Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Heey ♥



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A verdade é que somos umas monstruosidades e parece que isso não é problema para ninguém.

¤ Capítulo 15 ¤      

Christian agarrou Ana pela cintura e sem esforço a puxou para longe de Sarah enquanto Elliot a puxou para trás, não permitindo a morena chegar perto.

— Você precisa se acalmar - Christian sussurrou no ouvido da garota.

Ela ainda tentava se soltar dele, mas era o mesmo que tentar sair do Quarto de Jack: inútil. Por fim, desistiu de tentar socar a cara de Sarah, e Christian finalmente a soltou, mas sem dar uma distância muito grande, ele sabia que ela ia fazer de novo.

Por que ninguém a deixava quebrar aquela cachorra ao meio?

A morena passou meses de sua vida achando que aquele psicopata do Jack quem havia matado sua filha. E foi Sarah. Foi ela o tempo todo. Ela a viu chorando, e lhe dizia que ia ficar tudo bem, que um dia ela iria ter outros filhos, como se aquilo amenizasse alguma coisa... Aquela vadia!

— Eu vou te matar - a garota murmurou para Sarah, calmamente.

Christian deu um passo em sua direção, mas não a segurou.

— Eu juro, Sarah, eu vou acabar com você - a morena continuou, olhando para ela. - Vou acabar com sua vida.... E com seus filhos. Você vai sentir a mesma coisa que eu senti durante todos esses meses naquele quarto. Vou transformar sua vida num verdadeiro inferno.

— Ana, por favor... Me perdoe...

— Cala a boca! Eu não quero mais ouvir sua voz - a garota expirou, ainda ofegante de tanto que tentou se livrar do braços de Christian. - Eu nunca imaginei que sentiria algo pior do que o que sinto por Jack, de que eu poderia sentir mais ódio do que eu sinto pelo homem que matou a minha mãe, e várias outras pessoas na minha frente. Mas eu sinto por você. Eu sinto nojo de você...

Sarah a olhava, assustada.

Christian puxou Ana para fora da sala quando a garota fez menção de se aproximar da mulher e a guiou para as escadas, até seu própria quarto. Ana já havia entrado lá uma vez. Reconhecia.
Se sentou numa poltrona - ela era mais confortável que a cama. Sua cabeça doía, seu coração estava tão apertado que podia ter diminuído e ela não ficaria surpresa com aquilo.

— Não pode ameaçar as pessoas desse jeito - Christian disse, cruzando os braços.

Já foi comentado que ele não é muito sentimentalista e não tem um pingo de tato para confortar as pessoas?

— Ameaço quem eu quiser - rebateu a garota irritada.

Isso, irritada é bom!

— Até ir presa - ele disse.

A garota revirou os olhos.

Por que ficavam defendendo ela? Por que ninguém entendia o que ela fez!?

Como alguém pode fazer uma coisa dessas com um bebezinho em troca de...!?

Troca!

— Troca... - sussurrou.

— O quê?

— Ela disse... Mariana disse alguma coisa sobre troca, sobre ela estar viva.

Christian passou a mãe pelo cabelo.

— Me desculpe, mas Sarah garantiu que, bem, deu um fim no bebê.

— Mas por que a Mariana iria arriscar a própria vida se ela não tivesse certeza? - ela tentou.

— Ana, Mariana está morta, e a única certeza que temos é o que Sarah disse. Se ela não tivesse feito, acha mesmo que ela iria mentir?

A garota respirou fundo, a adrenalina havia evaporado de seu corpo, e agora ela tentava controlar as lágrimas que estavam prestes a cair. Ela não queria chorar.

Mas que droga!

Não é que ela queria se agarrar a esperanças falsas, era só... Dúvidas e questões sem respostas na sua cabeça.

— Ana? - Christian a chamou.

— Sim? - ela questionou, olhando para um ponto fixo do chão.

— Você não tem que ser forte o tempo todo. É normal chorar. Você já passou por muita coisa.

A garota fechou os olhos com força, afastando as lágrimas.

— Eu não vou chorar - declarou. - Eu nunca mais vou chorar.

Christian se aproximou e se ajoelhou a sua frente, pegando sua mão.

— Tudo bem. Só estou dizendo, que isso não te faz ser fraca - disse ele.

— E o que me faz ser, então? - ela suspirou.

Ele mordeu o lábio e a encarou.

— Você passou por coisas que muitas pessoas não teriam aguentado. E ainda assim está aqui, cheia de autoridade, querendo ser normal. E agora, a única coisa que você quer é a sua filha. Ana, você é a pessoa mais forte que eu já conheci em toda minha vida.

A garota balançou a cabeça e bufou baixinho.

— Eu estou tentando manter o meu papel de garota durona, não faz isso, por favor. Não me faça desabar - resmungou, o nó na garganta doendo.

Eles se encaram por longos segundos, até que ela sorriu minimamente, segurou suas mãos e o puxou para mais perto de si. Ana já havia percebido que Christian não era muito fã de toques físicos como abraços, ou beijos, mas não se importava.

Ela não tinha ninguém de verdade em sua vida. Mal tinha uma vida. E, sabe, as pessoas precisam de uma das outras.

Há um velho ditado que diz que o que não te mata, te faz mais forte. Ana não acreditava nem um pouco naquilo. Porque as coisas que tentaram te matar a deixaram mal e triste. Força mesmo veio de coisas boas. De saber que Teddy estava vivo, veio até mesmo dos agentes que estavam ali tentando ajudá-la. Aquelas coisas a mantinham ali de pé e inteira. Aquelas coisas que a seguraram quando ela queria quebrar.

— Como você sempre diz a coisa certa? - sussurrou, colocando a cabeça em cima da sua.

Ele passou os braços ao seu redor - para a surpresa de ambos - e a fez levantar da poltrona.

— É que eu sei exatamente o que você quer ouvir - ele disse, a puxando pela cintura.

A garota riu nasalado enquanto se deixava ser abraçado pela segunda ver pelo agente. Ele continuava com aquele cheiro bom e único, e ela fechou os olhos se concentrando naquilo em vez de na sensação do corpo do outro contra o seu e na arma em sua cintura. 

Quando abriu os olhos e olhou para o lado, através da janela via que a chuva havia aumentado.

— Parece que o mundo está acabando - Christian comentou.

Engraçado, para Ana, estar ali, com o barulho da chuva, com alguém a abraçando... Era a personificação da paz.

— Está perfeito... - ela sussurrou.

Christian a olhou de cima e garota apenas voltou a encostar a cabeça em seu peito e suspirou. Seria um longo dia, no caso, uma longa noite.

A morena ficou na mesma posição até que sentiu o celular de Christian vibrar.

Distanciou-se dele e se sentou na cama, desligando-se de qualquer coisa que ele estivesse falando. Em alguns minutos, ele se virou para ela e colocou o celular no criado-mudo. A morena encarou o agente. Ele parecia nervoso enquanto se sentava ao lado.

— Escuta... Eu tenho que te dizer uma coisa, mas não sei como fazer isso - ele começou.

— É problema? - perguntou ela.

— Talvez.

Mais?

— Como assim talvez?

— Não é um problema ruim, só demorado. Vai ser... Difícil de resolver.

— Achei que foi difícil me encontrar - ela comentou.

— E foi. Mas com certeza isso vai ser mais difícil.

— Me diz então. Eu estou curiosa.

Ele a encarou.

— O que aconteceu? – ela foi firme.

— Uma pessoa foi assassinada na Distric – ele declarou.

A garota balançou a cabeça como se dissesse "e daí?".

— Um carro preto, um homem atirou do nada...

Ela continuou esperando.

— Levantei o histórico da vítima, ele já foi visto com Jack. Há uns sete meses atrás eles estavam na Distric.

— Então, Jack o conhecia, e ele foi morto... - ela suspirou. - Eu ainda não entendo. O que isso tem a ver comigo?

— Ele está chegando perto.

— Eu estava lá quando Mariana foi morta, se ele queria me matar, por que não atirou em mim? – ela questionou.

— Não sei. Isso parece um quebra-cabeça – o agente bufou, mostrando o cansaço de repente.

— Eu acho que está faltando peças – sussurrou a garota.

— Você terá que andar com escolta, pelo menos até encontrarmos esse cara - ele disse.

Ana balançou a cabeça e inspirou o ar profundamente. Ela sempre inspirava demais o ar quando estava nervosa. E Christian parecia ter reparado naquilo, pois pegou sua mão e a apertou entre as suas.

— Nada vai acontecer com você - disse.

Ana já estava quase se esquecendo de Sarah, porém uma parte sua ainda queria ver sangue. Ela estava tentando impossivelmente controlar aquela parte, se não iria explodir.

— É só que... Eu me afasto dos pesadelos todas as manhãs e descubro que não há nenhum alívio em estar acordada – ela admitiu.

— Nós vamos pegá-lo. Mas para isso precisamos saber quem é.

— E como vai descobrir?

— Temos uma suspeita de quem pode ser o próximo.

— Eu imagino que você não vá me dizer.

— Não, eu não vou.

Ana se levantou, irritação chegando às suas veias.

A garota andou até a escrivaninha e admirou uma das fotos.

— Quem é essa? - perguntou apontando para o quadro do meio.

Havia três porta-retratos ali, e em um deles havia Christian e um casal que ela apostava ser os pais dele, em outro havia Elliot e Kate junto, e então uma foto em que havia apenas uma mulher.

Era uma garota bonita, ela parecia ter uns vinte e poucos anos. O cabelo castanho, os olhos claros. Ela era linda. Mas o que chamava atenção era o sorriso. Não era um sorriso para foto, ela parecia realmente feliz. Não é o tipo de coisa que se vê em fotografias não-distraídas.

Christian a encarou e então a fotografia.

— Ah, é... Minha... Era minha namorada – ele respondeu.

Ana levantou uma sobrancelha.

— Sua ex? E por que você tem uma foto dela? Ainda não superou, é?

Ele hesitou.

— Na verdade, não. Eu não esperava por isso - ele respondeu.

— Namoros são assim. Sempre terminam. Mas... Se você ainda gosta dela, por que não volta com ela?

— Não dá.

— Por que vocês terminaram? – a garota foi curiosa.

— Nós não terminamos, ela morreu, Ana.

A morena abriu a boca e a fechou. Abriu de novo e decidiu não tentar mais. Desviou o olhar para a foto novamente, e assim ficou por longos segundas.

— Se você tivesse dito antes, eu não teria dito tanta besteira - sussurrou.

— Gosto de ver essa carinha de arrependida - ele murmurou.

A garota deixou essa passar.

— Sinto muito - foi sincera.

— Já tem um tempo.

— O que aconteceu? – questionou, se xingando pela curiosidade.

Christian mordeu lábio e não a encarou quando respondeu.

— Ela foi assassinada.

— Você a amava?

Ela deveria parar de perguntar. Se você perde alguém que ama, a última coisas que quer é que fiquem te fazendo perguntas sobre essa pessoa.

Christian pareceu pensar antes de responder.

Talvez ninguém nunca havia lhe perguntado aquilo antes.

Ele se levantou e foi até a garota.

— Sim, eu amava – respondeu. - Ela era... Incrível. A mulher mais perfeita que eu já conheci. Já sentiu algo tão...

— Tão forte que quando foi tirado de você sua vida começou a ficar horrível?

Ele a encarou.

— É - suspirou.

— Parece mágica. A cada segundo... De repente está tudo brilhando, colorido e os passarinhos cantando. Você pode estar no inferno, mas parece o paraíso - ela comentou.

Sua mão desceu para sua barriga distraidamente, e ela olhou para o teto, respirando fundo, evitando o nó que começou a se formar na garganta.

Eles estavam um ao lado do outro, a centímetros.

— É estranho - disse ela se virando para o mesmo.

— O que é estranho? - questionou ele.

— É estranho o modo como você consegue amar alguém que nem conhece, que nunca viu o rosto...

— E você a ama? - ele perguntou.

— Sim - respondeu, simplesmente sem hesitação. - É tão... diferente. Não como eu amava a minha mãe, ou meu irmão... É mais. É tão intenso que eu mal consigo decifrar. É como se o amor nunca tivesse sido verdadeiro antes de ela existir, sabe? A promessa de que o amor é real. Eu sinto isso pensando nela.

Ela deixou as lágrimas escorrerem livremente dessa vez.

Os dois estavam tão perto um do outro, que as respirações se misturavam, tão perto que Christian podia escutar o coração de Ana batendo rápido.

— Você acredita que pode ser capaz de amar tanto assim algum dia?

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Notas finais do capítulo

Ai gentem



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