Se todo mundo fosse Cego escrita por Arii Vitória


Capítulo 1
Se todo mundo fosse cego...


Notas iniciais do capítulo

Acredito que eu já disse tudo nas notas da história, só quero repassar com alguns fatos diferentes essa visão tão melhor do mundo que o poema me apresentou, e que sempre me faz ficar umas boas duas horas olhando pras paredes, com pensamentos bizarros na minha cabeça.
Espero que faça vocês refletirem também!



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Fábio acordou naquela manhã duvidando de tudo ao seu redor, só podia ter batido forte com a cabeça enquanto dormia, era a única explicação palpável para tudo que estava acontecendo naquela manhã de quinta-feira ensolarada. E ainda nem eram sete horas!

Primeiramente, sua mãe estava usando óculos escuros e uma bengala enquanto andava pela casa. E quando o filho a questionou ela simplesmente lhe respondeu que estava cega. Saiu correndo de casa para buscar ajuda ou explicações, ainda usando a bermuda do filme “Carros” que usava para dormir e tudo mais. E foi ai que percebeu que havia mesmo ficado louco... Estavam todos cegos!

Todos usavam os mesmos óculos escuros e bengalas. Tanto o moço que lhe vendia jornais, quanto os empresários e políticos que estavam sempre correndo para trabalhar.

A princípio achou que estava tudo uma grande confusão, mas então olhou mais uma vez, agora um pouco mais acostumado com a ideia. E foi então que enxergou um novo mundo.

Não havia status, moda ou opulência. Carros, roupas ou aparência mais nada significavam.

Estavam todos se apoiando em outros, já que a falta de visão os obrigava a procurar um par para ajudar a guiá-los na escuridão.

Se fosse um dia qualquer, haveriam vários adolescentes com os olhos hipnotizados por seus celulares na porta da escola, enquanto esperavam o portão abrir. Mas agora a tecnologia não os dominava mais, estavam todos eles sentados em um grande círculo, a maioria se abraçando, e não havia nenhum excluído, porque o bullying simplesmente não existia.

Fábio continuou a andar pelas ruas, confuso. Foi que observou um homem engravatado conversando com um mendigo em um banco perto ao ponto de ônibus, Fábio os ouviu contarem suas histórias um para o outro, sobre a família e seus filhos, e no fim os viu abraçarem-se como se fossem amigos de infância, sorrisos estonteantes um para o outro.

Fábio decidiu ir até o hospital, talvez alguém lá pudesse explicar como, de repente, todos haviam se tornado cegos, com exceção dele. 

Chegando lá percebeu que a mesma enfermeira de pele cor de café, que o atendia todas as vezes que estivera lá, estava de mãos dadas com o médico loiro que ouvira brigando com ela em um dia que havia marcado uma consulta.

Deu uma olhada nos pacientes que ali esperavam, e haviam vários casais diferentes, pessoas de todas as cores se beijando ou abraçando-se, já que as diferenças raciais também não lhes importavam mais.

Ninguém mais se exibia, ninguém mais se xingava, não haviam julgamentos. O jornal que geralmente era cheio de páginas completas com tragédias, era mais fino que uma agulha.

Foi então que ouviu um estrondo em algum lugar. “Fábio, Fábio! Não vá se atrasar!”

Abriu os olhos com força e percebeu que não estava mais na rua, e sua mãe o chamava aos berros na sua casa. Levantou, assustado novamente. Tudo não passara de um sonho?

Correu para as ruas, pensando que veria seu visionário sonho ainda real, mas percebeu que nada havia mudado desde o dia anterior.

A mesma humanidade fria, sem amor ou simpatia. Andavam feito zumbis, reféns da tecnologia, da vaidade e da hipocrisia.

O engravatado revirou os olhos quando o mendigo que lhe pediu alguns centavos, o médico estava dando uma bronca na enfermeira como se ela tivesse feito algo errado, o portão do colégio era dividido em panelinhas.

Fábio pensou que se todos fossem cegos, aquilo seria uma benção ao invés de um castigo.

“Abram os olhos! Precisamos acordar!” Fábio gritou atraindo os olhares de todas as pessoas, todas o olhando como se ele fosse louco.

Voltou para sua casa, com uma conclusão. Que os cegos, na verdade, eram todos nós!

Daquele dia em diante Fábio nunca mais dormiu direito, não conseguiu mais enxergar o mundo do mesmo jeito. Sentia vontade de gritar todos os dias, vivendo em busca dessa utopia, tentando ampliar as visões de todos.

Para que, talvez um dia...

Todos conseguissem enxergar menos com os olhos,

E mais com o coração!


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