Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Heeey ♥



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"O universo era uma novela de quinta categoria em que cada reviravolta da história testava os limites da verossimilhança só mais um pouquinho."

 

 

¤ Capítulo 5 ¤  

Ana tinha 99,9% de certeza de que a noite passada havia sido um pesadelo, mas foi só ela abrir os olhos para sua certeza desaparecer em 100%.

A primeira coisa que ela reparou foi no cheiro. Um cheiro de ferrugem, como um parque de diversão na chuva. Ou uma máquina no ferro velho. Era um cheiro horrivelmente... Salgado? Ana sentiu sua cabeça protestar. Era como se ela tivesse passado a noite acordada, olhando para tela do computador com a luz do quarto apagada. Sua cabeça latejou, e ela esperou até que fosse apenas um incômodo e se sentou na cama.

Ela claramente não estava em seu quarto. Acho que no fundo, ela já sabia que, o que aconteceu ontem, foi real. Na verdade, ela não sabia se foi ontem, ou ha uma semana, ou hoje. O quarto era fechado, sem nenhuma única janela. E a preciosa porta, estava cheia de correntes e cadeados de portões de escola.

Ana olhou o quarto mais uma vez. Era realmente um quarto de menina, com escrivaninha, penteadeira, cama de solteiro e cobertor cor de rosa. As paredes eram cobertas de papel rosa claro com bolinhas marrons.

Ana respirou fundo.

O cheiro continuava. A ferrugem... Ela não sabia de onde vinha.

Colocou as pernas para fora da cama com cuidado.

Sua roupa estava diferente. Ela vestia uma camisa azul, grande demais para o seu corpo, e um short de moletom, também azul. Não havia tênis, apenas uma pantufa branca no chão. Seu cabelo estava amarrado num rabo de cavalo mal feito, por que os fios grudavam em seu rosto.

O quarto estava quente.

Muito quente.

Ela saiu da cama e andou pelo quarto, bateu na porta - não respondeu nenhuma resposta; abri o armário - com roupas apenas de menina dentro; gritou por alguém. Mas nada. Não havia som, não havia barulho, não havia passos. Absolutamente nada.

Suspirou e voltou a sentar na cama novamente.

— Isso não pode está acontecendo - sussurrou para si mesma.

Alguém logo viria procurar por ela, claro. Sua mãe com certeza já deveria estar...

— Minha mãe! 

A imagem dela no sofá, coberta de sangue, com os olhos sem vida, lhe veio à memória. O choro parou em sua garganta, machucando-a.

Ela sabia que só não estava tendo um ataque de pânico porque ainda estava choque, como se a realidade ao seu redor não fosse uma realidade.

A porta tremeu com alguém mexendo nas correntes do lado de fora.

Ana se levantou e limpou o rosto com as costas da mão.

E ele entrou no quarto, segurando uma bandeja nas mãos e empurrando a porta com a outra. Ana pôde escutar o barulho das correntes sendo puxadas de novo. Obviamente existia outra pessoa do outro lado da porta.

— Olá - o homem quase cantou a palavra.

A morena engoliu em seco.

— Dormiu bem? – ele perguntou, como se ela fosse hóspede querida.

— O que você quer? - questionou ela, não sabendo bem de onde viera a coragem.

— Vamos por partes, querida. Aqui - ele colocou a bandeja em cima da cama e tirou a tampa - você precisa comer.

— Não estou com fome.

— Mas vai comer - ele disse, mais firme. - Agora!

Ele pegou seu braço e a fez sentar na cama. Seu coração batia freneticamente, sua respiração ficou presa enquanto ele a olhava.

— O que você quer de mim? – perguntou ela, a voz falhando com o medo.

— Tudo – ele disse simplesmente.

— Eu não te conheço - sussurrou.

As lágrimas escorriam por seu rosto silenciosamente.

— Não se preocupe, você vai conhecer – ele disse, sorrindo.

Um arrepio subiu por todo o seu corpo.

— Por favor, por favor... É dinheiro? Eu posso te dar dinheiro.

— Shh - ele colocou o indicador em seus lábios e ela se afastou. - Eu só quero você.

— Por favor...

— Vai ficar tudo bem. Não precisa chorar - ele limpou suas lágrimas com o polegar.

Não importava o quanto ela se afastava, ele apenas se inclinava sobre si, deixando-a com mais pavor ainda.

— O que você vai fazer comigo? – sussurrou ela.

— Nós vamos conversar sobre isso depois. Agora você vai comer.

Ela tentou respirar fundo e sua garganta doeu com o nó formado.

Ele olhou para a bandeja e depois para si: um sinal claro.

Ela pegou o garfo de plástico que estava na bandeja e começou a comer. Não se preocupou com o que era, não sentiu o gosto de nada, apenas tentava mastigar logo e engolir, fazendo muitas vezes parar em seu garganta e ela ter que empurrar com com o suco. E ele permaneceu a olhando, sem nunca desviar o olhar, acompanhando cada movimento seu.

Ela suspirou aliviada quando finalmente a comida acabou e ele pegou a bandeja.

— Tem roupas no armário, o banheiro é ali - ele apontou para um vão que ela não havia visto antes. - Tome banho - ordenou, saindo do quarto em seguida.

Ana mordeu o lábio e tentou controlar as emoções. Ela precisava arranjar um jeito de sair dali, de pedir ajuda. 

Mas como!?

— Tudo bem, tudo bem - repetiu para si mesma enquanto andava até o armário.

Pegou qualquer roupa que parecia servir e foi para o banheiro. Era pequeno, apenas o sanitário e o box. Tão pequeno que com certeza só caberia ela ali. Não  havia espelho algum, e a pia era do lado de fora. Pelo menos a água era quente e Ana ficou ali debaixo por longos e longos minutos, chorando em silêncio, tentando manter o choque e não pirar.

Ao sair, com a roupa que estranhamente coube perfeita em si, ela encontrou uma escova na penteadeira e penteou o cabelo, secando-o com a toalha.

As correntes foram puxadas de novo e ela se virou para a porta. Seu coração havia se regularizado, mas ao ouvir as correntes, foi impossível ele não disparar.

Quem conseguiria?

Era ele novamente.

— Está linda – o homem disse. - Eu sabia que serviriam.

Ele se aproximou mais. Ana sentia uma coisa estranha toda vez que ele a olhava, não era medo, ou susto, era pior. Como se ele fosse um tipo de protótipo para testar seu limite. Ela sentia repulsa.

— Meu irmão... - sussurrou ela de repente.

— Ah, eu sinto muito. Bom, na verdade eu não sinto - ele falou naturalmente, se sentando na cadeira da escrivaninha.

— O que fez com ele? – perguntou ela, a raiva tomando o lugar do medo.

— Ele caiu da escada quando estava tentando correr. Bom, quem mandou o moleque acordar?

— Mentira!

Não tinha como aquilo ser verdade. Ninguém podia ser tão frio e cruel assim, um ser humano não podia fazer aquele tipo de coisa.

O homem levantou uma das sobrancelhas.

— Você acredita no que quiser - acusou ele sem importância.

Ela senti o choro voltar, mas não desceu uma única lágrima. Ela estava começando a ficar com ódio.

Isso, ódio! ódio é bom.

Ódio não a faria pirar.

— Você é um monstro. Você matou a minha mãe e o meu irmão!Ele era só uma criança!

Mas então ela percebeu que o pânico estava chegando sim.

— Eles estavam atrapalhando. E atrapalhariam ainda mais. Sua mãe não desistiria de tentar te encontrar – ele disse, como se aquilo fosse uma boa justificativa e o escândalo dela fosse um exagero.

Deus!

— E acha que ninguém vai tentar me encontrar? Com certeza já deram a minha falta.

— Não, não deram. Você está viajando, amor. Depois que sua mãe bateu com o carro e ele capotou, caindo da ponte Wilker, na mesma hora você foi levada para a Austrália, para morar com sua tia Soraia.

— Que tia? Eu não tenho tia. - ainda mais chamada Soraia -. Ninguém vai cair nessa...

— Já caíram, querida. A sua tia veio para o aniversário de sua mãe que seria amanhã, e então ela te levou para morar com ela. Todo mundo já acreditou. É demais para você. Seu irmão... Sua mãe. Tadinha da pequena Ana. Mas não importa se as pessoas acreditam ou não, nunca vão te encontrar. Você é minha agora.

— Por que você não me deixa em paz? Eu nunca fiz nada com você!

— Se sinta honrada. Será tratada como uma rainha aqui - ele abriu os braços.

— Trancada aqui dentro?

— Isso mesmo.

— Me deixe ir embora - pediu.

— Não dá, minha querida.

— O que você quer de mim!? - ela gritou e ele não se abalou, pelo contrário, apenas lhe sorriu.

— Apenas olhar para você – ele disse, sinistramente e então se levantou, parando a sua frente totalmente intimidador. – Bom, já que vamos conviver um com o outro por tanto tempo, é melhor que tenhamos um relacionamento saudável. Eu me chamo Jack Hyde, e você só pode me chamar de 'mestre'.

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Notas finais do capítulo

Xoxo



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