Algo maior que eu escrita por 1mpar


Capítulo 6
Uma ironia não tão grande




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765508/chapter/6

                Mirlanda ficou surpresa com a visita logo pela manhã, tentou não agir muito apressadamente ao se aprontar, penteou os cabelos, escolheu um belo vestido, borrifou duas vezes um pouco do seu melhor perfume que quase nunca tinha chance de usar, desceu as escadas segurando a ansiedade e quando finalmente adentrou a sala viu o Hobbit sentado aguardando bem quieto.

                —Suas roupas ainda não foram entregues —ela disse se sentando no sofá a frente dele.

                 —Não vim aqui por isso.

                —Então por que não me diz o que me dá a honra da sua presença.

                —Você disse que tinha um trabalho, vim aceitar.

                —Oh que grande surpresa. —Ela não parecia exatamente surpresa, mas havia no seu rosto um sorriso sádico de satisfação. —Ontem acabei entendendo que você não queria nem pretendia se submeter.

                —Eu mudei de ideia, se me aceitar senhorita, estarei a sua disposição.

                Agora sim Mirlanda estava surpresa, nem sabia que o pequenino podia ser tão cortes, nem parecia o mesmo Hobit irritado que ela havia visto no dia anterior.

                —Eu poderia saber o que te fez mudar de ideia assim da noite para o dia? —Ela estava realmente interessada.

                O Hobbit estava relutante em responder, sabia que isso ia contra o que havia dito antes e isso podia fazer com que aquela mulher se sentisse ainda mais superior.

                —Eu preciso de ouro, se me pagar não me importo de arriscar minha vida.

                A Elfa arregalou os olhos agora o pequeno estava agindo mesmo como um mercenário comum, deveria haver algum bom motivo por trás da mudança, talvez tivesse tido uma noite ruim e acabou percebendo que o ouro manda na cidade e depois de ver todo aquele luxo ao seu redor ficou claro como se deve viver. Por algum motivo a Elfa meio que perdeu o encanto com o pequenino, agora ele falava como um mercenário normal, normal até demais.

                —Vamos para outra sala, quero discutir os detalhes da missão.

                —Sim senhorita —ele disse após se levantar e curvar a cabeça e sinal de respeito.

                —Não me chame assim! —Ela rosnou. —Me da nojo.

                O Hobbit já esperava por algo assim então só a seguiu em silencio.

                Eles subiram as escadas seguiram pelo corredor até o final onde havia uma porta, a Elfa tirou uma chave dourada que trazia em um colar no pescoço e abriu a porta, aquela sala não tinha janelas então Mirlanda usou uma magia simples que acendeu todas as tochas nas paredes instantaneamente. Ali tinham estantes de livros e uma mesa grande com várias cadeiras, algo parecido com um escritório.

                —Sente-se em qualquer lugar.

                Enquanto o Hobbit se acomodava ela abriu um cofre escondido na estante e tirou uma caixa pequena toda decorada com joias e ouro, a caixinha foi aberta com a mesma chave da porta e de lá ela retirou o pergaminho que haviam retirado da masmorra, ela cuidadosamente abriu o pergaminho sobre a mesa revelando um mapa, na verdade só parte de um mapa, uma parte estava rasgada.

                —A missão é bem simples, quero a outra parte desse mapa, eu sei onde está e pretendo partir o mais rápido possível, o local é bem mais distante e muito mais perigoso que a masmorra do outro dia, porém não pretendo contratar mais ninguém.

                —Acha que só nos dois damos conta? —Ele perguntou com gentileza.

                —Você não disse que estava pronto para arriscar sua vida? Se não era uma mentira então deve ficar tudo bem, além do mais aquele ataque na floresta prova que tem alguém atrás do mesmo que eu e agora sabe que eu tenho a primeira parte do mapa, então desta vez pretendo ser bem precavida, um grupo grande só iria chamar atenção, da última vez ficou bem claro que números não significa força nem segurança de sucesso. Vamos partir em 3 dias.

                —Tudo bem, já que está tudo resolvido vou me retirar —ele disse fazendo reverencia pronto para sair.

                —Espera ainda não resolvemos tudo, não quer saber quanto vou pagar?

                Claro —ele disse se voltando para ela, não é que não se importasse, mas havia esquecido de perguntar mesmo, além do mais já quase não suportava ter que aderir aquele comportamento submisso.

                Mirlanda voltou ao cofre e ele pode ouvir o barulho das peças de ouro, logo ela jogou sobre a mesa uma algibeira abarrotada.

                —Aí tem 500 peças, é metade como de costume, a outra metade será paga quando voltarmos. Espero que seja o suficiente. —Pelo que conhecia do Hobbit ele certamente deveria reclamar por ser um valor alto demais, era ainda mais alto do que ela havia pago para o grupo inteiro dos mercenários do qual ele fez parte, mas para surpresa da garota ele calado apanhou a algibeira em cima da mesa e disse:

                —Não tem medo que eu desapareça com isso.

                —Se não aparecer daqui a 3 dias só vai me mostrar qual é o seu caráter e que no final das contas não valia mesmo a pena te contratar, estou pagando 500 peças de ouro para saber se posso confiar em você.

                Sem dizer mais nada o Hobbit saiu, seu sangue estava fervendo, se sentia desonrado, mas o peso daquele ouro em suas mãos era o suficiente para aplacar sua raiva, só de pensar no que poderia fazer com todo aquele ouro ele já podia sorrir sem problemas.

                Mirlanda ainda ficou um tempo naquela sala, estava irritada e decepcionada, o caráter do Hobbit não era o que parecia no final das contas, todos se dobram para o ouro uma hora ou outra, mesmo assim ainda haviam muitas coisas estranhas nele, ele não perguntou para onde iam nem do que a Elfa estava atrás, ele se conformava em saber o mínimo, talvez ele já soubesse de alguma coisa, mas o mais provável é que ele realmente não estava interessado, de qualquer forma alguns minutos depois Mirlanda decidiu que não valia apena ficar pensando naquilo a perturbação que havia sentido nos últimos dias desapareceu completamente.

                Assim que retornou Kyssares foi recebido com um abraço de Emily.

                —Você voltou mesmo —ela disse feliz da vida.

                —Eu sai bem cedo, não queria te acordar, mas avisei o velho que não ia demorar.

                —Eu disse a ela —disse o velho Bell se aproximando. —, essa aí nunca me escuta.

                —Eu trouxe algumas coisas. —Kyssares trazia nas costas uma grande sacola que parecia pesada, colocou no chão com cuidado. —Eu não queria voltar de mãos vazias.

                —O que é isso? —Perguntou a menina curiosa.

                Assim que o Hobbit abriu deu para sentir o cheiro bom que subiu, as crianças começaram a se aglomerar.

                —Tem pão, bolo a maioria eu não sei o nome, a padaria estava com uma promoção incrível aí eu trouxe um monte de coisa para tomar café, aqui. —Ele colocou as alças da sacola nas mãos do garoto mais velho. —Leve e dívida com todos.

                As crianças fizeram um alvoroço, falando todas juntas seguindo o garoto Kyssares sentiu que o que havia passado com a Elfa havia valido a pena quando o velho Bel colocou a mão no seu ombro.

                —Vamos conversar, meu rapaz.

                Eles se distanciaram um pouco e então o velho Bell começou:

                —Eu sei que fez isso na melhor das intenções, mas por favor você tem que ter mais responsabilidade, não pode ficar mimando crianças pobres.

                —Desculpa, não foi minha intenção.

                —Eu sei que não, mas amanhã quando elas acordarem vão lembrar do gosto do pão que comeram hoje e ainda vai levar alguns anos para que essas crianças possam conquistar o próprio pão.

                —Desculpe. —Kyssares não havia tido aquele pensamento nenhuma vez enquanto comprava os pães, aparentemente a vida era ainda mais complicada do que ele podia prever.

                —Pelos Deuses Hobbit, você tem um belo coração, mas não sabe nada sobre economia, se tinha ouro para comprar doces podia ter pensado no almoço.

                —Isso não vai ser problema, aqui está. —Ele tirou a algibeira e colocou na mão do velho.

                —O que é isso? —O velho perguntou mesmo sabendo a resposta.

                —Eu consegui um trabalho de verdade dessa vez, isso é só metade acredita? Quando eu voltar vou trazer a outra metade. Isso deve dar para pagar o café o almoço e o jantar até eu voltar. Sabe os pães estavam realmente baratos e eu não queria voltar com as mãos vazias então eu comprei se me preocupar com as consequências.

                O velho Bel não sabia como responder aquele gesto.

                —Kyssares, minha primeira reação seria recusar sua oferta, mas você deve saber que um velho como eu não está em posição de recusar esse ouro já que as crianças precisam muito dele.

                —Não ofereci para você recusar, olha isso.

                A cena era simples, um bando de crianças comendo felizes sentadas no chão, em troncos, espalhadas em volta da cabana e perto da praia.

                —Sae o que isso me diz? —Perguntou o Hobbit, mas não aguardou resposta alguma. —Que precisamos de uma mesa grande, talvez mais que uma, e muitas, muitas cadeiras.

                —Isso seria bom. —O velho concordou.

                —Também precisamos construir uma casa de verdade, bem maior que essa cabana, com quartos e muitas camas, era nisso que eu estava pensando essa noite.

                —Pensei nisso por muito tempo.

                —Por isso permita que eu ajude, vou trabalhar duro e aí podemos criar um lugar melhor.

                —É isso mesmo que quer?

                Kyssares já ia responder quando Bel estendeu a mão e disse algumas palavras, uma luz branca surgiu ao redor do Hobbit.

                —Responda por favor.

                —Desejo ajudar a construir um lugar melhor aqui com você e as crianças.

                Assim que terminou de falar o velho retirou mão e disse:

                —Eu estava pronto para te ameaçar caso houvesse alguma intenção maligna por trás desse seu ato divino, mas parece que A luz ainda não esqueceu esse velho aqui, não havia mentira alguma no que disse agora nem sombra no seu coração.

                —Você diz umas coisas bem estranhas.

                O velho Bell deu uma gargalhada que surpreendeu até as crianças a alguns metros longe.

                —Você é interessante jovem, te aviso que as crianças se apegam rápido as pessoas, então se fizer alguma delas chorar eu te perseguirei até o inferno.

—Achei que não fosse me ameaçar.

Mesmo sorrindo o velho parecia mesmo assustador.

3 dias depois

As 5 da manhã Kyssares já estava na porta da mansão, teve de aguardar quase meia hora até que um servo aparecer. Foi conduzido até a parte detrás da mansão onde haviam outros servos já bem ativos, carregavam algumas bolsas para uma carroça e preparavam os cavalos. Um deles apresentou ao Hobbit uma pequena sacola de papel.

—Suas roupas senhor, pode se trocar lá dentro. —Disse o homem e se retirou.

O Hobbit não foi acompanhado em nenhum momento, encontrou um cômodo livre em que pudesse trancar a porta e se vestiu. Ficou impressionado com o magnifico trabalho, mas talvez fosse só a sensação de usar roupas novas, mesmo assim ao se olhar no espelho parecia outra pessoa, a roupa era cinza, mas tinha uma boa parte coberta com um couro preto que ele não reconhecia, se assemelhava com uma armadura protegida nos lugares certos para facilitar a mobilidade, mas bem leve e discreta, havia também uma capa preta, está bem justa para o tamanho dele. Como já havia admitido a alguns dias atrás o ouro podia mesmo fazer diferença. Junto com as roupas encontrou também um bilhete com algo escrito, mas era uma língua que ele não compreendia então só guardou para que pudesse arranjar alguém que traduzisse depois.

Assim que saiu encontrou-se com a Elfa já de armadura e preparada para partir.

—Que grande surpresa, não é que você apareceu.

Grande surpresa? Ela começou a caçoar de mim bem cedo. Ele pensou.

—Bom dia. —Foi só o que ele disse.

Saíram pelas portas dos fundos.

—Senhorita, enviamos a carroça com o restante dos equipamentos para o barco, está tudo pronto para sua partida. —Disse o homem que parecia algum tipo de mordomo assustador.

—Barco? —O Hobbit indagou.

—Saberia dos detalhes se não estivesse com tanta pressa no outro dia. —A resposta da Elfa foi seca.

Com um movimento preciso ela montou no cavalo e logo o mordomo indicou o outro animal para que o Hobbit subisse.

—Não sei cavalgar nessa coisa. —Ele pareceu envergonhado em admitir.

—Um mercenário que não sabe cavalgar? Já não estou muito certa se fiz bem em te contratar.

—Eu sei cavalgar, mas essa coisa é alta demais. —Dessa vez o tom de voz dele não escondeu sua irritação por completo, de certa forma a Elfa até gostou de ver um resquício daquela personalidade forte que ele tinha mostrado antes.

—Então vamos logo. —Ela estendeu a mão para ele já esperando o drama que viria a seguir, mas o pequenino mesmo envergonhado e irritado segurou a mão dela que com um puxão o trouxe para cima do cavalo.

Era mesmo alto para ele, segurou firmo no único lugar que havia para segurar a cintura da garota que não perdeu tempo e colocou o animal para andar. A Elfa corria rápido pelas ruas de Siattes, naquela hora não havia muita gente transitando nem muitas carroças então o caminho era livre, mesmo assim dava medo, porem ele ficou bem agarrado a ela então pode sentir novamente o perfume daquela garota e isso era o suficiente para considerar uma viagem agradável.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Algo maior que eu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.