O Acampamento Yordle escrita por Enchantriz


Capítulo 1
Capítulo 1: O Acampamento Yordle


Notas iniciais do capítulo

Para os interessados, o juramento citado na história é do versículo Rute 1:16,17 da Bíblia. Não sou religiosa, mas neh, não tem escritor que resista a umas palavras bonitinhas, desculpem! Talvez alguns achem de outra forma devido ter sido também uma inspiração para os livros da autora Cassandra Clare.



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— Alguém pode me explicar porque estamos aqui mesmo?

Yasuo questionou ao lado de Varus, confusos por estarem no meio da floresta em Bandle City, ambos olhando para cima, analisando uma enorme placa de madeira esculpida a palavra: acampamento.

— Por causa dessa louca! – Zed berrou irritado apontando para Syndra. – Que nos arrastou para cá só por causa de umas caixas mágica que ela não sabe nem se existem.

— Não é uma simples caixa, seu idiota. – retrucou com as mãos na cintura. – Essas caixas são uma relíquia, você não entende?

— É só uma caixa, Syndra. – disse ainda desinteressado.

— Tudo bem. – gesticulou com uma das mãos, seguindo em frente. – Você pode me dar a sua cheia de armas para eu pendurar na parede.

— Armas!? Ei! – a seguiu. – Você não disse nada sobre isso!

— Eu disse que eram importantes...

— Onde estão essas caixas?

— Essa é a parte que a gente vai descobrir.

Logo, eles se juntaram aos demais no pequeno auditório do acampamento cercado por altos pinheiros, jogando as mochilas pesada em cima de umas das mesas de madeira, a qual Syndra se pôs sobre a superfície cruzando as pernas no meio de Varus e Zed quando sentaram no banco cada um na extremidade da mesa, os fazendo pararem os olhos sobre a pele reluzente antes de desviarem rapidamente os olhares desconfortáveis, o arqueiro arfando balançando a cabeça enquanto o ninja tossiu um tanto engasgado.

— Algum problema? – a maga perguntou estranhando.

— Não. Nada.

— Nada.

Os dois responderam ao mesmo tempo, disfarçando, porém, quase arrancando um riso de Yasuo ainda em pé com os braços cruzados, tentando conter o humor ao se divertir com as implicâncias do trio. De repente, o local foi tomado pelo chiado alto de um apito, ensurdecendo a todos e chamando a atenção para o palco onde encontrava-se alguns yordles: Heimerdinger, Teemo e Ziggs, separados de Lulu e Veigar por um enorme objeto quadrado encoberto por um tecido vermelho atrás de Tristana com o sorriso travesso nos lábios rosados, girando no dedo o cordão com o apito.

— Sejam todos bem-vindos ao Acampamento Yordle! – desejou Tristana empolgada. – Mas, antes que isso aqui vire bagunça, deixa eu explicar algumas coisas. – tomou a frente de seus colegas. – Nosso acampamento tem uma regra bem simples: aqui não será permitido armamentos, – avisou autoritária andando de um lado para o outro olhando para os atiradores. – lutas ou seus truques baratos, – foi a vez de se dirigir para os ninjas e os guerreiros. – e muito menos magia. – cruzou os braços procurando pelos magos.

— Pelas próximas 24 horas vamos dividir vocês em dois grupos. – explicou Teemo. – No verso do cartão que vocês receberam está o grupo que pertencem.

Todos pararam se distraindo por um instante para pegar os cartões.

— Ah, eu estou no cristal. – comentou Syndra olhando para o verso do cartão azul.

— Eu também. – disse Varus lhe mostrando o mesmo cartão.

— Somos três então. – confirmou Yasuo.

— Onde você ficou? – a maga perguntou para o ninja ainda quieto, o estranhando estar com a cabeça abaixada observando o pequeno papel que segurava na ponta dos dedos. – Zed? – chamou.

— Engrenagem... – sua voz quase não saiu.

— O que!!?

— Está falando sério!?

— Ele está mentindo! – apressou-se Syndra descendo da mesa e tomando o cartão vermelho de sua mão. – Impossível...! – murmurou sem acreditar em seus próprios olhos.

— Está tudo bem. Não é como se fossemos todos ficar um contra o outro mesmo. – acalmou Varus. – É só um acampamento. O que poderia dar de errado nisso?

— Atenção!

Voltaram a ouvir Tristana berrar após assoprar o apito.

— Agora, o que todos estavam esperando!

Ela se virou para ver Lulu e Veigar puxarem o tecido vermelho, revelando a dourada caixa hextec sendo carregada por Heimerdinger e Ziggs, se aproximando desajeitados, cambaleando de um lado para o outro, a depositando no chão junto com seus corpos que escorregaram exaustos pelo peso.

— Nós temos exatamente a quantidade de caixas para um grupo, – explicou ignorando os dois yordles no caminho. – o que significa que, – saltou para cima da larga caixa colocando as mãos no quadril. – as nossas próximas horas serão de pura competição e diversão!

Imediatamente, Zed, Syndra e Yasuo olharam enfezados de canto para Varus que revirou os olhos antes de cruzar os braços.

— Todos vocês irão participar dos jogos sendo sorteados por equipes a cada round. – continuou Teemo orgulhoso de seu planejamento. – Cada equipe que vencer um jogo ganhará um ponto para o seu grupo, sendo somado a quantidade de pontos ao final do dia. Mas lembrem-se, a cada vez que a equipe levar uma punição por comportamento agressivo, o grupo todo perde um ponto. A equipe que chegar ao final do dia com mais pontos ficará com as caixas hextec.

— Vamos! Vamos! Se misturando, galera! – Tristana desceu batendo as palmas das mãos. – Cristal para a direita, e Engrenagem para a esquerda. – apontou mostrando onde poderiam se alojar com as cabanas. – Se instalem. Nos reunimos na fogueira às 20 horas para comemorar!

Não demorou muito para todos ali se separarem indo para seus respectivos lados do acampamento, porém, ao se levantar Zed sentiu os dedos frios de Syndra encostarem em seu braço, as unhas raspando levemente a pele quando ele se virou sem conseguir alcançar a tempo a sua mão antes que fossem afastados pelo breve tumulto e as conversas paralelas. Rapidamente, ele percorreu os olhos de um lado para o outro a sua procura, somente a reencontrando mais à frente sendo guiada por Yasuo com o braço em volta de seus ombros enquanto conversava distraído com Varus, sem reparar que ela caminhava desajeitada por manter o rosto virado para trás ainda o observando.

E foi naquele momento que, os poucos passos que os separavam foram o suficiente para perceberem o quão se mantinham tão próximos inconscientemente. Era obvio que nenhum dos dois estavam esperando por aquela brincadeira injusta do destino, mas não era como se já não estivessem acostumados a desaparecer o tempo todo da vida um do outro, então, eles apenas engoliram em seco o orgulho e seguiram os seus caminhos em direções opostas.

 

As horas passaram e assim que o manto negro da noite encobriu o céu com suas estrelas radiantes, ambos os grupos se reuniram perto de um dos lagos para festejar com os yordles, alguns espalhados conversando entre si enquanto outros comiam fartamente e dançavam animados conforme a música alta em volta da gigantesca fogueira crepitando as suas chamas quentes na brisa gélida que anunciava a chegada da madrugada. Todos estavam a se divertir no meio daquela bagunça, exceto por duas pessoas... Afastado dos demais, perto da floresta, Zed estava com o ombro apoiado na árvore enquanto mantinha as mãos dentro dos bolsos da calça de moletom preto de listras vermelhas iguais a do casaco, o rosto serio atrás da máscara de ferro, observando atento Syndra do outro lado sentada em cima de uma rocha remexendo distraída nos dedos quase encobertos pela manga do suéter preto por cima do curto short roxo. Desconfortáveis com a distância, hora ou outra, eles viravam o rosto desencontrando os olhares, tentando esconder um do outro a falta que a sua companhia fazia, até que após um tempo, finalmente os chamativos olhos prateados da maga se encontraram com os intensos olhos rubis do ninja, logo o vendo inclinar a cabeça para o lado lhe chamando, a fazendo abrir um sorriso e levantar em um salto para ir ao seu encontro. A quem queriam enganar? Eles nunca fizeram realmente parte de nenhum daqueles grupos. A solidão era uma escolha que tinham feito a muito tempo, só não imaginavam que no meio do caos em suas vidas a companhia um do outro passaria a se tornar algo tão relevante. Entre eles não era preciso citar tais palavras, demonstrações de afeto não eram do seu feitio, mas, por mais que mentissem para si mesmos que estava tudo bem ficarem separados, os seus corpos sempre os denunciavam transmitindo a paz e a segurança quando estavam juntos. Em silencio, eles andaram calmamente pela floresta apenas para se livrarem do barulho vindo do acampamento, parando em frente a uma robusta árvore onde o Mestre das Sombras subiu em cima de uma das grossas raízes e tomou impulso para alcançar o primeiro galho mais baixo, se sentando passando uma das pernas para o outro lado antes de se inclinar estendendo a mão em direção a Soberana Sombria, prendendo firmemente os dedos em seu pulso, a puxando sem dificuldade para cima, a trazendo ainda mais para perto de si em meio as suas pernas de modo a apoiar as costas em seu tronco, fazendo ela estremecer surpresa quando ele passou os braços em torno de sua cintura, em seguida, abaixou a cabeça afundando o rosto em seu ombro fechando os olhos, expandindo os pulmões respirando fundo inalando o marcante perfume cítrico que quase imediatamente lhe roubou a tensão dos músculos e aquietou a sua mente agitada. Ah, então era isso que o estava incomodando tanto... Aquela maldita distância! Ele nunca conseguiria explicar como Syndra sempre preenchia aquele espaço vazio dentro de si, como ela sempre o proporcionava aquela sensação tão incomum de calma mesmo que fosse por um curto período de tempo. Por sua vez, Syndra sentiu um breve arrepiou lhe percorrer novamente a pele fria no momento em que a respiração quente de Zed chocou-se através da máscara de ferro. Odiava como ficava tão instável próxima do homem, como o seu corpo reagia tão rápido aos seus toques, mas não conseguia deixar de sorrir aliviada toda vez que ele se perdia nela por estar inquieto ou pelo cansaço das obrigações do dia-a-dia. Ela suspirou fechando os olhos ao virar o rosto para o outro lado, permitindo aconchegando-se a ele, lhe afagando lentamente o dorso das mãos até pegar no sono.

 

O amanhecer trouxe de volta o piar dos pássaros para dentro do silencio da floresta sendo lentamente iluminada pelos raios do sol atravessando as folhagens ainda com algumas gotas do orvalho, no entanto, a claridade obrigou um par de olhos rubis a se abrirem piscando lentamente. Um tanto desnorteado, Zed virou o rosto para o outro lado vendo Syndra adormecida com a cabeça encostada em seu ombro.

— Ei, vamos... – chamou deslizando os dedos pelos longos fios do cabelo branco, a despertando ao colocar uma mecha atrás da orelha. – Syndra, nós temos que voltar para o acampamento.

— Aaah... Não temos não! – murmurou o ignorando.

Ele arfou pesado. E já sabendo que teria que lidar com a teimosia da jovem, a irritou apertando os dedos em sua cintura, logo a acordando novamente, porém, recebendo seu olhar de reprovação ao afastá-la para poder descer primeiro, estendendo os braços a chamando, a segurando quando saltou em sua direção.

— Está tudo bem? – perguntou ele após coloca-la no chão, estranhando ela manter os dedos agarrados em seu casaco enquanto brigava com os olhos pesados para continuar acordada, até que, cabisbaixa, encostou a cabeça em seu peito o obrigando a pegá-la nos braços. – Tsc...! – trincou os dentes. – Você é muito mimada. – resmungou a ouvindo respirar devagar, pegando no sono em segundos. – Idiota. – sorriu.

Não demorou muito para Zed retornar com Syndra para o acampamento atraindo a atenção dos poucos que já estavam de pé no lado da equipe Cristal.

— Onde vocês dois estavam até essa hora? – questionou Varus.

— Você não vai querer saber.

O arqueiro cruzou os braços observando o ninja deitar o corpo da maga no colchão dentro da barraca.

— Algum problema?

— Não. Apenas a deixe dormir mais um pouco. – respondeu erguendo-se, passando pelo aliado, parando mais à frente fechando os olhos abaixando a cabeça por um instante, irritado com a leve dor se espalhando por suas têmporas, se perguntando: – Porque toda vez que eu tenho que ir embora, eu tenho a maldita sensação de que tudo está prestes a desmoronar nessa droga!? Merda! – praguejou virando-se para Varus, obtendo novamente a sua atenção.

— Você não precisa nem dizer. Eu sei. – adiantou-se ele sério. – Eu não vou sair do lado dela. E acredito que Yasuo também não. Acha mesmo que precisa nos lembrar toda hora? – sorriu de canto, lhe provocando. – Pode parecer estranho todos estarem aqui, mas tente relaxar. Tente se divertir um pouco. Nós não estamos em guerra ou em território inimigo. Não vai acontecer nada. Eu lhe garanto.

Zed respirou fundo e assentiu com a cabeça, agradecendo mentalmente por ter a quem confiar a segurança de Syndra em sua ausência, embora soubesse que jamais fosse se livrar por completo daquela sensação angustiante de que estava falhando com ela, mesmo assim, ele seguiu para o outro lado do acampamento.

 

Mais tarde, quando o sol estava no auge, todos se reuniram em frente a umas das quadras esportivas, atentos em Tristana e Teemo explicando as regras do jogo que estavam prestes a competir.

— Nossa primeira prova será futevôlei. – avisou Teemo colocando a bola debaixo do braço enquanto descansou a outra mão na cintura. – Vocês terão 40 minutos para fazerem o maior placar dentro do jogo. Se empatar, terão mais 20 minutos até somente ter um time vencedor.

— Prestem atenção! – chamou Tistana autoritária segurando dois sacos pequenos de cor azul e vermelha. – Os times formados agora para essa partida permanecerão até o final dos outros jogos. Vamos começar pelo grupo Cristal... – sacudiu levemente o saco azul antes de retirar os quatro primeiros papeis contidos ali. – Deixa eu ver... Yasuo. – pronunciou trazendo o samurai para a quadra. – Varus.

— Eles irão se arrepender. – o arqueiro se posicionou ao lado do aliado, batendo as mãos em punho.

— Draven!

— Tá fácil demais. – comentou o noxiano, se gabando.

— E Syndra.

Foi a vez da maga se juntar ao time sem conseguir conter o sorriso.

— Agora, Engrenagem... – a yordle voltou a sacudir o saco vermelho para retirar outros quatro papeis. – Akali. – a ninja se dirigiu para o outro lado da quadra. – Kennen.

— E lá vamos nós... – parou contente ao lado da morena.

— Shen.

— Esse jogo já está ganho. – disse Shen convencido por ter seu atual time reunido.

— E por último... Zed! Ah, meu deus... – sua voz falhou ao perceber o time que havia acabado de formar.

Os dois times permaneceram em silencio, pasmos, sem acreditar naquela coincidência desagradável.

— Só pode ser brincadeira... – murmurou Zed levantando contra a sua vontade.

— Com tanta gente, porque você tinha que ficar no mesmo time? – resmungou Shen sem gostar da presença do antigo rival.

— Acredite, eu estou me fazendo essa pergunta desde que cheguei nessa porcaria de lugar. – respondeu de mau humor cruzando os braços.

Tristana soou o apito.

— Em suas posições! Vamos jogar! – atirou a bola para o alto.

Ágil, Yasuo se aproximou do limite da rede deixando a bola cair em sua coxa direita antes de direcioná-la com o tornozelo para Varus ao seu lado que a rebateu com o ombro direito, passando para Draven chuta-la alto no instante em que Syndra se inclinou para frente colocando as mãos no chão e levantou as pernas acertando com o pé a bola para o outro lado da quadra, fazendo com que os quatro ninjas se movessem ao mesmo tempo, chocando os corpos caindo um por cima do outro ao tentar pegar o objeto.

— Ponto para o grupo Cristal! – berrou Teemo após Tristana soar o apito vendo o time se reunir batendo as mãos sorrindo vitoriosos.

— É! – comemorou o noxiano empolgado. – É aqui que o Draven brilha!

O outro time se levantou sem acreditar no que havia acontecido, no quão longe estavam de se comunicarem e confiarem um no outro como uma equipe.

— Tsc...! Já vi que isso vai ser impossível... – resmungou Zed encarando Shen de canto.

— Não começa... – avisou apontou para o rival.

No início de partida, o grupo Cristal estava ganhando fácil devido a constante desorganização entre os integrantes do grupo Engrenagem, discutindo entre um passe ou outro, caindo, esbarrando e se empurrando para alcançar a bola como se fosse um tipo de competição entre eles mesmo.

— Argh! Já chega! Assim não dá! – Shen perdeu a paciência. – Nós vamos ter que trabalhar como uma equipe novamente pelo menos até o final dessa droga de acampamento! – disse autoritário. – E você querendo ou não. – avisou para Zed, o enfrentando. – Vamos ter uma trégua, certo?

Shen estendeu a mão para Zed que apenas olhou pensativo e virou rosto.

— Vamos terminar logo com isso.

— Se nós perdemos, eu juro que arrebento a sua cara. – ameaçou voltando a se posicionar ao lado do rival rindo estalando o pescoço.

— Então se ganharmos, eu arrebento a sua cara. – o provocou em um sorriso convencido por trás da máscara.

A yordle jogou a bola novamente no lado do grupo Cristal, dessa vez, sendo pega por Varus que a chutou para Draven cabecear para o outro lado, obrigando Kennen rapidamente a deslizar o corpo pela grama, rebatendo o objeto com o pé em direção a Shen recuando alguns passos com os olhos atentos, passando para Zed e depois para Akali finalizar inclinando o corpo de modo a colocar as mãos no chão erguendo as pernas no momento em que Kennen se aproximou pegando impulso em seu pé, saltando mandando a bola direto para o meio de campo adversário antes de rolar para fora da marcação. E para a surpresa e indignação do grupo Cristal, aquilo foram os próximos minutos de uma derrota atrás da outra por parte do grupo Engrenagem que passaram a jogar em uma sincronia surreal.

— Mais um ponto para Engrenagem! – berrou Teemo outra vez após soar o apito.

Em meio a comemoração excessiva da equipe, séria, Syndra pegou a bola em seus pés e ao levantar a cabeça franziu o cenho mordendo o lábio inferior ao ver Zed e Shen acertarem a palma das mãos em um alto estalo, a fazendo imediatamente cravar as unhas na bola murchando entre os seus dedos, tentando conter a irritação pela empolgação dos dois homens logo se afastando assim que perceberam aquela repentina aproximação, disfarçando o que havia acontecido entre eles.

— Ela sabe que isso é só um jogo? – perguntou Yasuo desconfiado para Varus.

— Eu espero que sim...

Por mais que Syndra não quisesse admitir, àquela altura, era obvio que o grupo Engrenagem estariam à frente em tudo, afinal, o trio de Kinkou com o seu antigo integrante Zed se conheciam e trabalhavam juntos a muito mais tempo que o seu atual grupo Cristal, eles sabiam exatamente como cada um deles agiam, cada ponto forte e cada ponto fraco.

— É uma partida sobre trabalho em equipe. – analisou Tristana ao lado de Teemo, cruzando os braços interessada nos integrantes. – Um time de verdade deve ser capaz de saber o que o parceiro fará só com uma olhada. Eles têm uma mente brilhante.

A disputa continuou com o jogo consistindo em Shen e Zed concentrarem todas as suas estratégias em liderança para favorecer a agilidade de Kennen e a força de Akali, enquanto no time adversário eles mantinham o padrão de Yasuo e Varus passarem o ataque somente para Draven e Syndra por terem um maior alcance posicionados no fundo da quadra, mas entre um repasse e outro, Kennen acabou por lançar a bola alto demais.

— Droga... – murmurou o pequeno ninja sem esperar que fosse tão longe.

Todos levantaram o rosto para o limpo céu azul tentando enxergar através dos raios do sol onde estava a bola, porém, a intensidade da luz e o calor exagerado do verão fizeram com que a maioria deles desistissem de esperar, exceto Syndra, ainda imóvel com os olhos claros fixos no objeto por ter a mente perdida em seus pensamentos à procura de um modo de alcança-lo e virar o placar do jogo. Talvez se fosse um pouco mais alta e rápida... pensou distraída dando alguns passos para trás, só então lembrando do leve peso em seus pés, se pondo a retirar apressada os tênis, e em seguida, correndo se aproximando do centro da quadra onde estava o arqueiro conversando com o samurai perto da rede.

— Varus! Se segura! – ordenou ela em suas costas atraindo a atenção de todos ao redor.

— O que!!?

Exclamou ele confuso virando o rosto arregalando os olhos surpreso pela aproximação, a vendo em segundos prender os dedos em seu ombro largo, saltando ficando de cabeça para baixo ao esticar o braço depositando todo o peso de seu corpo na palma da mão, o obrigando a enrijecer os músculos para que ela se equilibrasse no ar acertando em cheio a bola com o dorso do pé, a mandando para o outro lado da rede, enterrando o objeto na grama entre os quatro adversários parados em volta, boquiabertos por não conseguirem revidar contra a velocidade e força da maga.

Um curto assovio veio dos lábios de Teemo, impressionado com a jogada.

— Isso está ficando interessante.

— Ela está tentando nos matar? – questionou Kennen se agachando, assustado pela profundidade em que estava a bola.

— Não. – disse Shen calmamente. – Não é algo muito diferente de como ela manipula o seu poder. Ela sabe o equilíbrio que possui uma esfera, só não está acostumada a usar os pés, mas... – cruzou os braços, arfando preocupado.

— Parece que agora ela descobriu como. – concluiu Akali.

Quieto, Zed observou por entre a rede a gravidade trazer Syndra de volta para baixo, para os braços de Varus, lentamente, alastrando a raiva pelas veias do ninja cerrando os dentes franzindo ainda mais o cenho estalando os dedos ao fechar fortemente as mãos em punho pelo arqueiro arrancar da maga um sorriso ao colocá-la gentilmente no chão deixando a mão em sua cintura, a mantendo perto de si por mais alguns segundos.

— Eu vou partir esse desgraçado ao meio...! – murmurou irritado para si mesmo, de mau humor reparando no aliado do outro lado o provocar piscando o olho direito abrindo um sorriso de canto.

Não demorou muito para o placar empatar e deixar todos ainda mais com os nervos à flor da pele em busca da primeira vitória. Cansados, pareciam que todos os esforços eram em vão. Yasuo e Varus corriam de um lado para o outro buscando os ataques precisos de Akali e Kennen enquanto revidavam com Syndra e Draven arremessando alto a bola, sem surtir efeito em Shen e Zed sempre alcançando no limite da rede ou da marcação, insistindo em manter aquele ritmo sufocante da adrenalina dentro da quadra, até que foram apressados pela contagem regressiva de Tristana no momento em que a bola foi brevemente ofuscada pela luz do sol ao cair devagar em cima da rede, fazendo os quatro homens por perto se locomoverem para o centro, mas prevendo que todos a alcançariam com as mãos, apreensiva, Akali tomou à frente pisando na barra que sustentava a faixa, saltando girando o corpo no ar batendo uma das pernas na bola antes que pudessem tocá-la, a chutando longe, passando raspando pelos olhos arregalados de Syndra enquanto ouvia o barulho ensurdecedor do apito misturado aos gritos e a voz do time adversário:

— Era obvio! Nós quatro sempre fomos o melhor time!

A frase ecoou dentro da mente vazia da maga ainda paralisada no meio da quadra observando a bola rolar para os seus pés, sentindo o coração bater devagar e cada vez mais apertado, corroendo-se cada vez mais por dentro, digerindo tudo o que aconteceu nas últimas horas.

— Ei, Syndra? Está tudo bem? – Zed atravessou a faixa, parando aos seus olhos rubis se encontrem com os olhos roxos quase enegrecidos de Syndra queimando a sua magia.

— Vai pro inferno. – desejou ela friamente lhe dando as costas.

— Iih! Estou sentindo uma treta! – comentou Tristana.

— Alguém está nervosinha porque perdeu o animalzinho de estimação para o inimigo! – provocou Draven gargalhando. – A-Ah...! – se engasgou sentindo as unhas da ioniana prenderem em sua garganta, o enforcando impiedosamente.

— Reportando! – advertiu Teemo.

— Ooou... Alguém aqui não está dando um bom exemplo de comportamento! – protestou Tristana. – Menos um ponto para Cristal!

— Syndra! – chamou Varus preocupado.

— Mas o que deu em você? – o ninja rapidamente tomou o braço da maga, deixando o corpo do atirador cair no chão. – Está ficando louca!? – a repreendeu.

— Fica fora do meu caminho. – avisou se afastando.

— Você tinha que abrir a boca para falar merda, não é? – Varus cruzou os braços encarando Draven.

— Não enche!

— É melhor você ir falar com ela. – sugeriu Yasuo parando do lado de Zed, tocando em seu ombro. – Antes que ela transforme isso aqui também em League of Legends. – sorriu um tanto nervoso pela possibilidade do fato.

O Mestre das Sombras acompanhou de longe a Soberana Sombria ir em direção ao lago, caminhando calmamente enquanto o vento balançava os seus cabelos de um lado para o outro atrás das costas, parando ao final do píer de madeira, sentando colocando os pés na água cristalina, os balançando vendo o reflexo distorcido do seu rosto sério. Ela respirou fundo acalmando-se, fechando os olhos por um instante, voltando a levantar as pálpebras trazendo a cor clara de suas íris.

— Você está bem?

Syndra não se virou, já sabendo que se tratava de Zed atrás de si.

— Desde quando se importa com isso? – perguntou ríspida virando o rosto para o outro lado, deixando os fios brancos caírem por um dos ombros ao deitar a cabeça nos joelhos quando recuou as pernas para perto do corpo.

Zed arfou pesado e sentou do lado da jovem flexionando uma das pernas para apoiar o braço que segurava os tênis dela enquanto estendeu o outro afastando com a ponta dos dedos a longa mecha do cabelo preso, o passando para o outro ombro.

— Não coloque essa barreira que não existe entre a gente, Syndra. – a advertiu sério, ainda a vendo estar emburrada de costas para si, mas logo reparou nas manchas avermelhadas em sua pele. – Está doendo?

— Não. Já me acostumei com a dor. – se inclinou um pouco para trás, só então dando-se conta de como realmente estava manchada suas pernas.

— Deixe-me ver.

— N-não!

E antes que a jovem pudesse recuar, o homem se adiantou deixando os tênis de lado e tocou no tornozelo, a fazendo estremecer fechando os olhos com força ao esticar a perna sentindo a dor aguda se alastrar até o joelho.

— Aaah, céus...! – murmurou se jogando, deitando no piso de madeira levando as mãos ao rosto, se arrependendo por ter mentido.

— Pensei que tinha dito que não estava doendo. – sorriu por debaixo da máscara, divertindo-se com a situação.

— Você fez isso de propósito!

— Talvez. – deslizou os dedos por toda a extensão da perna, massageando devagar onde estava avermelhado. – Tsc! – trincou os dentes franzindo o cenho de mau humor. – Como consegue se machucar tanto até mesmo sem usar magia!?

— É um dom. – se gabou gesticulando com uma das mãos.

Zed revirou os olhos, a ignorando.

— Ei, – ela voltou a chama-lo, quebrando o silencio entre eles. – você sente falta?

— Do que está falando exatamente?

— Deles.

— Eu só estou aqui porque você me arrastou para essa bagunça. – a lembrou ainda irritado com o fato.

— Você não me respondeu. – insistiu virando o rosto para onde o aliado estava. – Você sente falta deles?

O par de olhos rubis pararam encarando os olhos prateados, sem conseguir entender a confusão que se passava por trás daquela fina membrana tentando esconder o quão temia por sua resposta óbvia, apesar disso, ele respondeu para ela sendo sincero:

— Não. Nem um segundo. Você não precisa ficar com isso na cabeça. – cutucou sua testa. – Esqueça essa porcaria de acampamento. Quando tudo acabar, nós vamos voltar para casa. Nada vai mudar. – garantiu sério. – Desde que nos conhecemos eu te fiz uma promessa. Você ainda tem a minha palavra. – ele roubou dos lábios avermelhados um singelo sorriso ao estender a palma da mão, prendendo os seus dedos por entre os dela.

De fato, ele nunca havia lhe quebrado uma promessa, mas no fundo, ela tinha receio que ele pudesse se aproximar novamente do trio de Kinkou, afinal, pelo tempo eles eram o mais próximo de uma família para ele do que ela jamais poderia imaginar ser.

 

Pouco depois, eles retornaram para junto de seus grupos para o próximo desafio.

— Nosso próximo jogo será bastante divertido! – foi a vez de Lulu liderar a brincadeira.

— Basicamente, quem cair primeiro, perde. – explicou Tristana.

— Assim que eu girar a roleta, – Lulu mostrou o pequeno objeto redondo em mãos. – vocês vão ter que coordenar as mãos e os pés em cada círculo.

— Vamos ver quem serão os primeiros times. – Tristana pegou novamente um papel de cada saco colorido que estava segurando. – É, já vi que hoje vai ser um longo dia... – arfou deslizando as mãos pelo rosto, prendendo os dedos abaixo das olheiras, sentindo uma leve dor de cabeça. – A equipe de Shen vai jogar contra a de Yasuo, de novo! – avisou em voz alta se recompondo, forçando o sorriso nos lábios rosados.

Os dois times se encararam em silencio.

— Isso não vai dar certo... – a yordle balançou a cabeça negativamente. – Me lembre de nunca mais tentar a sorte escolhendo um time... – murmurou para Lulu que gargalhou se divertindo com as suas expressões.

Assim que o jogo começou, não demorou muito para Draven, Yasuo e Varus saírem junto com Kennen, permanecendo somente Syndra no meio de Zed, Shen e Akali enrolando-se cada vez mais naquela brincadeira. O Mestre das Sombras estava agachado com uma das pernas esticadas para alcançar o círculo na extremidade do tapete, as mãos por entre as mãos da Soberana Sombria à sua frente com o corpo inclinado, deixando a coluna reta e as pernas ligeiramente afastadas para tentar se equilibrar, os pés ao lado da fileira onde encontrava-se os pés da Assassina Renegada, a qual estava com os braços tatuados esticados e os joelhos fletidos mantendo o corpo em uma ponte abaixo de seu aliado o Olho do Crepúsculo que tinha a ponta de um dos pés atrás do seu enquanto a outra perna estava flexionada mais à frente, sustentando o seu peso através dos braços firmes entornando os músculos ao lado das curvas da cintura da jovem morena tentando não manter os seus brilhantes olhos verdes como uma esmeralda do contato direto com os olhos âmbar tão puros quanto o ouro.

— Agora sim isso está ficando divertido. – comentou Lulu empolgada.

— Só se for pra você... – os três murmuraram ao mesmo tempo.

— Quietos! – ordenou. – Vamos continuar. Shen, mão esquerda no azul.

O ninja subiu a mão um círculo.

— Está ficando muito perto. – alertou Akali.

— Se sentindo ameaçada agora? – Shen sorriu por baixo da máscara.

— Não comece o que sabe que não vai terminar... – o provocou.

— Quer apostar?

— Syndra, – voltou a ditar a yordle. – mão direita no vermelho.

Foi a vez da maga se esticar ainda mais para seus dedos alcançarem o círculo embaixo da virilha de Zed que engoliu em seco apertando brevemente as pálpebras prendendo a respiração pelo contato do braço lhe pressionar levemente a extremidade por entre as pernas, tentando se conter soltando o ar pesado, desconfortável olhando para os lados e depois para frente, balançando a cabeça rindo nervoso ao se deparar no quão próximos estavam os seios encobertos pelo tecido roxo do top abaixo da blusa preta colada.

— Eu não acredito que concordei com essa merda...! – praguejou Zed sentindo uma leve enxaqueca pela situação.

— O que foi? – disse Syndra.

— Você tinha que ficar... assim...! – reclamou procurando as palavras.

Sem entender, a maga abaixou a cabeça, só então dando-se conta de como realmente estava para ele.

— Ah... Devo aceitar isso como uma crítica ou um elogio? – questionou confusa.

— Infelizmente como um elogio... – confessou sem conseguir mentir.

— Pervertido. – sorriu.

— Eu juro que vou matar você se falar mais alguma coisa.

— Não se eu te matar primeiro, querido. – piscou o olho direito.

— Zed, – chamou Lulu os interrompendo. – mão direita no amarelo.

O homem procurou a fileira amarela, encontrando o círculo mais próximo abaixo de Syndra, separando os seus pés por três fileiras.

— Você só pode estar brincando...! Tem certeza que tá girando essa coisa certo!? 

— Mas é claro, bobinho! Eu que dou as ordens por aqui. – respondeu chacoalhando a pequena roleta em mãos antes de cruzar os braços. – Vamos! Eu não tenho o dia todo...

Ele bufou encarando enfezado a maga.

— O que é agora!? – alarmou ela.

— Quando saímos daqui, – grunhiu por entre os dentes. – você tá muito ferrada...

Ela revirou os olhos, desinteressada na vingança do ninja, no entanto, foi apenas uma questão de segundos para piscar os longos cílios sentindo um calafrio percorrer por toda a sua coluna quando ele deitou um lado da máscara de ferro acima de seus seios para alcançar o objetivo com a ponta dos dedos.

— Ah meu Deus... – expressou-se Syndra abaixando a cabeça, escondendo o rosto corado no ombro abaixo de si.

— Você está bem? – Zed estranhou ouvir o seu coração acelerado.

— Não. Você está me sufocando...

— Podia ter pensado nisso quando quis vir pra esse fim de mundo!

— Como eu ia saber que existia um jogo tão sujo como esse!? – retrucou arrependida.

— Vocês dois ai! – Lulu lhes chamou a atenção voltando a girar a roleta. – Syndra mão esquerda pra cima e, – pensou por um instante. – Zed pé direito no azul.

— Tá! Já chega! Da pra andar logo e desistir! – berrou irritado o ninja para a maga.

— Não mesmo! Eu me recuso a perder para você!

— Acredite, você já ganhou faz tempo... Agora sai de cima de mim!

— Porque eu tenho que sair!? Você nem estava interessado nisso, então para de fazer eu perder o meu tempo e se rende!

— Ha! – riu forçado. – Como se algum dia eu fosse perder pra uma maga como você!

— Como é!? Repete!

— Querem parar com isso! – advertiu Shen. – Não é hora pra ficarem brigando!

— Cala a boca! – os dois adversários avisaram ao mesmo tempo.

— Vai começar... – resmungou Akali cansada.

— De novo não... – Tristana agachou temendo o rumo da conversa.

— Eu acho que uma risadinha deve resolver o problema! – sugeriu Lulu.

— Runeterra inteira, – iniciou Zed. – e você tinha que nos enfiar no meio do mato com todos os nossos inimigos, principalmente esses três aspirante à ninjas e mais os yordles retardados!

— Ei!!! – gritou a maioria que estavam ali.

— Por acaso você tinha algo a sugerir além de ficar mofando naquele templo?! – Syndra o enfrentou. – Eu não te obriguei a nada! Porque é que tem sempre que vir atrás de mim?

— Se você não percebeu ainda, está sempre sendo mimada, esnobe e irritante! Não é todo mundo que tem a mesma paciência que a minha em lidar com você.

— Você não se cansa de ser chato e insuportável, não é!?

— Me agradeça por estar ao seu lado e-- – ele perdeu a voz ouvindo ela o chamar quase em um grito por socorro, sentindo os dedos finos prenderem em seu ombro. – E-ei...!

De repente, Syndra sentiu os joelhos fraquejarem a levando ao chão junto a Zed que se desequilibrou para trás com o peso em cima de si, sendo brevemente esmagado pela aliada.

— Mais um ponto para Engrenagem! – avisou Tristana pulando, contente por ter acabado a rodada sem mais confusão. – Agora, vamos ver qual será o próximo time!

A atiradora yordle logo se apressou enquanto a maga ioniana deixou seu longo cabelo branco escorrer por um dos ombros ao se sentar desajeitada do lado do ninja ainda deitado sob a grama, abafando um riso por trás da máscara a observando estar emburrada.

— Não. Não diga nada. – alertou ela sabendo o quanto ele adorava vê-la de pavio curto.

— Alguém vai ter que parar de ler livros e aumentar a rotina de treino quando voltar. – comentou sentando gesticulando uma das mãos. – Umas três sessões por dia...

— Pode parar. Eu não perder para você outra vez.

— Acha mesmo que pode vencer de mim em algo? – sorriu convencido.

— E você se acha mesmo tão irresistível que eu não possa te dar uma surra?

Eles riram se divertindo das suas próprias implicâncias, mas aquele momento foi interrompido com a chegada de Varus, roubando para si o sorriso de Syndra e trazendo a feição seria para o rosto de Zed incomodado com a aproximação de outro homem tomar a mão da jovem.

— Nós temos que ir para a outra quadra agora. – avisou o arqueiro ajudando a maga a levantar. – Você está bem?

— Porque ela não estaria? – disse Zed se pondo de pé em um salto. – É comigo que ela está afinal. – o lembrou cruzando os braços.

— Exatamente por isso. Gosto não se discute. – o analisou dos pés à cabeça arqueando as sobrancelhas antes de lhe dar as costas.

— É, você é um exemplo. – mau humorado, direcionou a atenção para Syndra abaixo de seu ombro.

— Não começa. – pediu ela passando por ele. – Nós já conversamos sobre isso.

— Ei, espera...

Zed segurou a mão de Syndra, a impedindo puxando para trás, a obrigando a se virar para ele pensativo prendendo os seus dedos por entre os dela, os fazendo engolir o ar sentindo os seus corações pararem de bater por um instante, voltando em uma sintonia clara e imediata.

— Você consegue sentir, não é? – perguntou sério, desconfiado da resposta. – Isso... É a mesma sensação com ele?

Boquiaberta, os lábios avermelhados se expandiram em uma pequena curva, sorrindo gentil ao notar que ele estava se referindo a forte conexão que tinham. Não. Jamais poderia ser a mesma sensação com outra pessoa. Aquela ligação que os atraia incontestavelmente, era como um elo inquebrável e imutável.

— “Não me insistes para que te abandone, e deixe de seguir-te,” – a maga iniciou atraindo os olhos rubis. – “pois, para onde fores, irei.”

— “E, onde estiver, estarei.” – o ninja continuou sem desviar dos olhos prateados. – “Porque, o teu povo, é o meu povo. E teu Deus, o meu Deus.”

Surpresos com a coincidência, eles permaneceram em silencio por um instante, sem conseguir entender aquela espécie de transe, seguraram ainda mais forte as suas mãos, passando a expandir o peito respirando fundo, continuando a pronunciarem juntos:

— “Onde quer que morreres, eu morrerei, e ali serei sepultado. Então, faça-me assim, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.”

Lentamente, eles se afastaram deixando seus dedos escorregarem para o lado do corpo.

— Eu não sabia que conhecia o juramento. – estranhou ela.

— Eu não sabia que isso era um juramento. – confessou. – Meu mestre e o amigo mago estranho dele recitavam toda vez que se encontravam lá no templo. – recordou de sua infância. – O que isso quer dizer?

— É apenas uma história antiga. Quando o mundo estava em colapso, um mago implorou para os Deuses que lhe trouxessem o seu melhor amigo de volta do leito de morte, – explicou calmamente. – eles não só o trouxeram de volta a vida como lhe forçaram um vínculo ainda maior dando forças para ganharam a guerra. Desde então, a conexão só pode ser estabelecida através de alguém capaz de prendê-lo, e de puxá-lo de volta quando as coisas estiverem fora do controle. Entende? Algo parecido com o que eles dizem ser uma corda emocional.

Ele estreitou os olhos rubis, tentando lembrar onde foi que já tinha escutado aquelas mesmas palavras antes.

— Varus está ligado a ele mesmo, – disse Syndra o tirando de sua mente. – se é com isso que está preocupado. – o provocou cruzando os braços.

— Não estou preocupado com isso. Sabe que não acredito nessas coisas de conexão dos seus Deuses ou os livros velhos parados na sua estante. – virou o rosto para encontrar Varus conversando junto à Yasuo e Draven. – Ele nunca sai de cima de você. Eu entendo que ele quer protege-la, mas não sei lidar com disso. É um saco!

Ela abafou um riso pelo ciúmes repentino.

— Você sabe sobre o Varus, não...?

— O que eu deveria saber? – questionou-se ele confuso.

— Não é importante. Deixa pra lá... – deu de ombros. – Eu te vejo mais tarde. – se despediu voltando para o seu time.

 

Ao longo do dia, as provas continuaram pelas quadras do acampamento, revezando os times para não enfrentarem os mesmos adversários, no entanto, Zed e Syndra sempre se encontravam de alguma forma passando ao lado um do outro durante os curtos intervalos. Não era como se não pudessem se falar, apenas por obra do destino, algo os impedia de se aproximarem naquele lugar, e diferente da maga que estava acompanhada de seus aliados, aquilo começou a deixar o ninja com os nervos à flor da pele por ficar tanto tempo ao lado dos seus principais inimigos, hora ou outra, implicando com Kennen e discutindo aos berros com Akali discordando de tudo o que fazia enquanto seu sangue fervia para arrancar a cabeça de Shen toda vez que lhe dava ordens. Aquele acampamento o estava enlouquecendo! Havia perdido o controle dos seus sentidos, os sons entravam em seus ouvidos abafados pelo ritmo acelerado de seu coração batendo forte contra os pulmões cansados expandindo os músculos com as veias dilatadas atrás do tecido preto da camisa um tanto suada. Afogado em raiva, prestes a explodir durante a penúltima prova, em um milésimo de segundos seus olhos se encontraram com os de Syndra, dessa vez, o observando com os braços cruzados do lado de fora do campo de futebol onde estava jogando.

— Eu nunca pensei que diria isso um dia mas, – iniciou Yasuo ainda intrigado. – realmente é estranho vê-lo do outro lado.

— Embora estejam todos misturados e em times diferentes, nós fomos os únicos que ficamos em grupos separados. – analisou Varus. – Nós ganharíamos fácil essa brincadeira.

— É, quem diria que formaríamos um time. – sorriu Syndra convencida.

— O tempo passou rápido. Já fazem dois anos que todos se conheceram. – relembrou o samurai. – Você ainda lembra de quando o conheceu? – perguntou para a maga.

— Eu já conhecia o Zed. Na época ele era menos insuportável e me divertia mais mandando os seus subordinados me espionar. Eu gostava de tortura-los e vê-los voar... – lamentou franzindo os lábios. – Depois, eu realmente o conheci a primeira vez que fomos para o campo de batalha juntos. 

— Eu lembro desse desastre. – comentou o arqueiro.

— O Varus também estava, mas aconteceu tudo tão rápido que eu nem se quer lembrava de seu rosto. – gesticulou com uma das mãos. – Então, você apareceu quase me matando, e pouco tempo depois nos encontramos de novo com o Varus.

— Uma maga descontrolada. Um samurai andarilho. Um arqueiro guardião vingativo e um ninja esquentado. Acho que formamos um bom time.

Syndra riu sonora, se divertindo com os dois homens, porém, aquele sorriso despreocupado desapareceu quando teve a sua atenção desviada para Zed, o ouvindo elevar a voz para enfrentar Darius.

— Droga... – praguejou ela.

Temendo que o ninja pudesse se descontrolar, a maga deu alguns passos antes de seus pés travarem, surpresa ao reparar em Akali logo se pondo em frente a Zed para acalma-lo.

— Syndra? – chamou Varus. – Está tudo bem?

— Ei, Syndra? – tentou Yasuo.

Imediatamente, Syndra franziu o cenho abaixo dos frios olhos prateados, tornando a sua expressão ainda mais séria ao tentar conter a sua ira fechando os dedos dentro da palma da mão, cravando com força as unhas na pele que se rompeu transbordando um fio de sangue, mas tendo as densas gotas vermelhas impedidas de cair pelos dedos largos da mão de Varus, a obrigando a virar-se para ele.

— Não dá para os dois perderem a cabeça aqui. – comentou o aliado. – Olhe de novo. – pediu apontando para Zed ainda incontrolável aos socos com o adversário em campo. – Ninguém pode lidar com ele. Somente a sua voz o acalma. – soltou a mão ensanguentada da jovem. – Agora, vai lá e tira ele daqui antes que a gente volte para Ionia em guerra com Noxus outra vez.

Ela arfou balançando a cabeça, sentindo uma leve enxaqueca por ter que engolir em seco a sua raiva ao caminhar em direção a confusão, se aproximando remexendo os dedos no ar e depois os estalando, fazendo todos se afastarem em uma onda de energia e explodindo o apito de Teemo que o assoprava repetidamente.

— Sai da minha frente. – passou por Shen e Akali os empurrando para soltarem Zed, a deixando tomar à frente dele segurando o seu punho perto do rosto, os olhos fixos nos olhos rubis mergulhados em algum lugar obscuro dentro de sua mente. – Já chega. – ordenou sentindo a tensão do aliado, relutante, a encarando com desgosto. – Eu disse para parar. Agora. – repetiu calmamente, o vendo abaixar os braços soltando-se, recuando de mau humor por ela conseguir lhe ter tão sob controle.

— Cai fora, Syndra! – vociferou Darius saindo dos braços de seu irmão Draven. – Isso não é da sua conta.

— Ele continua sendo meu aliado. Então sim, é da minha conta. – virou-se para o noxiano. – Algum problema?

— Você está no meu caminho, desgraçada...! – grunhiu por entre os dentes segurando o seu braço, a enfrentando impaciente com o seu ar superior.

— Solta ela. – avisou Zed.

— Está tudo bem. – dirigiu-se para o aliado e depois para o adversário. – Eu só acho melhor você começar a pensar bem se vai levantar a outra mão para mim.

— E eu acho melhor você começar a pensar bem em formas de como me agradar para eu não estourar a sua cara e a do seu namorado. – a ameaçou. – Se quiser ajuda, – apertou os dedos no rosto da jovem. – eu posso te sugerir algumas ideias. – sorriu malicioso.

Zed gargalhou, sarcástico, sem conseguir se controlar por mais tempo.

— Eu vou matar você-- – ele perdeu a voz, parando ao ver a maga elevar a mão.

De repente, todos arregalaram os olhos, boquiabertos com o alto estalo dos dedos de Syndra ao atingir o rosto de Darius.

— Você é patético. – disse a maga ríspida. – Não teste a minha lealdade, Darius. Eu não sou uma das suas subordinadas para realizar as suas fantasias. – deu as costas, ignorando o homem estupefato ser tachado pelo irmão rindo descontrolado de sua reação. – Vem, – puxou Zed pela camisa. – vamos dar uma volta...

O ninja e a maga se afastaram caminhando em direção a floresta iluminada pelos fracos raios do sol prestes a se pôr no céu alaranjado refletindo na cristalina água da cachoeira escondida por entre as pedras largas atrás das árvores.

— Eu sei como é difícil conviver ao lado de pessoas que odeia, – iniciou Syndra parando. – mas assassinar todos os seus inimigos nesse acampamento não vai leva-lo a nada. 

— Impossível fazer alguma coisa com você se intrometendo onde não é chamada. – Zed a repreendeu sentando sob as pedras.

— Porque ainda está tão irritado?

— Talvez seja porque você me faz perder a cabeça também!

— Prefere que eu volte e me deite com o Darius então? – o questionou confusa.

— Eu não disse isso. – apontou serio para ela. – Se você me der as costas eu juro que dessa vez te mato.

Ela abafou um riso e se aproximou do aliado ajoelhando em sua frente tocando em sua máscara de ferro com as mãos envoltas pela clara energia roxa da sua magia, aos poucos desamassando o lado onde havia sido atingido pelo soco de Darius, em seguida, sendo impedida de prosseguir em retirá-la para ver o seu rosto. Zed estava tão acostumado a se esconder atrás daquela máscara que, por um momento, tinha esquecido das poucas vezes em que Syndra já tinha visto o seu rosto com a pele marcada pelas cicatrizes do seu passado, as quais ela percorreu delicadamente a ponta dos dedos por cima antes de afastar alguns fios de seu curto cabelo negro levemente bagunçados acima dos intensos olhos rubis como o sangue a observando atento sorrir gentil enquanto descia os dedos até o canto de sua boca para limpar o sangue ameaçando escorrer pela ferida. Sem dúvidas, ela era a única pessoa que conseguia salvar a sua alma bastarda naquele mundo distorcido.

— Você não tem limites.

— Não começa. Eu não preciso dos seus sermões. – afastou o rosto, segurando os dedos da jovem, reparando nas marcas ásperas em sua palma avermelhada pelo sangue seco. – Ei, o que foi isso?

— Nada. Não é nada. – recuou. – Eu apenas perdi o controle. Outra vez...

Ele a olhou desconfiado.

— Não me diga que pensou que a Akali e o Shen fossem me parar?

Ela permaneceu em silencio olhando para os lados, cruzando os braços emburrada sem conseguir disfarçar quando ouviu o homem rir se divertindo do seu súbito ataque de ciúmes.

— Muito engraçado. Idiota. – estendeu as mãos empurrando o ninja para trás, o fazendo se desequilibrar fechando os dedos em seu pulso, a pegando ainda mais desprevenida ao puxá-la junto para a água.

O susto e a água extremamente fria os fizeram emergir rapidamente à procura do ar, porém, a profundidade obrigou Syndra a passar os braços em volta do pescoço de Zed que fechou os seus em volta da sua fina cintura para mantê-la protegida perto de si, ambos somente dando-se conta do quão próximos estavam no momento em que os seus olhos se encontraram.

— Você vai ficar ai parada me olhando por quanto tempo? – Zed quebrou o silencio com um sorriso nos lábios molhados.

— Você não disse o que quer que eu faça... – respondeu Syndra tentando conter o humor.

— Não me desafie aqui, Syndra.

— Se não o que? – murmurou o enfrentando. – Eu vou estressar uma certa ninja por quem você tem uma queda?

— É exatamente por nós nunca termos tido nada e por eu não ter uma queda por ela que você devia se preocupar muito mais.

— Humn... Está me ameaçando?

— Fecha os olhos. – pediu serio.

— Zed... – o chamou baixo, o advertindo apesar de deixar-se levar pelo seu toque lhe afagando a bochecha. – Nós estamos cercados por inimigos aqui.

— E você fica atraindo a atenção de todos eles. Então, porque não tenta me deixar menos irritado com isso? – sugeriu em um sorriso malicioso apertando o braço que estava em torno de sua cintura para trazê-la ainda mais para perto de seu corpo. – Não tem ninguém aqui agora. – encostou a testa na dela, mantendo os olhos fixos nos seus ao subir a mão por sua nuca, enroscando a ponta dos dedos nos fios brancos. – Confia em mim. Fecha os olhos. – pediu novamente, dessa vez, vendo os olhos claros desaparecerem atrás das pálpebras ao se aproximar dos seus lábios, os encostando percorrendo devagar o contorno somente pelo prazer de lhe arrancar um suspiro por afastar uma parte da outra passando a língua quente pela linha avermelhada do lábio inferior, sentindo brevemente a sua textura macia escorregar por baixo dos dentes, tentando inutilmente resistir a atração que ela lhe causava, dando-se por vencido retirando a outra mão da cintura para tocar em seu rosto, sedento em tomar-lhe para si, mas, ele parou soltando a respiração junto com a da jovem, voltando a encontrar os seus olhos denunciando a mesma insatisfação por terem que se afastar pressentindo alguém estar aos arredores.

Syndra apertou os lábios abaixando a cabeça no ombro de Zed que afagou os seus cabelos desviando a atenção para a margem, encarando enraivecido Akali se aproximar. Imediatamente, a presença da ninja levou a maga a sair da água passando com a postura ereta pela adversaria, a ignorando completamente, o desprezo a forçando expor um singelo sorriso para Zed vindo ao seu encontro.

— Se Shen a mandou até aqui para me irritar, está fazendo um ótimo trabalho. – comentou de mau humor retirando a camisa molhada, a colocando sob um dos ombros ao pegar a máscara de ferro do chão, escondendo o rosto novamente antes de cruzar os braços. – Já acabou? Ou planejaram mais alguma coisa?

— Qual o seu problema? – o questionou seria. – Porque você tem que ser tão desagradável o tempo todo!? Você não vê que apesar de tudo estamos te dando uma chance e tentando te ajudar!

— Eu sei o que está tentando fazer, Akali, e eu te garanto que não vai conseguir. – avisou lhe dando as costas. – Se acha que voltar a trabalhar com vocês nessa brincadeira idiota significa algo para mim, saiba que não significa nada!

— Como pode saber? – o seguiu. – Você nem se quer se permitiu.

— Eu não preciso, já passei tempo o bastante com vocês. 

— Você não era assim, Zed. – lembrou. – Se você pelo menos me der uma chance eu posso te mostrar qual é o seu caminho, mas não é do lado da Syndra. Nós sempre fomos imbatíveis! Ei! Zed! – chamou sendo ignorada. – Já chega... Me escute. – ordenou segurando o seu braço, o impedindo de ir para o acampamento. – Você já teve a sua vingança contra o mestre, o que quer mais? Acha que se vingar de Shen e todos em Ionia lhe trará alguma glória? Subir em Placidium vai muito mais além do que matar alguns ninjas.

— Eu vou arrancar a sua mão se não me soltar agora. – a ameaçou.

— Vá em frente. Experimente. – interferiu Shen alguns passos atrás. – Eu arranco o seu braço se encostar nela. – o encarou sério. – Você não precisa ser tão grosso. Ela só está querendo te ajudar.

— Ótimo. Já que você está aqui, – soltou-se empurrando Akali para Shen. – porque não me ajuda também poupando o trabalho de matá-la e dá um jeito dela calar a boca?

— Certo. Vamos fazer uma troca então. – sugeriu tomando a frente da morena, cruzando os braços. – Porque você não me ajuda e poupa o trabalho de torturar a Syndra me contando qual é o truque que ela está usando agora?

— Do que você está falando?
— Em todos esses anos, eu nunca vi você ficar calmo tão rápido. – estranhou. – Até mesmo o meu pai tinha que usar mantra em você. Eu estou realmente impressionado quão longe vão as suas habilidades.

— Fica longe dela.

— Porque eu deveria?

— Shen... – chamou Akali tentando pará-lo, temendo o rumo daquela conversa.

— O que foi mesmo que ela fez? – continuou. – Hipnotismo? Te envenenou talvez? Não seria lá uma surpresa, não acha?

— Eu não sei o que ela faz, está bem! – alterou o tom de voz. – Porque está tão interessado nisso!?

— Porque você não vê que ela está te manipulando!

— Akali faz a sua cabeça desde que chegou a Kinkou! Não venha encher o meu saco com essa conversa agora, Shen!

— Eu o que!? – exclamou a ninja.

— Será que você não consegue responder algumas perguntas sem ser sarcástico?

— Se você fizer as perguntas sem ser estúpido.

— Mas o que está acontecendo aqui!? – foi a vez de Kennen interferir preocupado. – Porque todo esse barulho? Pensei que vocês três soubessem o que é uma morte silenciosa.

— Cala a boca! – grunhiu Zed.

— Kennen! – advertiu Akali.

— Fica fora disso, Kennen! – ordenou Shen fazendo o aliado levantar as mãos em sua defesa. – Eu já te avisei! – voltou a dirigir-se a Zed. – Ela não é quem você pensa que é! A Syndra só se interessa pela droga do poder que tem! E você, seu imbecil, está apenas sendo usado de estudo para isso.

— Deixa de ser idiota! Você sabe tão bem quanto eu que não tem feitiço algum! É por isso que não quer aceitar que até mesmo nisso você e o seu pai falharam! – cuspiu as palavras. – Admita, Shen! – sorriu convencido ao se retirar passando do lado do rival, esbarrando em seu ombro. – Você sempre, sempre será um perdedor.

O silencio de Shen aumentou o ego de Zed.

 

Naquela noite, farto das asneiras dos seus antigos aliados de trabalho, o Mestre das Sombras optou por ficar deitado em sua barraca revirando entre os dedos uma de suas shurikens enquanto observava distraído todos se reunirem outra vez em volta da gigantesca fogueira para desocuparem a mente em meio a festiva bagunça dos yordles no farto jantar, porém, desinteressado, o ninja jogou a shuriken em um dos cantos e fechou os olhos colocando os braços atrás da cabeça, respirando fundo antes de voltar a abrir os olhos, os direcionando para baixo ao estranhar o leve peso em cima de seu estomago, vendo despreocupado a Soberana Sombria deitada com a cabeça em cima de si, curiosa remexendo em sua shuriken.

— O que está fazendo aqui? – perguntou ele.

— Apenas entediada. – ela respondeu sem se importar com o fato, tentando rodar o objeto nos dedos.

— Está tentando esconder a falta de confiança ou apenas ainda está brava pelo o que aconteceu?

—  Os dois. Talvez. Mas você sabe que eu não confio em ninguém que está aqui. A-ah... – gaguejou quase se cortando.

— Varus e Yasuo estão bem do seu lado, – retirou a shuriken do alcance da maga. – você não precisa se preocupar com isso.

— Eles vão acabar bebendo uma hora ou outra e no final, eu mesma vou ter que dar conta de toda a bagunça.

— Eu ainda estou aqui. – a lembrou.

— Eu não sou sua responsabilidade, Zed. – disse seria.

— Então porque está do meu lado agora? – sorriu por trás da máscara, lhe estendendo a mão.

— Eu... – pensou. – Eu não sei... – confessou confusa virando-se para ele percorrendo os dedos frios lentamente por sua pele áspera pelas cicatrizes, prendendo-se a ele naquele ritual. – Eu gosto do caos que você me traz...

Para eles, bastava apertarem as mãos para sentir o quão estavam ligados um ao outro, só que os seus olhos sempre se cruzavam ameaçando desvendar os seus sentimentos, o que fazia com que eles desviassem a atenção mantendo seus corações a uma distância segura, mas apertando ainda mais os seus dedos convencendo-se de que os anos apagariam aquele sentimento mutuo doloroso.

— ...você já se apaixonou por alguém? – a jovem quebrou o silencio, temendo pela resposta.

— Não dá pra sentir essa merda quando você passa a maior parte do tempo assassinando os outros, Syndra. – explicou arrancando um baixo riso da aliada. – Sim. – confessou após um longo minuto. – O que foi? – estranhou o silencio.

— Ela gosta de você. – voltou a atenção dos olhos prateados para os olhos rubis.

— Não. Ela ama o Shen. – afirmou calmamente convicto de cada palavra. – Sempre foi ele. E vai continuar sendo ele. Uma vez, você me pediu para ficar ao seu lado. Eu vou ficar. Não tente me afastar agora pelos motivos errados.

Ela abriu a boca, e antes que sua voz saísse, foi substituída pelo tom grave de Yasuo:

— Ei, vocês dois! Vamos continuar! – se aproximou com as mãos nos bolsos da calça folgada. – A última prova será agora. Estamos empatados, e alguém tem que vencer.

— Nós. Óbvio. – Syndra levantou com a ajuda do moreno.

— Sem ressentimentos. – desculpou-se em um sorriso o samurai com o ninja se pondo de pé.

— Aproveite. Isso não vai durar por muito mais tempo. – deu de ombros, caminhando na frente.

 

Assim que todos se juntaram com suas esquipes, Tristana soou o apito para lhes chamar a atenção em cima de uma das mesas em frente ao auditório.

— Nós faremos nossa última prova para ver quem será a equipe vencedora. Vai ser como uma caça ao tesouro. – voltou a explicar a yordle empolgada. – O objetivo é encontrar a bandeira branca que está escondida em algum lugar na floresta. Tragam ela para mim, e receberão mais uma caixa como recompensa. – sorriu convencida cruzando os braços. – Vamos! Nos encontramos dentro de duas horas! – bateu as mãos, os apressando. – Dispensados! – ordenou os observando se dispersarem pela floresta. – Hunm... Teemo? – chamou pensativa pegando o mapa que estava na mochila do explorador. – esses cogumelos no mapa que você colocou mais cedo, são suprimentos ou munição?

— Era para ser suprimento? – questionou ele de boca cheia, confuso em meio a risada histérica de Lulu.

— Já vi que vamos ter problemas... – avisou Heimerdinger balançando a cabeça.

— Ok! Deixa pra lá! – Tristana fechou o mapa o jogando por cima do ombro. – Vamos começar essa festa! – pegou o binoculo de cima da mesa para acompanhar a brincadeira.

Próximos do acampamento, havia apenas Zed e Akali caminhando em silencio próximos as trilhas dentro da floresta, tendo sido obrigados a se separarem em duplas como a maioria dos outros times para terminarem o jogo. A jovem morena balançava a lanterna de um lado para o outro, iluminando ao redor embora o homem já estivesse acostumado com a escuridão da noite, porém, distraídos a procura da bandeira, Akali parou por sentir pisar a ponta dos dedos na superfície de um cogumelo, desconfiada de um baixo ruído, imediatamente ela se esquivou desajeitada no momento em que o cogumelo explodiu lançando um gás verde, a fazendo esbarrar em Zed tropeçando por entre os seus pés, agarrando os dedos em seu casaco indo direto para chão o derrubando junto a si no meio do mau odor do gás, ambos resmungando ao baterem a testa com o impacto, mas o barulho da grama sendo esmagada logo a frente os assustou, levando Akali a se virar de bruços abaixo do corpo de Zed que ignorou a confusão mental e agiu por impulso lançando uma shuriken no ar, sendo brevemente cegado pelas laminas afiadas refletirem o clarão dos raios rasgando o céu de nuvens carregadas ecoando por quilômetros o estouro do trovão, somente dando-se conta de quem havia atingido após a tempestade d’água cair em uma fina cortina sob os seus ombros.

— Ah, não... – expressou-se Akali.

Perplexo, Zed reconheceu Shen com o braço estendido na altura do busto de Syndra, a qual estava paralisada mantendo a ponta dos dedos trêmulos em cima do profundo corte em sua bochecha transbordando o denso sangue, escorrendo lentamente pela pele misturando-se aos pingos da chuva no caminho até o canto de sua boca, os lábios entreabertos, sufocada com as palavras entaladas na garganta, ela voltou a juntar os lábios, dessa vez, em uma linha inexpressiva, escondendo o desespero e a dor no desprezo em seus olhos na feição séria.

— Você está bem? – perguntou Shen virando-se para Syndra dando alguns passos para trás. – Essa passou por pouco...

— Não! Syndra...! – Zed levantou apressado, temendo a frieza da aliada ao lhe dar as costas. – Syndra! – a chamou sendo ignorado. – Tsc! Merda...

E sem pensar duas vezes, ele correu em direção a ela, passando direto pelo rival projetando uma de suas sombras vivas para trocar de lugar tomando mais alcance, a seguindo pela trilha por onde veio.

— Ei, me escuta! Syndra!

— Está perdendo o seu tempo. Eu não quero ouvir as suas mentiras. – disse ríspida, sem se virar.

— Quer parar com isso! – elevou a voz impaciente se pondo em frente a jovem através da sua sombra, segurando firme o seu braço a impedindo de prosseguir. – Suas mudanças de humor hoje estão acabando comigo!

— Me solta agora, Zed. – ordenou sem se intimidar.

— Você sabe muito bem que eu nunca a machucaria, Syndra. Eu te dei a minha palavra. Jamais a trairia. Acha que sou tão baixo assim?!

— Sim. Eu acho. Você é insuportável, insolente e arrogante. Típico de um verdadeiro ninja. Mas já cansei dos seus truques.

— Foi um acidente!

— Desde quando você tenta me matar por acidente para proteger um inimigo!? – o enfrentou. –Depois de todo esse tempo... – balançou a cabeça ainda sem acreditar no que estava acontecendo. – Como pode!?

— Eu me distraí! Droga! Não era para ser você! Tem ideia de como é não ter controle de si mesmo?! O dia inteiro a minha cabeça está uma bagunça por sua causa!

— Não! Você me deu as costas! – negou. – Me solta! Está me machucando! – tentou inutilmente se desprender, relutante, inclinando o corpo para trás, afundando os pés na terra.

— Não haja como se eu não tivesse tentado estar ao seu lado! Eu não tive escolha!

— Você escolheu ela!

— Eu só tentei protege-la porque é sempre você a única maldita garota que está do meu lado!!! – berrou enfurecido a puxando para si. – O que quer que eu faça sem você!!?

— Você tinha que estar do meu lado!!! – gritou de volta perdendo o controle expandindo o seu poder pelo chão, esvaecendo a flora ao redor. Um tanto assustada, ela olhou ao redor, em seguida, abaixou a cabeça vendo o seu braço ainda estar preso nos dedos do aliado parado no mesmo lugar sem se quer demonstrar insegurança. – Eu não entendo... De quantas formas você ainda pretende quebrar o meu coração? – se perguntou recuperando o folego. – Admirava você... – arqueou as sobrancelhas em pesar. – O homem que eu conhecia colocaria a sua lealdade em primeiro lugar, e acima de tudo. – o lembrou.

— Eu não fiz nada. Eu juro. Veja você mesma. – pegou a outra mão da jovem e colocou em sua máscara. – Vamos, me diga o que você vê? Me diz o que está sentindo?

Syndra respirou fundo, concentrando-se, prestes a dar-se por vencida por Zed até que ouviu ao longe a voz do grupo de Kinkou o chamando, o tom preocupado nas vozes a fazendo fechar os dedos dentro da palma da mão ao acreditar dolorosamente em sua própria intuição. Não tinha o direito de bagunçar ainda mais a sua vida.

— Nada. – respondeu firme a maga para o ninja.

— Está mentindo. – afirmou hostil.

— Eu não sinto nada...

— Para!

— Talvez eu realmente não conheça tudo de você... – continuou.

— Não negue a mim!!! – vociferou pressionando os dedos em torno do frágil braço.

— Eu cometi um erro – contou séria sentindo as lágrimas se formarem ameaçando transbordarem em frente aos seus olhos claros encarando friamente os atordoados olhos rubis temendo as suas palavras: – me aliando a você.

Os dedos largos do homem afrouxaram percorrendo pela pele fria e escorregadia da jovem se afastando segurando o choro mantendo a postura ereta, o deixando para trás com os braços pendendo ao lado do corpo encharcado pelo moletom pesado, os seus pés prestes a soltar do chão, porém, convenceu-se de que não era bom para ela, desmoronando no meio da chuva batendo contra a grama queimada, o vento desmanchando as poucas folhas secas grudadas nos galhos retorcidos das árvores acinzentadas. Amaldiçoando-se, ele deu um passo para trás fechando a mão em punho antes de se virar socando o tronco ao lado descontando toda a tensão acumulada, em seguida, pressionou as pálpebras respirando fundo e abaixou a cabeça encostando a testa na madeira, tentando não perder o controle outra vez, voltando a abrir os olhos deparando-se com a bandeira branca suja fincada no meio das altas raízes em seus pés. O quão longe poderia o destino tramar com a má sorte? Desde que chegou ali, estava enlouquecendo com aquele vai e não vai, quer e não quer entre eles. Era impossível viverem sem discussões triviais alimentando sempre a rivalidade e o ódio, mesmo que, no fundo, eles quisessem dizer o que nutriam de verdade, mas nunca diriam porque, esse não era o trato. Não era o certo. E não era uma opção que aquele mundo poderia oferecer. Só que por mais que pudessem guardar os sentimentos pelo tempo que quisessem, isso não significava que não existiam.

— O que eu estou fazendo...!? – Zed arfou balançando a cabeça.

Rapidamente, ele se recompôs e pegou das raízes a bandeira, se pondo a correr para o acampamento tendo a sensação do frio lhe cortar o rosto ao ultrapassar a máscara, congelando o ar nos pulmões expandindo ofegante, o cansaço logo o levando a diminuir os passos ao conseguir alcançar Syndra atravessando calmamente o espaço vazio que separava os yordles no palco do auditório à céu aberto das mesas com quase todos os integrantes dos dois grupos, os quais se calaram ao vê-lo parar.

— E nós finalmente temos um campeão! – berrou Tristana contente, batendo palmas em meio a festividade dos seus colegas lhe jogando confetes e assoprando os apitos. – Eu não acredito que justo você-- – sua voz sumiu em um perturbador silencio.

De repente, todos os sorrisos morreram por estranharem o ninja permanecer imóvel segurando firme a bandeira suja de lama enquanto observava a maga do outro lado virar para si, percebendo o quanto eles eram sempre separados sendo inseparáveis.

— Zed? – ouviu Shen o chamar atrás de si, tocando em seu ombro. – Você está bem? Nós ganhamos. O que há com você?

— Shen, alguém me parece que não está respirando... – comentou Kennen preocupado, analisando dos pés à cabeça o outro ninja.

Perdido no vazio dentro de sua mente, o Mestre das Sombras involuntariamente deu dois curtos passos à frente, cauteloso, continuando a olhar diretamente para dentro dos olhos da Soberana Sombria confusa tentando decifrá-lo através de sua retina, a fina membrana escondendo o caos de sentimentos por entre o som abafado das fortes batidas de seu coração bombeando rápido como se fossem tambores anunciando a guerra prestes a ser travada por ele mesmo, engolindo o amargor do orgulho inspirando fundo remexendo os ombros voltando a postura superior ao mover-se.

— Zed, o que está pensando em fazer!? – perguntou Shen desconfiado. – Zed!?

— Chega. – respondeu Zed sério indo para o outro lado jogando a bandeira branca nos pés de Tristana boquiaberta. – Isso é entre nós dois. – apontou para Syndra, a fazendo franzir o cenho trazendo o tom roxo de sua magia obscura para os seus olhos enfezados. – Você pode me arrastar pelo inferno, – disse de mau humor, a enfrentando. – que se dane...! – praguejou retirando a máscara de ferro se aproximando da jovem lhe pressionando os lábios ao segurar o seu rosto com uma das mãos e deslizar a outra por sua cintura para puxá-la ainda mais para perto de seu corpo alto, a encurralando fechando o braço em volta de suas curvas, quebrando a sua magia quando escondeu os surpresos olhos atrás dos longos cílios, abaixando as pálpebras entregando-se a seus lábios rasos deslizando pela superfície macia, tremula, enquanto lentamente moviam as suas línguas quentes por cada canto da boca entre um baixo suspiro e outro, sentindo o frescor do hálito misturado as gotas da chuva que se intensificou lhes roubando o restante do ar, os afastando devagar, chocando no frio as suas respirações descompassadas, encontrando seus olhos em uma linha tênue.

— ...o que está fazendo? – disse ela um tanto confusa.

— Você não faz ideia, não é, garota tola? – murmurou ele encarando os perplexos olhos prateados. – De que é a minha obsessão.


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Notas finais do capítulo

E depois de quase um ano... quase! Eu voltei! Então podem voltar com os comentários que até eu estou com saudades disso! kk



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