O Preço da Fama escrita por Holanda


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Infelizmente ainda sem PC aqui, mas eu mesma estava me sentindo horrível por deixar essa fic na geladeira e fiz um esforço para escrever esse capítulo no celular. Não sei se saiu pior que os anteriores, espero que a qualidade não tenha caído muito.

Enfim, sei que esperavam muito então aproveitem a atualização ❤️
Esse capítulo ficou um pouquinho maior, mas espero que as "revelações" compense. ❤️

Eu li todos os comentários e agradeço imensamente todos. ❤️❤️❤️❤️
Juro que vou responder todos aos poucos. Eu sei que sou horrível por isso, espero que possam me perdoar

➡️Aviso: sexo implícito



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— Levanta mais essa bunda, Nora! — Yang gritou e a garota ômega ruiva gemeu em protesto.

— Eu estou fazendo o meu melhor aqui, dá licença?

— Seu melhor não é o suficiente, vamos! Eu sei que você pode fazer mais do que isso!

— Eeeeh!! — Nora reclamou.

— Vamos! Me mostre mais! Eu sou uma garota de altos padrões! — Yang brincou e ficou atrás de Nora segurando a cintura dela. — Vem, te ajudo.

Ela pulou no lugar com os joelhos flexionados o mais alto que pôde e depois caiu no chão ainda na mesma posição, os braços esticados para frente.

— Boa! — Yang disse e caminhou para ficar ao lado dela. — Agora chute rotatório alto!

Nora espelhou os movimentos de sua treinadora, se colocando em guarda e iniciando a sessão em um ritmo constante marcado pelas palavras de Yang:

— Guarda! Gira! Chuta! Guarda! Gira! Chuta! Guarda! Gira! Chuta! Troca pé! — Yang mudou de pé colocando o esquerdo na frente desta vez, e Nora fez o mesmo. — Guarda! Gira! Chuta! Guarda! Gira! Chuta! Guarda! Gira! Chuta! Guarda!

Alguns minutos depois Yang caiu no chão ofegante, seu peito generoso subindo e descendo. Nora deu uma volta a olhando de cima e riu de sua cara.

— Já cansou, Yang?

— Vamos diminuir o ritmo, eu ainda não me recuperei 100% da minha luta.

— Uou sim, eu vi. — Nora se deixou cair no chão feito de tatame preto. — Foi demais, mal posso esperar quando for a minha vez.

Nora era uma jovem ômega, ela era fã de Yang e veio de origem pobre, uma órfã refugiada que chegou em busca de ajuda humanitária em seu país. Onde Nora morava anteriormente está em guerra civil a oito anos, seus pais morreram e ela foi resgatada e adotada por uma família estrangeira. Uma ômega pequena e fragilizada que encontrou um lar longe de sua terra natal.

Ela tinha o cabelo de um ruivo alaranjado, seus olhos azuis brilhantes de entusiasmo, foi assim que Nora conheceu Yang, pela TV em uma luta, ela logo se apaixonou e foi contra tudo que as pessoas diziam que ela não deveria fazer ou gostar, afinal, ômegas deveriam ser delicados e gentis, gostar de arte e serem caseiros, mas Nora nunca foi do tipo que se importava com o que os outros diziam. Sua nova família, composta apenas por betas, a apoiou quando ela decidiu participar de um concurso de jovens lutadores. Ela lembrava como foi desdenhada por ser ômega no meio de jovens alfas e betas masculinos, Nora calou a boca de todos ganhando até do maior garoto alfa.

Isso aconteceu quando ela tinha 16 anos, e mudou sua vida. Sua performance chamou a atenção de Yang que lhe ofereceu para treinar em sua academia.

Três anos depois e muito treinamento, muitas vezes a própria Yang vinha treiná-la, Nora estava a beira de entrar oficialmente no circuito de luta com apenas 19 anos. Alguns achariam que ela é muito jovem, mas Yang ganhou o torneio mundial de sanshou com essa mesma idade, certo que Yang treinava com seu pai desde os 6 anos de vida, mas ela acreditava que sua pupila hiperativa estava pronta.

— Marquei um luta de peneira para você daqui a duas semanas. — A alfa disse. — Se você se sair bem, e eu não digo só vencer, tem de mostrar que é capaz para os jurados, você pode ganhar uma vaga no circuito aí você estará lutando entre os cachorros grandes de verdade.

— Ah cara, isso me deixa um pilha. — Nora respondeu meio nervosa.

— Ei, eu sei que você vai conseguir, garota! — Yang deu um pequeno soco no ombro dela que riu. — Não vai amarelar, minha reputação também tá em jogo.

— Eh! Isso ai! — Nora pulou ficando de pé com os braços erguidos socando o ar. — Eu vou entrar lá e acabar com qualquer um! — Ela gritou com uma voz estridente.

Yang riu da palhaçada dela e se levantou deixando claro a grande diferença de altura entre elas, Nora mal chegava em seu ombro.

— Vai com calma, gengibre. — A alfa usou o apelido sabendo que Nora não gostava dele. — Você vai enfrentar a Morgan Coin, ela é uma beta que veio do wrestling, então ela é excelente na luta de solo, vamos treinar mais essa parte e…

— Já sei, já sei. — Nora interrompeu com um aceno de mão. — Você já repetiu isso milhares de vezes.

— Até você entender. — Yang sorriu de lado.

— Eu já entendi tá, vamos treinar.

— Ok… já que você já sabe de tudo, que tal uma luta de solo? — Yang estalou todos os dedos na mão e olhou pretensiosamente para sua jovem aluna.

— Você tem é coragem de querer lutar comigo depois da surra que levou da Vega!

— Como é, oh garota? Quem vai levar uma surra é você. — Yang disse em tom de zoação.

— Vem tentar! — Nora brincou de volta.

Yang agarrou o braço de Nora que girou o pulso para se livrar do aperto. Mais algumas tentativas e a ômega ruiva começou a se achar no direito de provocar a alfa.

— Aaaah, que ruim seu agarrado, Yang, esperava mais de você.

— Agora você vai ver! — Yang pulou para cima dela, não foi uma luta de verdade, estava mais para um brincadeira entre amigas.

Yang derrubou Nora no chão com seu peso, a ômega se debateu abaixo dela rindo.

— Mata leão! Quero ver você sair dessa! — Yang gritou prendendo o pescoço de Nora com os braços.

— Aaah, trapaça! — Nora se aproveitou de seu tamanho menor e conseguiu escapar se virando e ficando sentada em cima da barriga da alfa loira. — Agora você sofrerá com meus punhos do trovão! Aaaah!

Yang cruzou os braços sobre a cabeça enquanto Nora distribuía seu golpe característico, uma saraivada de socos rápidos enquanto gritava histericamente.

— Chega! Chega! Eu desisto! — A ômega parou sorrindo triunfante. — Nossa, acho que fiquei mais destruída do que eu imaginei depois da luta de sábado. — Yang resmungou rindo, mas sua cabeça começou a latejar de dor.

— Agora que eu derrotei a campeã, você tem de me dá seu cinturão.

— Só nos seus sonhos que eu vou te dar meu cinturão. — Yang jogou seu quadril para cima e girou invertendo suas posições ficando por cima de Nora.

— Ah, pensei que pedindo com jeitinho você sempre ia tirar seu cinturão para mim. — Nora brincou.

Yang abriu a boca para responder, mas alguém tossiu como se para chamar sua atenção, ela levantou a cabeça mal humorada apenas para encontrar sua mãe a olhando de cima.

— Ah, droga. — Yang ralhou pulando para longe da ômega ruiva ficando de pé. — Tá fazendo o que aqui? — Ela perguntou franzindo o cenho.

— Eu disse que vinha aqui falar com você, não lembra. — Raven levantou uma sobrancelha olhando em desaprovação para Nora que se encolheu se afastando na mulher alfa mais velha.

— Lembro, lembro. — Yang resmungou com seu humor completamente arruinado.

— Vamos até o escritório. — Raven disse autoritária, ela deu uma última olhada para a filha e a ômega baixinha depois se virou esperando que Yang a seguisse.

Yang soltou um suspiro pesado e olhou chateada para as costas de sua mãe alfa se afastando. Ela se virou para falar com Nora:

— Não liga para isso, continua sua série e não esquece de se hidratar.

— Eh, tudo bem, eu só me surpreendi. — Nora mentiu, a verdade é que ela ficou com vergonha por ter sido flagrada naquela situação pela mãe de Yang e o cheiro de Raven a afetou mais do que ela gostaria, aquilo era um problema, na arena Nora sempre estava preparada, mas fora do octógono era irritantemente afetada pelo cheiro de alfas.

— Certo, não deixa ela te perturbar, seja firme. — Yang percebeu pelo cheiro de Nora que ela ficou receosa pela breve presença de Raven. Yang sabia que sua mãe tinha uma presença muito marcante, seu odor forte era intimidador para a maioria, ela já estava acostumada, por isso não lhe afetava tanto. — Vai ficar tudo bem, ok? Nada mudou. — Ela colocou a mão no ombro da ômega e tentou exalar um pouco de seu próprio cheiro, a familiaridade acalmando Nora.

Aquilo era algo comum, muitos ômegas se apegavam ao cheiro de amigos alfas, alguns se apegavam tanto que chegavam a roubar roupas dos amigos para usar em seus ninhos. Nora já havia feito isso, quando ela passou pelo seu primeiro cio, ela ligou para Yang ajudá-la e acabou com Nora enrolada na cama com várias roupas de Yang para seu cheiro amenizar a dor e o calor de seu primeiro ciclo de acasalamento. A loira lembrava de a vê-la tremendo e suando na cama, uma situação bem penosa, Yang comprou os supressores para ela e felizmente o pior havia passado.

Agora toda vez que Nora estava agitada Yang fazia questão de deixar seu cheiro a tranquiliza-lá. Com a consciência limpa, Yang a deixou e seguiu o caminho na direção do escritório da academia.

Raven estava a esperando a meio caminho na escada de metal pintada de preto que seguia até o segundo andar. A academia Xiao-Long era um grande prédio que servia de depósito industrial na década de 80, seu pai havia comprado o terreno e começou a usar o grande espaço para treinos de artes marciais. Hoje com o sucesso o lugar estava bem diferente, o estilo industrial foi mantido na decoração com a iluminação em pequenos canhões de luz que ficavam presos em armações de aço, na escada de mesmo estilo e nos tijolos expostos nas paredes dando um ar um tanto desleixado.

— Você podia ter avisado antes de aparecer. — Yang falou passando pela mãe.

— Eu mandei uma mensagem, mas parece que você estava muito ocupada. — Raven disse claramente incomodada.

— Sim, eu estou ocupada. — Yang abriu a porta e ambas entraram no escritório bagunçado que pertencia a loira.

— Estou vendo…

— Me poupe do seu sarcasmo. — Yang ignorou sua mesa caótica e as pilhas de papéis espalhados e foi até um frigobar no canto, ela tirou um copo grande de plástico e agitou misturando a vitamina rosada.

— Ah me desculpe se te atrapalhei nas suas coisas tão importantes.

Yang rosnou irritada, ela se virou já com a paciência curta.

— Qual é seu problema comigo?

— Todos, Yang! — Raven gritou de volta. — O que você está fazendo afinal?

— O que você quer dizer? — Yang não entendeu ao que ela estava se referindo.

— Você não está pensando em mandar aquela ômega para lutar, não é?

— É claro que sim.

— O que você tem na sua cabeça?

— Como assim? Ela está pronta!

— Yang, você não pode esta falando sério. Ela é uma ômega! Você vai mandar ela para o octógono só para ela se machucar. — Raven disse franzindo o cenho. — Você é uma alfa, ao contrário do que muitos pensam, nos alfas, não temos a função de sermos predadores e sim sermos protetores. Como alfa você deveria a proteger e não a mandar para um abatedouro.

Yang não respondeu, boa parte de seus valores de alfa era compatíveis com aquela ideia. Sim, ela acreditava que alfas não deveriam agir como predadores e sim como protetores, alguns mais tradicionais diriam que é uma visão até bem progressista, mas mesmo assim, para os ativistas da causa ômega,  aquela visão protetiva e de fragilidade que se jogava sobre os ômegas era bastante preconceituosa e infundada.

— Eu a protejo, mãe, mas não vou por ela em uma redoma de vidro e impedi-la de fazer o que gosta na própria vida. Nora escolheu lutar e se é isso que ela quer fazer, eu vou ajudar ela o melhor que eu puder.

— Estaria ajudando se você colocasse juízo na cabeça dela.

Yang estava tentando muito manter a paciência, mas estava começando a sentir o controle escapar por entre seus dedos.

— Por que? O que ela tá fazendo de errado? E daí que ela quer lutar? Não é porque ela é ômega que a impeça de ir no circuito e lutar de igual para igual.

— Lutar de igual para igual? Isso só pode ser uma piada!

— Você está sendo preconceituosa! — Yang ralhou irritada. — Baseando na ideia que existem coisas de alfa e coisas de ômega e que ômegas são menos capazes!

— Não me acuse de ser alfista!

— Eu não fiz isso, eu só…

— Para, Yang! Não adianta você ficar repetindo isso, há diferenças biológicas entre nós, você não pode esperar que um ômega vença uma luta contra um alfa em uma disputa profissional! O circuito não faz divisão por dinâmica como as olimpíadas faz, eventualmente ela enfrentará um alfa que esteja na mesma categoria de peso e se ela se machucar pra valer, a culpa vai ser sua! — Raven apontou para a cara dela.

— Não! Ela escolheu isso e eu não tenho o direito de atrapalhar ela correr atrás de seus sonhos.

Raven a olhou em silêncio.

— Você faz questão de esgotar toda a minha paciência. — A alfa mais velha jogou a pasta que estava em sua mão na mesa bagunçada de Yang.

— O que é isso?

— Isso? — Raven repetiu usando um tom de voz cheio de uma raiva fria. — Isso é um relatório completo com a receita da sua academia.

Yang ficou tensa, ela olhou para aquela simples pasta feita de papel marrom como se seu diário cheio com seus segredos mais constrangedores tivesse sido lido por sua mãe.

— Como conseguiu isso?

— Eu contatei o escritório de contabilidade.

— Por que? — Yang gritou repentinamente furiosa.

— Porque, Yang… você está levando esse lugar a falência!

— Isso não é verdade!

— É verdade e você sabe que é! — Raven gritou de volta e Yang sentiu o cheiro forte de sua mãe, se fosse qualquer outro alfa que estivesse exalando feromônios em sua “área” ela teria reagido mal, mas era sua mãe, a pessoa que lhe colocou no mundo, não dava, era impensável um filho reagir contra seus pais.

Malditos hormônios que controlam as pessoas!

— Essa academia é o sonho do seu pai realizado. — Raven continuou um pouco mais controlada. — Eu o ajudei a comprar este lugar para ele começar sua escola de artes marciais. — A mulher alfa se virou, seu tom de voz ficando um pouco mais melancólico. — Você deveria saber que esse lugar era tudo para ele.

— Eu sei… — Yang notou a própria voz embargada, ela esfregou os olhos tentando impedir-se de chorar quando as lembranças de seu pai começaram a surgir.

Raven ainda levou um tempo a avaliando criticamente.

— Você deveria cuidar melhor do patrimônio, da herança, que seu pai te deixou.

— Eu não sei o que houve…

— Eu sei! Você não leva seu trabalho a sério! — Raven gritou novamente. — Você não leva nada a sério, Yang! Vai fazer trinta anos solteira, vivendo de lutas e gastando todo o seu dinheiro em motos!

— Hey! Você só sabe me criticar! — Yang gritou de volta. — È o meu dinheiro! Eu gasto como eu quiser! Posso garantir que não tiro um centavo desta academia para comprar nada para mim!

— Não teria como você tirar nada porque as contas da academia estão no vermelho à mais de oito meses!

Yang pensou em contra-argumentar, mas o que ela diria? As contas estavam realmente no negativo à meses, por várias vezes ela se viu tendo de tirar dinheiro do próprio bolso para pagar fornecedores. Sua sorte era que a maioria do equipamento era comprado na Signal com um preço abaixo do mercado, mas pelo jeito que Raven estava, Yang não duvidava que logo essa parceria poderia ir por água abaixo.

— Eu estava esperando que as coisas se ajeitassem com o tempo…

— Idiota! — Raven ralhou e Yang acabou tendo que engolir um rosnado que começou a se formar no fundo de sua garganta. — Não é assim que as coisas funcionam no mundo dos negócios! Você pode entender de golpes e treinamentos, mas é óbvio que é completamente incapaz de administrar uma empresa, mesmo de pequeno porte com a academia.

— Não é para tanto, eu posso da um jeito nisso.

— Não pode!

— O que vai fazer?! Tirar a academia de mim?! — Yang rosnou.

— Não me desafie! — Raven apontou um dedo em sua direção. — Eu não vou tirar, você vai me da!

— O que? — Yang ficou genuinamente chocada.

— Você assinará um contrato me cedendo 70% das ações da academia.

— OQUE?! Não! Eu não vou fazer isso!

— Se você quer salvar esse lugar, então aceite. Você poderá cuidar daqui, mas eu ficarei no comando e você acatará minhas ordens, Ruby pode ajudar a fechar na contabilidade e…

— Não! Eu já disse que não!

— Yang… — Raven começou com uma leve ameaça na voz, mas a filha interrompeu mais uma vez.

— Não! Você quer controlar tudo, quer que eu seja sua funcionaria como a Ruby é, mas isso não vai acontecer! Eu não aceito!

Uma expressão enfurecida passou pelo rosto da alfa mais velha, o cheiro repleto de feromônios agressivos impregnando todo o local, um rosnado baixo no fundo da garganta dela, mas Yang não recuou nem um passo.

— Você vai mudar de ideia. — Raven decretou entre os dentes. — Porque a outra alternativa é perder a academia.

Yang se enfureceu ainda mais. Era absurdo a falta de fé que sua mãe tinha nela.

— Eu vou da um jeito, sem você. — Ela rosnou entre os dentes.

— Uma cópia do contrato está na pasta. — Raven disse simplesmente e andou até a porta, ela ainda olhou por cima do ombro. — Seu problema é achar que eu estou sempre contra você, mas toda essa sua teimosia veio de mim e posso te garantir que ela não vai te levar a lugar nenhum.

Yang a viu bater a porta ao sair e ela jogou o copo de shake que estava em sua mão na parede, o copo de plástico quicou no chão e o líquido se espalhou sujando a parede branca e o chão escuro. Ela se virou batendo as mãos na mesa, a pasta a encarando de forma quase acusatória, ela ainda pensou em jogar fora, mas algo a fez mudar de ideia no último momento, Yang só pegou a pasta a jogou no fundo de uma gaveta.

Provavelmente ela só estava sendo orgulhosa demais para admitir seu fracasso, mas ela não se sentia capaz de admitir nada naquele momento. Só a raiva estava queimando suas entranhas e ela ainda teria de voltar para casa e encontrar sua mãe de novo?

Não! De jeito nenhum. Yang não ia passar a noite em casa, isso era certo. Ela precisava arranjar alguma esquema para a noite. Havia Nora lá em baixo, apesar de elas terem tido algumas noites de sexo casual no ano anterior, a ômega agora estava em outra, saindo com o rapaz beta que frequentava a academia, foi Yang que conseguiu o emprego dele na cozinha do pub de seu tio.

Havia Neptune, sim ele era interessante e divertido, parecia disposto sempre que Yang o procurava. Eles estavam se curtindo não é? Não faria mal chamá-lo para sair e Yang podia apostar que ele estava ansioso para passar a noite com ela.

Yang puxou seu telefone e não perdeu tempo em ligar para o beta.

 

~**~

 

— Onde está sua irmã? — Raven perguntou olhando para Ruby.

A jovem ômega olhou para a cadeira vazia a sua frente pensando na mensagem que Yang havia lhe mandado dizendo que não viria para casa, Ruby pensou em dizer a verdade, mas sabia que Raven ficaria muito brava. Se bem que parecia que não iria adiantar muito, pelo cheiro, a alfa mais velha já estava furiosa.

— Eu não sei para onde ela foi. — Ruby não mentiu, ela realmente não sabia.

— Não proteja ela!

— Não estou, eu não sei. — Ruby reiterou e deu uma rápida olhada para sua mãe ômega sentada a seu lado. — Ela só disse que não viria para casa, só isso.

— Eu acredito em você, querida. — Summer deslizou a mão pela mesa e cobriu a mão da filha de forma acolhedora.

— Yang fez alguma coisa errada? — Ruby perguntou hesitante.

Summer lhe deu um olhar preocupado e depois se virou para Raven e franziu o cenho. A alfa largou os talheres na mesa de qualquer jeito e ficou de pé com um cara aborrecida. Uma troca de olhares rápidos, uma conversa silenciosa de um casal que estavam a tanto tempo juntos que palavras não eram mais necessárias.

Quando Raven bufou e se virou saindo a passos pesados, Ruby ficou sem saber se sua mãe tinha ganhado a discussão ou não, normalmente não era assim que as coisas acabavam.

— O que está acontecendo, mãe?

— O de sempre, Ruby.

Summer se levantou parecendo abatida e seguiu o caminho que Raven fez na direção de seu quarto, ela virou nos corredores da casa até chegar na suíte, sua esposa alfa parecia que estava a esperando sentada na beira da cama com as mãos firmemente plantadas nos joelhos e com uma expressão aborrecida.

— Raven, não fique assim. — Ela sentou-se por trás e abraçou as costas da esposa colocando o queixo no ombro largo de sua alfa. — Eu sei que as coisas não acontecessem como você estava esperando e isso te afeta muito, mas entenda que tem coisas que estão fora do seu controle, Yang tem de tomar as decisões por si mesma.

— Ela é desse jeito por minha causa e eu sou incapaz de consertar isso. — Raven disse claramente lutando contra emoções fortes.

— Não seja tão dura consigo mesma, nós te perdoamos. Todos nós! — Summer envolveu seus braços ao redor da alfa exalando seu cheiro com mais intensidade, o efeito foi imediato e os músculos de Raven relaxaram. — Eu não sei o que eu teria feito se você não estivesse lá por nós. — Ela procurou a marca no ombro de Raven, uma clara cicatriz em forma de mordida, a ômega a beijou com afeto.

Summer lembrava com vivacidade aquela época difícil para sua família. Alguns anos depois do nascimento de Yang, Raven deixou Tai e ela para atrás, os três viviam juntos em um relacionamento compartilhado a três, mas algo aconteceu que quebrou a confiança que tinham. Talvez o peso tenha sido demais, Summer nunca questionou Raven, sabia que era uma assunto doloroso para a alfa. E ela nunca foi de se apegar ao passado, o importante era que no momento mais difícil, Raven voltou.

Todo o processo de descobrir o câncer terminal em Taiyang foi um golpe extremo nela e nas duas filhas. Summer sentia que poderia ter quebrado como uma frágil taça de cristal ao ver o marido beta, que sempre foi um homem cheio de vida definhar em uma cama de hospital. Mas ela tinha de ser forte por Yang e Ruby, elas estavam sofrendo com a perda do pai.

Yang pareceu ser a que mais sentiu o peso, ela sempre foi muito próxima do pai. E de repente, com apenas 22 anos o perdeu tão rapidamente por uma doença que ninguém poderia prever.

Summer não sabia como Raven soube o que estava acontecendo, só lembra de se sentir tão feliz quando a viu de volta. Como uma velha e íntima amiga, a alfa a consolou nos momentos que Summer podia se dá o direito de mostrar fragilidade, ou seja, longe dos olhos de suas filhas. Claro que ela apoiou Yang e Ruby, mas ela também precisava de algum alento, alento esse que ela encontrou os braços de Raven.

Quando o pior aconteceu, não foi uma surpresa, mas ainda sim a comoção foi grande. Summer não podia lembrar com exatidão os acontecimentos, como se seu mente estivesse nublado as memórias. Mas ela lembrava como o céu estava pintado de amarelo e laranja com o pôr do sol do outono no fim de tarde que aconteceu o enterro de Taiyang na sua ilha natal, Patch.

Eles estavam hospedados na casa dos pais de Taiyang. Yang não voltou para casa naquela noite. Depois de da um remédio para dormir a Ruby, Summer tomou sua própria dose e caiu na cama deixando as lágrimas molharem o travesseiro e os lençóis.

Ela sentiu os primeiros raios de sol da manhã entrarem pela janela do quarto da casa de estilo campestre que ficava quase que no meio do nada. Summer viu a silhueta de Raven sentada em uma cadeira perto da janela, quando ela havia entrado ali?

— Raven? — perguntou com a voz grossa de sono.

A alfa não moveu um milímetro de onde estava, os olhos perdidos em algum ponto do horizonte através do vidro sujo da janela.

— Como as coisas serão agora? — Raven falou, a voz tão estranha, em um tom que Summer nunca ouviu antes, era profundo e raso ao mesmo tempo.

A ômega forçou as pernas para fora da cama e se levantou indo meio cambaleante na direção da alfa, Summer caiu de joelhos ao lado de Raven, seus braços jogados sobre o cobertor que ela estava usando para se aquecer durante a noite fria.

Raven se moveu pela primeira vez, sua cabeça virou e se inclinou para baixo olhando para a ômega que descansou em seu colo.

— Você passou a noite toda aqui? — O resto do questionamento ficou implícito.

— Não queria ficar sozinha. — Raven confessou, foi quando Summer notou os olhos injetados dela. Ela quis acreditar que foi por causa do remédio para dormir que a ômega não notou aquilo antes.

Claro que Raven amava Taiyang tanto quanto ela, Summer ia oferecer o alento que a alfa também estava precisando.

Summer procurou as mãos dela e as segurou com firmeza entre as suas. Ela sentiu as lágrimas encherem seus olhos novamente e sua voz saiu embargada.

— Vamos ficar juntas. — Foi sua resposta tardia para a pergunta de Raven. — Eu não sei como as coisas serão daqui para frente, mas vamos ficar juntas.

Uma série de emoções passou pelo rosto da alfa, nenhuma delas era positiva. Por fim, sua expressão se estabilizou em autodesprezo.

— Como pode afirmar isso se eu abandonei vocês uma vez?

— Você não vai mais fazer isso, não é? Você quer ficar, eu sei que sim, posso sentir.

Summer aprendeu a confiar em sua intuição com as pessoas, ela era boa nisso, sua empatia  e sensibilidade aguçadas as vezes beirava a anormalidade quando ela via coisas ocultas que poucos enxergavam.

— Eu… — Dava para ver por sua expressão que a alfa estava lutando contra seus sentimentos.

— Eu sinto que isso nos aproximou mais do que nunca, Raven. — Summer disse quase suplicante. — Vamos ficar juntas de agora em diante! De verdade!

De repente Raven ficou tensa, os olho arregalados.

— Você quer dizer…? — A alfa não precisou formular a pergunta e Summer sorriu, de repente seu cheiro ficou mais intenso e doce fazendo as narinas de Raven se dilatarem.

— Sim. — A voz de Summer era firme no que dizia, ela se moveu para cima se apoiando nos braços da cadeira, Raven a recebeu quando a ômega iniciou o beijo. — Eu quero isso.

Raven realmente nunca pensou em fazer aquilo, se ligar a alguém para sempre lhe parecia idiota e utópico, apesar se seu relacionamento com Summer e Taiyang quando mais jovem. Mas ali estava ela, com nada além de tristeza e o desejo de se conectar eternamente com a ômega na sua frente.

A alfa se levantou fechando mais uma vez a distância entre elas, tomou Summer em seus braços e entre os beijos a conduziu até a cama. Ela sentiu o cheiro doce e irresistível exalando da pele dela atiçando instintos primitivos em seu cérebro entorpecido. Raven puxou a roupa dela para fora e logo as mãos pequenas de Summer também se atrapalharam tirando sua camisa.

Elas cairam na cama com Raven cobrindo o corpo de Summer que estremeceu se agarrando as costas na alfa como se ela estivesse se afogando no mar furioso e Raven fosse o único salva-vidas no mundo. E nada a convenceria que aquilo não era uma verdade.

Ela passou as pernas pela cintura da alfa se agarrando mais enquanto sentia a pressão e o fogo se acumularem, foi quando sentiu algo frio e molhado cair sobre seu ombro. Summer levantou a cabeça e viu lágrimas caírem dos olhos de Raven, ela imediatamente segurou o rosto da mulher a beijou tão docemente como uma abelha coletando pólen em uma delicada flor.

— Vai ficar tudo bem, vamos ter uma a outra, eu prometo. — A ômega sussurrou.

— Eu vou cuidar de vocês. — Raven estava com a voz emocionada, mas fez um esforço para se concentrar e aumentar o ritmo.

— Aaah, eu sei que vai… Hum… eu confio em você. — Summer ofegou um pouco e guiou a cabeça da alfa para seu destino, o exato local entre seu pescoço e ombro direito onde a sua glândula hormonal ficava.

Ela se agarrou com força cravando as unhas na pele de Raven enquanto sentia o nó da alfa se formar e a preencher. Era o momento, Raven abriu a boca expondo seus dentes e mordeu com veemência a ômega a reivindicando para si. Summer gritou por um instante quando a dor misturava-se com o prazer e reuniu suas forças mordendo a alfa de volta.

A marca de acasalamento era mais do que uma mera tradição. Era mais do que mera biologia. Era mais do que cultural. Ela tinha um significado mais profundo e emocional, principalmente quando acontecia entre alfa e ômega. Agora existia uma conexão em um nível completamente novo entre elas, algo praticamente inquebrável e para afrontar os suspeitos, a cicatriz jamais desapareceria. Quando parecia que estava ficando mais fraca, Raven e Summer voltariam a fazer aquele mesmo ritual daquela noite e isso já havia acontecido à seis anos.

Summer afundou o rosto na curva do pescoço de Raven inalando com carinho o cheiro da alfa que ela escolheu para passar o resto da vida a seu lado.

— Eu só quero o melhor para todos. — Raven disse finalmente.

— Eu sei que sim, eu também quero, incluindo você. — Summer beijou a bochecha da esposa e sorriu divertida. — Você não deve se estressar tanto, lembre de seus triglicerídeos.

Raven revirou os olhos e Summer riu de sua atitude.

— Amanhã vamos contar para elas. — A ômega disse ficando séria novamente.

— Você tem certeza disso? Não é melhor esperar?

— Não, elas tem de saber, vai ser melhor assim. — Summer voltou a descansar a cabeça no ombro da alfa. — Tenho certeza que Yang e Ruby vão amar a ideia.

— Só não queria que elas se frustrarem se não der certo. — Raven falou abaixando os ombros.

— Você ouviu o médico, nossas chances são boas, e parece que a frustração seria maior na gente do que nelas.

Raven soltou um suspiro pesado.

— Você tem razão, você sempre tem razão.

 

 **

 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Conseguiram descobrir o que é que o casal Rosebird quer revelar para as filhas? E o que vai acontecer com Yang e Neptune? Sera que Yang vai voltar atrás e aceitar o acordo de Raven? Me digam suas opiniões e teorias, eu amo lê-las ❤️❤️❤️❤️

Obrigada por lerem e até logo



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