Eclipse escrita por Minguante, sangre


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi! Estamos finalmente postando essa one nossa bebe aqui no Nyah! BoruMitsu é o melhor ship e Mar melhor pessoa então não tem como dar errado ♥

Essa one surgiu com uma ideia lindissima trevosa da minha querida Mar e Estrelas, co-autora, em mais uma noite normal de eu sofrendo por esse ship. Acabamos por misturar o sangue dela com a melosidade angsty minha e nasceu eclipse, espero que gostem dessa one pois nós com certeza amamos escrevê-la ♥

@Lcce: Essa é a minha primeira vez escrevendo com esse shipp e sobre esse universo, se não fosse a Musa eu estaria completamente perdida em tudo, então obrigada, amor. Obrigada tanto pela paciência, como também pelas explicações sobre o shipp e claro por surtar comigo (NOSSO BORUMITSU!) Essa ideia surgiu com uma fanart e nela o Mitsuki estava coberto de sangue e eu tenho um pequeno fetiche com tudo que é vermelho, isso inclui principalmente sangue rs (mas calma, eu não sou nenhuma psicopata, juro). E graças a Musa, o que era para ser só uma cena sangrenta, tornou-se uma one incrível ♥ Ela é maravilhosa. Enfim, espero que gostem do resultado final e aproveitem o shipp tanto quanto nós aproveitamos escrevendo.

Espero que gostem!



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“Quando a lua toca o sol e a escuridão toma conta do mundo, o silêncio se transforma em melancolia. E depois em desespero.” — @suspiria, 2018.



Boruto consegue ouvir os próprios órgãos funcionando e cada som faz com que sua garganta se feche mais. Respirar é insuportável, ele se poupa, a todo instante, com medo de não poder mais continuar vivo. As mãos suam e todos seus outros sentidos estão intensamente mais aguçados. Ele não pode ver. Mas pode sentir a escuridão caminhar para a borda de seus pés machucados.  

 

O ar é denso e tem uma aura negra perambulando pelo ambiente claustrofóbico. Boruto confrange as costelas em agonia, ele tem medo, seu palpar no chão é leve, temeroso, tudo porque ele não pode ir além do que aquelas correntes permitem.

 

Engole a secura da boca e sua tentativa de se renovar falha miseravelmente quando tudo o que tinha dentro dele começa a arder, tão doloroso que, quase em um instinto, ele se curva para impedir que a sensação chegue em seu estômago. Entretanto, ela chega.

 

Boruto grita.

 

O som mancha de sangue o pano que cobre seus lábios. As gotas escorrem para fora, descem até o queixo e atravessam o pescoço. Pingam até à camisa e se perdem no meio de toda a queimação; ela termina seu caminho e volta apenas para se instalar no coração.

 

Ele bate. Boruto tosse. Ele bate. Boruto chora. Ele bate. Boruto sangra. Ele treme. Boruto não respira. Ele para. O sangue não escorre mais. E a dor deixa de existir, a única sensação presente é a de suas veias pulsando. Os olhos pesam e a consciência evapora aos poucos de seu corpo.

 

Até Mitsuki vociferar o seu nome.

 

A primeira lufada de ar veio com força e inflamou os pulmões de Boruto. O corpo volta a reagir com o chamado. É Mitsuki. O alívio acompanha o sangue que volta a circular e preenche as batidas reversas.

 

O desespero retorna, traz consigo a inquietude e a imprudência de tentar se soltar novamente, de se debater e praticamente quebrar os próprios ossos no processo. Mas não importa. Não quando pode sentir o cheiro do amigo e a presença de esperança.

 

Com os ouvidos atentos, é capaz de escutar não só o som de sangue esguichando, como o de gritos e carne se rompendo. O odor de morte entra pela fresta da porta e é fúnebre o suficiente para atravessar seus sentidos. É nítido e grotesco, mas faz com que Boruto vibre a cada segundo.

 

O som fica mais alto e perturba os ouvidos de quem está por perto. É brutal e impiedoso.

 

Se silencia sozinho, costurando a própria boca.

 

Os dedos ágeis arrebatam a fechadura e o ar frio esmaga o corpo de Boruto contra a parede. O coração dispara juntamente com o medo e tudo que pode fazer é fechar a garganta para que nada tente escalar para fora do corpo.

 

A venda é tirada de seus olhos e a claridade cega ao ponto dele não poder identificar nada além de luz.

 

— Mitsuki? — A voz sai quebrada e molhada, mas completamente nítida longe do pano.

 

Boruto tem sua resposta. Não de Mitsuki. E sim de si próprio quando vê o amigo.

 

Mitsuki está coberto de sangue. Dos pés a cabeça. É tamanha quantidade que as cobras de suor que serpenteiam seus cabelos grudam todo seu rosto em um tom de vinho sujo. Os olhos amarelos são um contraste medonho para toda a figura.  O cheiro de ferro é forte, mas Boruto não se importa em chegar mais perto. Mitsuki libera seus pulsos e o pega no colo, sem mesmo deixar que Boruto reaja.

 

Quente e reconfortante. Mitsuki o fazia sentir-se seguro e quase toda a ansiedade dava adeus. Estar com ele era o bastante. Seu orgulho foi o escudo até estar em seus braços novamente.

 

Agora, Boruto só pode admitir que esperava ser salvo por Mitsuki.

 

O nariz de Boruto encosta na roupa de Mitsuki e nem mesmo a sensação viscosa e gelada do sangue o faz querer sair dessa posição. Ele se arrepia a cada estalar de passos, se arrepia por ouvi-lo respirar.

 

Mitsuki sente o próprio desespero acalmar. Ele precisa manter-se seguro e passar tranquilidade para Boruto, ainda que tudo o que ele deseje fazer é continuar a matança e se vingar pelo que fizeram.

 

Ele jamais perdoaria.  

 

O corpo frágil e machucado de Boruto tremia contra o seu e ele pressentiu os olhos azuis curiosos vagarem pelo corredor. Homens jogados na parede, escorrendo em seu rastro de sangue até o chão. As poças vermelhas correndo para o vão de seus sapatos. Cabeças decepadas e braços cortados até os cotovelos.

 

Boruto segurou um berro de terror e olhou para Mistuski.

 

— Mituski, o que… —  As questões começaram a penetrar sua cabeça. O que era tudo aquilo. O som que ouviu antes eram dessas pessoas morrendo? Essa foi a única opção? Por que sua consciência não estava apitando?

 

Silêncio.

 

Mitsuki parou e abaixou a cabeça. Os olhos pareceram ampliar e Boruto novamente se perdeu na imensidão de todos aqueles sentimentos.

 

— Tudo para proteger o meu sol. —  Sorriu. O sorriso mais belo que Boruto já tinha visto.

 

Boruto assentiu, esquecendo-se do resto.

 

A lua finalmente brilhou prateada. Ela estava disposta a entrar na frente do sol. Estava disposta a protegê-lo. E só isso importava no momento.

 

Boruto sentiu-se respirar pela primeira vez sob as estrelas, o som da relva balançava ao seu redor e abafava-se com os passos de Mitsuki, ensurdecidos pelo sangue nas solas. Seu peito dividia-se entre apertá-lo o mais que pudesse e erguer-se e fugir.

 

Não dele, com ele.

 

— Mitsuki… — chamou, a cabeça encostada no peito, seus cabelos grudavam na pele, tingidos daquele vermelho que não desvanecia perante a escuridão.

 

— Eu consegui as suas coisas, está tudo bem agora.

 

— Como assim? Você está coberto de sangue! — Ele balançou, mas Mitsuki mantinha-o firme entre os braços, como sempre.

 

Sorria com aquele sorriso que Boruto não conseguia desvendar, dizia-lhe que estava tudo bem quando não estava. Cegava-o.

 

— Tudo bem, Boruto, estamos voltando para casa. — A respiração pesava depois do protesto, até as costelas estavam doloridas.

 

— Espere.

 

Mitsuki parou. Apesar de tudo, sempre ouviria sua vontade antes, através do sangue escorrendo, da respiração aguda e dos grunhidos de dor. Boruto remexeu-se uma vez, escalando os ombros de Mitsuki com as mãos, sua mochila estava pendurada no ombro dele.

 

Seu pulso foi impedido por Mitsuki, cortesia de uma de suas serpentes. Boruto não se sentiu preso, apenas desesperado.

 

Até ele o largar.

 

Não só o toque, mas deitá-lo no relvado como se fosse quebrar com o impacto. Mitsuki ajoelhou-se ao seu lado, e a mochila desceu o braço até aterrar no chão.

 

Sem um pingo de sangue nela.

 

Boruto tentou respirar fundo, doía. Tentou endireitar o tronco, doía mais. Mitsuki estava quieto ao seu lado, curiosidade que desaparecia a cada sinal de desconforto.

 

Sabia que tinha pouco tempo.

 

— Você está coberto de sangue… — repetiu.

 

Mitsuki tentou decifrar o olhar dele, nem Boruto conseguia, estava perdido na dor e na sensação da terra massageando suas palmas, procurou-o com cuidado, segurando na ponta da manga de Mitsuki.

 

Sentia-se doente, prestes a vomitar ao elevar o contato para os ombros, pincelando-se a si mesmo daquele líquido viscoso. Olhou-o mais uma vez ao marcar as palmas molhadas no peito de Mitsuki.

 

Sob o olhar surpreso, Boruto afastou as bordas interiores do kimono, revelando a pele esbranquiçada que ele mesmo tinha sujado.

 

Mitsuki não se movia.

 

— Não é seu, certo? — perguntou.

 

— Não. — Um sorriso surgiu em ambos os rostos.

 

Boruto continuou, o vermelho arrastava-se mais límpido nos ombros e braços, como uma obra de arte. Uma que ele mesmo queria descartar.

 

— O lago. — Mitsuki arqueou uma sobrancelha. — Podemos lavar-nos lá.

 

Só havia um som tranquilizante naquela noite, o da água escorrendo gentil entre os ramos, as ondas sendo absorvidas pela terra. Boruto conseguiu ouvi-lo antes mesmo da brisa, antes mesmo do sangue traçando seu trajeto.

 

— Boru…

 

— Tem roupa na minha mochila que podemos usar, eles vão nos encontrar mais facilmente se continuar pingando sangue por todo o lado!

 

Mitsuki parecia conter um riso.

 

Não restava ninguém para encontrá-los.

 

Mas assentiu.

 

Boruto continuou despindo a parte de cima do traje de Mitsuki. Ele não se arrepiava no frio, na verdade, nem conseguia dizer se estava frio ou quente. O tempo tinha parado desde que escaparam, a brisa movia-se longe dele e os sons estalavam ensurdecidos.

 

A queimação no peito não o desesperava agora, era impiedosa em desejo.

 

Engoliu em seco, removeu o próprio casaco, não tinha forças para continuar despindo Mitsuki. Os sapatos saltaram dos pés assim como as restantes peças.

 

Ergueu-se sem ajuda.

 

O vento expunha as sequelas na pele,  o ardor pedia gritos e a postura encolhia-se a cada passo. Porém a liberdade anestesiava, a mão de Mitsuki no seu ombro anestesiava.

 

Deixaram as roupas a poucos metros do lago, as de Boruto numa pilha cobrindo a mochila, e as de Mitsuki sobrepostas e dobradas.

 

Foi o primeiro a entrar, os pés atreveram-se nas bordas, a água cumprimentava amena entre a pele. Respirou fundo, não doeu daquela vez, andar veio aos solavancos, testando o terreno molhado, mas suave por baixo das solas.

 

A dor afogava-se com ele, continuou para a parte mais funda, coberto até às ancas quando decidiu olhar para trás.

 

Mitsuki seguia-o, não muito longe, chegou perto dele e segurou-o pelo braço. Boruto pretendia ir mais longe, até onde o luar se refletia belo no centro, a vontade de cegar-se nele era irrecusável, aliciava a cada momento, a cada estalar do brilho nas ondas.

 

Não iria sem ele.

 

Arrastou Mitsuki para mais fundo, hesitando quando a água atingiu-lhe a cintura.

 

Seria possível ter ciúmes do lago?

 

Se fosse, ele não entenderia, mas sucumbiu ao desejo de se colocar na frente de Mitsuki, as mãos em concha escorrendo. Encharcadas de pureza agora, Boruto levou-as ao peito dele, umedecendo os vestígios daquele sacrifício.

 

Ficaria apenas entre eles.

 

O sangue teimava entre as duas peles, Boruto perdia-se na sensação do peito de Mitsuki contra a sua palma, suave quando limpo, colava quando sujo, prendia-o sempre.

 

A pele brilhou limpa e Boruto teve o que queria, cegado pelo luar.

 

Precipitou-se para um abraço, que arrancou o primeiro ruído de Mitsuki desde que mergulharam. Um de surpresa e ânsia com as costas repentinamente molhadas. Abraçou-o de volta, não havia nada para limpar ali, apenas não queria largá-lo.

 

Uma chuva então escorreu pela sua nuca, fazendo Boruto soltar um grito.

 

— Seu cabelo ficou todo sujo também. — Boruto tentava recuperar a respiração.

 

— Podia pelo menos ter avisado! — Mitsuki riu.

 

— Eu te deixo fazer o mesmo. — Não é a mesma coisa se você sabe.

 

Salpicou-o com uma ponta a mais de agressividade. Mitsuki apenas sorria, por um momento, nada antes tinha acontecido, estavam apagando-o.

 

Mitsuki então se aproximou, segurando o rosto dele entre as mãos.

 

Os polegares arrastaram-se lentos e puxavam a bochecha, delicados por baixo dos olhos. Boruto fechou-os, sentia o aperto do sangue desgastar-se e por fim sentiu-se limpo.

 

Mitsuki levou a palma à própria face, limpando o restante que tinha escapado da ponta dos cabelos para o rosto. Boruto quis protestar.

 

Se apenas fosse imune ao sorriso que ele lhe deu.

 

— Vamos voltar?

 

O instinto foi gritar não, mas a euforia lavou-se junto e o cansaço agora pesava sobreposto à dor. Boruto sentia as pálpebras pesarem e sabia que Mitsuki notava também.

 

— Sim…

 

Sua mão entrelaçou-se na dele, a exaustão segurava-se aos seus braços, aos calcanhares, andar era difícil e lento contra a corrente.

 

Mitsuki era sua força.

 

Quando chegaram à margem, Boruto vestiu sua muda de roupa, abrigado e leve de novo. As vestes ensanguentadas permaneceram sobre a relva. Mitsuki ficava estranho com uma de suas blusas, branca e de manga comprida, mesclava-se com a pele e o luar. Era estranho de um jeito bom, continha aquele ingrediente que Boruto não conseguia nomear.

 

Acabaram de se vestir com o que restou de mantimentos  para uma missão que não deveria ter durado mais de três dias. Boruto desenrolou seu saco de cama.

 

— Não tem o seu?

 

Mitsuki balançou a cabeça.

 

— Não estou com sono, não se preocupe. — Iria protegê-lo.

 

— Pode ficar ao meu lado.

 

Os olhos de Mitsuki refletiam o luar melhor que o lago agora, arregalados. Boruto não tinha medo, aliás, teria mais se não o sentisse ao seu lado. Podia não entender por quê, não precisava.

 

Estendeu o saco de cama sobre o relvado, seu corpo caindo exausto logo após.

 

O riso de Mitsuki formigou fraco na pele. Boruto sentiu o corpo sendo remexido e apenas notou no frio que tinha quando Mitsuki o cobriu.

 

Deitou-se de costas, fitando o rosto distante.

 

— Tem espaço para você. — Mitsuki sorriu.

 

Pensava que iria haver mais protesto, mas rapidamente estava acompanhado naquele espaço estreito. Na verdade, o espaço não era muito, porém Boruto não fazia intenção de se deitar ao lado de Mitsuki.

 

Assim que o sentiu relaxar, jogou-se para o peito dele, a cabeça enterrada nos ombros e fazendo o amigo arrepiar-se com os cabelos molhados na pele.

 

Mitsuki rodeou sua cintura pelos braços, apanhando-o de surpresa quando o abrigou por baixo do seu corpo.

 

Havia algo a mais naquele abraço que nunca tinha sentido antes, nem mesmo nas noites passadas com o mesmo aperto. Mitsuki escondia-o por baixo de si como se houvesse perigo iminente, era um abrigo, um refúgio.

 

Um eclipse.


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Notas finais do capítulo

Muito Obrigada AleixiLady pela betagem ♥

Quaisquer comentários são bem vindos ♥



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