“We can’t waste time

worrying about the what if’s.”

— Ichigo Kurosaki, BLEACH.

O morno ar da manhã o acordou lentamente, lhe provocando uma inevitável preguiça e uma quase irresistível vontade de simplesmente voltar ao mundo dos sonhos. Espreguiçando o seu definido e esbelto corpo, ele levou a mão até o outro lado da cama, fazendo a sua palma passear pelos lençóis procurando pela macia pele dela. Quando percebeu que não a encontrava, se obrigou a abrir os olhos castanhos e resmungar ainda sonolento ao perceber que a sua visão apenas confirmara o que seu tato havia lhe informado anteriormente. Ela não estava mais lá.

O espaço que na noite passada ela havia ocupado agora estava frio, o fazendo imaginar que a moça teria levantado há horas deixando-o dormindo tranquilamente. Ele suspirou voltando sua atenção para o teto do quarto, não se incomodando em procurar por qualquer detalhe naquele cômodo feminino que lhe era tão familiar – não era a sua primeira vez ali e provavelmente não seria a última.

Inevitavelmente lembrou-se da primeira vez que havia entrado naquele quartinho pequeno... Após o casamento de Rukia, o rapaz tivera uma pequena conversa com o marido da morena, Renji, este com poucas palavras fizera o jovem finalmente perceber o que o seu imaturo coração há anos gritava. “Estás apaixonado por ela, não é?” Questionara o rubro seriamente, pegando Ichigo de surpresa e continuando: “Não deixe uma garota tão legal esperando por muito tempo.” Avisou com sabedoria dando um firme aperto no ombro do amigo de cabelos alaranjados, fazendo Ichigo compreender e aceitar os sentimentos escondidos que tinha pela moça e finalmente tomando coragem para chama-la para um encontro.

Colocando um dos braços para trás e apoiando a sua nuca, Ichigo deixou um fino sorriso nascer em seu rosto, recordando que o casal ficara quase três meses naquele ritual bobo de saírem para restaurantes, parques e cinemas, até um dia ele conseguir bravura suficiente para beijá-la em frente o apartamento da moça e finalmente pedi-la em namoro. Estava tão ansioso e impaciente, que até hoje ele não saberia dizer como conseguira fazer aquilo.

E alguns meses depois eles estavam juntos naquele minúsculo quarto. O rapaz encontrava-se tão nervoso e apaixonado quanto ela. Relembrando em rápidos flashbacks o quão provocador fora navegar naquele corpo cheio de ondas delicadas e como temeu machucá-la com o seu toque rude e desajeitado, reagindo a cada tímido suspirar que escapavam dos rosados lábios dela. Havia sido uma noite longa regida por dois jovens inexperientes que só desejavam entregar-se um ao outro, ignorando toda e qualquer censura exterior.

“Orihime?” Ele a chamou enquanto forçava seu corpo fadigado a se levantar, sentando-se no colchão e alongando seus definidos braços. O rapaz esperou pela resposta da garota, a qual não veio. “Ela deve estar lá embaixo...” Murmurou levando a mão direita até seus fios alaranjados, amassando-os de qualquer jeito – uma mania que havia adquirido desde criança.

Lento, ele aceitou que estava na hora de sair daquele ninho de paixão e procurar por ela. Não se preocupou em se vestir – uma bermuda já era o suficiente – ou em tomar banho, estava mais curioso em saber o que Orihime estaria fazendo acordada tão cedo, depois ele se preocuparia com esses pequenos detalhes. Desceu pelas escadas tediosamente e logo encontrou-se na sala conjugada a uma pequena cozinha.

Ichigo encostou o ombro esquerdo contra a parede enquanto cruzava dos braços e assistia a figura esbelta de Orihime cantarolar e cozinhar na frente do fogão a gás. Ele deixou seus orbes castanhos vagarem pela silhueta dela com calma, permitindo que um leve sorriso mais uma vez fosse esboçado em seus lábios finos. Uma reação comum em qualquer tolo apaixonado.

Ela mantinha os longos cabelos cor de caramelo presos em um coque frouxo, provavelmente feito de qualquer jeito em prol de manter os fios ruivos longe da comida. Tudo que ela parecia vestir era uma das camisetas dele, ficando ligeiramente larga na cintura fina da jovem e longa o suficiente para cobrir-lhe o bumbum arredondado. Era inevitável ele se questionar se ela se vestia assim para provoca-lo, ou se era simplesmente por ser mais confortável.

Ichigo se deixou ficar daquele jeito por mais alguns minutos navegando em suas lembranças. Percebendo o quão sortudo ele era em ter uma mulher como Orihime próxima dele, ela que mesmo após ser atacada, sequestrada e machucada em lutas sangrentas, não pensou em qualquer momento se afastar do rapaz – coisa que qualquer pessoa sensata teria feito logo no primeiro ataque. Pelo contrário, ela ficou junto dele. Se esforçou a ficar mais forte em prol de ajuda-lo a conquistar várias vitorias e se sacrificou pelo rapaz sempre que fora necessário. Provando-se ser uma mulher valente e leal.

E mesmo com essas guerras insanas que ele acabou por envolve-la, Orihime nunca deixou de ser uma jovem alegre e carinhosa, sempre disposta a ajudar a todos que precisassem. Ela era uma joia rara. E se ele pudesse compará-la a uma, provavelmente seria uma delicada pedra chamada: citrino. Esta era conhecida por ser chamada de “cristal da prosperidade e das energias solares”, tal gema era normalmente encontrada em belíssimas e elegantes tonalidades de amarelo ouro e laranja, famosa por sua beleza e energias especiais. Assim como os ditos “efeitos terapêuticos”, os quais os rumores diziam que a pedra citrino era apta a conceder energias positivas capazes de neutralizar negatividade, criar auras de proteção, estimular a vitalidade e a regeneração, e identificar possíveis perigos e ameaças.

“Uma coincidência e tanto.” Fora o comentário que Ichigo fez após pesquisar sobre tal pedra e perceber as incríveis semelhanças que Orihime tinha com a brilhante gema. Não só por conta de seus misteriosos poderes curativos e de proteção que possuíam a coloração de um gentil por do sol, mas também por causa da personalidade doce e contagiante da ruiva.

Ele suspirou voltando ao presente não se contentando em apenas observá-la, silenciosamente aproximando-se da ruiva e abraçando-a por trás, envolvendo o corpo dela com seus braços enquanto arriscava-se em beijar a clara pele do pescoço dela. “Acordou cedo, huh?” Falou sentindo a moça estremecer rapidamente “O que está fazendo?”

“Ichigo! Que susto!” Disse Orihime momentaneamente balançando uma das panelas, e tentando dividir a sua atenção entre a água fervente e seu namorado. “Bom dia dorminhoco. Não está tão cedo assim, sabia?” Brincou juntando os ombros aproveitando para deixar que Ichigo a abraçasse mais forte. “Estou preparando um café da manhã reforçado.” Explicou de forma animada.

“Não?” Ele repetiu desacreditado, assistindo Orihime balançar a cabeça minimamente para os lados. Confuso, Ichigo finalmente resolveu ir atrás de um relógio, seus olhos castanhos vagaram parede da cozinha até encontrar o incansável marcador do tempo e arregalou os seus orbes achocolatados ao se deparar com a hora. “Onze horas?! Por que não me acordou antes?”.

“Estavas tão cansado de ontem que não tive coragem de te acordar.” Revelou a moça com um sorriso fino, terminando de preparar o café, colocando a água quente no filtro com o pó escuro e aproveitando para colocar alguns ovos dentro de uma panela com água. “Aliás, sei que preferes ovos cozidos, tens algum ponto especial?” Perguntou.

Enquanto escutava Orihime lhe questionar sobre como ele gostava dos ovos, a visão de Ichigo continuava a passear pela cozinha, rapidamente encontrando uma mesa cheia de coisas. Orihime já havia se adiantado em pôr a louça e distribuir várias comidas ali, eram bolos, cupcakes, sanduiches, torradas... Provavelmente parte daqueles deliciosos alimentos eram as sobras da noite anterior onde eles teriam comemorado seu aniversário de namoro. Aniversário este que Ichigo acabou por estragar graças a uma emergência chamada “Hollow”. Um monstro espiritual que precisa saciar sua fome em prol de preencher o vazio em seu peito, não se importando em matar humanos se fosse necessário.

O rapaz imediatamente fechou os olhos força, fazendo uma careta de arrependimento ao perceber a besteira que tivera feito, lembrando-se de quando voltou para casa e encontrou Orihime dormindo no sofá, esperando pelo seu retorno. E não querendo acordá-la, o ruivo cuidadosamente a levou para o quarto, logo guardando todo o jantar e as sobremesas na geladeira dela, para então juntar-se a moça na cama e adormecerem juntos. Já estava cansado de como aqueles seres sobrenaturais e a sua responsabilidade como ceifador substituto estavam atrapalhando a sua vida.

“Ah... Eu gosto deles com a gema um pouco mole.” Respondeu ainda fitando a recheada mesa, sentindo aquele remorso azedo em sua boca enquanto escutava Orihime alegremente dizer que logo os ovos estariam prontos, informando que só precisariam esperar por alguns minutos. “Orihime.” Ele a chamou, virando a moça para si. “Sobre ontem... Eu sinto muito...” Tentou se desculpar de forma desajeitada, temendo que um dia a jovem se cansaria de tudo aquilo e preferisse se afastar dele.

“Não se preocupe, Ichigo.” Interrompeu a moça sorrindo compreensivamente, percebendo o olhar confuso no rosto do rapaz e antes que este pudesse questioná-la, ela continuou: “Não é a primeira vez que eu lhe vejo sair para salvar alguém em perigo, e eu sei que isso é importante.” Falava a ruiva segurando as mãos dele com carinho. “Eu já fui salva por ti diversas vezes e se não tivestes deixado de fazer alguma coisa em prol de me ajudar, talvez eu não estivesse aqui.” Disse relembrando da primeira vez que o alaranjado se arriscou para salvá-la do espirito corrompido de seu irmão, assim como na época que ele largou tudo para ir até o vazio e desconhecido Hueco Mundo para resgatá-la e trazê-la de volta para casa. “E sabendo que alguém poderia estar em uma situação semelhante à minha... Bom, eu acredito que não estou em posição de lhe exigir tanto.” Confessava movendo os ombros minimamente, demonstrando sua sabedoria e paciência. “Na verdade, quero que saibas que estarei aqui sempre para lhe ajudar.” Disse dando um sutil aperto nas grandes mãos dele. E com um suspiro a jovem se aproximou dele, levando a mão direita até o rosto preocupado do ruivo, lhe acariciando a pele com leveza. “E que estou feliz sabendo que voltastes para ficar comigo.”

Foi inevitável para Ichigo perder o fôlego, tentando recobrá-lo respirando fundo enquanto fechava os olhos e sorria com aquela declaração de amor e apoio de sua namorada. O ruivo levou a mão até a dela, acariciando-a enquanto puxava a cintura da moça para si e lhe dando um beijo lento e carinhoso, não pensando em quaisquer segundas intenções, apenas agradecendo silenciosamente o comprometimento de Orihime e prometendo a si mesmo que sempre voltaria para ela. Não se importando com os desafios que o casal provavelmente teria de lidar.

“Obrigado, Orihime.” Murmurou o rapaz após o suave beijo, observando o sorriso e as bochechas rosadas da ruiva. Ele encostou a testa na dela aproveitando aquele pequeno momento mimoso, quando Orihime simplesmente assustou-se ao lembrar dos ovos, preocupada em ter perdido o ponto da gema. A moça fugiu dos braços fortes de Ichigo, voltando a sua atenção para o fogão deixando seu namorado balançando a cabeça, achando graça de tudo aquilo. Ele suspirou voltando a encarar a mesa brevemente e sentiu uma pequena ideia iluminar a sua mente, dizendo: “Orihime, que tal a gente fingir que hoje ainda é o dia de ontem?”

“Como assim?” Questionou a ruiva retirando a panela do fogo e levando-a até a pia, logo abrindo a torneira e jogando água fria nos ovos para em seguida tentar descasca-los.

“Bom, pensei em continuar a comemorar o nosso aniversário.” Tentou explicar o rapaz aproximando-se da mesa, já começando a recolher alguns pratos e colocando a sua ideia em prática. “Sabe, continuar de onde paramos ontem.” Falou jogando a isca, já imaginando que Orihime concordaria.

“Oh! Parece ótimo!” Falou a voz da ruiva animada, sonhando com mais um romântico dia junto do alaranjado. “Ah! Quente!” Reclamou sentindo a clara cozida incomodar a fina pele de seus dedos. “O que gostarias de fazer agora, Ichigo?” Perguntou voltando ao assunto.

“Que tal começarmos tomando café na cama e assistindo algum filme?” Propôs já colocando os pratos, os cupcakes e os sanduiches em uma bandeja grande. “Pelo horário, e pela quantidade de comida, duvido que nós iriamos almoçar agora.” Disse já carregando a bandeja.

“Hmmm... Faz sentido.” Falou a moça achando graça enquanto colocava os ovos cozidos em um prato junto com queijos cortados em cubos e rodelas de salame defumado. Ela percebeu Ichigo já carregando a maior parte dos alimentos e após uma risada breve, ela disse: “Bom, pelo o que eu vi, já estás com quase tudo pronto sem nem esperar pela minha resposta, não é?” Ironizou brincalhona. “Tudo bem, pode levar a bandeja lá pra cima, eu levarei o resto.”

Orihime assistiu o rapaz concordar com a cabeça e cuidadosamente caminhar com a bandeja, equilibrando-a facilmente enquanto subia as escadas até o quarto dela. A ruiva suspirou contente terminando de reunir as xícaras, a garrafa térmica e o prato de frios com ovos em uma segunda bandeja – esta menor do que a que Ichigo segurava – e seguiu os mesmos passos do seu namorado cuidadosamente.

Ao chegar no pequeno cômodo, ela encontrou Ichigo sentado na cama com o controle em mãos, escolhendo algum filme interessante para o casal e a bandeja repousando na cama, dando espaço suficiente para a ruiva sentar-se confortavelmente ao lado do rapaz e posicionar a segunda bandeja próxima da maior sem temer em acidentalmente sujar tudo.

“Então, o que veremos?” Perguntou a ruiva acomodando-se ao lado de Ichigo, logo sentindo seu corpo sendo abraçado pelo braço esquerdo do rapaz, trazendo-a para mais perto. Ela sorriu enquanto o escutava murmurar de forma pensativa, e aproveitou para servir café para ambos. “Quer café?” Perguntou oferecendo a xícara a ele.

“Não tenho certeza.” Respondeu Ichigo observando as inúmeras opções que apareciam na brilhante e colorida tela da televisão. Desviou sua atenção rapidamente ao sentir o cheiro do café e ver Orihime lhe oferecendo uma caneca. “Ah, obrigado.” Agradeceu aceitando a xícara, aproveitando para provar aquele líquido delicioso brevemente. “Seria bom se fosse algum filme que fosse divertido e que nos deixe conversar de vez em quando.” Falou o ruivo dando de ombros.

“Hm...” Murmurou Orihime apoiando a nuca no ombro definido do rapaz, logo imitando-o em beber o café. “Que tal uma animação?” Propôs levando os olhos claros para o rosto pensativo de Ichigo. “Normalmente lá tem um pouquinho de tudo. Tem ação, comédia, romance, drama...” Ela listou lembrando-se dos vários filmes animados que já tinha visto. “E podemos conversar sem problemas.”

“Tens razão.” Concordou o ruivo relaxando o pescoço, apoiando a bochecha no topo da cabeça de sua namorada enquanto escolhia o filme que veriam juntos e após clicar no botão “play” começou a desfrutar daquele café da manhã cuidadosamente preparado para o casal. Juntos, eles comiam os sanduiches, assistiam ao filme e riam com os comentários um do outro, sempre trocando pequenas carícias inocentes. Arriscando-se em até trocar pequenos beijos quando o filme tornava-se menos interessante.

Já estavam quase no final da trama cinematográfica quando Orihime percebeu que Ichigo estava ligeiramente distraído, provavelmente pensando em alguma outra coisa. Ela o espiou morder o lábio inferior de forma preocupada e séria, uma expressão completamente diferente da qual ele tinha a meia hora atrás. “Ichigo, estás bem?” Perguntou um pouco apreensiva.

“Ah, estou. Não se preocupe.” Respondeu o ruivo evasivamente, apenas aumentando ainda mais a curiosidade da moça. Todavia Orihime não tentou perguntar novamente, a jovem não gostava da ideia de forçar alguém a fazer alguma coisa, logo preferindo permanecer quieta e esperar.

O filme já estava em seus minutos finais e Orihime percebia o nervosismo crescer no corpo de Ichigo, a ruiva observava o rapaz vez ou outra fechando as mãos com força e respirar fundo, como se estivesse em conflito com seus pensamentos e decidindo algo importante. “Hm...” Murmurou a moça com preocupação, logo escutando seu namorado forçar uma tosse. “E-Eu acho que vou levar as bandejas lá para baixo.” Disse já recolhendo tudo e equilibrando-as em suas mãos.

“Eu te ajudo!” Falou Ichigo se oferecendo rapidamente, obviamente tentando esconder que estava sendo perturbado por pensamentos.

“Não precisa.” Interrompeu Orihime forçando um sorriso, já se levantando e carregando tudo. “Eu já volto, Ichigo.” Avisou saindo do quarto, escutando um pesado suspiro ser reproduzido pelo rapaz de cabelos laranjas. Ela descia pelas escadas com calma, refletindo sobre o esquisito comportamento do ruivo e não conseguindo evitar em fazer diversas suposições, tentando adivinhar o que estaria acontecendo com ele.

Estaria ele cansado do relacionamento deles? Ela teria feito algo que o incomodasse? Por que ele mudou de postura de uma hora para hora? Eram tantas possibilidades que a ruiva apenas ficava ainda mais ansiosa... Ela precisou respirar fundo quando chegou na cozinha e colocou toda a louça na pia, dizendo para si que não deveria se desesperar e chorar. Tentando se convencer que talvez tudo aquilo seria apenas a sua mente lhe pregando peças.

“Vamos Orihime, estás exagerando!” Falou sozinha balançando a cabeça para os lados enquanto dava tapinhas em suas bochechas. Esforçando-se em esquecer aqueles pensamentos maldosos. “Vamos voltar para o quarto. E se ainda estiveres insegura, vamos perguntar ao Ichigo novamente!” Se encorajou, apoiando a si mesma. E decidida, ela voltou para o quarto e encontrou Ichigo assistindo a outro filme. “Cheguei.” Disse fingindo alegria.

“Ah, oi.” Ele disse ao vê-la se aproximar, abraçando-a novamente com o braço esquerdo e voltando a fingir que estava prestando atenção no novo filme. “Pode deixar que depois eu lavo a louça, tudo bem?”Falou mantendo a conversa fria, recebendo apenas um acenar de cabeça de Orihime como confirmação, acompanhando de um suspiro.

Eles ficaram daquele jeito por alguns minutos e Ichigo vez ou outra espiava a moça pelo canto dos olhos, percebendo que ela estava incomodada com algo. Em silêncio, o ruivo se perguntava se Orihime havia descoberto tudo e que só estava esperando para que ele tomasse alguma atitude. “Hm... Não é possível.” Ele pensava enquanto voltava sua visão para a televisão. “Eu só falei isso para o Chad e ele jurou não contar nem para a Tatsuki!” Ele refletia começando a temer que talvez a sua irritada amiga de infância tenha conseguido arrancar o seu segredo de Yatsutora e logo em seguida contado para Orihime.

“Hm... Orihime.” Ele a chamou hesitante, logo se deparando com aqueles dois brilhantes olhos que pareciam tão preocupados quanto o ruivo. “Por acaso, tens falado com a Tatsuki recentemente?” Perguntou ligeiramente ansioso pela resposta da jovem.

“Tatsuki?” Repetiu Orihime fazendo uma expressão confusa, não entendendo o motivo de seu namorado estar perguntando sobre a morena. “Não, faz quase uma semana que não ligo para ela.”Respondeu fazendo uma pequena nota mental que deveria voltar a entrar em contato com a sua melhor amiga. “Por quê a pergunta? Aconteceu alguma coisa?” Questionou preocupada.

“Ah, não! Está tudo bem!” Respondeu o rapaz nervosamente. “E-Eu só queria saber se vocês tinham conversado recentemente.” Tentou pateticamente explicar tudo aquilo de forma evasiva, logo forçando novamente uma tosse e fingindo que voltara a assistir ao filme.

“Hm...” Murmurou a moça confusa e apreensiva, analisando as agitadas reações dele. “Está tudo bem mesmo?” Ela perguntou ansiosa, observando o rapaz apenas concordar com a cabeça. “Certo.” Falou com um suspiro quase triste e voltando a encarar a televisão, mesmo que sua mente a obrigasse a refletir tudo aquilo de forma negativa.

Ichigo discretamente fitava a postura descontente da ruiva ao seu lado, e com um pesado suspiro ele a abraçou mais apertado e desligou a televisão. “Não adianta, eu não consigo mais esconder isso.” Ele confessou levando a mão até seus cabelos alaranjados, bagunçando-os. “Eu já me decidi.” Disse virando-se para confusa moça ao seu lado.

“O que quer dizer com isso?” Perguntou Orihime sentindo um gelado arrepio correr pelo seu corpo, temendo o que as palavras de Ichigo poderiam significar. Ansiosa, ela sentia pensamentos negativos invadirem a sua mente que lutava para se manter otimista. Agoniada, a moça precisou segurar as próprias mãos para que o ruivo não percebesse que ela estava tremendo e fez de tudo para engolir as lágrimas que faziam seus olhos começarem a arder.

“Bom, eu estive pensando muito sobre nós ultimamente.” Falou Ichigo desviando o olhar da ruiva, reunindo coragem para continuar a expressar os seus pensamentos e as suas recentes decisões.“Conversei com o Chad sobre isso e... Digamos que ele tenha me ajudado a enxergar a tudo com mais clareza. Por isso te perguntei sobre a Tatsuki, pois não sei se ela acabou descobrindo ou não.” Ele explicava tentando se manter calmo, e quando voltou a encarar Orihime, encontrou o doce rosto da moça vermelho, ligeiramente inchado e banhado em lágrimas prematuras. “Orihime, o que foi? Por que estás chorando?”

“N-Não se preocupe comigo.” Ela gaguejou levando as mãos até o rosto choroso, tentando secar o seu ansioso pranto infantil. “Apenas termine de falar, por favor.” Pediu ainda escondendo sua face em suas trêmulas palmas, assustando-se minimamente quando sentiu as quentes mãos do rapaz envolver seus finos pulsos.

“Mas eu preciso que olhes para mim.” Falou Ichigo fazendo Orihime abaixar as mãos e hesitantemente levantar os olhos para ele. Ao fazer isso, o rapaz a recebeu com um sorriso gentil conseguindo acalmar o coração aflito da ruiva e deixando-a ainda mais confusa. “Orihime.” Disse usando a mão esquerda para carinhosamente envolver as trêmulas dela. “Eu sei que provavelmente percebestes que eu fiquei estranho hoje, não é?” Perguntou assistindo a moça apenas concordar com a cabeça. “É, eu imagino que tudo esteja confuso para ti... Eu queria ter feito isso ontem, mas por conta do incidente com o hollow...” Comentou dando um rápido rolar de olhos, logo alargando o sorriso em seus lábios e de trás do travesseiro, o alaranjado retirou uma pequena caixa que até então estava escondida dos brilhantes olhos da jovem e a abriu. “Então farei isso da forma correta.” Disse exibindo dois anéis distintos, um maior que parecia ser masculino e um menor, mais delicado e feminino. Este último era ornamentado com três pequenas gemas, duas menores eram citrinos de tom amarelo ouro e a do centro um rubi incandescente. “Orihime Inoue, gostarias de se casar comigo?” Perguntou finalmente.

As lágrimas de medo e apreensão de Orihime transformaram-se para felicidade. “Ah, Ichigo...” Ela disse sorrindo, levando as mãos aos lábios, quase não acreditando naquilo que seus olhos estavam presenciando e reprovando as suas tolas dúvidas anteriores. “É claro que sim!” Respondeu abraçando o seu noivo, perdendo-se nos beijos carinhosos dele apenas interrompendo-os quando o rapaz pediu para colocar o anel em seu dedo anelar.

Juntos vestiram os anéis que marcavam o novo passo de seu apaixonado relacionamento e, após trocarem olhares gentis e amorosos, perceberam que apenas beijos não pareciam ser o suficiente para expressar o que sentiam naquele momento. Sabendo que tinham a necessidade de demonstrar toda aquela felicidade e paixão com abraços, toques ardentes, mordidas provocantes e suspiros eloquentes. Incansavelmente se movimentando entre os lençóis desarrumados.