A Lenda de Thanatos escrita por Phinderblast


Capítulo 20
Cap 20 – O fim de uma vida, o começo de uma lenda


Notas iniciais do capítulo

Yeah! O famoso! O tão esperado capítulo 20 está aí!
...
Mãããs... Tive que dividí-lo em dois, pois está ficando muuuuuuito grande 8D"
Então, aqui vai o primeiro e depois eu posto o segundo, não prometo datas, mas tentarei não demorar (muito) >3>"



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Cap 20 – O fim de uma vida, o começo de uma lenda

 

            O mundo estava deserto, as cidades destruídas e vazias, o silêncio predominava em todo lugar. Não havia ninguém para testemunhar a batalha titânica que estava prestes a ocorrer. Parece que nem mesmo os deuses estavam assistindo o confronto. As pesadas nuvens e a chuva violenta castigava toda rune-midgard desde que Thanatos saíra de Glast Heim.

            Ele avança com ferocidade para cima do monstro, era o mesmo ataque que havia cortado o Bafomé de Glast Heim ao meio. Entretanto o poderoso golpe foi aparado pelo braço da criatura. O deus da morte comprovou naquela hora que aquela não seria uma batalha como as outras, que aquele não era um inimigo como os outros. 

- Morra... - A voz fantasmagórica de Thanatos causaria arrepios em qualquer um, mas nem surtiu efeito na besta. 

            Ele então partiu para cima novamente, dessa vez com vários e vários golpes de espada; na diagonal, horizontal, vertical; de todos os modos possíveis. O ataque veloz e poderoso surtia efeito, por vezes era bloqueado, mas acertava grande parte deles. A fera não apenas defendia, mas atacava-o de todas as formas também, ataques não tão rápidos, mas igualmente fortes. Cada batida, ferimento, corte, cada mínimo arranhão não produzia o som de uma espada. O deus da morte só escutava os gritos de terror das pessoas que ele mesmo matou. Todo ataque ressuscitava em sua memória a expressão de desespero e os gritos de agonia de uma pessoa que havia sido morta por ele. Aquilo não o deixava lutar direito, mas ele não parava.

Aquele era o seu último desafio, venceria aquela besta de qualquer maneira, ou tudo seria em vão. 

Minutos, horas, dias... Já não conseguia saber a quanto tempo estava batalhando. A paisagem do local já estava toda modificada, cheia de crateras, rochas destruídas, fissuras. Thanatos estava muito ofegante e o demônio também. A luta estava se estendendo demais, um deles cairia a qualquer momento. Ao contrário do paladino, a besta estava cansada apenas fisicamente, já o deus da morte não conseguia se concentrar na batalha, as vozes não cessavam, o tormento era muito grande. 

- Mor... ra... – Com a mesma voz gutural e fantasmagórica ele balbuciou para o demônio pouco antes de cair por terra. 

            Caiu derrotado, não por ser mais fraco que o monstro, mas por não suportar o tormento interno, sua consciência estava se esvaindo, o último fio de sanidade estava se rompendo. Fechou os olhos e tentou lembrar de algum momento feliz, mas tudo o que viu foi escuridão. Tentou abrir os olhos de novo, mas era como se não comandasse mais seu corpo. 

- O que?... Está acontecendo?... – Ele olha para os lados, mas não estava mais em rune-midgard. 

            Ele olha para si mesmo, mas não vê Thanatos, o deus da morte, vê Thanatos, o templário. Fica extremamente confuso. 

- Tem alguém ai? 

            Thanatos começa a caminhar em meio à escuridão, não consegue enxergar nem mesmo o chão onde pisa. Agora sim, podia-se lembrar dos momentos felizes, do começo de sua carreira de espadachim, tudo estava claro. Foi tirado de suas lembranças por um grito feminino muito agudo. Ele prontamente se virou em direção ao som e viu claramente uma elfa com uma criança nos braços, pareciam muito feridos os dois. Correu em direção ao local rapidamente para prestar socorro, mas não chegava, por mais que corresse, a distância não diminuía. Logo apareceu outra elfa, dessa vez com um homem nos braços, provavelmente seu marido. Dali em diante começaram a aparecer mais e mais pessoas, todas elas acompanhadas, centenas, milhares... Os gritos de agonia ensurdeciam o templário e faziam brotar lágrimas de seus olhos, virou o rosto para não ver a cena e se deparou com uma máscara branca. O susto que levara foi tão grande que ele caiu de costas. 

- Recomponha-se... – Disse baixo para si mesmo, mas não conseguia esconder o terror que passava.

            A máscara branca pairava no ar. Lentamente ela se dirigiu àquelas pessoas que agonizavam e parou sobre as mesmas. Thanatos apenas observa o desenrolar da cena. Todas aquelas pessoas são envoltas em uma esfera incolor, lentamente sendo comprimidas por ela. O templário tenta não olhar, mas não consegue. Seu corpo não obedece e ele observa a cena grotesca atônito. Toda aquela gente é comprimida até a esfera ficar com cinco centímetros de raio. Uma espécie de amuleto se materializa em volta da esfera e os gritos de agonia cessam. A escuridão do local onde o amuleto estava fica tão densa que chega a ser palpável. Uma espécie de manto negro envolve o amuleto e a escuridão, dando forma ao que parecia um pequeno corpo. A máscara, que até então estava flutuando acima daquilo tudo, desce e se encaixa no que deveria ser o rosto daquela coisa.

- O que é isso? – Thanatos mantém-se boquiaberto ao ver a pequena criatura que havia se formado bem a sua frente. 

            A criaturazinha caminha rapidamente até o templário e o encara. 

- O que... Você quer?... – Ele pergunta inocentemente. 

            Thanatos olha dentro dos olhos da máscara e consegue enxergar toda a agonia contida dentro daquele pequeno corpo. Seu coração dói, suas pernas tremem e ele não agüenta, desmaia segundos depois.

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O céu noturno encoberto pelas nuvens de chuva era agraciado por uma intensa aurora boreal, o sinal de que as valquírias cavalgavam pelos céus a mando de Odin.

- Nix-sama... Seu filho... – Uma linda valquíria trajando uma armadura completa e bem polida, se curva diante de um trono ao qual uma mulher de longos cabelos azuis estava sentada de costas.

 - Eu sei.

 - Acho que ele...

 - Ele não morreu, ainda não... – Ela parecia calma.

 - Mas Odin-sama me mandou buscá-lo.

 - As valquírias devem buscar apenas aqueles que já morreram, meu filho ainda não morreu.

 - Mas... Nix-sama...

 -  Ousa me desobedecer Brynhildr? – Nix aumenta o tom de voz enquanto as nuvens ao seu redor se movimentam mais rapidamente.

 - Nunca minha deusa, me desculpe. – A donzela guerreira monta em seu cavalo e cruza o céu com sua armadura faiscante, deixando a deusa sozinha.

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             Thanatos acorda com o som do fogo crepitando. Levanta-se e se vê dentro de uma cidade. As labaredas consumiam as casas e algumas demoronavam. Aos poucos começou a esscutar os gritos de pessoas.

 - Mas o que?... Onde estou agora? O que esta acontecendo aqui? – O templário estava completamente confuso.

             Logo a rua estava tomada de gente. As pessoas corriam desesperadas para dentro das casas em chamas, na esperança de salvarem seus parentes ou pertences, mas não voltavam. Era um caos. Ele corre pra perto de uma pessoa que estava virado de costas pra ele, sempre com o intuito de ajudar.

 - Meu senhor, o que está havendo aqui? – Ele toca no ombro do transeunte que se vira imediatamente.

             Novamente Thanatos leva um susto e cai de costas ao ver uma máscara branca parecida com a que vira da última vez, dessa vez no rosto do homem ao qual dirigira a palavra. Ele fica estático no chão enquanto vê o homem puxar uma grande faca e caminhar em direção a ele.

 - Morra... – O homem falava em uma voz estridente e amedrontadora, como um psicopata.

             A máscara que usava expressa um grande sorriso maléfico o que aumentava ainda mais a sensação de medo.

 - N-não... E-eu não quero... morrer... – Thanatos se arrasta no chão para trás.

 O que é isso? Por que tanto medo? Eu tenho medo de morrer? Eu não quero morrer, não posso morrer, eu tenho que viver!”

 - Eu não quero morrer! – Thanatos corre apavorado para fora daquela cidade.

             Ele corre desesperadamente para fora até não aguentar mais as pernas. Estava novamente envolto em escuridão.

 - Es... escapei?... – Ele diz ofegante pouco antes de escutar uma grande explosão.

             Thanatos se vira para onde antes estava a cidade e só consegue ver fogo. Parecia que a cidade toda havia sido engolida pelas chamas.

 - Odin... Me ajude...

             Mais uma vez uma grande esfera incolor aparece, dessa vez envolta das chamas. Assim como outrora, o objeto diminui de tamanho progressivamente até ficar minúsculo. Um amuleto igual o de antes envolve o pequeno objeto que cintilava em vermelho e o aprisiona. O templário não percebeu, mas a máscara que antes estava no rosto do cidadão da cidade agora pairava no ar. Os dois objetos se aproximam lentamente dele. Pouco a pouco uma silhueta humanóide foi se formando. O amuleto que irradiava uma fraca luz vermelha foi envolta em escuridão e a máscara encobriu o que seria o rosto da criatura.

 O desespero é o sentimento que te consome antes da morte, não te deixa pensar, não te deixa agir, apenas te concede o desejo incontrolável de não querer morrer...” – Thanatos não estava pensando nisso, era como se outra pessoa estivesse falando em sua cabeça, mas com sua própria voz.

 - Quem é você? Onde você... está?... – O templário procura pela voz olhando para os lados, mas não encontra.

             Ele se vira para frente e se depara a centímetros da criatura. Podia até sentir a respiração da mesma. Ele ficou estático, seria a paralisia diante da morte? Assim como os ratos que ficam imóveis ao se deparar com uma serpente?

             Em um esforço sobre-humano o templário da um passo para trás.

 - IIIIIIIIEEEEEARRRRRRRRRRRGGGGGGHHHHHH! – Urra a criatura em um grito insano de dor.

             Durante o grito desesperado, o corpo da criatura entra em combustão espontânea. Quando as chamas o envolvem ele se curva para trás. A dor que a criatura sentia era tão intensa que o templário quase conseguia senti-la. Thanatos não consegue mais se mover, seus instintos mandam correr, mas sua vontade manda ajudar. Aqueles momentos de indecisão acabaram rápidos, quando a criatura se virou para ele novamente. A máscara continuava com aquele mesmo sorriso insano, embora a criatura ainda sofresse com o corpo em chamas. O susto do pobre rapaz foi grande e o jogou de costas no chão uma vez mais.

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            - Queria falar comigo Nix? – Uma mulher de voz sedosa aparece diante da deusa da noite.

             - Sim... Alguém sabe que você veio? – A deusa parecia apreensiva.

             - Nem mesmo Garm sabe.

             A deusa que conversava com Nix era de beleza semelhando à própria deusa da noite. Seus longos cabelos negros, compridos e cacheados, ocultavam-lhe completamente o lado esquerdo da face. Suas vestes eram luxuosas e chamativas, ao contrário de Nix que trajava um simples véu azul escuro que lhe cobria o corpo. Estava parada em meio às nuvens tempestuosas, não havia chão, mas estava em pé. O clima ocultava o sol e dificultava a iluminação, por vezes um raio iluminava o ambiente e as duas deusas em toda sua beleza e poder.

             - Preciso de um favor seu... Um grande favor... – Disse Nix.

             - Ora ora... O que a grande deusa mãe da noite precisaria dessa pobre coitada? – Disse a outra deusa em tom de deboche.

             - É um grande favor Hell... Ficarei te devendo eternamente.

             - Tão sério assim? É algo sobre seu filho? É ele que está lutando contra o filho de Ymir, não é? – A deusa agora não mais falava em tom de deboche, estava mais séria.

             ­- Sim... Por isso preciso de sua ajuda...

             - Não posso ajudá-lo, se é isso que você quer... Odin proibiu os deuses de sequer ver a batalha.

             - Não quero que o ajude. Quero que me ajude, só você tem o poder de esconder algo de Odin, em seu reino você é a completa soberana.

             Hell agora apenas escutava o pedido de Nix. A poderosa deusa da noite era temida até pelos deuses mais corajosos. A soberana de helheim não entende o que alguém do porte de Nix queria com ela.

             - Preciso que a esconda... – As nuvens ao lado dela começam a se mover e revelam uma silhueta feminina ao lado de seu trono.

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             Thanatos se levanta assustado, mas não estava mais naquele lugar sombrio, nem avistava a criatura em chamas.

 - A... Grande Floresta...

             Grandes árvores que encobriam o céu, o som do vento que batia nas copas das árvores, o chão coberto de gramíneas. Era a tão conhecida Grande Floresta. Ele se levanta e caminha por entre as árvores, vê pupas, fabres, porings e outros monstros, todos dormindo. O céu estava tempestuoso como no fatídico dia da luta do bafomé, dia que ele queria esquecer.

            Caminha sem rumo até ver uma fogueira, dessa vez não corre até ela imprudentemente, chega perto e observa para ver o que era. Leva as mãos à boca ao ver a cena.

 - Amigos... – Sussurra inconscientemente.

             Érebo, Mayara, Arthemis, Sísifo, Peco... Estavam todos ali, dormindo enquanto Sísifo observava tudo em cima de um galho.

 É aquele dia... Se todos estão aqui, então...” – Ele pensa enquanto vira o olhar para o pé da árvore.

             Estava certo, todos estavam ali, exatamente como naquele dia... Todos, inclusive ele mesmo e Maeros.

 - Maeros... Maeros... – Ele se aproxima por trás da árvore, seu coração batia forte ao ver a figura da mercenária.

             Exatamente como naquele dia, Maeros estava dormindo por cima do templário, apoiando sua cabeça em seu peito. O templário ficava escondido, vendo aquilo, sua vontade de ir até lá era esmagadora, no entanto ele controla seu ânimo e se mantém oculto.

            Sente-se estranho ao olhar ele mesmo com a mercenária. Lembra-se perfeitamente daquele dia, não dormiu, ficou apenas pensando nela, apreciando cada momento... Mas não era exatamente isso o que estava vendo. Aquele Thanatos deitado com Maeros começou a afagar os longos cabelos negros dela.

 Mas o que?... Eu não fiz aquilo... Eu queria... Mas... Não fiz...” – Estava mais arrependido do que não fez, do que surpreso com o que via.

             Maeros levanta a cabeça levemente e encara Thanatos nos olhos, os dois trocam olhares e se beijam. O templário escondido treme com a cena, seu coração bate tão rápido que dói, quer e não quer ver ao mesmo tempo. A mercenária envolve o pescoço dele com os braços, como sempre fazia ao ser salva, o beijo ficava cada vez mais ardente e os corpos cada vez mais colados.

 - Inveja de você mesmo? Inveja mata sabia? - O templário escondido é surpreendido por Sísifo, que estava dependurado em um galho acima dele.

             Mais um susto, mais uma vez as costas dele se encontram com o chão. Fechou os olhos inconscientemente, mas logo os abriu ao sentir a chuva no rosto.

 - Não vá! Ele vai te matar em dois segundos, Maeros-sama!

             Thanatos se levanta e vê um pequeno grupo de mercenários escondidos atrás de uma árvore, dentre eles, Maeros, parecia ser a líder.

 - Não se preocupem, só vou estudá-lo, volto rapidamente... – Disse a mercenária para os colegas.

             O templário não pôde ouvir o resto, um arrepio correu-lhe a espinha e o deixou paralisado no lugar. Escutava passos pesados e rápidos. Um vulto passou ao seu lado e conseguiu ver o que era só quando havia se distanciado mais.

 - S-sou eu... Sou eu? – Murmurou ao ver a si mesmo, como deus da morte, de costas.

             Viu Maeros se esgueirando nas sombras, atacando inutilmente o deus da morte. Correu para mais perto, entretanto não conseguia chegar mais do que três metros da cena. Tentava desesperadamente ajudá-la, sabia exatamente o que aconteceria em instantes. Suas pernas não obedeciam, parecia que tinham virado pedra no lugar. Nada pôde fazer a não ser presenciar aquilo uma vez mais. As confissões da mercenária, o apelo desesperado para que voltasse ao normal. Rios de lágrimas escorriam pela face do templário. Seu maior desejo era voltar no tempo e não fazer aquilo novamente. O som da espada entrando na carne viva de Maeros era praticamente inaudível, mas não para o templário, para ele era o som mais alto e desesperador já presenciado. Abaixou a cabeça ligeiramente e lembrou-se do rosto de Maeros, lembrou-se perfeitamente de abraçá-la e de tentar confortá-la com uma última promessa.

 - Enquanto me amar, eu sempre te amarei... Enquanto me amar, sempre te procurarei... Enquanto me amar, mesmo que toda esperança estiver morta, eu não desistirei de ti... – Repetiu a promessa em sincronia com o deus da morte.

             Thanatos desaba junto com o deus da morte. Chora copiosamente, suas lágrimas formavam uma poça no chão, junto com a chuva que castigava.

            As lágrimas, não só dele, dos três que ali estavam, se juntam no ar. Mais uma vez uma esfera translúcida as envolve, diminuindo de tamanho e sendo trancadas em um amuleto.

            Lentamente a paisagem muda, não estava mais em Glast Heim, era um campo. O deus da morte estava ajoelhado em frente a um monte de terra fofa embaixo de uma árvore. O templário reconheceu o local, era o mesmo lugar onde salvara a pequena gatuna Maeros, onde se conheceram. O deus da morte se levanta e vai embora, deixando ele e o túmulo de Maeros a sós. Thanatos caminha e se debruça em cima daquele monte de terra. Abraça-o como se abraçasse sua amada. Era uma tristeza desoladora. Lembra-se da promessa mais uma vez e sente-se terrível.

 Como vou te reencontrar? Nem sei onde você está... Maeros...”

             Uma suave brisa sopra no local que ainda mantinha o clima tempestuoso, mas sem chuvas ou vendavais. A sombra daquela árvore toma forma, forma daquela pela qual o templário chamava. As mesmas curvas, o mesmo andar. Era Maeros e não era ao mesmo tempo. O amuleto adentra o corpo da silhueta feminina. Ele a percebe se aproximar.

 - Ma... Eros?...

             Era idêntica a sua amada, mas sabia que não era ela. Assim que sai das sombras o templário pode ver claramente o que era.

 - Você é... Um deles... – Ele diz em um tom de desânimo, tinha uma vã esperança de ser sua amada.

             Possuía cada curva de Maeros, seu jeito de andar, de agir. Mas seu corpo era negro como aquela sombra. Seus cabelos esvoaçantes eram igualmente ondulados e do mesmo comprimento. Seu corpo todo era envolto em uma espécie de sombra, inclusive as madeixas. Em seu rosto, a máscara branca. Ao contrário das outras, aquela máscara lembrava uma ave de rapina, com um longo bico de águia.

            Quanto mais perto ela chegava, mais tristeza ele sentia. Lembrou-se de tudo sobre ela, eventualmente também se lembrou de Sísifo, de sua vingança doentia. Recorda-se de seu riso insano na hora da morte.

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 - Q-quem é essa? Ela é igual ao... – Dizia Hell ao ver a silhueta se revelar das sombras.

 - Ela é minha filha, Camile – Nix acolhe a garota nos braços

 - Filha? Mas ela é idêntica ao...

 - Thanatos? Sim... Ela é irmã dele...

 - Você a escondeu de Odin? Nix! Ela é uma humana! Está contaminada com o mau de Morroc! Você sabe que deve ser purificada ou ele nunca será derrotado!

 - Ela é minha filha! Você quer que eu a jogue no mundo pra que seja morta? Você faria isso se fosse sua filha? Ahn?

             Hell se cala diante das palavras enérgicas de Nix. A deusa de helheim não tinha filhos e não planejava ter, mas no fundo entendia o que a outra deusa sentia.

 - Você me conhece muito bem, deusa da noite... Eu não sou uma deusa má... Muito menos boa, sou justa... Protegerei Camile, mas ela deverá pagar o preço.

             Nix se cala por alguns instantes, pensativa. Camile estava entorpecida em seus braços, como se estivesse em transe.

 - Me desculpe filha... Mamãe não pode mais te proteger...

             A deusa se levanta de seu trono, caminha até Hell com Camile nos braços e a entrega à regente do mundo dos mortos.

 - Hell... – Nix a olhava com um olhar clemente.

 - Sinto muito... Já estou salvando a vida dela, isso terá um preço... – Ao dizer isso, Hell começa a desvanecer junto com a garota de longos cabelos azuis semelhante à deusa da noite.

             A deusa observa sua filha até o último instante, antes que desaparecesse por completo. Imagina tudo o que ela passará e derrama uma única lagrima por ela.

 Espero que entenda filha... Não tive outra escolha...”

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            As gargalhadas de Sísifo ecoavam por todo lugar, deixando-o surdo.

 - Cale-se! Maldito! Fique quieto!

             Pressiona as mãos contra os ouvidos, tentando não ouvir aquilo.

 - Não adianta Thanatos, o que está feito está feito, a culpa não é minha, você sabe disso, a culpa é de... Odin... – Era a voz de Sísifo em sua mente.

 - Odin?

 - É claro... Quem te deu essa missão ingrata?

 - E-ele...

             O templário se vê agora em cima da montanha onde encontrou com Odin.

 - VOCÊ AGORA FICARÁ INCUMBIDO DA PESADA MISSÃO DE EXTERMINAR O MAU DE RUNE-MIDGARD!

             Estava presenciando a cena de sua transcendência. Todo o discurso de Odin, todo aquele ritual.

 - Vê? Ele começou isso! – Sísífo aparece ao lado dele.

 - Sim... Odin é um traidor...

 - Sim sim, ele é um trai...

             Antes que pudesse terminar de falar, Sísifo é acertado em cheio por um gancho de direita do templário.

 - VOCÊ TAMBÉM É UM TRAIDOR! OS MEUS AMIGOS TAMBÉM SÃO TRAIDORES! O ÚNICO QUE FICOU AO MEU LADO ATÉ O FIM FOI O PECO!

             Sísifo esboçava uma mistura de medo e alegria no rosto.

 - Todos devem pagar... Todos...

             Thanatos caminha a passos lentos em direção a Odin, o apunhala pelas costas e o mesmo cai no chão inerte.

 - M-mas... O que... É isso?

             A montanha estava vazia agora, apenas a neve, o céu azul e dois templários idênticos se entreolhando.

 - Quem... Você... Sou eu... Sou eu? – Disse Thanatos, que já não conseguia compreender o sonho insano no qual estava.

 - Morrer... Todos devem morrer... TODOS DEVEM MORRER! – Bradou em fúria o seu clone antes de correr em direção a ele e o acertar no pescoço com a grande espada negra.

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            A fera bestial caminha calmamente até o corpo inerte do paladino negro. O deus da morte havia caído a sua frente pouco depois de dizer que o mataria. Estaria ele morto? Estando ou não, acabaria com aquilo de vez e ergueria o exército de Ymir para vingar a cruel morte de seu pai.

 - Você chegou bem perto, humano...

             A voz da fera era tão grotesca quanto sua aparência. Ele ergue os poderosos braços acima da cabeça e os deixa em forma de arco, tudo estaria acabado em instantes, assim que o atingisse em cheio na cabeça.

            Com a morte do filho de Nix, ele poderia reinar sobre Rune-midgard e trazer seu exército mais uma vez para esse plano. Tudo estava pronto para o renascimento de Ymir.

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            Estava de volta ao começo de seu sonho, o grande vazio negro e frio do começo o envolvia. Sua mente estava um caos, não sabia mais o que pensar, o que fazer, todos aqueles acontecimentos, sentimentos e emoções estavam o deixando louco.

 - Eu não vou deixar que eles o atormentem mais, Thanatos... É só me deixar no comando, simples.

             O templário reconheceu aquela voz, uma voz gutural e fantasmagórica, era a voz do deus da morte, aquilo no qual ele havia se tornado. Olhou para todos os lados, mas só pode ver três máscaras brancas. Eram aqueles monstros novamente; o pequenino, o pesar de Thanatos; a mulher a imagem de sua amada, Maero de Thanatos e a criatura em chamas, o desespero de Thanatos. Suas três emoções latentes e que corroíam seu peito, mas faltava um. Outra máscara aparece, era redonda e tinha um sorriso no rosto, mas seu olhar era levemente triste, dando um ar sofrido a ela.

 - Esse seria... Meu... Ódio?

             Viu então aquele Thanatos raivoso que chamou a todos de traidores. Ele foi envolto pela mesma esfera transparente e comprimido até ser trancafiado dentro de um amuleto idêntico aos outros três que ele vira antes. Uma silhueta grande e robusta começou a ser formar, da mesma matéria escura e sombria que eram compostas os outros mascarados. Dessa vez a criatura tinha a mesma forma da criatura que Thanatos estava a enfrentar antes de cair inconsciente. Braços grandes, pernas pequenas, corpulento.

            Aqueles quatro cercaram o templário, ele podia sentir todos aqueles fortes sentimentos o invadirem, tomando sua mente, matando o resto de sua sanidade já debilitada.

 - Deixe-me ajudá-lo, eu posso pará-los, posso te trazer paz...

             Novamente ele escutara a voz. Os quatro mascarados se afastam dele, indo para longe, onde seus fortes sentimentos não pudessem afetar o templário. Thanatos cai de costas no chão, não estava mais agüentando aquilo tudo, a provação era muito grande. Ele olha para cima e se depara com um gigantesco par de olhos amarelos.

 - V-você... É o deus da morte... Você apareceu...

 - No caminho até Geffenia – Interrompeu Thanatos – Sem mim você não teria passado da terceira cidade, você não é um matador Thanatos, você é um protetor.

 - Onde estou? Como vim parar aqui? – Indagou o templário, que há muito estava confuso com tudo aquilo.

 - Ainda não percebeu? Você ainda está jogado no chão, ou melhor, nós estamos. Esse lugar é a sua mente, estamos todos dentro dela.

 - Como você entrou na minha mente? Como essas coisas vieram parar aqui? Saiam daqui! Agora! – Bradou o rapaz

 - Nós não entramos aqui, você nos criou Thanatos... Aqueles quatro são apenas frutos do seu coração bondoso... O pesar por tantas mortes que causou... O desespero de não poder fazer nada em relação a isso... A tristeza de ter que matar as pessoas mais queridas... E o ódio profundo que sente por Odin e por Sísifo, depois de tudo o que fizeram para você...

 - Mas... Quem é você então? Que sentimento você representa?

 - Eu sou você... Eu me fiz necessário para que você não enlouquecesse. Sem mim você teria sido devorado por seus próprios sentimentos e pereceria. Só eu posso controlá-los, só eu posso te proteger de você mesmo, deixe-me ficar no controle, se não...

             O templário engoliu seco com aquilo, o deus da morte tinha toda razão. Por mais que não quisesse, teria que fazê-lo, entregar tudo nas mãos daquele ser sem coração e sem sentimentos. Abandonar seu corpo e deixá-lo aos cuidados de alguém que sabia matar e trazer destruição. Não tinha outra escolha a não ser fazer isso, caso contrário ele não completaria sua missão e todas aquelas mortes terão sido em vão.

 - Eu te deixo no comando então... – Disse Thanatos com a voz em um tom extremamente baixo.

 - Sábia decisão...

 - Mas é bom que você faça tudo direito, ou então eu... – O templário estava pronto para dar-lhe um grande sermão, mas foi interrompido.

 - Eu não vou matar ninguém inutilmente, cuidarei bem de nosso corpo e... Eu também sei de sua promessa a Maeros... Não se preocupe Thanatos, eu sou você, seus desejos são os meus desejos... Agarre-se àquela promessa e sobreviva, eu não sei quanto tempo vai demorar, ou se vou conseguir, mas eu farei de tudo para que isso aconteça...

             O templário apenas se levantou do chão, não havia mais ninguém ali para atormentá-lo, não havia mais nada a fazer, a não ser se agarrar em sua promessa. Estava agora sozinho, sem máscaras, sem sentimentos, sem deus da morte... Apenas ele e aquele interminável vazio. Sozinho. Por quanto tempo? Não sabia.

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             Seria um golpe potente e certeiro por parte de Morroc. Thanatos estava caído no chão e não dava sinal de vida. Com a morte do paladino, o filho do gigante ancião reinaria soberano sobre Rune-Midgard.

 - Morra!

             Desceu os punhos sobre a cabeça do rapaz, o chão cedeu com tamanha potência, o golpe levantou poeira e encobriu a face raivosa da besta.

 - Como? Como desviou do meu golpe tão rápido?

             Thanatos não apenas tinha evitado o golpe, que havia acertado apenas o chão árido, como já estava em posição de luta bem à frente dele.

 - Você é lento

             Quem falava não era mais aquele Thanatos cheio de ódio pela criatura, era o deus da morte, cruel e impassível. Em seu rosto não mais jazia emoções, ausente de sentimentos mundanos, em sua mente havia espaço apenas para sua missão.

 - Morrerás de igual maneira, mortal, para que a glória de Ymir seja eterna.

             E a luta recomeçou mais uma vez. Os ataques do deus da morte estavam incrivelmente mais rápidos e poderosos. Em compensação a besta estava também bem mais rápida, como se antes estivesse apenas brincando com ele. Era uma batalha irreal. Thanatos desviava de quase todos os golpes de Morroc, golpes esses que abriam crateras no chão ao menor contato. Por outro lado, a fera recebia quase todos os ataques, mas suas feridas fechavam quase que instantaneamente.

            O humano segurava sua gigantesca espada negra com apenas uma mão, manuseando-a como um mestre, usando seu peso absurdo a seu favor. A fera usava apenas de suas garras e seus braços descomunais para atacar.

            A batalha se mostrava anormalmente longa, ao contrário da primeira vez nenhum dos dois apresentava sinais de cansaço, nem mesmo uma gota de suor podia ser vista em ambos os corpos. A medida que batalhavam o cenário mudava, o lugar onde antes haviam começado a batalhar havia ficado para trás, com tantas esquivas, impactos e arremessos de ambas as partes, ele acabaram por chegar até a entrada da grande floresta.

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            No alto do firmamento celeste, pouco acima das densas nuvens tempestuosas que cobriam toda Rune-midgard, estava um ser de beleza ímpar. Tal qual um anjo, a criatura era dotada de asas, longas asas brancas e penosas que se moviam incessantemente, para mantê-la no ar, era uma mulher. Longos cabelos loiros, armadura de batalha de uma riqueza de detalhes sem igual, não havia dúvidas de que era uma valquíria.

            Seus olhos curiosos varriam o local, procurando uma brecha.

 - Eu tenho que ver isso... Preciso... – Dizia o mais baixo possível.

             Ela sabia que Odin proibira até os deuses de observar a batalha titânica que ocorria no mundo abaixo. Mas ela não era uma deusa e não seria castigada tão severamente assim, valia a pena o risco, era o que ela pensara.

 - Céus...

             Os olhos espertos e rápidos da jovem mulher encontram uma brecha na nuvem, podendo então avistar algo no mundo abaixo. Mas ainda não estava satisfeita com aquilo, queria ver mais, queria ver a luta, queria ver de perto aquilo. Foi descendo mais e mais, perigosamente perto do fim da nuvem, onde pôde ver tudo aquilo que queria.

 - Pela canhota de Tyr! – Bradou a valquíria.

             A jovem loira não conseguia acreditar em seus olhos, naquela batalha irreal. Já tinha presenciado uma ou outra discussão entre Heindall e Loki, mas nunca uma batalha daquele nível antes. Não era como aquelas lutas chatas dos humanos, era um verdadeiro embate de forças devastadoras. Seus olhos brilhavam, sua vontade de confrontá-los era enorme, seu coração pulsava tão alto que lhe doía o peito.

 - RANDGRIS!

             A jovem valquíria sentiu um arrepio correr toda sua lombar ao escutar seu nome.

 - SKULD-SENSEI!

             Mais do que rapidamente ela subiu ao seu antigo posto de patrulheira. Engolia seco e lembrou-se de falar muito alto pouco tempo antes. Ficou a esperar o castigo que sua tutora lhe daria, afinal havia quebrado uma regra imposta pelo senhor dos deuses. Abaixou a cabeça e apenas esperou o sermão.

 - Ah... Randgris... Controle seu ímpeto, criança... Tens sorte de ser eu quem te ouviu e não Odin, ou agora seu destino seria pior do que os dois que lutam abaixo de nós.

             Ao dizer isso, a valquíria mais experiente deu as costas para a mais nova, deixando-a sozinha em seu posto. Skuld, embora mais velha, era tão bela quanto sua jovem pupila. Compartilhavam dos cabelos dourados e olhos azuis, as mesmas vestimentas, embora as runas e entalhes de cada uma eram diferentes, exaltando suas habilidades próprias.

 “Eu ainda preciso ver aquilo com meus próprios olhos...”

             A jovem valquíria parecia não se importar com castigos ou ordens, o que realmente queria era observar aquela batalha, quem sabe até... Participar.

 ____________________________________________________________________________________ 

            Thanatos abaixou a espada por um momento e ergueu a mão esquerda aos céus. Não era uma prece, ou rendição, estava conjurando algo. Essa manobra não lhe consumiu mais do que alguns décimos de segundos durante a luta, foi em apenas um piscar de olhos.

 - O que pensas em fazer, mortal? Rezar para seus deuses? – Zombou a criatura.

             A besta nem ao menos havia terminado de falar e o ar gelado já se formara ao redor deles. As gramíneas remanescentes agitavam-se insanamente enquanto as folhas mais altas das árvores começavam a congelar.

 - Jamais, demônio... – Disse o deus da morte, com sua inconfundível, potente e aterrorizante voz.

             A fera sorriu, olhou para o céu e pôde ver as rajadas de vento gélido petrificar as copas das árvores que estavam algumas dezenas de metros dos dois.

 - Achas que pode me ferir com essa geada? Nem ao menos sabes meu nome...

 - Geada? Não... NEVASCA!

             Ao clamar o nome da magia de gelo mais potente dos magos, o ar se torna extremamente pesado e frio, um humano normal morreria apenas ao respirar aquele ar gélido que pode até mesmo congelar árvores inteiras. Thanatos não era um mago, no entanto o deus da morte parecia conhecer das magias mais avassaladoras do mundo e utilizá-las com seu poder ainda maior.

 - Nunca subestime um filho de Nix, besta ignorante, Satan Morroc...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, demorei um gazilhão de anos para fazer, mas fiz, então, digam o que acharam nas reviews, ok? o3o
Podem falar coisas como "Ah, ótima, continua (y)" Mas também quero reviews com comentários, o que não gostaram, que parte foi a melhor, coisas assim... Bye o/



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