POV Jennifer

Do dia em que Gisele saiu com Zayn pela primeira vez, eu me lembro bem. Seria muito difícil esquecer disso. Eles conversavam já tinha um tempo, porque ela começou a segui-lo no twitter. Uma amiga dela que estudava na escola dele e o seguia na rede social mostrou uns tweets engraçados e tudo que Gisele conseguiu reparar foi na foto de perfil. Ela não me contou de imediato sobre estar apaixonada, mas quando eles combinaram de se ver, a primeira pessoa que ela pensou em pedir pra mentir pra mamãe e dar cobertura pra ela fui eu, que engraçado. É claro que como uma boa irmã mais nova, eu não fiz isso. Contei pra nossa mãe, que colocou Gisele de castigo por duas semanas, mas teve uma conversa séria com ela e disse que depois desse tempo ela poderia sair com ele sem se esconder. Graças a isso, ela não ficou tão brava comigo como teria ficado se tudo tivesse dado errado. Mas as coisas deram bem certo, na verdade. Ele veio buscá-la aqui em casa, e deu muita sorte de que papai estava no trabalho, senão teria que entrar e passar por um momento bem constrangedor, talvez com direito a um interrogatório de quais-são-suas-intenções-com-a-minha-filha-?. Eles tiveram um encontro clássico: cinema e McDonalds, só que pra Gisele foi a oitava maravilha do mundo (mais uma prova de que somos muito diferentes). Ela entrou em casa esbaforida, subiu as escadas correndo, entrou no nosso quarto e ligou pra alguma melhor amiga. Estava tão feliz que se esqueceu de me expulsar do quarto, como seria de costume. Fiquei ouvindo seu relato do encontro perfeito com o garoto perfeito que deu um beijo perfeito vendo o filme perfeito e blá-blá-blá. Ela estava com 17 anos, e eu, dois a menos. Como já disse, sempre fomos opostas, então enquanto Gisele estava preocupadíssima correndo atrás de meninos, eu estava tranquilamente me aventurando nos romances literários e esperando o destino me dizer que a hora de me apaixonar tinha chegado. Nesse ponto, Gisele e Zayn terem começado a namorar foi ótimo, porque ela parou de pegar no meu pé pra ajudá-la com seus esquemas. Outras coisas melhoraram depois disso também: ela ficava menos em casa, o que a deixava bem mais silenciosa, e quando queria um presente, ela pedia pro namorado, e não pegava “emprestado” da minha mesada. Os meses passaram, e minha família, inclusive meu pai, se acostumou com Zayn aparecendo pros almoços de domingo, ficando pro jantar depois de trazer a Gisele de volta, lavando o carro do meu pai em algum dia aleatório (o que um homem não faz por amor?) e até aparecendo nas fotos de família no aniversário da vovó Anna. Percebi que ele fazia oficialmente parte da família quando todos paramos o que estávamos fazendo e nos reunimos no sofá da sala pra vê-lo se apresentar no The X Factor. Algumas semanas antes era só nisso que a Gisele falava: Zayn isso, X Factor aquilo, meu namorado que canta muito bem, etc. Agora finalmente ele estava lá, todo tímido, se apresentando no palco. Gisele, em particular, quase explodiu de orgulho. E da mesma forma que ficamos felizes por ele ter sido aprovado, ficamos arrasados quando ele foi eliminado. Dessa vez, Gisele chorou por uma vida inteira, estava tão mal que parou de acompanhar o programa e quase não me deixou entrar no quarto pra contar a novidade: Zayn havia ganhado uma segunda chance na modalidade de boyband. Tive um bom pressentimento quando a One Direction surgiu, e não deu outra: Em questão de dias eles já tinham centenas de fãs, pra não dizer milhares. Gisele teve seus quinze minutos como a namorada do Zayn Malik, e vivia contando pro pessoal do colégio informações exclusivas sobre a banda que ficava sabendo quando conversava com ele. O primeiro ano de carreira da banda foi um sufoco pro namoro deles: pouco tempo juntos, sempre havia um show, um ensaio, uma reunião. Mas sempre que estávamos andando no shopping e alguém perguntava: “Ai, meu Deus, é a namorada do Zayn, tira uma foto comigo?” Gisele se sentia a dona do mundo e mandava uma mensagem pro namorado contando o que tinha acontecido e dizendo que sentia saudades.

Do meu ponto de vista, as coisas eram menos complicadas. Os quilômetros de distância não eram um problema pra mim, e as viagens até algum show que eles fariam por perto não me deixavam ansiosa. Como eu era só a irmã da namorada e não estava diretamente ligada à banda, realmente não precisava me preocupar com entrevistas. Preciso admitir que gostava de ter alguns itens exclusivos autografados no quarto, e de ouvir os áudios que Zayn mandava pra Gi deles cantando uma música ainda não lançada. Apesar de ter todas as circunstâncias a meu favor, eu não era uma directioner de carteirinha, e nem fazia tanta questão assim de ir aos shows ou de assistir aos programas que eles participavam. Minha irmã, por outro lado... uma fanática, uma tiete, ou qualquer nome que você use pra chamar uma pessoa que fosse absolutamente louca por uma boyband. E essa loucura ficou bem explícita no dia em que um email diferente chegou na caixa de entrada dela. Gisele gritou tanto que eu achei que fosse ficar surda. Era um convite personalizado para um acampamento de 15 dias no qual eles iriam participar diariamente. Não seria fulltime, eles iriam sair para alguma gravação ou entrevista, mas o convite assegurava de que eles se apresentariam pelo menos uma vez por dia.

— Jennifer, você ta entendendo que essa é a chance que o Zee e eu temos de passar duas semanas inteiras juntinhos?! – ela pulava pelo quarto todo só de pensar em como seria o paraíso estar com o ‘Zee’. Existe algum apelido mais brega?

Bom, depois que nosso pai foi incomodado por ela dia e noite, ele concordou em pagar nossa inscrição, e três dias mais tarde, o formulário chegou pelo correio. A essa altura nossa prima Rachel já tinha ficado sabendo da notícia, provavelmente pela discrição com a qual minha irmã twittou sobre isso, e arrumou um jeito de se inscrever também. Tudo isso leva ao momento atual: eu deitada na cama, tentando assistir a um filme pelo laptop, enquanto Gisele espalha roupas pelo quarto inteiro e reclama que não tem o que vestir para a viagem. Minha mala está metade pronta, mas sei que não vou demorar muito pra terminar, então prefiro esperar que o ataque de nervos da Gi acabe antes de me aproximar das gavetas. À noite, Rachel vai chegar pra dormir aqui em casa, já que ficou combinado que o ônibus dos meninos vai passar e nos pegar amanhã de manhã, o que é mais um motivo pra Gisele estar surtando, já que justamente hoje de manhã ela descobriu uma espinha na bochecha direita que, nas palavras dela, vão arruinar todas as fotos que ela pretende tirar lá no acampa. Com certeza essa noite vai ser das longas.