Juste un rêve escrita por Miss Swen


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Essa one shot foi postada no spirit dia 02/08, e só agora eu pude postar aqui também, pelo computador, já que no celular por algum motivo o nyah não me deixa... Então pra quem ainda não leu, espero que goste!
Pra personagem Alice eu imaginei a Carolina Kasting:
http://s2.glbimg.com/smfYxQFOY9USMgqEl2oH00DlXtaWbzeztPKpcljhkwtIoz-HdGixxa_8qOZvMp3w/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2014/01/24/carol-1.jpg



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Noiva.

Eu estava noiva.

Se há alguns meses alguém me dissesse que isso aconteceria, eu teria mostrado minha indignação imediata, sem rodeios. Afinal, aquela não era uma possibilidade para mim.

Mas ali estava eu, noiva de Aurélio.

Logo ele, que não deveria ser nada mais do que o filho do meu "inimigo" e acabou se mostrando tão diferente de todos os homens que eu conhecia.

Era o dia seguinte depois de seu pedido, e meu humor estava ótimo.

Desci para o café da manhã e descobri que Aurélio havia saído mais cedo para resolver um problema com um dos meus bois.

Não me preocupei, sabia que ele era perfeitamente capaz.

Me juntei ao Barão à mesa, que se fartava de tudo que podia. Apesar do temperamento difícil, eu sabia que do jeito dele, estava começando a me aceitar.

Confesso que não era fácil controlar minhas respostas afiadas para os comentários que ele fazia, mas por Aurélio eu me esforçava e conseguia conviver razoavelmente bem com meu sogro.

Céus... Meu sogro.

Quando eu poderia imaginar que o Barão de Ouro Verde ocuparia esse cargo na minha vida.

— Está tudo do seu agrado, Barão? - perguntei, vendo ele cortar mais uma fatia de queijo – Esse queijo vem diretamente de Minas Gerais.

— É... Até que a senhora tem bom gosto.

Sabendo que aquele seria o mais perto de um elogio que eu receberia, me dei por satisfeita e não falei mais.

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Após o café fui para o escritório e lá fiquei por cerca de duas horas.

Quando enfim terminei o que precisava de mais urgente, tirei meus óculos e relaxei a postura na cadeira.

De repente me vi tomada pela necessidade de ver Aurélio. 

Tinha dormido nos braços dele, mas esse desencontro ao acordar e durante as primeiras hora da manhã já me incomodava.

Então Tião me informou que ele estava nos estábulos e eu decidi ir até lá, mas quando cheguei, nada.

Nenhum sinal.

Suspirei, frustrada. Até que ouvi galopes se aproximando e virei na direção do som. Lá estava ele.

Lindo.

Iluminado pelo sol, com um terno cinza e o chapéu na cabeça, completando seu ar charmoso.

— Está difícil localizar você hoje. - falei ao vê-lo parar na minha frente.

— Eu tive que voltar para pegar uma corda... - explicou descendo do cavalo e trazendo a corda consigo, mas logo se livrou dela enroscando por cima da cerca de madeira – Você queria falar comigo? Algum problema?

— Sim. - dei um passo à frente – Me pediu em casamento noite passada e me deixou acordar sozinha pela manhã... Diga, o senhor acha isso certo?

Usei o "senhor" justamente para provocá-lo, pois havíamos abandonado as formalidades há tempos.

— Certamente que não. - tocou meu rosto com a mão direita – Como posso compensá-la por meu erro?

— Eu só conheço uma maneira...

Sem mais, puxei ele pelo paletó e o beijei com toda a vontade que sentia queimar dentro de mim.

Logo senti suas mãos nas minhas costas, depois segurando minha cintura e me trazendo para ainda mais perto.

Não havia o menor espaço entre nós.

Quando o ar começou a faltar, separamos nossas bocas mas continuamos abraçados.

— Eu tive que sair às pressas, me desculpe por...

— Está tudo bem. - interrompi – Eu entendo, e seu pai me fez companhia durante o café.

— Ele disse alguma bobagem? - perguntou ajeitando o chapéu que quase caiu durante nosso beijo.

— Nada além do habitual. - comentei sorrindo e dei um selinho nele antes de me afastar um pouco mais – Agora vou deixá-lo trabalhar, eu também preciso ir.

— Eu vou com você, preciso falar com Tião sobre a chave do armazém de ferramentas.

Esperei enquanto ele guiava o cavalo para dentro da baia e depois se juntou a mim.

Ofereceu a mão para que eu segurasse, e eu logo aceitei.

Caminhamos pelo jardim até a casa, lá dentro nos separamos e mais uma hora se passou.

Já se aproximava do almoço quando Aurélio bateu na porta do escritório. Dessa vez sem o chapéu e paletó, apenas o colete por cima da camisa.

— Encontrei com Darcy e ele confirmou presença junto com Elisabeta essa noite, para o jantar.

— Ótimo, quanto mais nos unirmos mais fraca Lady Margareth ficará. - levantei e dei a volta na mesa – Mas estive pensando e... Talvez pudéssemos aproveitar a ocasião e comunicar sobre nossa nova... Situação.

Ele sorriu, provavelmente pela palavra que eu usei.

— Se for o seu desejo, também será o meu.

Fui tomada por mais uma onda de felicidade. Quis beijá-lo ali mesmo, não precisava e nem fazia mais questão de disfarçar meus sentimentos.

Apesar de ainda não conseguir me entregar intimamente, eu sabia exatamente o que existia em meu coração.

Amor.

Aurélio era um presente, um sonho bom, a luz que me guiou para fora da escuridão.

Nada mais me impediria de tê-lo para sempre ao meu lado.

— Aurélio, eu...

— Com licença! - fui bruscamente interrompida por Tião, que apareceu esbaforido – Desculpe atrapalhar, dona Julieta. Mas há uma mulher procurando pelo senhor Aurélio. Eu tentei fazê-la esperar mas ela me parece extremamente agoniada.

— Ela lhe disse o nome? - eu perguntei.

— Alice Cavalcante.

Vi quando a expressou de Aurélio mudou completamente.

Cavalcante?

— Não... Não pode ser! - esbravejou e saiu à passos largos.

Eu o segui mesmo confusa. 

Na sala, de costas, havia uma mulher alta, magra, de cabelos longos e castanhos soltos, caindo sob as costas, e usando um vestido verde água. 

— Que tipo de brincadeira é essa? - a voz grave e irritada de Aurélio me fez estremecer, eu não sabia por quê ele estava tão zangado, mas sentia que era algo muito sério – Por que se apresentou com esse nome?

— Porque é o meu nome. - ela respondeu e no segundo seguinte se virou, revelando a pele alva e os olhos castanho escuros, emocionados.

— Alice?! - o choque era evidente tanto na voz quanto no rosto dele, e a cada segundo que passava aquela cena me incomodava mais – O que... Isso não... - deu um passo para frente mas logo recuou e passou as mãos no cabelo – Você está morta!

O que?

— Não, me ouça por favor... Houve um terrível engano. - ela tentou se aproximar mas ele recuou e veio para o meu lado.

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo ali e tinha a sensação que não gostaria nada ao descobrir.

Mas não podia ficar calada.

— Eu não sei quem a senhora é, mas é evidente que está causando mal com sua presença, então por favor peço que se retire.

— Eu não vou a lugar algum! - rebateu firme, contradizendo sua aparência delicada – Tenho o direito de conversar com meu marido.

Senti minhas pernas fraquejarem por um instante e me apoiei no encosto do sofá.

Aquilo não podia ser real. Podia?

— Eu não estou entendendo... - disse Aurélio, e abriu dois botões da camisa, sentindo-se sufocado eu supus – Eu velei seu corpo, sofri por você...

— Não era eu, o hospital cometeu um grave erro. Eu perdi a memória, vivi anos sem saber quem eu era. Confundida com outra paciente, transferida para outro estado... Tantas coisas aconteceram, eu lutei tanto para conseguir chegar até aqui. - Aurélio começou a andar pela sala, claramente alterado e me deixando ainda mais preocupada, mas antes que eu pudesse tentar ajudá-lo a outra tomou a frente e foi até ele – Acalme-se, por favor. Eu posso explicar tudo... 

— Isso não pode estar acontecendo! O caixão fechado... Mais de dez anos acreditando que... Meu Deus, Ema! O que será dela com essa notícia? 

— Bem, eu gosto de pensar que ela ficará feliz por saber que a mãe está viva. Nossa menina deve ter se tornado uma linda moça, eu aposto... Procurei por você primeiro e juntos podemos conversar com ela, o que acha?

— Acho que antes de mais nada eu preciso entender essa história e... - olhou para mim pela primeira vez desde que entramos na sala – Julieta, eu não sei o que dizer...

Antes que eu pudesse formular um resposta, Alice se adiantou. De novo.

— Ah sim... - se aproximou – Na cidade fui informada que Aurélio trabalhava na fazenda de Julieta Bittencourt, que agora reconheço como sendo a senhora. É um prazer conhecê-la. - num movimento rápido me abraçou e tão logo se afastou e retornou para perto dele – Confesso que fiquei um tanto quanto surpresa quando soube que você estava trabalhando, mas presumo que muitas coisas mudaram durante minha ausência, certo? Mas tudo bem, falaremos sobre isso mais tarde.

A forma acelerada porém doce com que ela falava e gesticulava me lembrou Ema. Eram realmente mãe e filha, isso ninguém poderia contestar.

Mas a carga emocional daquele momento parecia ser demais para Aurélio, que a olhava completamente chocado.

— Sua ausência? - ele perguntou, incrédulo – Você não esteve apenas ausente, Alice. Você estava morta, ao menos pelo que sabíamos... Céus! 

Eu não fazia ideia de qual atitude tomar diante daquilo. Deveria oferecer algo? Água? Um quarto para ela descansar enquanto se preparava para a conversa que teriam? E depois disso? Eu seria capaz de oferecer ajuda para que os dois se entendessem, mesmo sabendo o que isso implicaria?

Quem eu queria enganar? É claro que não.

Porque apesar de ter mudado muito, jamais alcançaria esse nível de bondade.

— Eu entendo que esteja confuso, magoado, perdido... Mas isso não pode ser maior do que sua felicidade em me ver, pode? - chegou ainda mais perto e tocou o rosto dele, que para minha surpresa não se esquivou – Você está feliz, não está? 

— Tem ideia de quantas vezes eu rezei pedindo que tudo fosse um pesadelo? Pra poder acordar e tê-la de novo ao meu lado?

O rumo que aquela conversa seguia me angustiava cada vez mais. O aperto no peito se intensificou, parecia querer me preparar para o que estava por vir.

— Suas preces foram atendidas, eu estou aqui. E não vou deixá-lo nunca mais, meu amor.

Vi as mãos de Aurélio tocarem nela com a mesma devoção que tocavam em mim. Seus olhos brilhavam numa mistura de adoração e lágrimas, como quando aceitei seu pedido na noite anterior.

Lembrei das palavras dele dizendo como havia amado profundamente a esposa, e podia ver com clareza a dimensão desse amor, ressurgindo ali, como se nunca tivesse sido transformado pela dor da perda.

Minha visão tornou-se turva, tudo parecia se desenrolar em câmera lenta e por algum motivo que eu desconhecia, não consegui esboçar nenhuma reação.

Embora minha garganta abrigasse um grito e meu corpo implorasse para se mexer e interromper aquela cena. Eu não saí do lugar, não emiti um som.

Quando eles se uniram num abraço apertado eu senti que não suportaria mais ficar ali. As paredes pareciam se fechar ao meu redor. Mas nem assim me mexi.

Talvez eu esperasse alguma confirmação do que aquilo significava para mim, para nós.

Se é que ainda existiria um nós...

E minha resposta veio no segundo seguinte quando Aurélio abriu os olhos, com a cabeça apoiada no ombro de Alice e murmurou diretamente para mim.

— Sinto muito...

Minha voz não saía, tampouco minhas pernas se moviam para que eu pudesse sair dali e deixar o desespero me vencer com privacidade.

Eu estava presa, por mais absurdo que fosse.

Aliás, toda aquela situação era extremamente absurda, não era?

Por que logo agora?

Por que essa reviravolta quando eu finalmente me sentia pronta para viver aquele amor?

Seria mais uma punição por meus erros? Já não bastava a distância de Camilo? Agora ficaria sem Aurélio também? Não!

Eu não aceitaria aquilo, não tão facilmente.

Minha decisão em tomar uma atitude coincidiu com a separação do abraço entre os dois, para em seguida dar lugar a algo mil vezes pior...

Alice tomou a iniciativa, mas Aurélio não impediu. Por dois segundos inteiros me permiti ter esperança pela falta de reação da parte dele, mas logo tudo se rompeu quando ele passou os braços pelas costas dela da mesma maneira que...

— Julieta... 

Era a voz dele, mas como se sua boca estava ocupada... Céus, eu não podia nem dizer. E ainda assim meus olhos não conseguiam desviar.

— Julieta... 

Outra vez, parecendo vir de longe.

O que estava acontecendo?

— Julieta, acorde! 

De repente o cenário mudou e eu me vi no meu quarto, sentada na cama, ofegante e assustada.

Senti uma mão no meu braço e vi Aurélio me olhando, preocupado.

— Você está bem? Parecia estar no meio de um pesadelo.

— Eu... Sim. - coloquei a mão no peito e senti meu coração batendo acelerado – Foi tão real.

— Não, não foi. Acabou... - passou a mão nas minhas costas em conforto – Se quiser conversar sobre...

— Não... Mas obrigada. - suspirei aliviada – Foi apenas minha mente me pregando uma peça. 

— Julieta... 

— Eu estou bem, de verdade. - peguei a mão dele e entrelacei nossos dedos, nada explicava a paz que eu sentia por não ver mais as alianças daquele casamento massacrante e sim a peça linda e delicada que Aurélio colocou em meu dedo na noite anterior – Acordar foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

Ele me abraçou, terminando de selar o alívio que banhou minha alma ao perceber que nada daquilo que eu vi e ouvi era verdade.

Deitamos novamente na cama e eu não saí dos braços dele, mas o sono também não voltou.

— Preciso levantar... - ele disse, depois de algum tempo.

— O sol mal nasceu, Aurélio.

— Ainda assim, fiquei de vistoriar o gado essa manhã e quanto antes melhor. - explicou, fazendo carinho no meu cabelo.

Não queria me separar dele ainda. Meu lado racional sabia que aquilo não fazia sentido e que nós dois precisávamos encarar o novo dia que nascia, mas emocionalmente eu continuava afetada por aquele sonho.

— Como sua patroa e principalmente futura esposa... - comecei levantando a cabeça para olhá-lo – Eu digo que você pode esperar um pouco mais.

Ele sorriu e me apertou mais contra seu corpo.

— Sendo assim, não vejo como eu possa negar.

— Ótimo... - de repente senti os dedos dele apertando estrategicamente minha cintura, fazendo cócegas, e não consegui conter o riso misto com o grito de surpresa – Aurélio!

— Desculpe... - sorriu, e eu sabia que ele não lamentava de verdade – É nossa primeira manhã juntos em noivado, queria vê-la sorrir.

— E precisava ser assim? - perguntei o desafiando com o olhar, mas ele continuava sorrindo – O que?

— Você. - enfiou a mão entre o meu cabelo, fazendo carinho na direção da nuca e me arrepiando dos pés à cabeça – Como eu pude ter tanta sorte?

Meu sorriso abriu ainda mais, e abaixei o olhar, tomada pela emoção.

Coloquei a mão no peito dele por cima da camisa do pijama, o coração batia em ritmo forte e constante. Podia senti-lo vibrar na palma da minha mão, junto com o calor que irradiava da pele.

— O que você teve foi cuidado e paciência para lidar comigo, mesmo quando eu menos mereci. A sorte foi toda minha...

— Podemos discutir isso o dia todo.

Ele tinha razão.

Claramente nenhum de nós daria o braço a torcer naquele quesito.

— E o que você sugere?

— Aproveitar o tempo livre que nos resta. - novamente me arrepiei com seu toque, dessa vez com a outra mão num ângulo diferente e descendo pela minha cintura até a coxa, instintivamente pressionei meu corpo mais no dele.

— Aurélio...

— Me desculpe. - imediatamente ele retirou a mão – Eu não quis...

— Está tudo bem. - interrompi, tranquilizando – Posso não estar pronta, mas isso não significa que eu seja de cristal.

Coloquei a mão dele de volta onde estava e levei a minha até o rosto dele, desenhando o contorno do maxilar e sentindo a barba pelo caminho.

Uma coisa era inegável para mim desde o início, mesmo quando ainda lutava para abafar meus sentimentos por Aurélio: o magnetismo que me atraia à sua boca.

Se eu me descuidasse por meio segundo que fosse, já estava olhando para ela. Querendo beijá-lo, por mais que não admitisse.

Só percebi que meu polegar tocava os lábios dele quando senti um leve beijo.

Ele sabia.

Entendia.

E obviamente adorava.

Sem querer dizer mais nada, apenas saciei minha vontade e o beijei.

Não foi acalorado ou um prenúncio de algo a mais, algo que infelizmente eu ainda não conseguia realizar...

Mas sim exatamente o que eu precisava naquele momento, naquela manhã depois daquele sonho confuso e perturbador.

Recebi vários beijos no rosto, me fazendo sorrir, contente.

Ninguém melhor do que eu sabia que a vida não era nenhum conto de fadas, e que o mundo lá fora nunca perdia a chance de ser implacável.

Mas ali, nos braços de Aurélio, eu me permitia esquecer. Mesmo que apenas por alguns minutos.

Julieta Bittencourt já não me cabia, eu era Julieta Sampaio... Cavalcante, num futuro próximo, se tudo desse certo.

E daria.

Eu não aceitaria o contrário.

A sensação de perdê-lo podia ter sido somente em sonho, mas mais do que suficiente para eu entender que não queria experimentar nada parecido acordada.


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Notas finais do capítulo

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