channeling angels escrita por ross


Capítulo 1
nothing but my aching soul


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, eu imagino eles como Reginaldo Faria e Regina Duarte nessa one, mas fiquem a vontade para imaginar como quiserem.



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"Mas o nosso amor era mais que o amor

De muitos mais velhos a amar,

De muitos de mais meditar,

E nem os anjos do céu lá em cima,

Nem demônios debaixo do mar

Poderão separar a minha alma da alma

Da linda que eu soube amar."

 

 

 

 

Julieta observava Aurélio parada na soleira da porta. Sorria, seu coração transbordando o amor e afeto que sentia por ele. Ele encontrava-se numa das poltronas do quarto, usava pijamas e tinha um livro pousado sobre as pernas. O óculos escorregaram até a ponta do nariz e ele ressonava calmamente. Fazia vinte anos que eles haviam se casado e ela ainda o amava tanto quanto na primeira vez que se entregou para ele. Ele fazia tão bem a ela, sempre estava ao seu lado segurando sua mão e ajudando a passar por todas as adversidades. Com delicadeza, Julieta retirou os óculos dele e pegou o livro que ele segurava. Aurélio abriu os olhos rapidamente. Tinha o sono leve. Sorriu ao ver a esposa ajoelhada ao seu lado, seu semblante sereno e feliz. Os cabelos grisalhos estavam soltos e marcados pelos grampos que prendiam os fios durante o dia.

— Trabalhando até tarde novamente. - Disse a repreendendo suavemente.

— A crise não dorme. — Não se esgote por conta disso. Julieta levantou-se e pegou as mãos dele para que fizesse o mesmo. Deitaram na cama espaçosa e logo aproximaram os corpos em um abraço. Ele a beijou nos lábios.

— Estou preocupado com você, Julieta. Acho que deveria se afastar do trabalho por alguns dias. Nosso aniversário de casamento está chegando, poderíamos ir para o Vale do Café para descansar um pouco.

— A proposta é tentadora. - Sorriu e acariciou o rosto dele - Mas você sabe que não posso me afastar nesse momento. Camilo e eu estamos trabalhando duro para contornar essa crise, não posso deixar meu filho sozinho.

— Seria apenas por alguns dias. — Mesmo assim Aurélio, não posso me ausentar. A situação é crítica. Ele suspirou.

— Quando essa crise acabar nós vamos passar meses fora do país sem contato nenhum com negócios. Julieta riu.

— Eu decreto que iremos fazer isso!

— E durante nosso aniversário quero você junto comigo.

— O senhor acredita mesmo que eu passaria nosso aniversário de casamento trancafiada em um escritório? Não, essa data é importante demais para mim, não importa o que aconteça eu irei sempre comemorar junto do meu marido.

— Então está decretado! Ambos riram. Todos aqueles anos haviam sido assim, repletos de felicidade, amor e companheirismo. Eles demoraram anos para encontrar um ao outro, mas ao reconhecerem que se pertenciam, que se amavam, nunca mais tiveram coragem de se afastar. Estavam unidos sempre, mesmo com algumas brigas e desentendimentos. E, afinal, eram maduros o suficiente para entender que desavenças não mereciam a chance de construir muros em uma relação que foi tão bem construída.

***

    Aurélio carregava uma bandeja quando entrou no quarto. Julieta já havia se levantado e sorriu ao vê-lo.

— Café da manhã na cama! Aquilo se tornou uma tradição com o passar do tempo, algo que jamais se cansaram. Aurélio gostava de mimar sua Rainha do Café e sabia como aquilo a agradava.

— Bom dia, meu amor. - Disse ele colocando a bandeja sobre a cama. Pegou a rosa vermelha que trazia junto e ofereceu para ela. Julieta aceitou a flor com um sorriso no rosto. Seria possível se apaixonar muitas vezes pela mesma pessoa? Porque Julieta sentia que amava ele ainda mais a cada dia que passava.

— Feliz aniversário de casamento, Aurélio. - Ela colocou as mãos no rosto dele e o beijou com ternura.

— Feliz aniversário, querida. Eles voltaram para cama, ambos alegres por estarem juntos naquela manhã.

***

— Tão bonito ver um casal apaixonado! - A neta mais velha dos dois falou alto o suficiente para interromper o beijo que Aurélio e Julieta trocavam.

— Ju! - Aurélio sorriu ao ver a moça. A garota tinha os cabelos loiros e olhos castanhos, assim como os da avó e do pai. Levava o mesmo nome que a Rainha do Café, pois Camilo assim o quis. Jane aceitou alegremente, pois sabia que a sogra era uma grande mulher. "Se os meninos são chamados pelos nomes dos pais e avós, minha filha vai ter o mesmo nome que a minha mãe!" Falou o Príncipe do Café com a menina recém nascida nos braços.

— Vejo que o casal está aproveitando bem o dia.

— Ainda mais agora, que você está aqui, Ju.

— Venha, junte-se a nós. - Convidou o avô.

— Não, não quero atrapalhar. Vim apenas entregar um presente. Deu para eles um desenho que havia feito há alguns meses. Ela havia representado os avós com carvão numa folha de papel, num momento de afeto durante uma festa. Estavam os dois abraçados na obra e sorriam. Aurélio e Julieta agradeceram a neta por tamanha delicadeza e carinho. A jovem Julieta era a menina dos olhos dos dois. Passou a infância toda sendo mimada e cuidada por ambos. Agora, encontrava neles a força que precisava para continuar os estudos em um mundo que ditava que ela deveria ser uma dona de casa. Eles queriam que sua pequena Julieta entrasse no mundo dos negócios e que realizasse todos os seus sonhos. O resto do dia foi assim, junto com os netos a quem Julieta e Aurélio tanto amavam. O contato com os filhos de seus filhos era uma dádiva, um dos maiores presentes que poderiam receber pela vida que construíram juntos.

** 

  Aurélio segurou a mão de Julieta e a guiou discretamente para o escritório onde se beijaram pela primeira vez.

— Aurélio, nossos filhos estão aqui para comemorar conosco! - Ela o repreendeu sorrindo.

— Eu sei, mas quero um momento a sós com minha amada esposa. Ela o beijou como tantas outras vezes fizera naquele mesmo lugar.

— Eu amo você.

— Eu também amo você. - Sorriu e se afastou. - Por isso quero fazer um brinde com você. Foi até a mesa, onde estavam uma garrafa de champanhe e duas taças.

— Um brinde?

— Um brinde a vida que nós temos. Um brinde a você, por ter me dado os anos mais felizes da minha vida. Julieta chorava, sentia que estava se afogando na própria alegria.

— Um brinde a você, Aurélio, o amor da minha vida. Eles brindaram, os dois com os olhos transbordando em lágrimas. Passaram por muitas coisas antes de entrarem um na vida do outro, mas tudo se fazia valer a pena por momentos como aquele. Amavam-se com um amor que era mais que amor.

**

  Aurélio acordou um o barulho de algo caindo no chão. Sonolento ele apalpou a cama a procura de Julieta.

— Julieta... - Chamou a mulher, mas não recebeu resposta alguma. - Julieta? Levantou-se da cama um pouco irritado, pois sabia que ela provavelmente estava trabalhando até tarde novamente. Porém o que viu fez seus joelhos perderem as forças. Julieta estava no chão e as coisas da penteadeira todas espalhadas em sua volta. Ele nunca soube quanto tempo ficou gritando por ajuda. Nunca esqueceu o desespero que sentiu ao envolver a mulher que amava em seus braços, dessa vez numa situação que ele nunca imaginou. Aurélio não conseguia deixar que a tirassem de perto dele. Não queria soltar Julieta.

**

— Aceito. - Julieta respondeu a pergunta do padre olhando diretamente nos olhos de Aurélio.

— Pode beijar a noiva.

— Eu amo você. - Ele disse antes de beija-la.

— Eu também amo você.

**

  Julieta chorava genuinamente feliz. Segurava a primeira neta nos braços.

— Nossa neta, Aurélio.

— Ela é tão linda, meu amor.

**

  Aurélio estava irritado com Julieta.

— Vai mesmo continuar com esse humor? - Ela sorriu e o abraçou por trás. - Vai dormir sem me perdoar? Ele respirou fundo e tentou resistir aos beijos que ela deu em seu pescoço. Ah, para o inferno aquela briga! Ele virou e a beijou nos lábios com toda paixão que nutria por ela.

**

  A mente de Aurélio ia e vinha com pensamentos de seu passado com Julieta. Ela teve um infarto. Ele não sabia como agir. Já havia rezado, implorado, chorado, bebido, mas nada aliviava sua agonia. Os braços delicados da sua pequena Julieta, sua neta, o envolveram. Ele se permitiu desabar mais uma vez naquele dia. Não saberia viver sem a esposa. Não queria viver sem a mulher que amava. O funeral foi breve. Aurélio não saiu do lado dela, mas não ousou toca-la. Não queria sentir a pele fria, que sob seus dedos muitas vezes já esteve ardendo. Antes que o túmulo fosse fechado ele colocou uma rosa vermelha sobre o caixão. Era o símbolo do amor deles, como a pequena Julieta sempre dizia. Aquela era a última flor que ele concederia a ela.

**

  Aurélio faleceu numa noite de primavera pouco mais de um ano após perder Julieta. Com o passar dos meses ele ficou cada vez mais deprimido, mais fraco. Todos da família se preocuparam. Ele morreu durante o sono, ao seu lado um retrato de Julieta que havia sido tirado na década de vinte, o preferido dele. A pequena Julieta o encontrou pela manhã, quando foi levar o café até o quarto. Ela chorou de maneira descomunal, mas sabia em seu coração que seu avô não suportava a vida sem a avó. Ela o entendia. Ainda soluçando, chamou ajuda e enfrentou aquela situação dolorosa. Conseguiu concluir os estudos e tornou-se uma grande empresária, assim como a avó. E falava sempre sobre a Rainha do Café. A história de seus avós era a que mais contava, seus próprios netos sabiam de cor. Manteve sempre em sua casa rosas vermelhas, para homenagear as pessoas a quem mais amava no mundo. Ela entendia os ciclos da vida, e a única coisa que conseguia sentir após um tempo era felicidade, pois sabia que os patriarcas de sua família tiveram em sua vida algo raro de encontrar. Tiveram amor, desses que fica, que resiste, que é gentil e forte. Duas pessoas que tinham algo tão precioso precisavam ficar juntas. E, agora, estavam juntos por toda a eternidade, ou pelo menos era assim que a pequena Julieta gostava de pensar. E ela sentia em seu coração que juntos eles ainda cuidavam dela.


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Notas finais do capítulo

Caso alguém queira um contato melhor comigo, meu twitter é @freddiesmrcury



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