Erro bom escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Um erro, também


Notas iniciais do capítulo

Esse conto eu escrevi em 2012 - 2013
É curtinha e tal.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765944/chapter/1

André enrolou uma toalha branca em volta da cintura e pegou outra para secar o cabelo. Ele saiu do banheiro com a segunda toalha pendurada no pescoço. Deu a volta na imensa cama de casal, para alcançar seu celular no criado mudo, sentando-se na cama para verificar as chamadas perdidas. Depois retornaria as ligações que possuíam identificação, as demais, não se interessou.

Ele deixou o celular na cômoda ao lado da cama e deitou, sentindo o colchão ranger uma sinfonia de ferrugem por causa das molas entre a espuma. Até que ele era confortável, mas barulhento. Ao menos não havia ninguém na casa para ouvir o ranger da cama. Ele cobriu o rosto com a toalha, não com vergonha das lembranças da noite passada, mas cobrindo o sorriso besta que se formou em seus lábios. Passou as mãos nos cabelos negros ainda molhados e ouviu os passos firmes pelo corredor.

— Ainda não saiu da cama? — A porta do quarto foi aberta e Bento entrou, carregando uma bandeja com todo o cuidado que poderia ter para não deixar nada cair no chão. Ele era muito alto e os ombros largos, precisou virar o corpo para passar pela porta e assim não desequilibrar os copos de vidro.

— Já tomei até um banho. — André girou na cama e sentou sobre suas pernas, certificando-se que a toalha não iria sair do seu corpo com o movimento.

— Mas continua do mesmo jeito que te deixei quando saí. Com exceção da toalha, se bem me lembro, ela estava na minha mão e eu o acertava o lombo. — Ele colocou a bandeja ao lado do rapaz, que esfregava as mãos uma na outra. André estava faminto e percebeu isso depois de ver todo o capricho na produção que a bandeja se encontrava.

— Engraçado, Bento. — André deu uma risadinha teatral. — Você fez panquecas para quantas pessoas?

— Para dois homens grandes e cheios de fome, em especial um. O mais bonito, é claro. — Ele puxou uma cadeira que estava ali no cantinho do quarto e a levou para perto da cama. — Prove a panqueca, coloquei mel e tudo o mais.

— Está ótimo. — André provou, depois bebeu o café, estava forte e sem açúcar. Fez uma careta no começo, mas terminou o café da manhã que Bento pareceu ter tido muito trabalho em preparar. E as panquecas estavam realmente ótimas.

— O que quer fazer hoje? — O outro perguntou, pegando a bandeja de cima da cama e colocando sobre uma cômoda ao lado da janela. — Tá um sol bom lá fora. Podemos andar a cavalo. Ou montar num boi bravo.

— Bento...

— Brincadeira. — Ele voltou para a cama e tomou o rosto de André com as duas mãos, beijando-o na ponta do nariz, depois no queixo e seguiu espalhando beijos por todo o rosto do amante. — Aliás, não tem boi aqui.
André sentiu os dedos de Bento deslizarem pelos seus ombros e costas, até afastarem-se.

— Você me disse que ninguém costuma vir aqui. É verdade?

— Sim. Eu gosto de vir aqui sozinho, ou no máximo com a família para algumas comemorações. É bom manter um lugar só pra gente.

— “Pra gente”?

Bento analisou a pergunta, enquanto André fazia uma cara desesperada. Estavam saindo sem compromisso, era sexo, disso tinha certeza. Mas agora as coisas pareciam ir rápido demais.

— É, tipo um lugar para ficar despreocupado se alguém vai chegar e me pegar coçando o saco sentado na cadeira de balanço na varanda. Entende?

— Então você tá oferecendo esse lugar para a gente manter encontros esporádicos?

— Hey. — Bento levantou as mãos, como se quisesse mandar ele ir com calma. — Você está colocando palavras na minha boca.

— Entendi. — André se levantou, procurando por suas roupas. Ah! Mas elas não estavam ali no quarto. Deveria estar na sala, ou em algum lugar do corredor. Saiu então do quarto, segurando a toalha que estava caindo. De repente sentiu seu interior em chamas. Como poderia tal reação se ele mesmo não estava querendo nada sério?

— O que é que eu disse de errado? — Bento perguntou, mas para as paredes. Estava sozinho no quarto. Ele foi atrás de André. — O que aconteceu ali no quarto? Me explica que eu não estou entendendo nada.

André vestia suas calças por cima da cueca boxer que já havia colocado. Ele ignorou Bento por alguns minutos, sem dizer uma palavra. Bento também não disse nada.

Quando terminou de se vestir, André voltou ao quarto para pegar seu celular, carteira e as chaves de seu carro.

Bento estava na varanda do casarão, de braços cruzados, observando André carregar sua bolsa de couro, de uma marca famosa ao qual Bento ignorava seu valor.
André colocou a mala dentro do carro, virou-se para Bento, tirando os óculos escuros. Queria deixar aquela fazenda o quanto antes. Tudo foi um erro.

Sair para beber com Bento naquela sexta-feira chuvosa foi um erro. Terminar a noite em um karaokê na Liberdade foi um erro. Dormir com ele num motel barato foi um erro. Acordar no outro dia culpado por ter gostado, foi um erro também.

Eles eram completamente diferentes, gostavam de coisas diferentes. Viviam em mundo diferentes. Quando poderia imaginar que um cara que arranca as tripas do próprio peixe que pesca iria se interessar por alguém como ele?

E repetir aquela rotina nas últimas semanas foi o maior erro de sua vida. Não, talvez não tão terrível quanto raspar só metade da cabeça quando era adolescente e a moda duvidosa.

— Só me explica como faço para chegar a rodovia principal, porque estava muito escuro ontem e eu não peguei o caminho.

Bento bateu a bota na madeira da varanda, balançando a cabeça.

— Tá brincando comigo né? — ele perguntou e André não respondeu, parado com seu sapato de couro preto e bem lustrado sobre o chão batido de terra. — Bento olhou na direção do lago que havia ali pertinho. — Sério, você precisa se tratar.

— O que? — André deu um passo para frente.

— Fica putinho com qualquer coisa que eu digo. Nem sei o que te deixou assim, mas com certeza, não é motivo para tanto. — Bento desceu as escadas, até chegar próximo de André. — Tira a mala do carro e vamos voltar lá para dentro. — Ele abriu a porta do carro e pegou a mala.

— Acho melhor ir embora. Eu não quero mais por palavras na sua boca. — André segurava os óculos, desviando o olhar crítico de Bento.

— Deixa de criancice e entra na casa logo, senão eu vou pegar você que nem um saco de batata.

André o olhou, com a sobrancelha arqueada, não imaginando que Bento poderia mesmo fazer aquilo. Mas pelo visto, Bento poderia fazer o que quisesse, e quando quisesse estando em sua fazenda, longe de pessoas vivas e mortas ou de qualquer lei aplicável.

Bento largou a bolsa no chão, não dando chances para André argumentar sobre aquela mala ter custado caro. Pegou-o pelas pernas e alojou-o em seus ombros, carregando-o para dentro da casa.

André deu uns socos nas costas de Bento, mas não adiantou nada. Xingou-o quanto pode, ninguém poderia ouvir, não é? Que pavor. Pensou por um minuto quais as chances de Bento ser um tipo de psicopata maluco que o trancaria dentro daquela casa?

— Pronto! — Bento trancou a porta da sala. — Agora fica quietinho aqui dentro.

— Eu vou comprar um par de ferraduras para você, seu animal. — André gritou, ajeitando a camisa amassada no corpo. — Quebrou um botão.

— Vai chorar?

André caminhou até a janela, e foi alertado de que se ele pulasse da janela, ele não seria tão gentil como foi a pouco.

— Não é isso, Bento. — André disse, apoiando as mãos no vidro da janela que estava fechada. — Eu achei que, sei lá, as coisas estavam dando certo entre a gente.

— Para mim ainda estão dando certo porque até agora a gente não precisou rotular o que está rolando. — Bento não fez cerimônia em sua própria casa, sentando-se no sofá, esticando as pernas sobre a mesa de centro. — O que é? Não gostou de vir aqui comigo? Ontem não reclamou de nada, não foi?

— Não é isso. — André virou-se, capturando os olhos castanho escuro cheios de si. — Não estou disposto a passar minha vida me encontrando com alguém num lugar longe de tudo.

— Se preferir podemos ir para algum hotel famoso. É o que quer? Luxo? Eu sei que você gosta de ostentar essas roupas caras, pena que aqui não tem ninguém para você se exibir. — Ele deu uma gargalhada malvada.

— Tem certeza de que é uma boa ideia zombar de mim depois de se gabar de que ninguém pode nos ouvir? Eu não laço bezerro com uma corda, mas sei muito bem esconder coisas.

— Ah! Aí está, eu gosto disso, quando você entra no clima. — Ele piscou.

André esfregou as mãos no rosto. Já não sabia o que queria.

Bento gargalhou, divertindo-se. André ficava bravo por qualquer coisa mesmo. Ele estendeu a mão e chamou-o para o sofá. André alcançou a mão de Bento, que o puxou para seu colo. Ele caiu, sendo seguro pelos braços dele.

— Para de pensar nessas coisas. Aproveite o momento. — Bento o apertou com toda a força que tinha.

— Então para de me perturbar.

— Você sabe que isso é impossível. — Bento o beijou nos lábios.

— Eu me sinto um idiota as vezes.

— Não se torture com esses pensamentos. — Bento continuou os beijos pelo pescoço de André, mordiscando a orelha. — Vamos aproveitar o dia, o sol está rachando.

— E onde vamos?

— Nadar naquele lago.

— Não acho que seja muito seguro.

— André, por favor, está com medo de um lago? — Bento deu uns tapinhas nas pernas dele, para que se levantasse. — Tem até patos lá. Você vai gostar.

— Ah, claro. E você cria esses patos para caçá-los depois?

— Claro que não. — Ele segurou André pela cintura e foram andando, desajeitados até o quarto. — Eu caço os patos dos vizinhos.

— Como sabe quais são seus e os deles?

— Os meus são inteligente e não saem voando por aí quando não podem.

— Claro que não fazem isso. — André balançou a cabeça. — Não trouxe nenhuma roupa de banho. Aliás, minha bolsa ainda está lá fora.

— Perfeito! Porque eu também não trouxe nada. — Ele começou a tirar a roupa. — Lembra que eu disse que não vem ninguém aqui? Então, esse lugar é perfeito para você ficar completamente a vontade. — Ele terminou de tirar toda a roupa.

— Você não presta! — André apertou os lábios, puxando para cima a camisa que vestia.

Ele cometia erros atrás de erros, e nada mais poderia justificar sua predileção por enfiar-se mais na lama com Bento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso, podem comentar agora hehe
Beijos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Erro bom" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.