Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Eae garelis -q
Então, tenho essa história pronta desde 2016, mas olha... se vai pra frente ou não, só o universo sabe. Mas é meu xodó ♥



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Nunca fui boa com palavras – as faladas, não. Apesar de minhas tentativas de convencer meus pais de que eu não tinha nenhum problema, eles me levaram em tudo quanto é médico. Psicólogo para determinar genes depressivos, psiquiatra para verificar autismo e esquizofrenia, fonoaudiólogo para consertar a gagueira inexistente (é crime ficar nervosa?) e – pasmem! – médiuns para ver se era influência de algum espírito maligno que tinha tomado meu corpo. Sinistro, não?

Todos os resultados foram unânimes: não tenho depressão, não tenho síndrome de Asperger, não sou gaga, autista ou marionete de espíritos, nem esquizofrênica, nem esquisita. Sou só eu. Tão normal que chega a ser chato.

Por um tempo, também achei que eu fosse louca. Descartei de imediato a possibilidade de estar possuída, pois sou um tanto cética para o lado espiritual das coisas. Mas hoje, já não quero mais entender.

Eu quero que pare.

“Calma aí, Louna. Explique direito as coisas”. Estou chegando lá, prometo.

A propósito, meu nome é Louna. Oi!

Digamos, hipoteticamente, que você ame muito alguém. Ame muito mesmo. Aquele tipo de amor que atravessaria fronteiras. Entretanto – afinal, sempre tem de haver um –, esse amor só dura um dia a cada ano. No dia seguinte, todas as suas memórias, incluindo nome e face da pessoa, são incineradas de seu banco mental. E não há forma nenhuma de lembrar-se dela, até que o próximo ano chegue.

E, sim, ainda hipoteticamente falando, você já tentou aplicar os métodos Como se Fosse a Primeira Vez e Efeito Borboleta de recordação. Nem vídeos, nem áudios, nem diários: tudo desaparece no dia seguinte. Devo te dar um Spoiler (hipotético!): o clima dessa história está bem mais para Efeito Borboleta. Ou pode ser que não! Mantenha as esperanças! É tudo uma hipótese, certo?

Eu adoraria que fosse.

 

De início, pensei que era meu irmão fazendo uma brincadeira de mau-gosto comigo. No entanto, Pietr é gentil demais para dar cabo a uma comida de que não goste, que dirá de algo importante para a irmã.

Pietr é minha pessoa favorita no mundo inteiro. Talvez tenha algo a ver com o fato de sermos gêmeos. Toda aquela conexão que dizem que gêmeos têm (ainda não apresentamos superpoderes, infelizmente) é verídica. Mamãe sempre diz que sempre fomos unidos, desde o berço. Papai conta que dormíamos de mãos dadas e chorávamos juntos. Essa última parte pode não ter sido tão boa para os ouvidos.

Por mais unidos que sejamos, nossas personalidades e aparência, porém, são destoantes umas das outras. Pietr puxou o gene ruivo de mamãe e é alegre e convidativo, enquanto eu tenho o cabelo cor de canela de papai e o rosto fechado quase carrancudo. Contudo, ao nos colocarem lado a lado, somos inegavelmente irmãos gêmeos; os mesmos olhos azuis-escuros, com aréolas de tom cinza-chumbo ao redor da íris, e as sardas que tracejam aproximadamente o mesmo caminho do nariz até as bochechas. Em Pietr, elas lhe caem bem. Já no meu caso, parece que alguém errou a demanda de tinta do cabelo e deixou respingar no rosto.

De qualquer maneira, já é o terceiro ano que “comemoraremos” o Dia do Amor ao Desconhecido. A data é dia 9 de abril e, sinceramente, fora isso não há nada de especial neste dia. Em 1821, nascia Charles Baudelaire, em 1977 foi a vez de Gerard Way (minha época emo agradeceu particularmente por isso!) e em 2005 o Príncipe Charles casou-se com a ex-amante, Camilla. Nenhum aniversário de alguma catástrofe ou algo do gênero.

Eu digo “comemoraremos” pois compartilhei o acontecido – assim como todas as outras coisas que já fiz desde que aprendi o que eram confissões – com Pietr, da primeira vez. É claro que Pietr pensou que ou a) eu era maluca ou b) eu estava tirando uma com a cara dele. Mas eu não brincaria com uma coisa dessas aos 22 anos, seria muita falta de maturidade da minha parte. Eu estava desesperada e decepcionada. E queria apoio. Ou apenas compreensão. Mas o que ele fez? Foi direto contar aos nossos pais. E aí veio a série de médicos.

Não o culpo. Talvez estivesse apenas preocupado comigo. Eu também ficaria preocupada se ele chegasse um dia e dissesse que amava alguém que não poderia ser localizado. Ou pior: que talvez não fosse real.

Como citei no começo, contar esta história foi uma escolha difícil, já que não sou habituada à fala. E como disse Stephen Hawking, esse é o problema de pessoas observadoras; temos mentes barulhentas. Embora difícil, foi libertador, pois temo que se eu não tivesse optado por isso eu teria implodido. Guardar tudo para si pode ser tóxico uma hora.

Apesar de parecer óbvio, eu nunca estive louca. E tentarei provar isso a você como provei a Pietr. Melhor dizendo, ele sentiu na pele.


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Notas finais do capítulo

Deixem suas opiniões aqui pra eu saber o que cês estão achando ♥
Caso se interessem, eis aqui o link para a playlist da história: https://www.deezer.com/br/playlist/4826098928