, e que ainda assim tinha me marcado de uma maneira tão forte que era simplesmente impossível de deixar morrer na praia da minha cabeça.

― Você é boa com palavras ― Adrien comenta, provavelmente para quebrar o gelo. ― Quer dizer que, além de Caleb ter começado a fazer EAD, foi mais um dos motivos para não entrar em contato comigo depois que fui para a UA…? 

― Sim… sim. E sinto muito por isso. Se me disse que foi egoísta em não dividir sentimentos, eu também fui.

Agora tenho certeza de que ele está olhando em minha direção, portanto ergo a cabeça corajosamente – certo, talvez nem tanto. Me lembro de que estou chorando apenas quando ele desvia o olhar por uma fração de segundos, mas já é alguma coisa.

― E-então, no… ano passado, quando Pietr disse que você tinha ficado com alguém e esse alguém tinha sido terrível com você…? 

― Aparentemente sim ― respondo já não encontrando forças para mais do que um sussurro. 

Em seguida, permanecemos em silêncio encarando o chão não muito abaixo de nós. Enxugo meu rosto com o dorso da mão, não sabendo mais o que esperar. Não sei se estamos nos cumprimentando novamente após tanto tempo ou deixando que fique por isso mesmo. Porque estamos na época onde tudo aquilo acontece novamente, o que garante que vamos nos ver de novo?

― Ano passado pensei que tinha bebido demais e que esse fosse o motivo de eu não lembrar de nada depois da apresentação de vocês no The Roosevelt Room ― Adrien se pronuncia, após algum tempo. ― Eu… deveria ter visto que havia algo de muito errado, porque nem em um milhão de anos trocaria você por uma desconhecida qualquer… 

Não posso evitar de olhá-lo bruscamente, afoita com a notícia positiva de seu lado. Meu coração mal consegue se caber em felicidade, porém tenho de me ater aos detalhes do momento.

― Quer dizer que acredita em mim…?

Daí, Adrien estende uma mão para mim – a mão que está bem ao lado de minha coxa – e entrelaça nossos dedos mindinhos com uma delicadeza de que arrepia dos pés à cabeça. Sinto uma vontade quase irrepreensível de fechar os olhos e descansar o peso do meu coração ali mesmo. Porém, a voz dele me tira dos meus devaneios quase que instantaneamente:

― Se qualquer outra pessoa me contasse um absurdo desses, eu teria mesmo sugerido tratamento para loucura… mas é você, Lou. Aparentemente, sua loucura está diretamente ligada com a minha… e, quer dizer então que… não me despreza?

― Está louco? ― meu tom de voz sai um pouco mais alto do que pretendo, mas o que posso fazer se fui requisitada para dizer a primeira coisa que se passa pela minha cabeça assim? ― Como eu poderia desprezar você? 

Adrien engole em seco, apertando um pouco meus dedos para que possa encaixar sua mão na minha com menos bagunça. Tenho dificuldades para olhá-lo nos olhos agora que estamos trocando confidências. Secretamente, tenho medo de que ele esteja apenas fingindo que acredita em mim. Que vá embora de novo. Ou que eu vá embora. 

― Eu tenho muita dificuldade em dizer o que estou sentindo… ― sussurro, olhando para nossas mãos. ― A única pessoa para quem já disse “eu amo você” foi para Pietr, e foi apenas uma vez… porque ele perguntou. Não quer dizer que eu não ame minhas amigas ou que seja indiferente aos seus sentimentos.

― É? ― Adrien devolve o tom da voz, me olhando com curiosidade. 

― Não… não sou. Muito pelo contrário… vim para essa festa tosca porque minhas amigas diziam que era a única maneira de eu esquecer você, uma vez que era muito ocupado e que apenas estava interessado em flertar comigo sem compromisso.

Ele ergue uma sobrancelha em protesto, o que me faz reparar que estou falando bem mais do que ele. Antes que eu dobre a língua, no entanto, ergo uma mão dele até a altura do meu peito e deposito ali um beijo delicado, torcendo para que ele não repare no quanto eu estou tremendo de nervosismo.

― Jamais poderia ser indiferente aos seus sentimentos, porque… eu também os sinto. E eu amo você, Adrien. Mas estava disposta a levar esse segredo comigo até o túmulo porque jamais achei que fosse merecer bons sentimentos vindos de outra pessoa.

Então, Adrien solta o ar pelos lábios como se estivesse o prendendo há um bom tempo. Sei que já é bem tarde da noite, e as estrelas brilham acima de nós bem longe pelo universo inteiro. Sei também que somos apenas dois grãozinhos de poeira diante da imensidão que há lá fora. Porém, no momento, quero ser o sol para ele. Quero que permita que eu retribua seus sentimentos. Porque fui inibida deles há mais tempo do que consigo colocar em duas mãos, e ele merece todo o carinho do mundo.

― Perdoe-me por ter parecido ser tão injusta com os seus sentimentos… jamais tive essa intenção ― continuo, apenas para finalizar o assunto. ― Pode fazer o que quiser com isso, agora que sabe… mas eu gostaria de tentar, antes que seu cérebro me esqueça novamente.

É minha vez de prender o ar.


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Notas finais do capítulo

É o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim ♪
Quem aí tá ansioso pra saber o que o Adriano tá achando disso tudo? o/
Provavelmente o próximo é o último antes dos capítulos bônus, stay atentas! Até mais!



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