O lado vazio do sofá escrita por Paris


Capítulo 1
O Jovem Julieu


Notas iniciais do capítulo

estória feita em uma tardinha de saudade e melancolia ao som de “o lado vazio do sofá” por Rodrigo Alarcon.



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Soltou um suspiro sôfrego por entre os lábios rachados, exausto. As maçãs do rosto eram proeminentes, os cabelos negros desgrenhados e abaixo dos olhos olheiras arroxeadas faziam moradia - se eram permanentes ou não, Julieu não sabia dizer.

Tirou as chinelas amarelas sujas e desgastas, jogando-as por qualquer canto do apartamento. As paredes verde-abacate da sala de estar encontravam-se sem vida, quase como se anos houvessem se passado desde o último café das quatro.

Mas a verdade era que haviam se passado somente duas semanas. Duas malditas e vazias semanas.

Julieu odiava aquilo. Odiava o vazio.

Com uma dor fina, porém agonizante e excruciante no peito, ele se dirigiu até a cozinha.

Pegou duas xícaras do armário de madeira de carvalho: uma pequenina azul com rosas pintadas à mão de magenta e outra, maior e mais rústica na cor marrom.

Foi até a cafeteira, encheu as duas xícaras e sentou-se no sofá.

Era um sofá pequeno, ideal para duas pessoas, mas Julieu era um jovem magrelo e não tão comprido - não conseguia ocupar os dois espaços nem se quisesse, sempre sobraria um espaço. Um vazio.

Pegou a xícara maior nas mãos, não sentindo a típica quentura na porcelana. Sentia somente a superfície fria na palma da mão. O café não fumegava, não tinha o cheirinho gostoso de recém coado. Era somente um café frio, amanhecido e esquecido na cafeteira.

Julieu tentou se convencer que o café não estava gostoso só porque estava ali já a algum tempo, mas ele sabia que aquela não era a verdade.

Café nunca foi seu forte, estando quente ou frio.

O café das quatro com Alice era muito melhor, porque era ela quem o fazia.

Alice fazia um café perfeito, sem ser muito forte ou muito fraco, muito quente ou muito frio. Era somente e simplesmente ideal.

Mas o lado vazio do sofá, o silêncio do apartamento e a xícara artesanal intocada eram um lembrete: Alice não estava mais lá.

E no lugar dela, sobrou somente um vazio horrível que mais parecia com um soco na boca do estômago.

O coração de Julieu doía, mas era uma dor ardente, dilacerante.

Ele odiava aquilo tudo. Odiava o quão injustas certas situações podiam ser.

Julieu, logo ele, que tinha o nome cujo era uma junção de dois amantes. Julieu, cujo coração frágil era trancado a sete chaves. Julieu, o jovem Julieu, que pagou o preço de deixar-se envolver e machucar.

Naquela tarde, como em tantas outras desde que Alice lhe deixara, ele chorou.

Chorou com os braços em volta do joelho, desesperado e em dor. Chorou sabendo que o outro lado do sofá estava vazio. Chorou deixando que a dor do peito se esvaísse conforme ele soluçava.

Ele dormiu, sentindo o vazio lhe abraçar.

Mas acordou, sabendo que uma hora seu coação iria sarar e que, por mais que Alice tivesse ido embora, ele ainda tinha seu café da tarde - que não era lá essas coisas, mas era o suficiente.


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