Weiss mordeu a ponta da caneta, o relógio já marcava meia noite e quarenta, ela havia feito várias revisões no roteiro que Willis lhe deu, ela estava ficando cada vez mais empolgada com o potencial do filme. Assim que o show com o Flynt fosse finalizado em dois dias, ela passaria a ensaiar para o papel de Dee Dee. Weiss ia da tudo de si. 

Quando o cansaço já fazia seus olhos terem dificuldades de ficarem abertos, Weiss decidiu que era a hora de fechar tudo e dormir, mas como um gesto já enraizado e mecânico que ela fazia todos as noites, ela pegou seu celular para da uma última verificada, viu as mensagens de sua empresária, Glynda, viu seus e-mails e por fim, verificou rapidamente as redes sócias. 

Depois de rolar apaticamente pelas postagens, uma foto ganhou sua atenção e ela abriu um sorriso. Yang estava posando fazendo uma careta, ela usava uma fantasia de pirata, com direito a um tapa olho e um gancho no braço direito. Na descrição da foto estava dizendo "Festinha de aniver da minha maninha junto do Halloween, melhor coisa!" Yang adicionou uma série de emoticons e hashtags. 

Weiss balançou a cabeça divertida, ela clicou no nome de Yang entrando no perfil dela, logo foi saudada por várias fotos tiradas na festa. Uma decoração simples, mas bem colorida de halloween no que parecia uma casa bem familiar, a maioria das fotos eram dos convidados. Weiss se pegou procurando o rosto de Yang em cada uma das fotos e seu sorriso cresceu um pouco. 

Ela guardou o celular e se deitou, seu plano de dormir ficou de lado quando Weiss encarou o teto. Ela estava evitando pensar nisso, mas agora parecia um tanto inevitável negar alguns fatos bem visíveis. Seus pensamentos vagavam para uma certa alfa loira mais vezes do que admitiria, ela se sentia tão confortável quando estava conversando com Yang e.. Claro que havia reparado que a lutadora era bem atraente. 

Mas… Yang é um alfa. Isso complica as coisas. Weiss realmente estava disposta a deixar-se apaixonar por um alfa outra vez? Ela era tão diferente do… não! Esse pensamento é muito perigoso! 

Weiss balançou a cabeça e se forçou a dormir empurrando para longe suas inquietações. 

~**~

— Tem muita gente! 

— O que? — Yang gritou por cima do barulho da multidão. 

— Eu disse que tem muita gente! — Ruby gritou ainda mais alto.

— Sim! Tem muita gente! — Yang tentou abrir caminhou pela massa de pessoas que estavam se amontoando na frente do estádio. — Vamos entrar logo, quero comprar uns refrigerantes! 

— Boa ideia! Não tô vendo o Ren e nem a Nora em nenhum lugar! 

— Vamos ligar para eles quando estivemos do lado de dentro! — Yang praticamente teve de empurrar as pessoas para passar, ela posicionou seu corpo de modo a usá-lo como uma proteção para que ninguém encostasse em Ruby que vinha logo atrás. 

Só depois que se acomodaram em seus acentos que pareceu fazer silêncio o bastante para conversarem, claro, ainda estava muito barulhento, o normal para um estádio que estava preste a receber uma final de campeonato. 

— Yang, isso é demais! E sabe qual é a melhor parte? Tô fazendo isso com você! — Sua irmã ômega se jogou em seus braços, Yang sabia que Ruby sentia falta do tempo que elas passam mais tempo juntas, agora era mais raros esses momentos. 

— Também acho que a melhor parte é que você está aqui. — Yang a abraçou de lado, era meio difícil abraçar sentadas na arquibancada. — Mas tem mais surpresas por vir! 

— Como assim?

— Você vai ver! Olha o Ren e a Nora ali! — Yang acenou quando viu os dois, todos acabaram sentados juntos para assistir ao jogo.

~**~ 

Ruby não desconfiou de nada até a hora do intervalo quando ela a Nora estavam especulando quem faria o show daquela vez.

— Aposto que vai ser a Neon! — Nora disse.

— Chato! Queria que fosse a Azure Now!

— Mas eles fizeram o show dois anos atrás, certeza que não iam repetir, tinha umas caras dizendo que esse ano seria o Sage!

— Ah, eu adoro ele também! — Ruby se virou para a irmã. — Yang, quem você acha que vai ser?

— Nenhum desses aí que vocês falaram. — respondeu presunçosa.

— Eeeeh, você sabe quem vai ser! — Nora exclamou quando percebeu toda a confiança de Yang. — Conta pra gente! Conta! 

— Ei! Vai começar! — A alfa falou. — Façam silêncio, ou não, gritem, é melhor! 

Ruby até abriu a boca para dizer algo, mas a luzes do estádio se apagaram e quando voltaram a acender, se focaram no meio do campo onde havia um palco montado. Um telão de LED se iluminou com uma silhueta que começou a dançar ao som de uma música de fundo. Mais silhuetas apareceram dos lados e depois de alguns segundos, a tela subiu como uma cortina revelando Weiss no centro com seus bailarinos ômegas dos lados. Todo o estádio explodiu em gritos.

— Oh meu Deus! Weiss! — Ruby gritou ao seu lado!

— Acho que eu estava te devendo isso, não? —  Yang riu lhe abraçando.

— Que demais! 

Sua irmãzinha ômega se voltou para o show muito empolgada enquanto Weiss tomava os holofotes para si dançando pelo palco em sincronia com seus bailarinos, de repente novas luzes foram acesas indicando a chegada de um novo artista.

— Aquele é… O Flynt! — Nora pulou no lugar. — Isso tá melhor do que o jogo!

Flynt entrou vestindo um terno risque e um chapéu fedora, os seus bailarinos também se vestiam da mesma forma. Eles iniciaram uma coreografia todos juntos enquanto Weiss cantava uma música junto dele fazendo todo o estádio vibrar. Depois eles ainda cantaram outra música juntos, essa em um tom mais romântico e por fim, Weiss cantou sozinha uma de suas músicas mais populares para fechar o breve show do intervalo deixando toda a plateia super animada.

Quando os preparativos para o segundo tempo do jogo começaram Yang agarrou a mão de Ruby e a puxou para falar algo no seu ouvido.

— Eu tenho outra surpresa para você, vem comigo! 

No minuto seguinte Yang estava arrastando sua irmã para dentro da área interna no estádio. 

— Onde vamos, Yang? 

— Quero que você conheça uma pessoa. — Yang lhe deu um sorriso travesso. 

— Quem? 

— Quem você acha? — A alfa levantou um tipo de cartão que estava em suas mãos e Ruby arregalou os olhos. 

~**~

Weiss suspirou aliviada quando finalmente pode trocar de roupa para algo causal em vez do figurino extravagante do show. 

— Gente, não olhem agora, mas tá vindo um pedaço de mal caminho para cá. — Um de seus bailarinos ômega disse e Weiss se virou para onde ele apontava, não foi com muita surpresa que ela descobriu que era Yang que estava se aproximando.

— Aquieta teu facho! — Um dos companheiros bateu levemente contra o ombro do ômega a fim de fazê-lo perceber o comentário inapropriada. — Essa alfa aí não é para o teu bico, desculpe Weiss, nós já estamos indo.

Weiss só pegou parcialmente a conversa paralela, sua atenção estava voltada para a alfa que se aproximava, ela passou bastante tempo refletindo sobre a loira e estava ansiosa para vê-la, acima de tudo, estava ansiosa para saber o que sentiria quando a visse.

— Tomem cuidado na volta, e mandem mensagem no grupo quando chegarem em casa. — Ela disse para seus bailarinos que estavam saindo.

Yang se aproximou e Weiss se levantou para recebê-la com um pequeno sorriso.

— Hey, belo show! Você fez a galera pirar mais do que o jogo. — A alfa comentou parecendo igualmente ansiosa.

— Obrigada, bela… hum… camisa? — Weiss levantou uma sobrancelha para a camisa vermelha com o símbolo de uma raposa no meio. — Não sabia que você era Fox Rouge, parece que finalmente você está mostrando seu lado podre para mim.

Yang se surpreendeu por um instante olhando para sua camisa do time que estava jogando naquela noite, ela ficou mais surpresa por Weiss entender algo de futebol do que ela ter falado mal do seu time.

— Ok, você saca do assunto, qual é o seu time então, espertinha? — perguntou Yang provocadora.

— Lynx! — respondeu Weiss pressurosa.

— Lynx? Fala sério, eles não chegam as quartas de finais a três anos! 

— Sim, mas… As constantes trocas de treinador prejudicaram muito o desempenho dos Lynx e é bom lembrar que perdemos o Bryan Young para Steel Bay.

— Ah claro, típica desculpa de time que se apoia em um único jogador! — Yang desdenhou.

Weiss abriu a boca para voltar a provocação para a alfa, mas ela reparou na garota ômega que estava meio tímida encolhida perto da porta como se estivesse esperando o convite para entrar.

— Olá? Você é…? 

Yang se virou para onde Weiss olhou, ela sentiu uma pontada de culpa por ter esquecido de sua irmã por um minuto.

— Ruby! Vem aqui! Entra! 

— Ruby? Essa ai é a sua irmã? — Weiss se admirou, a ômega que se aproximava não lembrava muito Yang, a menina tinha o cabelo curto e preto com as pontas pintadas de vermelho, o corte moderno e irregular com pontas bagunçadas, era baixa e rosto redondo meio infantil com grandes olhos de cor prata, apesar de claramente já ser uma adulta.

— Sim, essa aqui é minha irmãzinha Ruby, Ruby essa é Weiss! — A alfa lhes apresentou.

— Oi. — Ruby disse tímida e Weiss viu que teria de tomar a iniciativa, mas não era uma surpresa.

— Olá, Ruby, é um prazer te conhecer, a Yang fala muito de você, sinto como se já te conhecesse um pouco. — O sorriso que ela abriu foi radiante e Weiss não pode deixar de nota que lembra realmente o sorriso da própria Yang.

— Obrigada, é o mesmo para mim, a Yang fala muito de você.

— Ruby! — A alfa engasgou com a inesperada declaração da irmã. — Não é o que aparece, é só que…

As duas ômegas riram do embaraço de Yang.

— Relaxa Yang, não é como se você estivesse apaixonada por mim, não é? — brincou Weiss.  

O rosto da loira queimou e ela sentiu como se sua língua estivesse colada no céu de sua boca.

— Pois é, é perfeitamente normal. — falou Ruby.

— Agora… vocês duas vão se unir para me deixar sem jeito? Acho que foi uma péssima ideia apresentar vocês duas. — Yang resmungou para si mesma.

~**~ 

Depois de quase uma hora de conversar (para o desespero de Yang, ela era o assunto principal na maior parte do tempo) entre Weiss e Ruby, as três saíram na direção da saída do estádio, o jogo já havia terminado naquela altura, elas não havia visto nem um minuto do segundo tempo, mas pelo menos, os Rouges venceram e se sagraram campeões, seria uma noite de festa para o time da casa.

— Vocês querem uma carona? Eu posso chamar meu motorista, não vai ser nenhum problema. — ofereceu Weiss.

— Que legal de sua parte, mas nossos amigos estão esperando do outro lado. — Ruby falou balançando seu celular onde uma mensagem de Nora estava na tela perguntando se ela e Yang viriam encontrá-los. — Nora tá convidando para irmos comemorar a vitória lá no The Crow’s Eye, vamos?

Yang teria dito sem hesitar um “sim”, mas ela olhou rapidamente para Weiss e mudou de ideia.

— Vão lá na frente, eu encontro com vocês depois. — Ela trocou um rápido olhar de cumplicidade com a irmã, Ruby sorriu assentindo.

— Tá certo, me liga se… os planos mudarem. — Ruby lhe deu uma piscadela. — Tchau, Weiss, adorei te conhecer, você tem de aparecer lá em casa, qualquer dia desses.

— O prazer foi meu. — A ômega de cabelo branco se despediu. — Gostei de sua irmã, ela parece ser exatamente como você descreveu. — Weiss disse se voltando para Yang depois que Ruby já estava longe.

— Não imaginei que vocês duas ia se dar tão bem, parece que já são melhores amigas. — comentou Yang parecendo bem satisfeita pela situação.

— Melhores amigas parece um pouco de exagero, mas sim, eu adoraria ser amiga dela. — Weiss confessou. — Se você não for bancar a irmã neurótica superprotetora.

— Bem, você não pode meter minha irmãzinha em encrencas e achar que vai sair ilesa, porque, com certeza, não vai. — A alfa riu.

— O que você faria comigo? — Weiss começou a andar e Yang a acompanhar caminhando ao seu lado.

— Vou ter de pensar em uma punição adequada, mas vou logo avisando que eu tenho uma extensa lista de formas de matar extremamente dolosas.

— Deus… — Weiss riu.

— Mas isso não é o pior.

— Não? O que seria pior do que você em completo estado de fúria assassina?

— A minha mãe em completo estado de fúria assassina! — Weiss levantou uma sobrancelha.

— Sua mãe é tão ruim assim?

— Ela já foi presa, quase matou um cara de verdade, quando era jovem, ela e meu tio até faziam parte de uma gangue de rua! Com direito a pés de cabra, facas e lutas clandestinas em becos sem saída de madrugada!  Não duvide. — Yang riu e Weiss não soube ao certo se aquela parte era brincadeira, mas algo lhe dizia que apesar do tom brincalhão, havia algo de verdade na história.

— Vou lembrar disso. — A voz de Weiss ficou mais séria quando se virou na direção da loira. — Yang, tem uma coisa que eu queria conversar com você.

De repente a alfa sentiu seus músculos ficarem tensos.

— Claro, pode dizer.

— Eu… — Antes que ela pudesse terminar a frase uma limusine parou na frente delas buzinando. — Mas o que é isso?

O teto se abriu e uma Neon subiu, ela estava segurando uma garrafa de bebida.

— Hey! Gatinhas! Entrem aqui e vamos curtir a noite! Yaaaang! Weissyyyyy! 

— Ela está bêbada? — Yang perguntou levantando uma sobrancelha.

— Por que entraríamos ai? — Weiss perguntou ignorando o comentário da alfa ao seu lado.

— Eeeeh, não seja essa chatonilda de sempre, Weissy! — Neon disse e a porta no lado se abriu revelando Flynt.

— Ai, princesa, entra ai e vamos dá uma curtida, você também, Yang. — Ele piscou depois que abaixou rapidamente seus óculos escuros. — Você parece ser maneira!

Yang olhou para Weiss e as duas pareciam um tanto decepcionadas por terem sido interrompidas, mas algo as compeliu a entrar na limusine e se juntar ao Flynt. 

~**~ 

Weiss soube que era uma péssima ideia desde o começo, mas quando entrou e foi saudada com um forte cheiro de maconha e fileiras de pó de cocaína pela mesa de centro ela teve certeza. Ela nunca foi de se importar muito com o uso recreativo de drogas, mas a forma como Neon estava alterada já lhe dava um bom motivo para se importar naquele momento. Entre as garrafas que estavam jogadas pelo chão de carpete do interior da luxuosa limusine e as luzes de LED coloridas que piscavam acima de sua cabeça, Weiss sentiu um tanto enjoada.

A companhia de Flynt era sempre apreciada e certamente que passar um tempo com ele e Yang seria maravilhoso, mas a presença de Neon já era o bastante para estragar completamente seu humor.

Yang se sentou ao seu lado e Flynt do outro.

— Estamos indo para onde? — Weiss perguntou. — Alguma boate?

— Eh, vamos ficar por aqui, eu e Neon íamos curtir. — A ômega ruiva se sentou ao lado dele passando os braços pelos ombros do rapaz beta. — Se vocês quiserem se juntar a nós. — Ele ofereceu lançando um olhar sugestivo.

— Ele tá convidando a gente para uma orgia? — Yang perguntou surpreendida depois de alguns segundos de silêncio processando aquilo, Weiss balançou a cabeça confirmando. — Meu Deus, Flynt Coal está me convidando para uma orgia com ele! Caralho! — Yang riu bebendo um pouco da cerveja que lhe ofereceram.

— Não sei porque você continua insistindo, sabe a minha resposta, Flynt. — Weiss disse com um leve aborrecimento em sua voz.

— Sei lá, vai que um dia, você resolve aceitar. — O rapaz deu de ombros. — Ou eu te convenço que sexo sem amor também é legal.

A ômega bufou virando a cabeça e também tomando um pouco da cerveja.

— E você Yang? Topa? — Flynt lhe lançou um novo olhar sugestivo. — A Neon aqui já disse que tá interessada em você.

— Eh, ela também já disse isso. — A alfa sorriu para a ômega ruiva.

— Não escondo mesmo, como aquele seu namorado é um chato maior que a Weissyyy ai, estou feliz que seja ela aqui. — A ruiva colorida piscou para a outra cantora.

— Eu e o Neptune não… — Yang começou e não precisava terminar para saberem o que ela estava dizendo.

— No! No! No! Sem carinhas tristes aqui! — Neon pulou para o lado de Yang se debruçando sobre a alfa. — Em vez de chorar pelo término, vamos é comemorar sua solteirice.

Yang se inclinou para trás a fim de tomar alguma distância da ômega que estava com um forte cheiro adocicado que atiçou seus hormônios de alfa.

— Vamos Yang, vamos nos divertir um pouco, o que me diz? — Neon passou a mão pelo peito da alfa fazendo Yang se mexer desconfortável.

— Eu… não tô lá muito no clima… — Yang tentou afastar a mão que viajava para baixo, mas Neon pressionou ainda mais seu corpo contra o dela.

— Ah, qualé? Não acredito que Yang Xiao-Long seja frouxa assim! Vai negar fogo? Que tipo de alfa é você para recusar foder um ômega? — Neon moveu sua mão para ainda mais baixo agarrando o volume nas calças de Yang e sentindo seu membro, a ômega sorriu para aquilo.

— Pare, eu não quero isso. — Yang tirou a mão dela de cima de si.

— Não ouviu o que ela disse? Ela não quer você a toque! — Weiss exclamou perplexa.

— Foda-se! Um alfa não pode recusar um ômega! Vamos, Yang, foda-me!

Yang sentiu o sangue ferver e finalmente reagiu se afastando e ficando de pé, sua cabeça batendo no teto baixo da limusine, mas a alfa ignorou isso por conta de sua irritação.

— Qual o seu problema? — Ela gritou. — Por que eu não posso recusar? Por que isso me faria menos alfa? Foda-se você! Você não respeitou quando eu disse que não queria, sabe o que isso te faz? Uma abusadora de merda! E não importa se eu sou um alfa e você é um ômega, se alguém diz não é não é pronto! Eu não preciso transar com quem eu não quero só para me provar como alfa! E se você é o tipo de pessoa que pensa dessa forma, eu quero é distância de você!

Weiss se encolheu assustada pela explosão de fúria de Yang direcionada a outra ômega, normalmente  aquela seria a situação onde Weiss partiria em defesa de Neon, final, apesar de suas desavenças ela era uma ômega e Yang uma alfa. Mas aquilo era diferente, Neon havia realmente tocado em Yang sem o consentimento da alfa, aquilo era inaceitável. Além do mais, tinha de concordar com tudo que a loira havia dito.

— Mentirosa! Eu senti seu pau duro! — Neon gritou de volta.

— Ei, gente, vamos para com isso. — Flynt tentou.

— Isso foi uma resposta fisiológica! — Yang se ofendeu. — Uma ereção não significa consentimento! Ah, foda-se! Para esse carro que eu vou descer! Para agora! 

— Tá bom, mas se acalma um pouco. — Flynt falou já sinalizando para o motorista, Yang mal esperou o veículo parar e já foi abrindo a porta.

—  Foda-se isso! —  A alfa olhou para Weiss. — Você vai ficar ai?

Weiss balançou a cabeça colocando seus pensamentos em ordem.

— Não, eu vou com você. — Ela saiu junto de Yang e de repente as duas estava no meio-fio da calçada com uma garoa molhando suas roupas e vendo a limusine se afastar pela rua. 

— Desculpe por isso, eu… acho que perdi a cabeça… de novo. — Yang abaixou a cabeça sentindo a culpa lhe morder.

Weiss observou de perto como a alfa parecia desolada, pelo que já sabia de Yang, a loira se sentia mal toda vez que perdia o controle e acabava gritando.

— Não acho que você deve desculpas, certo, você foi um pouco… hum… enérgica, mas no final estava certa em tudo que você disse. Neon não tinha o direito de fazer aquilo e eu concordo com as coisas que você falou. — Weiss viu quando Yang levantou a cabeça a olhando com uma expressão agradecida. — Isso é tudo fruto da cultura alfista tóxica, força uma virilidade adoecedora para vocês alfas os obrigando a…

— Ei! — Yang a interrompeu quando o discurso de Weiss começou a ficar exaltado e a respiração dela mais acelerada, a loira tomou as mãos da ômega entre as duas a fim de tranquilizá-la. — Tá tudo bem, eu já tô ligada nisso, a sociedade é uma merda, não vamos deixar isso estragar a noite, ok?

A expressão de Weiss se suavizou olhando para a loira.

— Sim. — Ela olhou em volta, a garoa ficando um pouco mais forte. — Que tal sairmos nessa chuva?

— Boa ideia. — Yang a guiou para uma cobertura que ficava na entrada de um prédio ali perto se abrigando da chuva fria. — Acho que logo vai passar, essas chuvas de outono são chatas.

— Sim, são mesmo, eu detesto. — Weiss comentou casualmente olhando como as luzes dos postes de iluminação cintilavam nas poças de água no chão. — Mas até que a cidade fica bonita no outono, não é? 

— Sim. — Yang disse sorrindo, mas ela estava olhando diretamente para a ômega, quando os olhos azuis de Weiss se viraram para ela, a loira percebeu que ainda estava segurando a mão da outra e rapidamente se desvencilhou parecendo constrangida.

Ela esperou que Weiss lhe disse algo, mas a ômega só ficou a olhando com curiosidade.

— Lá no estádio, você disse que queria conversar sobre algo… — A alfa puxou o assunto.

— Ah sim, eu queria te devolver isso. — Weiss puxou do bolso de seu casaco o lenço roxo que Yang havia lhe emprestado no outro dia.

— Oh! Sim, fico feliz de ter ajudado e… obrigada. — Yang pegou de volta percebendo que agora ela podia sentir o cheiro de Weiss no tecido.

— Eu vou chamar o Klein. — A ômega disse pegando o celular em mãos.

— Hum… — Yang se mexeu meio desconfortável. — O jeito que você estava antes, não sei, achei que era algo mais sério.

Weiss guardou o celular e viu que a chuva havia passado quase por completo, ela deu alguns passos a frente e depois olhou para Yang balançando a cabeça indicando que era para a loira a segui-la.

— Na verdade sim, há algo mais sério que eu queria discutir com você. — Weiss começou ao ver Yang andando ao seu lado. — É sobre você. 

A alfa de repente sentiu uma súbita falta de ar. 

— Eu? Eu fiz algo de errado? 

Weiss riu suavemente. 

— Ainda não. 

— Então é uma coisa boa?

— Talvez. — Ela disse mantendo o sorriso e escondendo suas mãos dentro dos bolsos do casaco para se proteger do frio. — Você lembra quando eu disse que não era como se você estivesse apaixonada por mim? — Yang assentiu com a cabeça. — Você sabe que era brincadeira, não é?

— Weiss eu…

— Bem, e se eu dizer que na verdade, realmente acredito nisso?

Weiss parou de andar quando a alfa também parou, ela olhou a expressão surpreendida da loira, observando o medo em seus olhos.

— Tá tudo bem, Yang, você pode me contar a verdade. Eu quero saber.

— Eu…

Antes que Yang pudesse pensar em algo para responder a ela, alguém esbarrou em seu ombro, a alfa se virou aborrecida e deu de cara com uma garota beta com sardas no rosto e um longo cabelo castanho.

— Desculpe, eu estava distraída e você parou de repente. — A mulher se desculpou meio que já saindo andando como se estivesse com muita pressa.

— Tá tudo bem. — Yang franziu o cenho para aquilo vendo ela se afastar.

— O que foi isso? — Weiss perguntou estranhando a situação.

— Não sei. — Yang coçou a parte de trás da cabeça voltando a andar pela rua. — Aquela garota parecia meio familiar para mim, mas não consigo me lembrar onde a vi antes. Ei! Vamos sair da rua, é meio estranho conversar aqui.

Elas viraram na entrada de um pequeno parque se afastando do tráfico de pessoas na calçada, Weiss deixou Yang seguir na frente e ela apenas a seguiu até o banco mais próximo, a alfa se sentou e esperou até que Weiss se sentasse também ao seu lado.

A ômega estremeceu com a frieza do banco, mas apesar do incômodo, esperou pacientemente Yang se sentir pronta para falar.

— Eu sinto muito, Weiss, eu não queria te enganar. — Ela enfim disse.

— Me enganar?

— Naquele dia que você disse que achava horrível quando alfas se aproximavam querendo ser amigos, mas na verdade só queriam pegar você. — Yang explicou. — Eu me senti um lixo, não queria que você pensasse em mim dessa forma.

— Eu não sabia, não imaginava que isso ia te afetar dessa forma. — Weiss colocou uma mão no ombro de Yang esperando que aquilo pudesse consolá-la um pouco. — Então é verdade? 

— Sim. — admitiu, a voz baixa e carregada como se as palavras fossem difíceis de articular. — Eu sou meio que… muito afim de você.

Yang virou a cabeça hesitante para ver a reação da ômega, Weiss estava com uma expressão inelegível no rosto quando se levantou e deu alguns passos a frente da loira.

— Isso significava… — Ela se virou olhando diretamente para a alfa. — De um jeito sexual?

— Não! — Yang se levantou rápido falando automaticamente. — Quer dizer, não que eu esteja dizendo que você não é atraente, você é linda!

— Eu sei. — Weiss disse achando divertido a forma com a loira se atrapalhou.

— Claro, você deve escutar isso o tempo todo. — Yang riu.

— Sim, verdade, um ou outro comentário maldoso de haters, mas eu não me abalo com isso. Mas se quer saber, eu estou feliz que você me ache bonita.

Yang sentiu o rubor pintar suas bochechas, e não tinha nada a ver com o frio da noite de outono.

— O que eu quis dizer é que eu gosto da Weiss! Da Weiss toda! 

— Mas você não conhece todas as minhas partes, Yang.

Depois de alguns segundos olhando para o chão e observando as folhas secas, Yang disse:

— Adoraria conhecer.

Os olhos da ômega se arregalaram um instante e depois ela sorriu.

— Como você é boba.

— Desculpe, não pude evitar, tá funcionando?

— Talvez.

— O que quer dizer com talvez? — Yang se aproximou um pouco mais soando bem séria. — Weiss, o que você pensa disso? Como se sente? Não precisa mentir para mim. 

Weiss se virou, era mais fácil quando não precisava olhar diretamente para os olhos de Yang.

— Eu não mentiria, mas também não posso responder a essa pergunta, pois… eu ainda não sei como me sinto com relação a isso. Com relação a você, Yang.

— Significa que você sente algo, nesse caso, só posso torcer para que seja algo positivo. 

Weiss sorriu para a atitude otimista dela.

— Com certeza é algo positivo. — Yang lhe olhou de uma forma que Weiss podia sentir o coração dela vibrar, era encantador. — Me responde uma coisa, se eu falar que o que sinto por você, é só amizade, o que fará?

Yang gastou um tempo pensando.

— Aí eu serei sua amiga.

— Hum… — Weiss pensou a respeito. — E se eu dizer que só gosto de você de uma forma romântica, mas não sexual? — Ela observou com cuidado como se estivesse avaliando metodicamente as respostas de Yang.

A alfa pareceu ficar confusa por um instante, como quando se fica diante uma questão-armadilha onde uma resposta óbvia seria claramente a errada.

— Eu… eu acho que isso até faria sentido, você não é muito chegada a alfas.

— E você não acharia isso estranho?

— Não! Ruby é assexual sabe? Eu entendo que essas coisas podem ser diferentes e eu não me importo.

Weiss ficou um minuto em silêncio observando a alfa de forma bem cética, então soltou um riso.

— Você existe de verdade? Sério? Em que momento eu vou descobrir que você não é desse jeito? E você vai me decepcionar… — A voz de Weiss foi minguando até soar como um lamento amargo.

— Weiss, eu sinto muito que um alfa tenha te machucado, eu até podia ter sido esse alfa, a alguns anos atrás, mas eu estou tentando ser um alfa melhor agora. 

— Isso é complicado, Yang, e você vai ter de entender que não posso confiar assim. — Weiss a encarou ainda soando amarga. — Eu já ouvi coisa semelhante antes e não passavam de mentiras.

— Isso não é uma surpresa, tem muito mais alfas babacas por aí do que legais, eu vou ficar aqui sendo legal e esperar que talvez um dia você confie em mim. — Yang sorriu.

— Você terá paciência?

— Não é como se eu tivesse outra opção. — Yang manteve o ar otimista.

Um bip soou no celular de Weiss e ela olhou a tela.

— É o Klein, quer uma carona?

— Pode deixar, talvez eu já encontrar meus amigos agora.

— Entendi. — Weiss deu alguns passos depois parou por alguns segundos e se virou, ela olhou para Yang com uma expressão meio travessa e se aproximou da alfa. — Eu realmente sinto muito pelo que Neon fez com você lá no carro, posso te dar um beijo? Completamente consentido?

Yang abriu um sorriso largo, ela quase podia pular de tanta alegria.

— Claro, totalmente consentido! 

Weiss sorriu e ficou na ponta dos pés dando um rápido selinho nos lábios da loira e logo se afastou. As duas estavam com o rosto quente e sorrindo uma para a outra. Yang gastou alguns segundo observando a ômega, gravando em sua memória aquele momento, o brilho nos olhos dela, o jeito fofo como seus lábios se puxavam em um sorriso e como a franja de seu cabelo caia molhada por sua testa.

A ômega cantora se afastou ensaiando uma despedida rápida e correu na direção onde o carro com seu motorista estava esperando. Weiss entrou e imediatamente Klein manobrou o veículo pela rua.

— Viu um passarinho verde, floquinho de neve? — Klein cantarolou.

— Um amarelo, talvez. — brincou de volta.

**