Juventude Imortal escrita por Myahko


Capítulo 6
Sexto Encontro




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—O que você disse?

O adolescente estava pálido dos pés à cabeça. O prefeito suspirou em irritação.

—Esse orfanato não pode continuar sem doações, Rei. Você deveria saber disso melhor do que ninguém.

—Eu sei disso, mas demolir é severo demais! A prefeitura não pode nos dar dinheiro? Só por alguns meses, até eu poder conseguir um emprego!

—Rei, eu não posso fazer isso.

—Mas você é o prefeito! Eu tenho certeza que todos irão...

—Eu sou um prefeito, Rei, não um deus.

—E as crianças? Elas não têm mais para onde ir!

—Tenho certeza que você encontrará um jeito. Além disso, não tem muitas crianças aqui, de qualquer maneira.

Com isso, o prefeito saiu do velho prédio do orfanato. O jovem estalou sua língua em frustração.

—“Encontrar um jeito”... E como eu deveria fazer isso?

—Rei...

—Oh, ei, Megu. Você não deveria estar dormindo?

—Rei estava gritando...

—Eu sinto muito. Eu ficarei quieto agora, então volte para a cama.

—Mas Megu não está com sono...

—Então, que tal uma caneca de leite morno?

—Tudo bem...

O jovem andou para a cozinha, perto da entrada. Então ele ouviu alguém falar com raiva.

—Aquele pestinha! Como ele pôde ousar pedir pelo meu dinheiro! É meu precioso dinheiro, merda! Como se eu fosse dar algum para esse lugar esquecido. Quem se importaria se um velho orfanato falisse? Só está cheio de pivetes sujos e indesejados! Se só tivessem uma menina fofa para eu me divertir...

O jovem fechou seus punhos com força. Suas unhas quase tiraram sangue. Seus dentes estavam cerrados em raiva.

—Aquele velho, gordo...!

—Rei? Rei está bem?

—Ah...! Não, Megu, eu estou bem. Aqui, seu leite morno.

—Obrigado...

A criança bebeu o copo e voltou para a cama. Rei sentou à mesa da cozinha e respirou fundo.

—Não perca sua calma por causa dele, Rei. Você é melhor que isso.

O adolescente respirou fundo novamente. Então, ele ouviu pequenos pés correndo nas tábuas de madeira. A porta da frente se abriu lentamente. Rei se levantou em pânico. Lá estava uma criança com uma pequena mochila em suas costas, à porta.

—Ei! O que você está fazendo, Suzu?! Volte para dentro!

—Irmão, shh! Você vai acordar os outros.

—Mas o que você está tentando fazer com isso? Fugindo?

—Não, mas... Bem...

—Suzu, me diga.

—Tem essa garota bonita no parque. Ela brincou comigo, então eu prometi trazê-la algo.

—Algo?

—É comida! Quando eu perguntei, ela disse que não tinha dinheiro para comer. E já é noite, ela deve estar muito faminta!

—Suzu, ela pode comer em casa. Nós não temos muita comida em estoque...

—Mas ela disse que não tem uma casa, irmão!

—...Então ela é uma órfã, também?

—Eu não sei, mas ela precisa comer! Tchau!

—Espera, espera! Você não pode sair à noite, Suzu!

—Mas ela está me esperando!

O adolescente suspirou em frustração. Era inútil tentar discutir com uma criança.

—Certo. Me dê a mochila. Eu a levarei para ela.

—Sério?! Muito obrigado, irmão!

—Onde ela está?

—No parque, aquele que sempre brincamos. Ela prometeu que me esperaria, então...

—Entendi. Agora, volte para a cama.

Rei colocou seu casaco e andou ao parque com a pesada mochila em mãos. O luar estava brilhando numa linda jovem. Seu comprido cabelo cor de chocolate brilhava. Parecia tão sedoso. Sua pele pura e pálida estava coberta em roupas vermelhas e brancas de ídolo. Sua cabeça estava inclinada para trás, encarando o céu com olhos fechados. Era como se ela estivesse se banhando em luar. A cena era como de uma pintura. Os passos de Rei foram ouvidos pela mulher e ela virou seus olhos vermelhos na direção dele. Ela não disse nada, mas seu olhar fez Rei estremecer.

—Hm, ei. Eu te trouxe comida. Suzu me disse que você não comeu, então...

—Obrigada.

A jovem mulher se levantou e fechou sua distância de Rei. Ela delicadamente agarrou a mochila e olhou para dentro. Então, sentou no lugar anterior e começou a comer. Rei sentou ao seu lado. A jovem mulher meramente o observou.

—É perigoso para uma mulher estar sozinha no escuro, então eu te farei companhia.

—Obrigada.

—Hm, então... Eu sou Rei. Qual é o seu nome?

—Eu não tenho um nome.

—Eh? Mas e seus pais? Eles não te deram um?

A mulher ficou quieta. Rei percebeu. Então, ele teve uma ideia.

—Já sei! Que tal eu te dar um nome, então?

A mulher o encarou.

—Você quer me nomear?

—M–Mas se você não quiser, eu não vou...

—Não, está tudo bem. Um nome simplificará as coisas. Qual será meu nome?

—Bem, eu acho...

Os olhos de Rei correram pela área. Então, ele viu uma flor na lagoa.

—Que tal Suiren?

—Você está me nomeando pela flor de lótus?

—Bem, na linguagem das flores, a lótus significa “eternidade”. E, bem... Sua beleza é eterna.

A jovem mulher sorriu pelo lisonjeio.

—Então, a partir de agora, eu sou Suiren. Obrigada, Rei.

—Não há de quê!

Eles sorriram alegremente. Então, Rei suspirou. Suiren o olhou.

—Qual é o problema?

—Não, não é nada! Desculpe por suspirar.

Então, ele fez novamente.

—Rei, diga–me.

—O que eu ganharia se te dissesse? Não é como se o problema fosse milagrosamente resolvido.

—Como agradecimento por esta comida que você me deu, eu lhe ajudarei. Qual é o seu desejo?

—Suiren...?

Eles encararam nos olhos um do outro. As pupilas vermelhas de Suiren perfuraram os cinzentos de Rei. Parecia que Suiren podia fazer qualquer coisa. Esse poder dominante convenceu Rei.

—Eu quero salvar o orfanato! O prefeito não se importa com as crianças órfãs. Ele só pensa no dinheiro dele! E até está planejando demolir nossa casa!

—Você quer vingança?

Rei pensou por um momento. Ele balançou sua cabeça.

—Eu não vou descer ao nível dele. Eu só quero salvar o orfanato.

—Como o orfanato será salvo?

—Nós precisamos de doações. Comida, água, roupas, livros, brinquedos... Coisas para bebês e animais, também. As crianças continuam adotando cachorrinhos e gatinhos... Bem, contanto que isso os ajudem, tudo bem, mas...

—“Mas”...?

—Bem, o prefeito acabou de chegar e me disse que não poderia manter o orfanato sem doações, então ele o demoliria. Eu pedi por um pouco de dinheiro, só até eu conseguir um emprego, mas ele me recusou bem fortemente...

Então, Rei se lembrou do que o prefeito disse quando achou que estava sozinho. Isso o fez cerrar seus dentes e fechar seus punhos em raiva. A jovem mulher o olhou.

—Estaria tudo bem se ele doasse o dinheiro dele para manter o orfanato?

—Bem, acho que sim. Mas eu acho que isso seria impossível. Ele é só um bastardo egoísta. Ele só se importa com dinheiro e só dinheiro! Como ele pode ser eleito o líder desta cidade?! Eu tenho certeza que ele está sugando o dinheiro do trabalho duro de todos para seus próprios bolsos privados!

A jovem mulher comeu a comida dentro da mochila. Então, ela a fechou e a devolveu para Rei, para se levantar.

—Obrigada pela comida, Rei. Agora, eu devo realizar seu desejo honesto.

—Huh? O quê?

Suiren meramente sorriu para ele antes de desaparecer de vista. Dois dias depois, os problemas de Rei foram todos resolvidos de uma vez só. As pessoas disseram que o prefeito apenas se levantou e decidiu doar todo o seu dinheiro para o pobre pequeno orfanato da cidade. Ele disse “Um lindo anjo veio a mim na noite passada e me disse para ajudar aqueles em necessidade”. Depois do dinheiro ter sido oficialmente recebido por Rei, o prefeito pareceu ter voltado a si. Quando ele percebeu que estava praticamente deixado sem nada, ficou louco. Ele começou a correr nas ruas enquanto gritava coisas incoerentes. Por sua falta de consciência, ele caiu da ponte que unia sua cidade com a vizinha e se afogou. Seu corpo foi carregado pelo fluxo do rio e nunca foi encontrado. A maioria das crianças do orfanato foram adotadas, o que fez Rei feliz. Suiren nunca foi vista novamente.


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