Com Amor, Amelia escrita por Inyscg


Capítulo 9
IX




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“ Neste momento encontro-me a desfazer as malas, no meu quarto. Sim, já estou em casa! Enquanto arrumo a minha roupa penso em todas as coisas que tenho que fazer ainda no dia de hoje. Primeiro, acabar de desfazer as malas obviamente, segundo, ir à faculdade tratar de papéis e algo me diz que vai levar um bom tempo… é sempre assim, infelizmente. Depois, vir para casa e ler o diário que encontrei nos laboratórios Scintillam, algo por que estou muito curiosa para fazer! Ah, e mais tarde tenho que ligar ao Charlie para me informar melhor sobre o tal sítio que tive o “não prazer" de visitar hoje de manhã lá nos laboratórios. E assim aproveito para lhe perguntar se foi mesmo bom eu ter tido alta já, não que eu não quisesse sair de lá, mas tenho medo de algo estar errado comigo, a voz que ouvi hoje… é tudo tão estranho! Mas o diário é real, tenho a certeza, real e igualzinho ao meu!!”

Segurei no meu diário, acabando de escrever nele, e coloquei-o ao pé do que encontrara esta manhã. Sim, são iguais! Pelo menos por fora, mas há muita gente a ter diários iguais, muita gente tem camas iguais, escovas de dentes iguais, computadores iguais, etc. Até que… à medida que o vou avaliando, encontro uma parte de uma flor desenhada na lombada dele. E isto não pode ser coincidência, porque no meu diário, desenhei uma flor exatamente igual exatamente no mesmo sítio com os mesmos detalhes, no dia em que comprei este pequeno caderninho com o intuito de expor os meus sentimentos diários. É uma flor que só eu tenho a mania de desenhar, à minha maneira, não é possível haver uma cópia que não tenha sido feita por mim!

Decidi esquecer o assunto e ir resolver os assuntos ligados à minha licenciatura. Fui até à faculdade e depois de muito, mas muito esperar, dada a desorganização escolar, fui atendida. E depois de ser atendida ainda muito esperei para receber uma papelada para preencher e, obviamente, que tive que pagar uma quantia significativa para reabrirem a minha candidatura. Hoje em dia as pessoas não têm, simplesmente, pena de alguém que passou dois anos em coma, inocente e que agora só quer voltar a estudar? No meio destes pensamentos e de suspiros, reflito sobre a minha caixinha com dinheiro que consegui juntar a trabalhar durante um verão inteiro, há dois anos atrás para a faculdade. Esse dinheiro estava a acabar e era o único que eu tinha, espero que os turnos nos laboratórios deem para receber bem.

No caminho para casa, tentei abstrair-me dos meus pensamentos. É surreal como tinha estado dois anos fora , mas nem parecera, porque tudo estava igual, as ruas tal e qual como me lembro delas. O ar da natureza, das árvores que me envolviam, faziam-me sentir bem. Cheguei a uma estação de autocarros e sentei-me de modo a apanhar um para ir para casa. Encostei a minha cabeça e reparei num anúncio num placar que anunciava a “boa saúde" do nosso planeta e que para o manter assim teríamos que continuar a seguir todas as regras de limpeza, tanto nas ruas como em casa. Só consegui pensar o quão óbvio era isso. É claro que vamos continuar a cuidar do nosso planeta, isso nunca foi um questionamento, pelo menos para mim. Por momentos senti um orgulho do bom trabalho que nós, enquanto seres humanos, estávamos a fazer! Desde que me lembro que tudo é ordenado, ninguém quebra as regras, ninguém atira nem que seja um papelinho para o chão, sempre fomos educados para não o fazer, pelo menos aqui em Qientia. Mas é se não fosse assim? Como seria realmente o mundo? Ficaria destruído?

Os meus pensamentos foram interrompidos por um autocarro que acabara de chegar.

CHARLIE

—Okay é agora! – disse indo pegar no meu telemóvel, mas acabei por não o fazer.

—Então? Estavas quase lá! – Felícia diz, irritada

— Não consigo, ela nunca demonstrou nenhum interesse em mim!

—Charlie, a Amelia é assim! Eu conheço-a, sou a sua melhor amiga, ela não demonstra logo os seus sentimentos. E lembra-te, ela teve dois anos adormecida, isto deve estar a ser avassalador, apesar de ela não o demonstrar. E eu, como sua melhor amiga, tenho o direito e o dever de a afastar destas confusões todas e dar um empurrãozinho para que aquela miúda comece a namorar, a divertir-se!

—Achas que eu deva?

—Acho que deves – ela respondeu, determinada, sentada num banco, à minha frente, num laboratório vazio – e tens o direito!

—Eu consigo! – peguei no telemóvel, procurei o seu número, que ela me dera só por precaução caso ela sentisse algo, e carreguei no botão que dizia “ligar".

Esperei e esperei que ela atendesse. Apenas ouvia os repetidos “bip" que soavam e eu já pensava que ela não iria atender. De repente ouço a sua voz, doce e suave.

CHAMADA ON

—Estou, Charlie!

—Hey! – respondi, sem saber por onde começar.

—Precisava mesmo de falar contigo!

—A sério? – perguntei, enquanto Felícia me olhava esperançosa.

—Sim, a sério! Estou bastante preocupada comigo.

—Então? O que se passa? Tens te sentido mal? – A expressão de Felícia agora era alarmada e a minha também.

— Não, na verdade tenho me sentido muito bem. Só que hoje de manhã comecei a ouvir uma voz, uma voz que me guiava a qualquer coisa e eu pensei que podia estar a enlouquecer por não estar totalmente recuperada - ouvi-a explicar, com a voz acelerada – mas eu segui essa voz e levou-me a um piso muito estranho aí nos laboratórios, onde encontrei um diário e… - não a deixei acabar, já preocupado.

—Um piso muito estranho? Amelia, eu conheço estes laboratórios de uma ponta a outra e não há pisos estranhos. Na verdade, todos os pisos são frequentados por alguém.

—Então estou louca…

—Vamos ter calma, podemos combinar um dia para passares por aqui e eu observo-te, pode ser da medicação que te receitámos, se não te estiveres a dar bem com ela podem começar a dar alucinações, é a única explicação óbvia.

—Mas então e o diário que encontrei? Ele está aqui mesmo nas minhas mãos, não pode ser alucinação!

—Fazemos assim, passas aqui e eu posso ver-te. Quando te dá jeito?

—Agora! O mais depressa possível, se não te importares – ela disse, com preocupação na voz.

—Por mim tudo bem, eu fico à tua espera.

CHAMADA OFF

—Eu ouvi bem? Alucinações? – Felícia questionou-se sobre o assunto.

—Ouviste, e agora estou preocupado. Mas a Amelia vem aí por isso já vamos descobrir o que se passa.

—Então acho que esta é a minha deixa – ela disse, com um sorriso.

—Vais-te embora? Tu não te preocupas com a tua própria amiga? Ela não está bem!

—Por isso é que tu vais confortá-la e ver o que se passa com ela – respondeu, novamente com aquele seu sorriso malicioso – e sim, eu preocupo-me muito com a minha amiga, mas sei que também não vão deixar de me informar, por isso assim que souberes o que se passa com ela diz-me! Ah, e aproveita esta oportunidade, porque pode não ser um encontro a sério, mas vão estar sozinhos à mesma.

Com o que a Felicia disse lembrei-me que a verdadeira razão de ter ligado a Amelia foi para lhe perguntar se queria sair comigo e agora, como se fosse obra do destino, vamos ter meio que um encontro... Mais ou menos… Só espero que esteja tudo bem com ela!

—Está bem, está bem, então vai-te lá embora.

—Tchauzinho – ela diz enquanto passa pela porta, rindo-se, ao mesmo tempo.

—Tchauzinho – respondi, imitando-a num tom divertido.


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