Um Dia Claro escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Dias


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!

Essa é uma fanfic para o dia dos pais, por ser uma continuação da one Raio de Sol (https://fanfiction.com.br/historia/734598/Raio_de_Sol), ela não é cheia de fofura e felicidade como tendem ser as histórias para esses dias especiais, mas penso em escrever essa história desde que fiz Raio de Sol e cá estou.

Como falei, é uma continuação, você só irá entender 100% de tudo aqui se tiver lido Raio de Sol, o link tá ali em cima. Boa leitura!

música em que a fic foi parcialmente inspirada: https://www.youtube.com/watch?v=8K9yNMI1g-k



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Um Dia Cinza

Renesmee

O céu estava cinza, completamente cinza. Nenhum feixe de luz transpassando as nuvens, nenhum raio de Sol, nada. Apenas a melancolia do cinza, apenas a dor.

Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, que a meteorologia tinha decido errar justamente no dia do meu casamento ao ar livre. Estava tudo acabado, no momento que chovesse o casamento teria de ser adiado.

Continuei encarando o céu pela janela do quarto que eu ocupava, o casamento ocorreria na casa de campo da família do meu noivo, tínhamos escolhido o lugar justamente por podermos realizar a cerimonia e a festa ao ar livre, como sempre quis para o meu grande dia. Teríamos como colocar os convidados dentro da casa quando começasse a chover, mas não de uma forma ideal, eles ficariam amontoados e sequer teríamos espaço para todos se sentarem, além do mais perderíamos toda nossa decoração.

Fechei os olhos, contando de um até sessenta, quando eu tornasse a abri-los o céu estaria claro como deveria ser. Abri meus olhos aos poucos, sentindo meu coração se apertar quando vi as primeiras gotas de chuva caindo do lado de fora da janela.

Então, a chuva aumentou significativamente, fazendo com que lágrimas se acumulassem em meus olhos. Quando logo a chuva se tornou um temporal, eu já estava com as lágrimas rolando por meu rosto.

Meu casamento teria de ser cancelado, iria ter de buscar por uma nova data e lidar com o vexame de ter tido minha festa arruinada por uma chuva. Talvez isso parecesse pouca coisa para muitos, mas para mim era algo grande, eu sonhava em me casar desde meus cinco anos de idade quando roubei o álbum de fotos de casamento dos meus pais e passei a guardá-lo debaixo da minha cama, por onde ele ficou pelos próximos cinco anos.

As lágrimas pararam no instante que pensei em meu pai, rapidamente enxuguei meu rosto com as mãos, já sem me importar com a maquiagem. Eu sempre ficava muito nervosa quando pensava em Edward Cullen, meu pai, pelo simples fato de eu não ter o conhecido de verdade.

Ele tinha falecido quando eu era só um bebê, com menos de um ano de idade, aconteceu durante um assalto. Aquilo fez com que eu crescesse sem meu pai, com que toda lembrança que eu tivesse dele fosse através do que os outros contavam para mim.

Por isso eu não chorava quando pensava nele, porque não sentia que merecia. Eu não tinha perdido o amor de uma vida como minha mãe, um filho e um irmão como minha avó e tia, nem meu melhor amigo como tio Jasper. Eu perdi um pai como meu irmão Anthony, mas ele se lembrava de Edward, ele o teve e sentiu todo o impacto de sua perda quando era uma criança por volta dos seus sete anos, quando na época todo meu choro era ocasionado por fraldas sujas e vontade de mamar.

Ao longo dos anos vi Anthony desabar rotineiramente em duas datas do ano, o aniversário de Edward e o aniversário de morte.  Durante parte de sua pré-adolescência meu irmão sempre passava esses dias trancado em seu quarto, sem sair para nada, quando um ano ele passou mais de uma semana após o aniversário de morte sem sair do quarto, o que evoluiu para mais semanas sem vontade de fazer nada a não ser ficar lá dentro chorando, mamãe o arrastou para um psicólogo, o que era irônico, uma vez que nosso pai foi um.

Quando eu tinha quinze anos, no dia do aniversário de morte de Edward, passei uma hora inteira na frente do espelho, me convencendo a chorar, mas eu não conseguia. Meu irmão me flagrou aquele dia, ele não disse nada, apenas sentou ao meu lado no chão e me puxou para um abraço, Anthony chorou, eu não.

Uma batida na porta chamou minha atenção, deveria ser a cerimonialista para dar o decreto final do cancelamento do casamento. Ela tinha passado ali antes, quando o céu ficou completamente cinza e o vento forte começou a tirar as decorações do lugar, foi quando eu pedi que minhas amigas e madrinhas que estavam me ajudando a me arrumar saíssem, porque queria ficar sozinha e me afundar um pouco na dor de ver meu dia perfeito sendo interrompido.

— Pode entrar! — exclamei, dando as costas para a janela.

A porta se abriu, quem apareceu não foi a cerimonialista, sim minha mãe e irmão.

— Como você está? — mamãe me perguntou, entrando no quarto seguida de Anthony.

— Estou bem — menti, o que era óbvio graças ao meu rosto que deveria estar manchado pela maquiagem.

— Talvez dê para fazer aqui dentro mesmo, Nessie — Anthony falou.

— Não, eu não quero nada improvisado — neguei, balançando a cabeça. — É melhor cancelar logo, que bom que não coloquei o vestido ainda. — Apertei o roupão que eu usava ao meu redor. — Vou lá fora avisar todos.

— Espere mais um pouco, Renesmee — minha mãe pediu, olhando docemente para mim com seus olhos castanhos. — Na noite anterior ao meu casamento com seu pai também choveu, em pleno Havaí, ainda assim na manhã seguinte estava tudo perfeito.

— Foi mal, mãe — eu disse mais nervosa ainda. — Mas, não estou querendo conversar sobre seu casamento perfeito com meu pai agora — resmunguei.

— Ei, ela só está tentando te animar — Anthony saiu em defesa da nossa mãe.

— Não quero ser animada! — gritei com os dois, no instante seguinte voltando a chorar. — Esse era para ser um dia perfeito para Alec e eu, mas está tudo arruinado agora, ok?

— Renesmee...

— Mãe, eu não quero ouvir nenhum dos seus consolos agora — protestei, ela bufou irritada.

— Ok, como você quiser, Renesmee — ela falou. — Vou procurar por Benjamin. — Saiu do quarto indo atrás do seu segundo marido.

Ela tinha o conhecido quando eu tinha uns nove anos, ele era Benjamin Sharif, um jornalista, divorciado e pai de um colega de classe de Anthony. Minha mãe e ele começaram a namorar, então duas semanas depois do meu aniversário de dez anos se casaram.

Foi um inferno, eu gostava de Benjamin, mas meu irmão o odiava e na época do casamento deles Anthony era um adolescente afetado por hormônios de todos os lados. Ele odiou Benjamin — tanto que na época roubou de mim o álbum de fotos do casamento dos nossos pais — por longos anos, na verdade, a relação entre os dois ainda não era as das melhores, mas pelo menos Tony e mamãe tinham voltado às boas de sempre.

Porém, ainda que eu gostasse de Benjamin, eu nunca o tive como um substituto para Edward. Um dia até tentei o chamar de pai, um chamado bem baixinho na hora do café da manhã, quando ele não respondeu, focado demais em ler o jornal e minha mãe me olhou apreensiva eu fingi que não estava falando com Benjamin.

Ei, pai — eu tinha dito chamando por Benjamin, mas completei com. — Quero dizer, o pai da minha amiga Hannah vai levar ela para acampar, posso ir junto?

Fui acampar com Hannah e sua família, eu odiei cada minuto daquela experiência, porque sempre estava imaginando como seria estar acampando com minha própria família. Meu irmão, minha mãe e meu pai.

— Você precisa de uma bebida? — Anthony me perguntou, me levando de volta ao presente.

— Não, não quero beber nada — respondi, sentando na beira da cama do quarto.

Anthony se encarregou de me levar a um bar quando completei vinte e um anos, disse que eu precisava de um porre. Acabou que ele ficou bêbado primeiro e eu lidando com meu irmão mais velho vomitando nos meus sapatos novos, foi naquele dia que conheci Alec, meu noivo. Alec estava sentado na mesa ao lado, com seus amigos, quando o vomito de Anthony também o acertou. Ele não ficou furioso, sim riu da situação e disse que eu poderia passar meu número para mandar a conta da lavanderia para onde enviaria seus sapatos. A conta nunca chegou, mas recebi um convite para drinks com ele.

— A chuva vai passar, Nessie — Anthony disse ao se sentar ao meu lado.

— Mesmo que ela passe, agora está tudo arruinado — proclamei. — Tudo lá fora está molhado e destruído.

— Vamos, Renesmee, não desista agora — meu irmão insistiu, fazendo com que eu olhasse para ele com raiva.

— Pare de bancar o motivador para mim, Anthony — exigi.

— Não posso, você é minha irmãzinha e está triste, eu quero te animar.

Revirei meus olhos para sua fala.

— É o que papai faria. — Eu o encarei, seus olhos castanhos como os da nossa mãe estavam cravados em mim.

— Como?

— Ele te animaria — respondeu, olhando ao redor do quarto. — Estaria aqui agora mesmo te fazendo rir de algo bobo, ou sei lá, ele seria capaz de ter impedido de chover só para seu dia ser perfeito.

— Se ele fosse capaz de algo assim teria sobrevivido — respondi seca, me colocando de pé, Anthony me seguiu.

— Eu sei, ainda sinto raiva dele por isso — disse para mim, segurando em meus ombros.

— Não tenho raiva dele, eu sequer o conheci, Anthony — afirmei. — Diferente de você e da mamãe eu lido muito bem com o fato de não ter mais Edward aqui.

— Isso é uma grande mentira — meu irmão acusou, eu me soltei de suas mãos. — Se você lidasse bem com isso teria escolhido alguém para te levar até Alec hoje, o vovô Charlie, tio Jasper ou tio Jacob, ou eu — falou a última parte com certo rancor na voz.

— Eu não o conheci, Anthony — declarei séria. — Eu não posso sentir falta de alguém que para mim nunca... — Inspirei fundo. — Foi como se ele nunca tivesse existido para mim, tá legal? Eu escuto as histórias, eu assisto aos vídeos e vejo as fotos, mas eu não o reconheço, não me reconheço naquela idade. É como se fossem dois estranhos naquelas fotografias e vídeos.

Nós dois ficamos em silêncio, até que perguntei:

— Onde você enfiou o álbum de casamento deles depois de roubar de mim? Quando a mamãe casou com o Benjamin.

— Está com a mamãe — ele respondeu. — Quando ela e Benjamin voltaram da lua de mel eu deixei na cama deles, queria a provocar — disse envergonhado.

— Funcionou?

— Não — respondeu rindo. — No outro dia ela disse para mim que o álbum estava no closet dela, junto com o vestido de casamento que usou quando casou com o papai, e com as alianças dos dois, que eu poderia pegar o álbum para ver quando quisesse, que você poderia usar o vestido dela um dia, ou a minha noiva e que eu deveria me entender com você para quem de nós dois teria as alianças deles dois. Foi naquele dia que contei para mamãe que sou gay, então o vestido poderia ser todo seu, mas que eu lutaria pelas alianças.

— Você contou naquela época? — perguntei chocada, pois só descobri sobre a orientação sexual do meu irmão dois anos depois.

— Ainda não estava pronto para te contar. — Ele afagou meu braço carinhosamente.

— A mamãe me ofereceu as alianças quando Alec me pediu em casamento — confidenciei.

— Eu sei disso, ela me contou, por que você recusou? Poderia tê-las se quisesse.

— Eu não queria tirar isso dela — sussurrei. — Ela pode ter casado novamente, mas...

— Papai vai ser pra sempre o amor da vida dela — Anthony completou minha fala, assenti.

— Até eu sou capaz de enxergar isso. — Dei de ombros. — Que seja, agora preciso ir cancelar o casamento.

Antes que eu pudesse dar um passo meu irmão me parou.

— Quero que você leia algo.

— O quê? — indaguei confusa, ele tirou algo do bolso do seu smoking, foi quando reconheci o envelope.

Era a carta deixada por Edward para Anthony, ele tinha deixado uma para mamãe, minha avó, minha tia e tio Jasper. Ele também deixou uma para mim, que nunca tive coragem de ler, mamãe me entregou ela quando eu tinha sete anos, a mesma idade que Anthony tinha quando Edward morreu e leu a carta deixada para ele.

— Por que quer que eu leia isso? — indaguei amedrontada.

— Porque você nunca leu a sua — disse. — Até a jogou fora. — Era uma mentira que com catorze anos contei para minha mãe e Anthony, no dia do aniversário de Edward, disse para eles que eu tinha me livrado da carta deixada por ele, sem ler. — Então, talvez ler a minha sirva de algo.

— Não, eu não...

— Eu quero que você leia — insistiu, colocando a carta com o papel já desgastado pelo tempo em minhas mãos.

— Não posso ler isso, você e a mamãe sempre ficam arrasados quando leem as de vocês, eu já estou tendo um dia de merda aqui.

— Apenas leia, Renesmee. — Anthony não me deu tempo para mais protestos, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si.

Encarei a carta em minhas mãos, vendo a caligrafia de Edward.

De: Edward Cullen

Para: Anthony Cullen

Voltei a sentar na cama, olhei pela janela e vi a chuva forte continuar a cair. Respirei fundo algumas vezes, então tomei coragem e abri a carta para ler.

“Olá, filho!

Eu nunca pensei que sentaria a nossa mesa de jantar e escreveria essas palavras enquanto você dorme em sua cama e sua mãe está na sala amamentando sua irmã, espero que nunca tenha de ler nada disso Anthony, mas eu precisava escrever. Meu pai não me escreveu uma carta antes de morrer, pois ele teve a oportunidade de dizer tudo que queria para mim pessoalmente, já que sabia que seu tempo estava chegando ao fim, mas não sei quando será o meu, por isso quero te dizer algumas coisas, Tony.

A primeira é que: minha vida mudou completamente quando sua mãe e eu descobrimos sobre você, eu pensei que já tinha provado da mais pura felicidade até o momento que descobri que seria pai. Isso mudou novamente quando te peguei no colo pela primeira vez e foi mudando ao longo do tempo a cada nova descoberta sua. Seus primeiros passos, suas primeiras palavras, a primeira vez que você foi para a escola, a primeira vez que eu te vi na praia.

O mundo mudava para mim a cada vez que você fazia algo diferente, mesmo as coisas pequenas do dia a dia. Porque, eu estava descobrindo o mundo com você, ao seu lado, segurando firmemente em sua mão.

A segunda coisa que quero dizer é: Você se tornou meu melhor amigo, Jasper que me perdoe, mas eu só consigo pensar em você quando a palavra amigo é mencionada. Eu penso em nós dois jogando qualquer coisa, assistindo Bob Esponja e eu te colocando para dormir.

Se está lendo essa carta quer dizer que eu fui de forma rápida, sem tempo para as despedidas formais cara a cara, o que significa que eu devo ter lhe deixado confuso, filho. Mas, sei que você não está sozinho, porque além de toda nossa família, sua incrível mãe e sua adorável irmãzinha, você com certeza deve ter Jasper por perto. Ele foi meu melhor amigo até você chegar a minha vida e soube que tinha perdido seu posto, mas nunca reclamou disso, pelo contrário, ele entendia.

Então, você pode contar com Jasper para tudo. Ele vai te contar uma porção de histórias minhas, algumas vão fazer você sentir muita vergonha de mim, mas espero que se divirta ao escutá-las.

A terceira coisa: Algumas semanas atrás nós estávamos na fila do supermercado e você me disse que queria ser um operador de caixa, o homem atrás de nós riu e disse que você deveria virar um médico ou advogado, não pensar em trabalhar em algo tão ridículo. Você se virou para o homem e disse que ele deveria parar de ser mal educado e não se intrometer em conversas alheias, naquela hora o homem e eu ficamos sem reação, mas quando contei a história para sua mãe eu gargalhei e me senti cheio de orgulho de você, garoto.

Me senti orgulhoso pelo grandioso motivo de você se impor, de não abaixar a cabeça e sequer se importar se a profissão de um operador de caixa é algo desprezado por grande parte da população. Eu espero que continue assim pelo resto da sua vida, Anthony, confiante e enfrentando cada pessoa idiota como aquele homem.

Você pode ser um médico, um advogado, um operador de caixa, ou qualquer outra coisa. Só quero que seja feliz, filho. Seu sorriso é o mais importante para mim, não o perca.

A quarta e penúltima coisa: Quero que você esteja sempre lá por sua mãe, filho. Nós somos os garotos dela, não? Então, fique perto dela, mesmo quando ela for irritante — sei que isso é mesmo muito irritante —, ou quando ela ficar falando sem parar sobre doenças animais que nós não entendemos nem um pouco. Só esteja lá, seja um filho prestativo, carinhoso e gentil.

Também seja o melhor irmão mais velho do mundo, brigue com sua irmã por bobagens, mas faça as pazes com ofertas de pipoca e refrigerante. A escute desabafar, desabafe com ela. Não se afaste, nem a deixe se afastar. Segure firme na mão da sua irmã quando eu não puder mais, ela irá segurar a sua de volta.

A quinta coisa: Seja o mais feliz que conseguir, mas não se proíba de chorar quando necessário. Algumas pessoas idiotas dizem que homens não podem chorar, ou que nós temos de ser durões a toda hora. Meu pai me ensinou que isso é uma grande mentira, ele chorou na minha frente uma porção de vezes, eu estava lá para o abraçar e mesmo que não falasse nada, o consolar.

Nós só sabemos o que é a real felicidade quando passamos pela tristeza, Anthony. Viva cada momento, seja ele de raiva, angustia, tristeza ou felicidade. Eu vivi assim, posso dizer que tive uma vida maravilhosa, obrigado por ter a feito melhor ainda, filho.

Se os dias tornarem-se cinzentos demais, lembre-se que o Sol sempre volta.

Amo você, Anthony, amo você desde o primeiro instante da sua existência.

Com todo amor do mundo, seu pai, Edward.”

 Dobrei a carta com cuidado, mesmo que minhas mãos estivessem tremulas, a coloquei de volta no envelope e me coloquei de pé. Caminhei até a saída do quarto, abri a porta e lá fora no corredor me deparei com minha mãe e Anthony.

— Você leu? — ele indagou.

— Li — respondi baixinho, devolvendo a carta para ele, que me lançou um sorriso triste.

— Renesmee? — Olhei para a entrada do corredor, vendo a cerimonialista e Alec aparecerem, os dois estavam tensos. — Linda, sinto muito por toda a chuva. — Ele chegou até mim e beijou meu rosto delicadamente.

— Tudo bem, podemos remarcar.

— A chuva parou — a cerimonialista disse, fazendo com que eu a olhasse surpresa.

— Parou? — questionei ansiosa, me voltei para dentro do quarto, olhei pela janela e vi que a chuva realmente tinha parado, assim como o céu estava claro.

Papai estava certo, dias cinzas existiam, mas o Sol sempre voltava.

— Ainda podemos dar um jeito e fazer a cerimonia e festa lá fora — a cerimonialista falou, todos tinham entrado no quarto aquela altura. — Não tão perfeito quanto antes, mas podemos dar um jeito.

Olhei para Alec, ele era o noivo, precisava opinar.

— O que acha?

— Todos estão aqui, Renesmee, todo mundo viu a chuva fora de hora e sabe que todo contratempo é derivado disso. São nossos amigos e nossas famílias, acredito que eles ficarão felizes em nos ver casando mesmo depois desse grande problema, mas eu entenderei se você quiser remarcar.

Olhei mais uma vez pela janela, o Sol lá fora brilhava como se nunca tivesse chovido aquele dia. Eu quase podia sentir o calor dele lá de dentro, ele tinha voltado e eu não podia ignorá-lo.

— Vamos casar hoje mesmo — falei decidida para Alec, que abriu um grande sorriso para mim e beijou meu rosto mais uma vez.

— Agora eu vou dar o fora, não devia ver a noiva antes do casamento, da azar — ele falou brincando.

— Querido, depois dessa chuva não temos mais azar nenhum — brinquei de volta, afagando seu rosto. — Agora vai.

— Eu vou preparar tudo, pode confiar em mim, Renesmee — a cerimonialista prometeu, antes de sair também.

— Você quer que eu lhe ajude a se arrumar? — mamãe me perguntou.

— Sim, mãe, por favor! — pedi. — Preciso de você!

Ela sorriu docemente para mim, se movendo até a penteadeira onde estavam as maquiagens.

— Anthony? — chamei meu irmão.

— Sim?

— O papai pediu na sua carta que você segurasse minha mão quando ele não pudesse mais, será que você poderia me conduzir até o Alec hoje?

Ele ficou surpreso, então sorriu, caminhou até mim e me abraçou apertado.

— Vai ser uma honra, Nessie.

— Eu amo você — falei para Anthony,

— Também te amo. — Ele tinha lágrimas em seus olhos.

— Obrigada por me deixar ler sua carta, foi mesmo importante para mim.

— Que bom que ajudou em algo, agora vou sair porque a mamãe tá abrindo três batons ao mesmo tempo.

Eu ri, deixando ele sair. Fui até mamãe, indicando para ela o batom que eu tinha escolhido para o dia.

— Você jogou sua carta fora mesmo? — ela me perguntou, sem olhar em meus olhos.

— Não — confessei. — Desculpe ter mentido por todos esses anos.

Seu olhar se voltou para o meu, ela afagou meu rosto.

— Eu nunca acreditei, Nessie. Você é uma péssima mentirosa. — Aquilo nos fez rir juntas. — Pretende ler um dia?

— Eu acho que sim. — Toquei na minha caixinha de joias, a carta estava lá dentro, debaixo do fundo falso, mamãe pareceu entender.

— Sabe, tem um balanço lá fora — contou. — Quando você tinha uns cinco meses fomos um dia para a casa dos seus avós, Carlisle e Esme, onde eles tinham um balanço no quintal. Seu pai sentou lá, o balanço da infância dele, com você no colo. Adivinha o que aconteceu.

— O balanço não aguentou o peso dele?

Mamãe gargalhou.

— Não, mas eu disse a ele para tomar cuidado com isso. Enfim, ele sentou lá com você no colo e vocês ficaram se balançando por horas, enquanto ele conversava com você sobre a vida.

Meu coração apertou ao ouvir aquilo.

— Quem sabe mais tarde você não pega sua carta e vai até o balanço daqui ler o que seu pai te deixou escrito sobre a vida.

— Por que ele escreveu essas cartas? Ele não sabia que ia morrer.

— Ele nos amava demais, Nessie, precisava dizer isso de todas as formas caso um dia algo como o que aconteceu ocorresse. — Ela passou um lencinho por meu rosto manchado de maquiagem do choro de mais cedo. — Leia sua carta, filha.

***

Anthony me conduziu até Alec como pedi, ter meu irmão ao meu lado me deu toda a confiança necessária. A decoração não estava perfeita como antes, os convidados visivelmente cansados, mas ainda todos ali. Além do mais, o mais importante era meu maravilhoso noivo sorrindo como se eu fosse sua pessoa preferida do mundo enquanto andava até ele.

A cerimonia foi linda, mais perfeita do que eu podia imaginar. Os votos de Alec e os meus se encaixaram com perfeição, depois nossos lábios quando selávamos a nova fase das nossas vidas, assim como nossas alianças em nossos dedos.

Toda a ansiedade e nervosismo de antes evaporou depois da cerimonia, todos me cumprimentaram e me apoiaram pós todo caos. Amigos, familiares, pessoas queridas que estavam ao meu lado para tudo.

Alec e eu tiramos fotos juntos, com todo mundo, cortamos o bolo e dançamos. Então, quando a nossa música acabou e a mãe dele apareceu para dançar com ele eu me desesperei novamente, tinha combinado de sair da pista naquele momento e voltar quando deveria dançar com meu sogro e Alec fosse dançar com minha mãe. No entanto, eu não queria sair mais, de alguma forma queria ter a dança com meu pai.

Percorri meus olhos por todos os convidados, parando o olhar onde mamãe e Benjamin estavam. Ele sorria carinhosamente para mim, enquanto mamãe parecia a um segundo de chorar.

Caminhei até eles, estendendo a mão para mamãe.

— Dança comigo, mamãe? — pedi.

Ela assentiu, unindo sua mão a minha. Nós duas caminhamos de volta para a pista de dança, onde começamos a dançar juntas.

— Por que quis dançar comigo? — perguntou.

— Porque nós duas perdemos ele — respondi. — Porque você é minha mãe e junto dele me deu a vida, obrigada por isso. — A abracei com força, fazendo com que parássemos de dançar.

— Querida, eu amo tanto você — ela disse, começando a chorar.

— Também te amo, mamãe.

— Você é tão forte, seu pai era assim também, mas preciso que você desabe. — A olhei sem entender. — Você sabe do que estou falando, leu a carta do Anthony.

— Também leu a carta dele?

— Ele pediu para eu ler junto dele quando a entreguei.

— Ele já leu a sua?

— Não — ela confessou. — Você quer ler algum dia?

— Eu posso?

— Claro, meu bem. — Me apertou mais contra si. — Eu deixarei você e seu irmão a lerem quando você voltar de lua de mel.

— Você sabe o que está escrito na minha? — perguntei nervosa.

— Nunca abri sua carta, Renesmee.

Eu suspirei.

— Leia — mamãe tornou a dizer. — E se permita sentir a falta dele, lembre-se do que ele disse na carta do Anthony.

— Sobre precisar experimentar a tristeza antes da pura felicidade?

— Isso mesmo.

— Eu a lerei depois das danças — prometi.

***

Como prometi para minha mãe, assim que as danças acabaram e todos que quiseram foram para a pista, eu disse a Alec o que precisava fazer e sai de fininho. Fui até a casa, peguei minha carta intocada por cerca de vinte e três anos e segui até o balanço, era afastado de onde acontecia a festa, o que me garantiria privacidade.

Sentei no balanço e segurei a carta com firmeza diante de mim, a letra de papai no envelope dizia nossos nomes, o papel ainda estava mais conservado do que a da carta de Anthony. Eu pensei em Edward escrevendo aquilo para mim, tantos anos atrás e minha garganta fechou.

De: Edward Cullen

Para: Renesmee Cullen

O mesmo sobrenome, algumas características semelhantes, o meu coração batendo porque um dia o dele também bateu. Aquilo me fez abrir a carta, com cuidado para não causar nenhum arranhão desnecessário ao papel.

“Olá, filha!

Essa é a sexta carta que escrevo essa noite, quando decidi escrever tais cartas — para sua avó, sua tia, Jasper, sua mãe e seu irmão — eu não sabia por onde começar, mas comecei a da sua avó fazendo lista de cinco coisas e segui isso pelas cartas seguintes. Porém, agora que cheguei a sua não sei se consigo listar qualquer coisa.

Nesse momento estou sentado ao lado do seu berço, seu irmão está dormindo e sua mãe tomando banho depois de um longo dia. Ela te amamentou e eu te coloquei para dormir, agora estou aqui olhando para você dormindo serenamente e não sei como escrever essa carta.

Você está com pouco mais de um mês de vida agora, e foi quando eu te peguei nos braços na sua primeira noite em casa que decidi escrever essas cartas. Sua mãe estava exausta, seu irmão ainda se adaptando a sua chegada e eu perdido no meio de tantas novidades que vieram com seu nascimento.

A sensação de estar perdido me deixa agitado demais, eu tenho de parar e colocar as coisas no lugar. Naquela noite imaginei como você se sentiria quando estivesse perdida, por qualquer motivo que fosse, ai lembrei do meu pai sempre me presenteando com uma boa conversa quando eu estava confuso com algo.

A ideia das cartas veio por isso, um meio de eu deixar todos vocês com uma conversa — que espero que seja boa — caso eu parta rápido demais, de forma abrupta antes de poder ter uma conversa com cada um. Uma vez atendi um homem em meu consultório, ele tinha perdido a filha de quinze anos de idade em um acidente, ele se sentia mal por nunca ter tido uma porção de coisas para ela. Eu o aconselhei a escrever uma carta para a filha, mesmo que ela não fosse ler, ele se sentiu melhor com isso, espero que todos vocês caso um dia leiam essas cartas se sintam melhor.

Como eu disse, não sei o que listar em sua carta. Eu ainda estou te conhecendo, por exemplo, hoje descobri que você gosta de dormir escutando música clássica, ontem descobri que você é capaz de encher uma fralda muito mais rápido que qualquer outro bebê.

Sua mãe teve um parto complicado, vocês duas foram muito fortes e hoje estão bem, mas durante o tempo que tudo se acertava eu surtei. Não podia perder nenhuma das duas, como eu também sabia que precisava ser forte por Anthony se algo acontecesse.

Então, tudo acabou bem. As duas estavam bem, nossa família estava segura. E eu te peguei no colo pela primeira vez, minha garotinha de cabelos ruivos como os meus e olhos verdes que são uma cópia exata dos meus também.

Você agarrou meu dedo, com uma força tremenda e eu te fiz parar de chorar ao te ninar em meus braços. Prometi que você sempre poderia contar comigo, para segurar sua mão e te fazer parar de chorar, também prometi que eu ia te amar a cada instante dos meus dias, como venho cumprido muito bem, se quer saber.

Estou te olhando dormir agora e me pergunto se você já é capaz de me amar de volta. Eu imagino você com cinco anos de idade correndo pela casa chamando por mim, com dez me pedindo ajuda com os deveres de casa, com quinze chorando por algum garoto estúpido — ou garota, quem sabe o que seu coração vai querer — que vai te magoar, com vinte eu penso em você vindo me visitar nos natais, com vinte e cinco eu só consigo pensar em ver você sorrindo, feliz com suas escolhas, mas também penso que estarei aqui para te consolar caso se arrependa de algo.

Entretanto, não sei se estarei aqui e isso me deixa péssimo, porque eu não queria perder nenhum segundo da sua vida, bebê. Ainda quero te conhecer mais, quero ver você brilhando por ai exatamente como sua mãe e sendo fascinante como seu irmão.

Mesmo assim, quando te olho agora já me sinto tão completo e tão feliz, que eu posso jurar que minha vida é perfeita. Sua mãe e eu queríamos mais que dois filhos, mas ela não poderá mais engravidar e nós seremos uma família de quatro. No começo pensei que isso fosse causar algum transtorno, mas não, você é tão incrível que eu não acredito que poderia amar qualquer outro bebê depois de você. Seu irmão e você já roubaram meu coração, é todo de vocês dois e de sua mãe.

Não sei se eu vou morrer de forma abrupta, não sei se estarei vivo aos seus cinco, dez, quinze anos. Sequer sei se um dia te levarei ao seu casamento, ou verei seus bebês perfeitos. Não sei nada disso, Renesmee, mas quero que você saiba de algo, minha garotinha.

Eu te amo mais do que consigo descrever, você foi um dos melhores presentes da minha vida. Quando olho para você, depois de ter perdido meu pai, eu penso em como ele estava certo quando disse para mim que ele estava indo, mas eu precisava ficar firme por ainda ter muito o que viver.

Por isso, minha garotinha doce, acredite em mim como um dia acreditei em meu pai, você ainda tem muito o que viver. A vida é surpreendente, às vezes chocante, muitas vezes triste, mas você sempre encontrará momentos de pura felicidade, como a felicidade que sinto quando te olho.

E, eu posso não estar fisicamente ao seu lado, mas você sempre pode contar qualquer coisa para mim se isso te fizer sentir melhor. Tenha uma vida incrível, querida. Brinque, cante, pule, estude, erre, se levante, chore, grite, brigue, ame, cuide, seja cuidada, dance e ame mais, ame sempre, seja feliz.

Se os dias tornarem-se cinzentos demais, lembre-se que o Sol sempre volta.

Amo você, Renesmee, amo você desde sempre e continuarei amando.

Com todo amor do mundo, seu pai, Edward.

ps: desculpe por não ter feito sua lista.”

Dobrei a carta novamente, a colocando dentro do envelope e a coloquei em segurança em meu colo. Segurei nas cordinhas do balanço e comecei a me balançar, fechei os olhos, sentindo meu coração batendo forte e o choro se formando em meu peito.

Eu chorei no mesmo instante, enquanto me balançava de um lado para o outro. Estive errada, por anos, papai e eu não tivemos muito tempo, não nos conhecemos direito, mas ele existiu em minha vida e eu na dele, éramos pai e filha.

Ele foi o primeiro homem que me amou, e eu sabia que tinha o amado de volta antes mesmo de eu conhecer a palavra. Eu via nas fotos e nos vídeos, como ele cuidava de mim e me divertia, como eu olhava interessada para ele, mesmo sendo só um bebê na época.

Eu não existiria sem ele, eu não seria quem era sem ele. Por isso sabia que estava errada, nós nos conhecemos e compartilhamos boa parte de toda aquela felicidade pura.

— Ei, pai — chamei baixinho, daquela vez chamando meu pai de verdade. — Eu amo você — falei. — E isso é um segredo para todos ainda, inclusive Alec, mas preciso te contar algo. — Sorri entre minhas lágrimas. — Estou grávida! — O sorriso aumentou. — E eu acredito que é um menino, se for terá seu nome. Obrigada por tudo, não fique triste por não ter feito uma lista para mim, eu estou bem — garanti. — Tive o melhor pai do mundo e sei que ele continua me amando mesmo longe, desculpe ter demorado tanto a desabar, mas garanto que agora estou feliz de verdade, puramente feliz.

Ainda de olhos fechados e chorando, continuei a me balançar.

— Bebê, agora é com você, quando for grande eu e você roubaremos o álbum do casamento dos seus avós e veremos cada foto, certo? Você tem que ver como seu avô era um homem lindo. — Solucei. — Pai, valeu pelos olhos verdes, aliás, isso é tão bom. — Ri. — E o cabelo ruivo, a altura exagerada eu não agradeço, mas obrigado por todo o resto.

 Abri meus olhos, vendo como o dia continuava claro, raios de sol esquentavam minha pele. Olhei ao longe, vendo minha mãe e Anthony se aproximando, eu sorri para os dois, que sorriram de volta para mim. Nós três estávamos bem, papai tinha cuidado de tudo para que ficássemos fortes sem ele.

Um Dia Claro

Edward

A garotinha em meu colo parecia incrivelmente feliz enquanto nós nos balançávamos, eu sorria vendo o sorriso dela. Eu sentia meu coração bater desesperadamente quando íamos mais alto, com medo de que algo acontecesse e caíssemos, mas ela parecia muito confiante.

— Você é tão corajosa, garotinha — falei para Renesmee, que sorriu mais.

Ela era uma coisinha pequena de cinco meses de idade, estávamos na casa dos meus pais para o almoço de domingo, nós dois já estávamos a horas brincando no balanço.

— Eu te amo, sabia? — falei com ela. — Você é tão linda. — Beijei o topo da sua cabeça.

— Papai, papai! — Olhei para frente, vendo Anthony saindo da casa dos meus pais para o quintal, sendo seguido por minha esposa.

— Olá, senhor! — o cumprimentei, fazendo com que ele risse.

— A vovó fez cookies, vamos comer, papai — ele disse empolgado.

— Podemos comer com sorvete?

— Claro, quanto mais açúcar melhor — Bella debochou parando junto da gente. — Você precisa mamar, mocinha — ela falou para Nessie ao tirar nossa filha dos meus braços, Renesmee protestou, mas não tivemos muito tempo para isso.

Do nada, já que estava um dia claro até aquele instante, começou a chover. Até Renesmee soltou um gritinho quando sentimos a chuva, peguei Anthony em meus braços e corremos até a parte coberta da varanda.

— Estamos todos molhados — Bella se queixou, mas sorria.

— Eu adoro a chuva — Anthony proclamou.

— Sério? — perguntei a ele. — Acho que prefiro os dias claros, parecem mais felizes.

Anthony deu de ombros.

— Todos os dias parecem felizes para mim, papai.

Eu sorri para ele, devia ser assim para todos, infelizmente não era. Mas, concordei com Anthony, de certa forma, nós só apreciávamos os dias claros porque um dia tivemos os cinzas, eles eram importantes em nossas vidas.

Parei para pensar e cheguei à conclusão que mesmo que eu preferisse os dias claros, eu tinha sido muito feliz em uma porção de dias cinzas, talvez por justamente saber que uma hora o Sol voltaria. No fim das contas, importava mais como nos sentíamos por dentro, independente se lá fora estivesse cinza ou claro.

E naquele dia eu me sentia puramente feliz.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que eu não tenha feito ninguém chorar dessa vez...

Beijos!

Lola Royal.

12.08.18