Immortals escrita por Lillac


Capítulo 2
I'll be the watcher (watcher) of the eternal flame


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu sei que a demora foi grande, mas eu espero que gostem!



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I’ll be the watcher

Depois do vergonhoso encontro com a caixa com senso de moda irônico e língua afiada, a viagem até a filial da companhia de eletrônicos de segurança foi rápida. O problema foi que, chegando lá, Percy descobriu pela atendente que nenhuma compra feita no come de Octavian constava nos registros.

Céus, aquele caso seria uma dor de cabeça, ele já podia adivinhar. Ele pediu licença a atendente enquanto Nico esparramava-se no sofá da sala de espera e jogava um RPG no celular.

Não, não é possível — Octavian chiou do outro lado da linha —, eu falei pessoalmente com o Leônidas. Eu tenho certeza que ele...

— Leônidas é o nome do técnico? — Percy perguntou, olhando de soslaio por cima do ombro para onde a atendente o esperava com um olhar de expectativa. — Ok, certo.

Ele caminhou de volta para a sala de espera e revelou a nova informação. O rosto da atendente se contorceu em um semblante de confusão por um momento.

— Leônidas? Nós não... — e então, como que pega de súbito por um lembrete, arfou: — ah! O senhor deve estar falando do Leo. Ele não trabalha integralmente conosco. Ele... bem, eu posso lhe passar o endereço da oficina dele. É um pouco longe.

Com o novo endereço em mãos e dessa vez um nome pelo qual procurar, Percy e Nico entraram no carro novamente. As ruas movimentas de São Francisco foram afunilando, as calçadas ficando mais maltratadas e as casas cada vez menos... convidativas. Até o ponto em que mesmo Nico tirou um dos fones de ouvido (fazendo com que um impecável solo de bateria ressoasse pelo interior do carro) e perguntou:

— OK, onde estamos indo?

Mas Percy não soube responder. Ele estacionou a viatura em baliza, ao lado de uma calçada sem pavimento, e os dois homens que estavam conversando ali próximo os olharam com carrancas e foram embora resmungando. Percy os seguiu com o olhar. Não era a primeira vez que recebia olhares estranhos quando chegava aos lugares em uma viatura, mas ainda estava acostumando-se.

A fachada da oficina não era muito convidativa. A tinta havia descapelado, revelando a estrutura de tijolos por trás, e as prateleiras estavam quase vazias. Percy trocou um olhar com o primo, que deu de ombros e apontou para a placa de “aberto”.

Eles entraram.

O lugar era iluminado por uma única lâmpada que pendia do teto.  O sino da porta anunciou sua chegada.

Que queres?

Era uma voz masculina. Percy limpou a garganta.

Desejo ver el proprietario — arriscou, e, pela risada contida de Nico (que falava espanhol tão bem quanto ele, aliás) só pôde imaginar que soara ridículo.

De uma porta aos fundos, uma figura surgiu. Estava coberto de graxa e fuligem, e parecia emergencialmente em necessidade de um banho, mas seus olhos brilhavam de maneira intrigante. O rapaz baixo e magricela jogou um paninho completamente imundo por cima do ombro e disse:

— Não sei quem é você, mas seu espanhol é péssimo, cara.

— Eu sinto muito — Percy respondeu. — Estou atrapalhando?

— Eu tenho, tipo, uns sete motores para concertar lá atrás — ele deu de ombros. Então, andou até o balcão vazio e sentou-se encima dele — quem é você?

— Eu me chamo Percy Jackson, sou investigador da polícia. Você...

— Leo, me chame de Leo — o garoto interrompeu —, o que eu fiz?

— Nada — Percy balançou a cabeça. — Eu estou investigando o caso de latrocínio de Gwen Dawson, mas você... não a conhece, acho. Nós encontramos evidência de que o sistema de segurança do lugar foi corrompido de maneira particularmente...

— Estranha — Nico completou.

—O dono do local disse que falou pessoalmente com o senhor para a instalação, e a atendente na filial afirmou o mesmo.

Leo ficou calado por um momento, e Percy sentiu como se o olhar dele o estivesse queimando. Havia algo definitivamente estranho no garoto, como uma faísca esperando para ser ampliada.

Reina de belleza — ele chamou — hay alguien aquí que te necessita.

Percy ouviu o que claramente pareceu com alguém chutando alguma coisa lá dentro, então a porta se abriu, acompanhada de uma voz feminina:

Si c’est Drew, je lui ai déjà dit que... — a garota pareceu notar a presença dele então, mas foi ao garoto que ela se dirigiu: — qui est-il?

Percy estreitou os olhos. Não gostou do fato dos dois estarem obviamente tentando confundi-lo. Com um gesto sutil, acenou para Nico, que concordou e enfiou uma mão no bolso onde ficava o celular.

Un investigador de la policía, al parecer. ¿Puedes lidiar con él? No tengo paciencia, e muchas otras cosas para hacer.

Tu sais que je ne peux pas les supporter. Mais ça va, allez-y. Je reviens vite — ao final da frase da garota, Leo pulou do balcão e acenou para Percy:

— Piper é minha assistente, ela conversa muito mais com os clientes do que eu, sr. Jackson. Se me permite, eu gostaria de voltar ao trabalho. Está tudo bem? Octavian deve ter dito que eu falei com ele, mas a gente só conversou por tipo, dez minutos. É a Pipes que lida com toda a parte financeira e de negociação.

Percy precisou de um momento para perceber que eles haviam voltado a falar em inglês. Piscou uma vez antes de conseguir responder:

— Certo, nesse caso é com ela mesma que eu preciso falar. Agradeço pela compreensão, senhor...

— Valdez, Leo Valdez.

Ele sorriu novamente, e então despareceu atrás das portas. Percy ficou sozinho com a garota. Ela era baixa, e tinha um rosto quase literalmente angelical.

— Sr. Jackson — ela leu o bordado no sobretudo dele —, eu ouvi vocês falando da Gwen?

Percy foi pego de surpresa. Não havia nenhum indício de sotaque francês na fala da garota. Ele só conseguiu imaginar que ela fosse de fato, muito fluente. Isso, ou ela conseguia mudar de uma língua para outra como uma estação de rádio.

— Isso. Eu sou o encarregado pela investigação do assassinato dela. Se vocês pudessem nos ajudar com alguma informação, senhorita...?

— Só Piper está bom — ela se dirigiu para cadeira alta atrás do balcão, pousou os cotovelos no móvel, sorrindo. Percy sentiu-se imediatamente mais calmo. — Gwen? A gente fez o primeiro ano da faculdade juntas. Ela era bem... original? Digo, eu nunca entendi nada do que ela falava com o Leo. Calibradores e motores e válvulas e não sei o quê. Coisa de gente doida, não acha? Mas eu diria que ela gostava muito do próprio trabalho, do modo que falava. Ouvi um boato de que ele queria ser lutadora de MMA, mas levou um tiro quando reagiu à um assalto e acabou com a própria carreira. Dizem que foi muito feio. Mas eu não tenho certeza se tenho alguma coisa importante para dizer sobre ela.  

— Qualquer informação é crucial — Percy insistiu. — A senhorita sabe alguma coisa sobre alguma rivalidade pessoal? Qualquer coisa que possa ter motivado alguém a ir atrás dela?

Os olhos dela se iluminaram, como se ela houvesse se lembrado de algo. Só então Percy percebeu que cada íris era de ao menos três cores diferentes. Nico acotovelou-o, como se estivesse tentando lhe dizer algo, mas Percy já estava muito envolto na fala dela:

— Ela tinha um namorado. Dakota... Dakota... foi mal, eu não lembro o sobrenome dele. Soube que eles terminaram no verão passado. Foi bem feio e tal. Ele jogou uma garrafa de vinho que por pouco não acertou ela na cabeça. — Piper contou, soando entusiasmada — Eu nunca os vi juntos, não. Também nunca ouvi ela falando dele. Mas, entre eu e você, digamos que eu achava que a Gwen poderia se sair muito melhor, né? Digo, ele não é feio, mas ela... ela tinha aquele cabelo lindo, e aquela carranca séria tão sexy...

Percy inclinou-se um pouco mais, enquanto Piper descrevia fisicamente a garota que ele já havia visto em fotografias mais vezes do que queria contar. Ainda assim, enquanto Piper falava, parecia que toda informação era nova. A voz dela entrava pelos ouvidos dele como uma canção, e ele...

— Pipes! — Leo chamou, lá de dentro — Preciso de ajuda!

Alguma coisa saiu de sintonia. Percy literalmente perdeu o equilíbrio e deu com o cotovelo na borda da mesa. Piper riu — não uma risada de deboche, apenas entretida, e deslizou do banco de volta para o chão.

— Foi bom falar com você, sr. Jackson — ela disse, ainda sorrindo. — Espero ter ajudado.

Ela não havia. Na verdade, Percy sentia como se houvesse apenas perdido seu tempo naquele lugar. Ainda assim, enquanto Piper retornava saltitante para as portas dos fundos, ele encontrou-se respondendo:

— C-Claro.

Quando ela desapareceu atrás do balcão, e então pela porta dos fundos, Percy piscou com força, sentindo o corpo todo pesado. Era quase como um daqueles momentos, nos quais ele terminava de sair da piscina e sentia o peso de todas as gotículas de água ensopando sua bermuda e cabelo. Nico se aproximou dele.

— O que foi isso, cara?

Percy olhou de volta para ele como se estivesse vendo-o pela primeira vez. Um arrepio percorreu sua espinha. Piper. A garota da voz bonita e olhos hipnóticos. Percy não conseguia se lembrar de quase nada do que ela havia dito.

— Eu só... me distraí — respondeu.

As sobrancelhas de Nico se franziram, mas ele não disse nada. Tendo crescido juntos, Nico sabia que o DDAH hereditário da família havia se manifestado de forma quase cruel em Percy, e o fizera ter uma experiência de quase duas décadas horríveis na escola, sendo sempre humilhado pelos professores e colegas de classe. Era um assunto sensível – e talvez por esse motivo ele evitasse trazê-lo à tona.

Eles voltaram para a viatura, e enquanto Percy esperava o condicionador de ar amezinhar um pouco o forno que estava lá dentro, Nico questionou:

— E então? Conseguiu alguma coisa?

— Poucas — mentiu. — Se o que a garota estiver dizendo for verdade, então os motivos pessoais que eu consigo pensar podem ser três. Um: o assaltante que atirou nela, querendo vingança. Algum antigo rival da época de quando ela treinava para ir para o ringue, ou o ex-namorado. Eu acho muito improvável que tenha sido algum ladrão qualquer, perseguindo-a tanto tempo depois. Também duvido que um rival esportivo iria tão longe a ponto de matar uma garota que nem pode mais lutar. O que nos deixa com....

Nico estalou a língua.

— O ex-namorado — ele inclinou o banco do carro — me dá seu celular, vou ligar para a Reyna.

— Ela está ocupada no hospital — Percy respondeu, dando partida.

— Não. Ela me mandou mensagem dizendo que foi passar na delegacia para pegar o casaco que ela esqueceu.

Percy sentiu aquela mesma sensação estranha, de sempre que Nico se referia à Reyna com tamanha naturalidade. Não era ciúmes, claro. Nico estava em um relacionamento estável a quase quatro anos, e Reyna era apenas uma amiga. Mas era estranho que ele não fosse tão próximo nem do próprio primo nem da colega de trabalho quando eles eram. Às vezes, Percy sentia-se como um telespectador.

— Liga com o teu, então.

— Descarregou.

Ficou tentando a manda-lo parar de ficar gastando a bateria do aparelho com joguinhos então, mas estava mentalmente cansado demais para aquilo. Ao invés disso, entregou o celular para Nico de uma vez.

[...]

— Coitado do sr. Brunner — Nico disse do outro lado da linha, embora não soasse muito afetado.

— Mas você não acha estranho? — Reyna perguntou, estacionando a moto — Eu sei que o sistema de polícia não é lá uma obra-prima, mas mandar aquela quantidade de papeis para a nossa delegacia por engano...

Nico ficou calado do outro lado da linha, mas Reyna soube que ele havia dado de ombros.

— Nós somos policiais, Reyna, não investigadores. Talvez você devesse falar isso para o Percy.

Reyna comprimiu os lábios. Nico estava certo, claro. Mas ela bem conhecia o próprio parceiro. Percy era um excelente investigador, mas tinha a mania irritante de se meter onde não era chamado. Se contasse sobre os misteriosos papeis que haviam surgido na delegacia para eles, sabia que Percy iria querer investigar – e provavelmente ganhar um bom puxão de orelha do delegado Dionísio depois. Além disso, Percy já houvera sido tão gentil dando-o o dia de folga para visitar Julian. Não queria metê-lo em confusão.

— De qualquer forma — Nico completou — os documentos dizem que a srta. Dawson estudou na Academia Júpiter. A hipótese mais provável é que o namorado dela tenha também. É um bom lugar para começar.

— Tudo bem. — Reyna respondeu — eu vou perguntar por aí, dar uma olhada. Quando voltar para a delegacia mais tarde vou fazer uma busca no sistema e amanhã de manhã eu ligo para a secretaria da escola. Preciso ir agora, se cuida.

— Você também.

Reyna guardou o celular de volta no bolso. O que Nico dissera era verdade. Ela era uma policial, não uma investigadora. O trabalho dela era fazer com que Percy não fosse morto durante as investigações, e impedir os suspeitos de fugirem com uma boa chave de perna ou outro “gole maluco de artes marciais” (nas palavras de Nico). Mas quando Percy estava ocupado demais não era incomum que ela fizesse algumas ligações ou perguntas. Principalmente quando as pessoas ficavam assustadas demais quando olhavam para ela para conseguirem mentir.

Embora ela suspeitasse que os caras maus – os caras maus de verdade – não fossem se assustar apenas com o olhar dela e o distintivo batido preso em sua camisa.

O ar frio da loja de conveniência foi uma mudança bem-vinda. Ela foi direto para a parte de trás e pegou algumas embalagens de macarrão. Molho de tomate. Queijo...

Ignorou a pontada de dor de cabeça.

... um pouco de salsinha.

Julian houvera tido outra crise histérica. Precisariam mudar os medicamentos. De novo. Atacara a psiquiatra e quase lhe dera uma concussão. Os joelhos de Reyna tremiam só de pensar. Ela queria tanto manter na memória a imagem de Julian voltando da guerra, com aquela mochila enorme e o uniforme limpo com cheiro de aromatizante de avião, abraçando-a no aeroporto e levantando ela e a irmã do chão.

Mas a realidade era outra, e agora Reyna precisava dizer para si mesma que Julian ainda era o mesmo, atrás do olhar vidrado e da fala confusa, enquanto cozinhava o prato favorito dele. Ela caminhou até o balcão e encontrou-o vazio. A caixa provavelmente havia ido até o banheiro. Foi para o setor de autoatendimento e pagou com o cartão. Enquanto saía da loja, não pode deixar de notar os enormes livros espalhados. Livros de arquitetura.

Reyna fechou os olhos. Se se deixasse pensar nos tempos da faculdade – em tudo que ela poderia ter tido um dia – fraquejaria.

E ela não podia. De modo nenhum

Quando colocou os pés para fora, no entanto, foi acometida por uma súbita necessidade de fazer alguma coisa. Elétrica e desesperada, ela olhou ao redor. O coração palpitava, as mãos suando. A conversa de Nico misturou-se em sua cabeça. Ela correu até a moto e enfiou as compras na mochila de qualquer jeito, vestindo a jaqueta.

Ela acelerou com tudo para a delegacia.

[...]

— Você não deveria ter feito isso. — Percy disse assim que Nico desligou o telefone.

— E por que?

— Você sabe que ligaram para ela do hospital. Sabe como a Reyna fica quando o Julian tem um surto. Não deveria ter colocado isso na cabeça dela quando nenhum de nós está por perto para...

— Para o que? — Nico o interrompeu, sentido os punhos se cerrarem. — Reyna não é uma criança, Percy. Você não pode querer estar por perto o tempo todo para cuidar dela.

— Ela não é uma criança, mas tem ansiedade. E só fica pior quando alguma coisa acontece com o Julian.

— Você não sabe disso.

— Não “sei disso” porque vocês dois se recusam a ver qualquer tipo de especialista.

— Não me coloca no meio disso!

Percy freou com brutalidade. Nico ergueu os olhos para ver que ele parara a viatura quase encima da faixa de pedestres, e a luz vermelho do semáforo parecia quase repreende-los.

— Quer saber de uma coisa? A Reyna provavelmente está na delegacia agora. Por que você não vai para lá sozinho? — Nico empurrou a porta do carro, abrindo-a. Ao menos, estavam parados do lado da calçada. — Eu deveria saber que não dá para ficar todo esse tempo com você sem ouvir um sermão.

— Nico, não-

— Tchau, Percy.

Ele bateu a porta da viatura com mais força do que um policial provavelmente deveria, mas honestamente, não conseguia se importar. Ele detestava quando Percy fazia aquilo. Tratava-o como uma criança, incapaz de cuidar de si próprio. Começou a caminhar sem rumo, até sentir o celular vibrar no bolso.

Michael K. Recebendo chamada...

Nico respirou fundo, mas resolveu ignorar. Michael era um bom namorado, mas nunca entendia quando ele ficava irritado. Ele era exatamente como Percy. Para Michael, tudo o que Nico precisava era uns beijos agressivos e tudo ficaria bem. Mas Nico precisava...

Nico precisava...

— Ei, você está legal? — Uma voz que Nico achou já ter ouvido antes o perguntou.

No meio da sua raiva, Nico precisou respirar fundo antes de olhar para o lado. Sem perceber, havia chegado em um ponto de ônibus. O sol já começava a se pôr no horizonte, e o céu poluído e sem estrelas da grande São Francisco começava a escurecer. Apoiada em um poste, estava a garota do moletom cinza e touca. Ela tinha o fio de um fone de ouvido escapando do moletom, e as mãos enfiadas no bolso. Seu rosto estava tão inexpressivo quando ele se lembrava, mas ela tinha uma sobrancelha erguida.

— E aí? Vai me responder?

Nico notou que, com exceção deles e de uma senhora e uma garotinha que conversavam em espanhol no banco, a parada estava vazia. Um ônibus parou bem ao lado dele, e um estudante apressado desceu, empurrando os óculos para o topo do nariz, e o empurrou no ombro quando passou.

— Eu... eu estou — respondeu, finalmente. — Você é a garota de mais cedo, não é?

— Depende — ela disse — você enquadrou alguma garota loira e insuportável mais cedo?

Sem perceber, Nico deixou um sorriso escapar.

— Não. Foi mal.

— Nada. Você parece perdido.

Embora a expressão dela não fosse nada convidativa, havia algo na voz da garota que o acalmava profundamente. De certa forma, ela o lembrava um pouco de Reyna: o olhar duro e a voz altiva.

— Talvez eu tenha tomado alguns redbulls a mais do que o recomendado.

A garota abriu um sorriso. Ou melhor, levantou um pouco os cantos da boca, como se o comentário de Nico a houvesse surpreendido um pouco.

— Talvez.

Ele ia dizer alguma coisa, mas então uma viatura da polícia parou bem ao lado dele. O vidro foi abaixado, mas ele já sabia quem era.

— Nico, cara, por favor — Percy começou a dizer.

Nico estendeu a mão para a maçaneta da porta. Percy era um pé no saco, mas não fazia sentido ficar com raiva dele. E, além disso, ele nem tinha dinheiro para o ônibus. Antes que pudesse entrar no carro, no entanto, uma mão fechou-se em torno do pulso dele. A garota loira inclinou-se:

— Eu ganho uma carona também? Seu amigo aqui me fez perder o ônibus.

Os olhos de Percy se arregalaram. Ele olhou de Nico para ela como se não estivesse conseguindo entender. Nico sentiu um misto de irritação e admiração pela garota. Não muitas pessoas deixavam o primo dele sem palavras. Nem mesmo Dionísio.

— Só se você prometer que não mora do outro lado da cidade — disse para ela.

— Sem problemas. É um trajeto curto.

Ela entrou no banco de trás. Percy ficou olhando para ele como se Nico houvesse chutado seu porquinho da índia.

— Aliás, qual é o seu nome mesmo?

— Annabeth... — ela ia completar, mas seu celular tocou. — Só um minuto. Oi Thalia. Não, não, eu já estou indo. É, pode falar para o Grover. Tudo bem. Até depois — ela bloqueou o celular — desculpa, o que era mesmo?

— Só... — Percy suspirou, cansado — onde você mora?

[...]

Will bateu duas vezes na porta, até ouvir o som do violino cessar. Então, empurrou-a delicadamente.

— Oi, William.

— Rachel — cumprimentou.

Ela estava bonita, como sempre, embora Will, que a conhecia bem até demais, fosse incapaz de admirar a beleza da violinista por si mesma. Quando se conhecia Rachel Elizabeth Dare como ele, nem os cachos ruivos, nem as adoráveis sardas podiam distraí-lo dos brilhos dos olhos verdes hipnóticos.

— Eu só queria saber se está tudo certo?

— Sem preocupações — ela se inclinou para colocar o violino em seu lugar, evidenciando os pequenos fios dourados que trançavam seu vestido branco — já falei com Grover e Thalia. E o convite para Percy e os outros já foi enviado.

Will sentiu um calafrio.

Para o bem ou para mal, ele sabia, nada depois daquela noite seria o mesmo.  

Of the eternal flames.

 


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Notas finais do capítulo

Eu sei que eu poderia usar isso para fazer suspense e tudo mais, porém quero deixar bem claro desde já: a Rachel não tem absolutamente nada a ver com o progresso do romance do Percy com a Annabeth. Sem triângulos amorosos porque eu os odeio.
Tradução das frases da Piper:
"Si c’est Drew, je lui ai déjà dit que..." Se for a Drew, eu já disse que...
"qui est-il?" Quem é ele?
"Tu sais que je ne peux pas les supporter. Mais ça va, allez-y. Je reviens vite" você sabe que eu não suporto eles. Mas tudo bem, vá em frente. Estarei de volta em breve.
Bem, eu espero que tenham gostado. Comentários são sempre apreciados, e até a próxima!



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