Send escrita por wldorfgilmore


Capítulo 18
Capítulo 18




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“Eu te escolhi.”

A carta não fora datada. Não havia nome, sequer qualquer outra frase. O coração de Elisabeta pulou novamente, como em todas as outras vezes que passou os olhos para aquela linha, um papelzinho pequeno e tão significativo.

O bilhete havia chegado há uma semana, a semana que antecedeu o dia do casamento. Ela enviou um recado de volta, com apenas duas palavras: “Eu também”. E depois disso, nada mais foi mandado de volta. Ela sabia que ele não havia desistido, já que os preparativos para o casamento não haviam parado por um dia sequer. Seu pai sempre lhe informava o quão atento Darcy estava sendo com cada detalhe durante aquela semana.

Elisabeta sabia que havia feito a escolha certa, a escolha mais acertada de sua vida. Mas não conseguia evitar um pedaço de sua mente que insistia em pensar no desconhecido que, agora, uma semana depois do último encontro, era alvo de sua saudade.

Estava em expectativa com o casamento. Ela veria Darcy, veria o homem que a faz ficar horas e horas a frente de um papel e uma caneta tentando, desesperadamente, repassar tudo que seu peito gritava com um oceano de distância. Veria aquele que lhe apresentou o prazer, veria aquele que mostrou-lhe o amor genuíno. Veria seu melhor amigo, veria seu primeiro amor.

Estava feliz, mesmo com o nó na garganta das experiências anteriores. Mas Elisabeta esperava que definitivamente, aquilo passasse quando Darcy alojasse tudo que já era dele, e tomasse o lugar que quase lhe fora arrancado por seu homem sem nome.

Elisabeta sorriu, vacilante. Nunca cogitou essa agitação dentro de si no dia do seu casamento. Era uma mistura de felicidade, expectativa, esperança… e angústia. Respirou fundo. Estava linda.

O espelho a sua frente mostrava uma mulher vestida de branco. O vestido longo era completamente colado do busto à cintura, mas a saia cheia a fazia parecer uma verdadeira princesa das peças que assistia. Elisabeta nunca foi dada a contos de fadas, mas não conseguia imaginar outra descrição. Seu cabelo castanho estava parcialmente preso na parte de cima da cabeça, numa espécie de coque ornamentado, onde algumas ondas se desfaziam dele, completando-se com a outra metade solta de seu cabelo, que repetia a ondulação. Seus olhos estavam levemente marcados, ressaltando o mar que levava no olhar. Seu boca tinha um batom mais neutro, o que dava um ar angelical ao rosto. Elisabeta nunca esteve tão linda.

— Belíssima. - Elisabeta virou-se assim que a voz adentrou o ambiente. Era seu pai.

— Obrigada, papai! - sorriu genuinamente, era perceptível o brilho no olhar da menina.

— Minha filha… - O homem se aproximou e segurou suas mãos. - Eu sei que essa não foi uma escolha sua. Mas eu quero que você saiba que eu desejo a sua felicidade, eu desejo mesmo. - Ele repetiu, queria que ela acreditasse realmente no que seu coração dizia.

— Eu sei, papai. É para o meu bem e de minha família. Eu lhe entendo, eu juro que entendo.

Felisberto olhou Elisabeta com a testa franzida.

— Eu cheguei aqui esperando ouvir gritos, não isso. - Ele sorriu, desconfiado. - Eu admito que me estranha a leveza com que tem levado este casamento ultimamente. Não está aprontando algo, Elisabeta?

Elisabeta riu.

— Claro que não, papai. Mas… - Ela mordeu o lábio. Ele esperou. - Pode ser que esse casamento não seja de todo ruim… E que eu já saiba disso.

— O que disse? - Felisberto juntou as sobrancelhas. Mas antes de voltar a questionar ou ter uma resposta da filha, suas outras meninas entraram no quarto.

— Uma verdadeira princesa. - Jane exclamou, batendo palmas.

— Claro que não, Jane. - Mariana começou. - Ela é uma verdadeira rainha. Dona de todo esse Vale.

— Não, não, Mariana! - Cecília repetiu. - Ela é a própria dona do nosso mundo.

— Universo, talvez? - Lídia continuou, fazendo todos rirem juntos no quarto.

— Vocês são umas babonas. - Elisabeta disse, modesta. Mas tinha um sorriso enorme no rosto.

— Eu nem acredito que irá casar, minha irmã. - Mariana disse. - Apesar de ser prometida desde o nascimento, nunca imaginei que de fato esse dia chegaria. - Ela fez careta.

— Nem eu. - Repetiu a expressão. - Mas estou radiante.

— Radiante? - Felisberto se intrometeu, completamente confuso.

— Papai, é assunto de mulher. - Mariana segurou a mãe do pai, o levando até a porta. - Deixa a gente um minutinho com a Elisabeta, tudo bem?

As meninas riam dos protestos e perguntas do pai enquanto Mariana fechada a porta.

— Ele deve estar doidinho. - Jane disse. - Mas me conte, Elisabeta, como está se sentindo?

As cinco sentaram na cama de Elisabeta, enquanto ela virava novamente para o espelho.

— Estranha. - Seus olhos profundos procuravam o seu reflexo. - Mas é um estranho bom. Todas vocês sabem o que aconteceu entre eu e Darcy.

— É quase uma história de amor. Imagina ser prometida para o verdadeiro amor de sua vida, se comunicar com ele por cartas e só vê-lo no dia do casamento? - Cecília indagou-se. - Eu poderia escrever um romance digno de prêmios sobre isso.

— Mas você não parece totalmente satisfeita. - Mariana observou. - Eu sei que ama Darcy e há a expectativa de conhecê-lo verdadeiramente. Mas… você parece apreensiva.

Elisabeta virou novamente para as irmãs. Sua boca queria despejar tudo que seu coração estava gritando. Todas as dúvidas, todas as noites com o estranho, todas as cartas com Darcy, todas as vezes que imaginou Darcy tocando-a quando era sugada por o seu homem misterioso, todas as vezes em que lia as cartas de Darcy com a voz do estranho. Era tudo confuso, certo, errado.

Mas não podia, não ali, não no dia do seu casamento. Um dia, talvez, contaria suas angústias se ainda as sentisse. Desabafaria, choraria ou simplesmente esqueceria. E aquela última opção era a que torceria desesperadamente.

— É impressão. - Deu o melhor sorriso que conseguia. - Só estou ansiosa para ver o rosto de meu amor. Meu ún… - balançou a cabeça. - Meu verdadeiro amor.

***

As batidas do seu coração eram descompassadas. Ele sentia que, por algumas vezes, o ritmo constante errava o passe. Estava em uma carruagem a caminho daquele dia que por meses, esperava que fosse o melhor dia de sua vida. E de fato era.

Acordou com os primeiros raios de sol depois de uma noite mal dormida. Sonhou com Elisabeta, mas também sonhou com a sua desconhecida. Era incompreensível a forma com que Elisabeta parecia ter rosto e sua desconhecida não. Suas lembranças se confundiram aquela noite. Imaginou por vezes sua mulher misteriosa lhe escrevendo cartas, ao mesmo passo que sua mente não processava o rosto da mulher que lhe beijava ardentemente.

Constatou que era efeito da saudade que lhe ocorreu das cartas de Elisabeta e daquele corpo desconhecido. Era errado, mas como fugir das projeções de sua mente?

Durante todo o dia, tentou focar em Elisabeta. Darcy leu todas as cartas que Elisabeta lhe endereçou durante todo aquele tempo. Era bonito demais ver a evolução da escrita, do desejo, do amor. Não havia dúvidas que aquela mulher forte, compreensível e independente era a mulher da sua vida. Não havia dúvidas que a convivência dos dois seria algo a ser admirado. E não havia dúvidas do desejo que poderia vir a sentir com a sua verdadeira mulher.

Mesmo com outra aparecendo em seu caminho, ele tinha a estranha certeza de todas as questões que amavam lhe perturbar.

Darcy olhou para a capela em sua frente. Estonteante. O local era grande e todo ornamentado, eram uma mistura de branco, amarelo e dourado. Era uma linda igreja, com algumas pequenas torres em sua extremidade.

— Eu não acredito que meu primeiro filho irá casar. - Darcy ouviu a voz do seu pai logo atrás de si.

— E eu não acredito que tenho um irmão tão lindo. Elisabeta terá sorte. - Charlotte apareceu, surpreendendo Darcy.

— Não acredito que você veio! - Darcy disse, surpreso, abraçando a irmã e sorrindo pro pai.

— Eu não perderia o casamento de meu irmão. - Ela sorriu.

— Eu fico realmente lisonjeado. Nunca imaginaria Charlotte Williamson no interior. - brincou, pincelando o nariz dela com o dedo.

— Não sou tão fresca assim. E fico ofendida de achar que eu não viria ao seu casamento. - Estreitou os olhos, fingindo indignação.

— Charlotte, não se faça. - Darcy disse, rindo. A irmã teve que rir junto.

— E como se sente? - Ela perguntou, pegando na mão do irmão. - Eu não acredito que papai realmente arranjou o seu casamento…

Charlote por vezes duvidava que Darcy realmente casaria com uma mulher que não amasse. Sabia que o irmão era focado no trabalho, mas sempre julgou a decisão do pai.

— Não comece. - Lorde Williamson a repreendeu e antes de falar qualquer outra coisa, Darcy a interrompeu.

— Não se preocupe, Charlotte. Eu estou bem. - Ele tentava tranquilizar o olhar preocupado da irmã. - Juro que estou. Estou até ansioso. Quero ver o rosto de minha mulher.

E não era mentira. Por toda a semana que se passou, Darcy tentava imaginar os traços de Elisabeta, mesmo que por muitas vezes confundisse as visões de Elisabeta com sua paixão fugaz.

Seus pernas tremeram naquele momento. Um frio na barriga se depositou, arrepiando-o. Balançou a cabeça negativamente. Não queria pensar na sua paixão de uma semana atrás naquele momento, no seu casamento. Ele tentava ignorar qualquer imagem que não fosse das cartas de Elisabeta.

Uma gritaria se fez presente atrás dele, chamando atenção na porta da igreja. Uma carruagem cheia de mulheres estacionou perto a entrada onde estava. As vozes eram altas, animadas e a cada mulher que descia, sua respiração parecia falhar mais.

— São as irmãs de Elisabeta. - O pai disse.

— Lindas. - Charlotte encarou-a, sorrindo. - Se Elisabeta for parecida com elas, tirou sorte grande, meu irmão.

Darcy sorria. Era estranho ver as irmãs de Elisabeta antes que ela. Era estranha a expectativa que parecia maior a cada nova descoberta que fazia. Darcy encarou as quatro meninas e a matriarca Benedito. Eram lindas. Realmente lindas. Tentou colher cada traço das meninas, para identificar como seria Elisabeta. Mas as quatro pareciam ter traços completamente diferentes, completamente lindos e diferentes. Não conseguiu formar uma imagem sequer de sua futura mulher. Só conseguia colher a alegria que parecia emanar no grupo. Olhando superficialmente, parecia uma família em que queria estar.

— Nem é Elisabeta ainda, Darcy. Tire esse cara de bobo do rosto. - Charlotte disse.

Mas aparentemente, o nome dito fez a loira de cabelos cacheados olhar imediatamente para Darcy.

— Darcy? - Ela disse, chegando perto. A truque a seguia. - Você é Darcy?

Darcy sorriu com o rosto de choque daquela que parecia a mais nova.

— Culpado!

— Mas você é lindo demais. -Lídia disse, colocando as mãos no rosto de Darcy. - Meninas, olhem isso.

Darcy arregalou os olhos com a ousadia da menina.

— Lídia, tenha modos. - Mariana a repreendeu, sorrindo envergonhada para Darcy. - Ele é quase marido de nossa irmã.

— E não posso achar o marido de Elisabeta bonito? Eu fico orgulhosíssima de minha irmã, isso sim. - Defendeu-se, mostrando a língua para Mariana.

Após o choque, Darcy teve vontade de rir.

— Não se preocupem. - Ele disse, sorrindo para as quatro, que suspiraram.

— Mas minha Elisabeta pegou um homão de dois metros de altura. Ara, nasceu com sorte. - Dona Ofélia deu um tapinha nas costas de Darcy. - Eu sou Ofélia Benedito.

Darcy segurou a risada com um sorriso simpático. Ele viu sua irmã fazer o mesmo. Lorde, aparentemente, já conhecia o humor da matriarca.

Ele segurou a mão da mais velha e a beijou, galante.

— É um prazer imenso, minha sogra. - Todos os dentes eram visto em seu rosto, com uma alegria genuína.

— Sogra, estão ouvindo? Sogra! - Ela dizia alta enquanto Dona Agata passava pela grande porta, para sentar-se. Ofélia adorava se gabar.

— Desculpa interromper. - Ema chegava perto da turma. - Mas precisamos fazer esse casamento. - Ela sorria para todos, que logo trataram de tomar suas posições.

***

Darcy entrou com uma música cerimonial ao fundo. Mas ele quase não conseguia ouvir o som que os violinistas reproduziam, seu coração parecia falar mais alto que qualquer outra coisa no local. Darcy não conseguia ver absolutamente enquanto entrava na igreja, sua mente não deixava.

As pernas bambearam por pelo menos três vezes enquanto passava pelo tapete vermelho estendido. Ele pensou em todos os diálogos que teve com Elisabeta, mesmo que apesar das cartas. Ele lembrou da sensação que sentiu quando pisou no Vale do Café, mas não deixou de lembrar de quando conheceu a mulher que caiu em seus braços assim que tocou o solo do Vale. Ela foi a primeira mulher que viu ali. Mas não era sua mulher.

Tentou tirar aquele pensamento do seu caminho, mas não conseguiu. A sensação de entrar naquela igreja, de olhar aqueles rostos sorridentes, de ver um padre a sua frente, de conhecer Elisabeta Benedito dali há alguns segundos estavam deixando-o aflito. Havia feito a escolha certa? Ele a amava. Ele sabia que a amava. Ele tinha uma certeza absurda que seria feliz com ela, mas sua mente parecia não acreditar naquela certeza. Ele não entendia a briga interna entre mente e coração.

Foi no momento em que chegou no altar que seu coração disparou. Ele virou para a porta de entrada. Ali aparecia a mulher que ocuparia o espaço mais especial de seu corpo. Ali aparecia a mulher que acordaria ao seu lado por toda a sua existência.

Engoliu em seco quando viu a movimentação perto a porta de entrada. Eles iriam abrir. Eles iriam projetar a imagem da sua escritora preferida.

As coisas pareciam andar em câmera lenta devido a sua expectativa. Os convidados se viraram devagar para a grande porta assim que sua mão esbarrou no seu bolso sem querer. Ele havia levado. Ele sabia que não poderia ter levado o único objeto que tinha de sua desconhecida, mas não conseguiu evitar vê-lo em cima daquela cômoda vazia. Ele sabia que teria que jogar fora o objeto, mas não conseguiu ali. 

Ele fechou os olhos assim que colocou a mão no bolso, apertando o objeto. Sua razão falava para ele não casar com Elisabeta com o objeto de sua amante no bolso. Agora parecia insano aparecer ali com aquilo. Ele apertou mais o objeto quando algumas imagens de sua desconhecida atravessaram sua mente. O sorriso, a boca, o corpo. A voz. Não sabia o que fazer. Ele olhava fixamente para a porta, com o peito quase saltando para fora em expectativa. Mas apertava fortemente a caneta, quase como se quisesse quebrá-la para esconder a sua memória daquelas lembranças.

Não, não se casaria com aquilo. Pensou em jogar para o lado, para ninguém perceber. Deixaria todas as lembranças naquela igreja e formaria novas lembranças com a sua Elisabeta Benedito.

Com o objetivo de fazê-lo, Darcy olhou para baixo segundo antes do que sabia que seria a entrada de Elisabeta. Avistou a caneta discretamente em sua mão, dando uma última olhada no único pertence que tinha a estranha. Mas, no topo da tampa daquela caneta, como se nunca houvesse prestado atenção naquela parte. Ele avistou iniciais levemente escritas na parte dourada do objeto.

E.B.

Leu, em voz baixa. Sua respiração pareceu assimilar o significado daquilo antes que sua mente pudesse processar. Ele acelerou-se. Iniciais. Iniciais de sua desconhecida. E.B. E.B. E.B. Ele repetia em voz baixa sem parar. Ele intercalava os olhos entre a porta a ponto de ser aberta e as iniciais da caneta.

Elisabeta Benedito.

E.B.

Elisabeta Benedito.

E.B.

E as imagens pareciam perfeitamente lúcidas naquele momento. Sua mente foi invadida por todas as vezes em que amou aquele corpo desconhecido e todas as vezes em que escrever para Elisabeta. As mesmas sensações. A mesma urgência. O mesmo sentimento. A mesma pessoa. As frases pareciam invadir o ambiente inteiro. Seus olhos se transformaram em produções cinematográficas do amor que havia sentido ao beijar, ao tocar, ao amar. Ao escrever. Elisabeta Bendito. E.B.

Ela era noiva. Ele era noivo. Ela entendeu. Ele entendeu. A mesma história, o mesmo diálogo. O mesmo sentimento. Tudo fazia sentido, seu sentimento desesperado e errado e certo, e certo, e certo. E era certo.  

Sua respiração alta era tão ou mais forte que as lágrimas que já molhavam o seu rosto em uma incredulidade e força absurda. O corpo que beijou. A boca que se deliciou. As palavras que amou.

A imagem que saltou nos seus olhos assim que a porta se abriu.

Elisabeta Benedito era sua desconhecida.

Darcy percebeu os olhos de Elisabeta saltarem assim que o viu em posição de noivo no altar.

***

Elisabeta começou a tremer e suas pernas pareciam gelatina quando as portas da igreja se abriram e sua mente pareceu pregar-lhe uma peça. Não era Darcy. Não poderia ser Darcy. Não.

Não.

Sim.

Sim e sim.

Elisabeta sentiu seu coração saltitar e perder o ritmo e quase confundi-la quando os olhos verdes que sempre esperou eram aqueles mesmo que a fez perder-se por entre as águas da cachoeira.

Todas as imagens, todas as frases, todas as peças pareciam se encaixar naquele instante e nada, nada, nada parecia fora do lugar. Ela imaginava que seus olhos deveria estar cheio de água como os dele. Ele chorava. Ela chorava.

Elisabeta sentiu os olhos de todo mundo do local em uma confusão que ela queria responder. Mas ela não conseguia sair do lugar. Seus pés pareciam fixados no chão, assim como seu coração estava fixado dentro do homem a sua frente.

Darcy Willliamson era seu desconhecido. Darcy Williamson foi o homem a qual ela amou no primeiro olhar, a qual ela se entregou no primeiro instante, a qual ela escolheu mesmo com todos os anseios do homem que se apaixonou.

Elisabeta riu. Elisabeta sorriu. Elisabeta chorava. Um misto de emoções e todas elas de uma vez era o que sentia quando viu Darcy correr ao seu encontro.

Seus pés foram juntos. Seus olhares chegavam perto, seus corpos se chocaram, suas bocas se encontraram.

E o beijo foi o mais certo e certo e certo do mundo.

Elisabeta Benedito estava beijando Darcy Williamson. Darcy Williamson estava beijando Elisabeta Benedito. Desconhecidos demais, conhecidos demais. Deles demais.

A língua invadia. A boca se remexia. Os corpos se abraçaram.

O gosto era reconhecível e novo e único e sem medo.

Sem receio.

Sem outra pessoa.

Só deles.

Sempre foi eles.

E eles sabiam.

O beijo durou alguns minutos, mesmo com o choque dos convidados no local. Eles não queriam se soltar, eles não ouviam sequer o burburinho que a grande igreja toda parecia pronunciar. Os olhares curiosos pouco importavam.

— Elisabeta, o que é isto? - Felisberto se aproximou, tentando soltar o casal grudado feito imã a sua frente.

Elisabeta olhou Darcy se perto, agora sem beija-lo. Ela sorria.

Ele sorria. Ele sorria e sorria.

— Você. - Darcy a pegou no colo, ignorando os protestos de Felisberto e agora seu pai, que vinha de encontro a eles.

Elisabeta sentiu ser girada por Darcy no meio da igreja, beijando-o novamente.

— Você é você. Você é meu Darcy. - Ela ria e chorava e girava.

Darcy desceu ela mais um pouco, deixando da altura dele, selando de novo.

— Você é linda e minha. E sempre foi minha. - Ele dizia, sem sequer observar a expressão das pessoas que tentavam soltá-los.

Os dois, ignorando totalmente o andar da cerimônia, correram juntos de mãos dadas para o altar, deixando os pais no meio do caminho.

— Senhor Padre... - Darcy começou. - Você deve nos casar imediatamente. Nós somos nossos uma vida inteira. Eu não aguento mais desencontrar a metade de um coração que sempre foi meu.

Os olhares curiosos continuaram, mas durante toda a cerimônia, que não mais foi interrompida, Elisabeta e Darcy não pararam de se olhar e não desgrudaram as mãos por um minuto sequer. O padre precisou chamar a atenção do casal para prestarem atenção na cerimônia, já que mal ouviram o momento dos votos.

— Eu havia preparado um discurso diferente desse. Mas eu me imaginava em outra situação. Eu sei que é estranho… - Ele não tirava os olhos dos olhos de Elisabeta, que não deixava de sorrir. - Eu sei que é estranho pra todos vocês. Eu sei que ninguém aqui tem a mínima noção do que aconteceu e está acontecendo hoje. Eu sei que eu deveria olhar pra vocês também enquanto falo isso, mas eu não consigo parar de olhar esse rosto maravilhoso na minha frente. Esse rosto que já vi. Esse rosto que já tive. Esse rosto que sempre foi meu. - Seus olhos brilhavam. - Nós fomos prometidos, Elisabeta. Mas agora eu me pergunto: nós fomos prometidos antes de saber o que era o amor, ou fomos amados antes de saber que éramos prometidos? Você foi minha antes de ser, eu fui seu antes de saber que você era você. Eu cresci com uma imagem de você e quando vi sua imagem, não reconheci com os olhos. Mas era incrível como meu coração reconheceu você e quis você e ficou confuso com você. E, menina, você me deixou completamente louco. O destino é engraçado, né? - Darcy sorria mais, o que alargava ainda mais o sorriso de Elisabeta e deixava seus olhos mais úmidos. - Será que nós nascemos para sermos nossos? Será que quando você veio a terra já era destinada a ser minha? Será que em outra vida você também foi? Eu imagino que esse contrato já foi transcrito antes de qualquer um aqui nascer. Eu acho que nós viemos de gerações e gerações e gerações e só isso explica você chegar até mim. Só isso explica o amor, só isso explica o reconhecimento do nosso amor em corpos diferentes, em corpos que não sabiam que eram nossos. Elisabeta, eu te amaria sendo você, não sendo você e vou te amar nas próximas você.

Darcy tinha os olhos líquidos, Elisabeta levou uma de suas mãos ao rosto dele, limpando uma lágrima que não parava de cair. 

Ela começou:

— E eu conheci o amor com você. Eu conheci o amor, a paixão, e o amor e a paixão de novo. Eu te amei nas cartas, Darcy. Eu amei sua compreensão, o seu jeito implicante, a sua forma de me fazer sentir. Eu me apaixonei por você inteiro, na árvore, no lago e até estábulo. Em todos os nossos encontros e desencontros eu amei você. Eu entendo tudo. Eu, agora, entendo tudo. Nós somos almas destinadas a se encontrarem. Nós fomos um contrato que foi selado assim que inventaram nós dois. Nós nos encontraríamos em acordo e desacordo. Com ódio e com amor. Sem busca e sem procura. Você estaria ali na minha frente quando eu lembrasse da palavra amor, e eu seria sua antes de saber quem é você. Nós nos encontramos e vamos nos encontrar, meu amor. Nós vamos selar uma união que eu tenho certeza que já foi selada por muitas e muitas e muitas vezes. É tão comum e tão normal sermos nossos. Se contassemos nossa história para cada rosto que tenho certeza que nos encara confusos, eles diria que é uma história diferente, mas nós nunca sentiríamos isso. Isso já aconteceu. Isso vai continuar acontecendo. Eu cairei nos seus braços por muitas e muitas vezes, eu ficaria confusa com você e você por mais inúmeras vezes. Nós passaremos um pelo outro em muitas e muitas ocasiões e nossa linha será puxada e entrelaça e abraçada. Você foi meu amor e minha paixão, você foi o genuíno e ardente. Você foi o antes, o durante e o depois. Eu te quero. Eu te amo. Eu te escrevo.

Não era o momento do beijo. Novamente. Mas as bocas selaram sem aviso. E o decorrer da cerimônia se deu durante aquele beijo.

— Eu vos declaro, marido e mulher.

 

As bocas se separaram por poucos segundos e disseram juntos:

— Com amor e paixão, por essas e outras eternidades.

FIM.

***

— Eu ainda não consigo acreditar. - Ela dizia enquanto beijava todo o rosto de Darcy, encostados a uma árvore um pouco afastados da festa.

— Nem eu. Você é você e eu quero você. - Ele dizia rindo, enquanto procurava a boca de Elisabeta. Ela estava eufórica, seu corpo roçava no dele de maneira rápida, precisa e ardente.

— Como nunca me falou seu nome? - A mão de Darcy já adentrava o cabelo de Elisabeta, puxando.

— Você também nunca me falou o seu. - Darcy abaixou as mãos da bunda de Elisabeta.

— Não importa, tudo ficou mais excitante. - Ela mordeu o lábio dele.

— Safada. E minha. - Ele deu um tapa onde estava sua mão.

Os dois exploravam a língua um do outro em uma dança sem igual. Agora eles eram deles. Não havia angústia, não havia receio. Só haviam eles. Só havia a certeza de que eles sempre seriam deles por todas as vezes em que se cruzarem. Darcy estava quente. Elisabeta estava quente. Darcy já puxava o vestido de Elisabeta para baixo e chupava e sugava e mordia seus seios. As pernas se Elisabeta já tentavam se abrir mesmo com as inúmeras camadas de vestido. Eles queriam ser deles sendo eles mesmos. Darcy tentava adentrar a pele dente com o seu membro assim que conseguiram se desfazer das roupas, ali mesmo, em meio a um jardim e há poucos segundos de onde seria a festa de casamento. O encaixe era maravilhoso, o gemido de Elisabeta era maravilhoso. Saber que ela era ela é maravilhoso. Darcy se afundava nela, chupava ela, chamava por ela. Elisabeta rebolava nele, mordia ele, chamava por ele. Os movimentos eram precisos e certos, a pouca pele exposta ardia. O efeito que um causava no outro era único e avassalador. Ninguém conseguia, não havia sequer a possibilidade. Eles eram deles. De corpo, alma e escrita.

***

Haviam se passado três meses do casamento. Eles haviam contato há quase toda a família a aventura que haviam vivido. Todo mundo acreditava no amor dos dois. Era nítido. Felisberto já dizia que fora predestinado a propor o contrato com Lorde Williamson. Ninguém duvidava que eles haviam nascido para se encontrarem. Ninguém em todo o universo ousaria duvidar.

Darcy esfregava os olhos enquanto acordava e tateava a cama em busca de Elisabeta. Ela sempre estava ali. Mas a decepção ao abrir um único olho foi vista quando ninguém estava ali.

Darcy passou a mão nos cabelos, os ajeitando e deitando na cama. Não gostava quando acordava e Elisabeta não era sua primeira visão. Tudo começava tão lindo com aqueles olhos verdes brilhantes ao iniciar o diaa.

Mas uma folha na cama lhe chamou atenção.

“Nossa casa, 1911.

Meu amor, não faça esse bico ao não me ver ao seu lado. Eu queria mesmo estar entranhada em suas pernas, em seus braços, em seu corpo. Mas eu preciso de vitamina D pela manhã.

Eu também preciso que o sol bata e reconheça novos corações.

Eu preciso que as folhas do nosso jardim o acolham.

Eu preciso que você o conheça da mesma forma que eu conheci você.

Eu estou aqui embaixo, no jardim. Estou a sua espera para você beijá-lo, para você aprender a amá-lo. Mas eu quero que a primeira coisa do seu dia não seja eu, e sim ele… ou ela.

Você já deve estar assustado, ou sorrindo, ou não sei. Eu não sei sua reação assim como não soube tantas outras. Mas eu vou imaginar. Imaginar da forma mais linda possível pois eu sei que o seu coração já chama por ele.

Ou ela.

Ele está dentro de mim, assim como a lua está dentro de nós e sempre nos guiou um ao outro. Eu imagino que você já o conheça.

Como nós costumamos dizer: nós sempre fomos nossos. E nosso filho deve ser sido nosso em todos os nossos outros mundos. Eu e você é só eu e você. Eu e você sempre vamos ser transformados e feitos e gerados em nós.

Vem aqui. Vem conhecê-lo.

O beije.

O ame.

Nós sempre nos esperamos. Agora é a vez de esperá-lo. 

Vem, meu amor.

Vamos amá-lo.

Vamos escrevê-lo."


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todo mundo que leu, esperou, gostou e não gostou da história também. Eu amei escrever Send, mesmo demorando as vezes, eu realmente amei escrever Send. Pensar Send foi mágica, único e inexplicável.

Obrigada a quem teve paciência. Essa é minha primeira história concluída. Nunca imaginei que o faria. Obrigada, obrigada, obrigada Darlisas. ♥