Há doze anos

  Eles eram como sombras em meio a escuridão, se moviam tão rápido, estavam mais para vultos, vultos enormes e peludos. Dentre eles Millie estava parada vendo-os passar a ignorando completamente.

  Ela nós se importava. Não com eles.

  Doze lobos enormes de diferente cores se juntaram calmamente a ela. Alguns deitando e outros sentando olhando-a com calma e até mesmo ternura. Quem visse aquela cena diria que era uma reunião de lobos e uma adolescente de vestido branco.

   Mas era mais que isso.

   Millie se sentou envolta dos lobos e os vultos finalmente pararam, sumiram em uma densa névoa branca, a escuridão repleta de mistério foi logo ganhando forma, galho por galho, planta por planta e no alto céu cada astro em seu lugar, formando uma floresta vasta e bela.

     Na cabeça da jovem vozes se mesclavam embaralhadas, todos falavam ao mesmo tempo e ela nem mesmo sabia como o fazer, mas estava tão feliz, tão feliz de finalmente fazer parte de algo.

     Finalmente havia sido acolhida.

     Finalmente era algo mais que uma defeituosa.

     Havia se tornado o que mais queria de um jeito completamente diferente.

 E então acordou com rosto pingando suor, cabelo castanho grudado a face, completamente ofegante, ela parecia ter corrido uma maratona, mesmo não tendo saído da cama. Piscou atordoada vendo Ava se remexer em sua cama.

  O que havia sonhado?

  Será que tinha tanta vontade de ser aceita que tinha sido levada a sonhar aquilo?

   Será que era uma visão?

   Afinal era uma criança. Sonhos normais eram tão raros quando morangos quadrados.

    Uma visão? Passou a pensar. Nunca tive uma visão, algo importante está para vir.

      Negou com cabeça os únicos seres capazes de terem visões eram os anciões, pré-adolescentes não tinham muitas habilidades e Millie que o diga. Normalmente lobisomens nascidos tinham seu lobo desperto por volta dos três anos de idade. Mas ela nunca teve seu lobo desperto, mesmo tentando obrigá-lo. Ou até mesmo usando magia, tinha sido constatado que ela era incapaz assim como uma mínima porcentagem de lupinos.

    Isso fazia dela uma quase humana, mesmo não tendo nascido assim, ela quando completasse a maioridade teria que ser expulsa da alcatéia e do lar de seus pais para viver entre humanos, jurando lealdade e silêncio sobre os lobos.

    Ela não queria isso, queria viver com sua família, casar com Jacob, seu melhor amigo e paquera secreta. Mas as leis diziam que ela não podia, malditas leis.

     Deitou-se novamente olhando para o teto adornado de falsas estrelas brilhantes, voltou seus pensamentos a uma questão que estava pendente em sua vida.

       Algum dia seria aceita pela sua raça?