Algo maior que eu escrita por 1mpar


Capítulo 10
Palavras com grande significado




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                Mirlanda levantou o olhar para ter certeza de que aquilo era real. Viu sair do meio da nuvem de fumaça e poeira o Alado segurando o corpo do pequeno Hobbit.

                —Como isso é possível? —Ela disse desacreditada.

                —De várias formas na verdade. Para ser bem claro, desde o início me derrotar era uma tarefa impossível, mesmo assim reconheço que causaram bastante dano a este corpo.

                De fato, Lirida estava muito ferido, mas estava de pé e parecia bem confiante. Era quase impossível achar forças para se levantar diante daquele oponente aterrorizante, só ao observar o rosto do pequenino sem vida sendo carregado pelo alado Mirlanda forçou suas pernas e se levantou pronta para dar sua vida se fosse preciso para vingar seu companheiro.

                —Se de por satisfeita. —Ele disse deitando Kyssares no chão. —A luta terminou.

Cuidadosamente estendeu a mão sobre o Hobbit e começou a recitar palavras em uma língua que nenhuma das duas entendia.

                —Afastes suas mãos dele! —gritou a druida enfurecida.

                —Tudo bem. —Mirlanda disse se aproximando da colega. —Essa língua, isso é celestial.

                Terminado de proferir as palavras magicas suas mãos começaram a brilhar e o brilho dourado se estendeu pelo corpo inteiro do rapaz.

                —Acontece que a maioria dos meus poderes são de cura e proteção, ou servem para destruir o mal, isso acabou me deixando em desvantagem para enfrentar vocês.

                —Qual o significado disso? —Mirlanda perguntou.

                —Como eu disse antes foi uma promessa. Meu amigo o paladino me disse que se algum dia alguém profanasse seu tumulo eu deveria julgar se eram dignos, eu devia saber que seria assim, há um círculo de proteção em volta do lugar, se fossem de natureza maligna nem teriam conseguido entrar.

                —Então isso era só um teste? —Perguntou a druida indignada, observando enquanto as feridas do Hobbit se curavam.

                —De certa forma e devo dizer que fiquei maravilhado com a determinação desse pequeno aqui.

                O Hobbit se levantou bruscamente como se tivesse acabado de ter um pesadelo.

                —Minha corda! —Ele gritou.

                —Calma, calma você está bem agora —disse Samires se aproximando.

                —O que foi que aconteceu?

                —Ele te curou —indicou a druida.

                Kyssares tomou um susto se virando para Lirida meio confuso com o que havia acontecido.

                —Acalme-se pequeno, não tenho intenção de continuar lutando. Minha promessa para com meu amigo já foi cumprida. —Dito isso a luz em sua mão se expandiu alcançando toda a sala e os ferimentos das meninas também começaram a curar. —Tem alguém aqui que parece muito mais perigosa para você do que eu.

                A Elfa permanecia calada e de cabeça baixa.

                —O que foi? —O Hobbit perguntou e recebeu um soco bem dado logo depois da pergunta. —Que droga por que fez isso?

                A Elfa claramente irritada ignorou a pergunta já que a resposta era bem óbvia, mesmo assim Samires explicou:

                —Depois do que fez é claro que ela ia ficar nervosa, nós achamos que você tinha morrido. —Ao fim da frase já estava chorosa com os olhos úmidos.

—Mas alguns minutos e estaria morto Hobbit. Teve sorte —Lirida comentou.

                —Nem começa com isso Samires —disse Kyssares. —Nós acabamos de nos conhecer, essa sua reação está um pouco incoerente. Além disso seu lobo continua caído e você ainda não demonstrou nenhuma preocupação.

                —Ele morreu, mas não precisa se preocupar com isso, é um espirito guardião, eu trago ele de volta. —Ela disse com um sorriso no rosto limpando as lagrimas.

                —Pelo visto isso acontece bastante.

                —Mais do que eu gostaria de admitir. —Ela admitiu.

                —Já que tivemos todo esse trabalho, o que eu busco deve estar aqui —disse Mirlanda se dirigindo a Lirida.

                —Não tenho certeza do que exatamente Enrriel queria proteger, sinta-se à-vontade para procurar.

                Mirlanda caminhou até o tumulo do herói que estranhamente não havia nada além de um pergaminho.

                —Os restos dele não deveriam estar aqui?

                —Seu corpo foi queimado, é uma medida dos paladinos para prevenir que seus corpos sejam usados por necromantes. Só o fato de existir um tumulo já é estranho.  Encontrou o que procurava?

                —Encontrei, já podemos ir.

                —Foi mesmo uma honra conhece-los —disse Lirida. —Certamente são dignos do que vieram buscar. Você Hobbit, quando lutar tente não ter tanta pressa em morrer. Da próxima vez pode não ter um anjo por perto para te trazer de volta.

                —Então é isso que você é, um anjo?

                —Achei que fosse obvio, peço perdão pela inconveniência, se me dão licença tenho que voltar agora.

Tendo se despedido o estranho ele se dissipou se tornando luz e eles partiram para a viajem de volta.

                —Consegue nos guiar pela trilha mesmo a noite? —Mirlanda perguntou logo que saíram do templo notando que já havia escurecido.

—Sem o Lupe vai ser complicado —respondeu a Druida. —Não é uma ilha grande de qualquer forma, mas não temos como saber o que anda por essa mata a noite.

—Talvez seja melhor passarmos a noite aqui mesmo. —O Hobbit sugeriu.

—Vamos indo, não quero perder mais tempo. —Mirlanda ainda parecia irritada, foi logo seguindo caminho sem se importar com a opinião dos outros.

—O que deu nela? —Ele perguntou para Samires.

—Precisa mesmo perguntar? Depois do que você fez, podia pelo menos se desculpar.

—Por que eu deveria me desculpar? Só fiz o que achei necessário.

—Claro, você não sabe mesmo como lidar com as mulheres.

Eles seguiram em silencio pela floresta noturna confiando nas habilidades da druida para ler o caminho a frente, não demorou muito para alcançarem a praia. Era uma visão deslumbrante, a luz da lua refletida nas ondas do mar onde o barco estava ancorado.

—Eu estou cansado, depois de voltar ao barco vamos passar alguns dias sem ver terra de novo, isso é um saco, será que podemos dormir aqui essa noite?  —Kyssares perguntou esperando aprovação da Elfa.

—Já que sugeriu, eu gostaria de trazer Lupe de volta e só posso fazer isso em uma floresta, seria ruim viajar sem ele.

O olhar da Elfa mostrava claramente que ela era contra, mas com o pedido de Samires ela acabou cedendo e se sentou na areia para não precisar dizer nada.

—Ótimo, vou fazer uma fogueira e levantar acampamento —disse o Hobbit animado.

—Eu vou começar o ritual para evocar o Lupe, vai demorar umas horas, encontro vocês depois. —Dito isso a Druida tornou a entrar na floresta.

—Será que ela vai ficar bem sozinha? —O Hobbit só perguntou para puxar assunto, mas a Elfa ignorou.

—Até quando vai ficar brava comigo?

Mais uma vez ela não respondeu.

—Quantos anos você tem, por acaso ainda é uma criança para agir dessa forma?

—Cala a boca, seu imbecil! —Ela gritou. —Que merda foi aquela que você fez?

—Não consigo entender. Eu não deixei bem claro que daria minha vida se fosse necessário, quando eu luto eu nunca penso em perder você entendeu? Eu também sou um guerreiro, você olha meu tamanho e me trata como uma criança, morrer em uma batalha é um destino totalmente aceitável para quem escolhe carregar uma espada.

—Você é mesmo um idiota, quem foi que falou do seu tamanho aqui? Você pega uma espada e já sai achando que é um guerreiro, eu devo ter o dobro da sua idade já conheci muitos guerreiros e você não se parece nenhum pouco com nenhum deles, pirralho.

—O que disse? —Kyssares sentiu aquelas palavras ferirem sua alma.

A Elfa repetiu tudo que havia dito em élfico.

—Se quiser posso repetir em dracônico, abissal e mais três línguas, talvez você entenda alguma delas.

O ataque fez o sangue do Hobbit ferver ele mal sabia como reagir tão pouco o que fazer, custou a manter o controle então voltou para a pilha de galhos que estava fazendo e decidiu que o assunto estava encerrado. O silencio era ainda mais alto do que o estalar da fogueira e o barulho das ondas na praia, a Elfa agora mais calma já havia se arrependido pelo que disse, bem que gostaria de uma oportunidade para se desculpar, mas o Hobbit parecia ainda bem irritado.

 —Vou ver onde a druida está. —Ele disse e saiu sem dar chance da Elfa dizer nada.

Samires caminhou com cuidado pela floresta até achar um local adequado para a cerimônia, se ajoelhou e começou a orar, não demorou muito para se conectar com o espirito da floresta a grande mãe verde. Kyssares andou pela floresta a noite enquanto praguejava ao vento, não estava exatamente preocupado em encontrar a druida naquele momento só queria ficar sozinho, quando ouviu um ruído vindo de uma clareira ele se calou e caminhou furtivamente, avistou um pequeno bando de porcos do mato, era muita sorte encontrar caça a noite sem nem mesmo ter procurado, Kyssares puxou uma faca e arremessou sem dúvidas, atingiu um porco em cheio e os outros fugiram na noite. O Hobbit se aproximou da sua presa morta e retirou sua faca da cabeça do animal.

Se eu não fosse tão fraco nada daquilo teria acontecido. —Ele pensou.

A luz da lua estava bem forte naquela noite e ali no meio do nada sem ninguém por perto Kyssares sentiu toda a limitação de sua raça, toda sua impotência por ter nascido em um mundo de gigantes, furioso ele sacou sua espada e golpeou uma arvore a sua frente, bateu de novo e de novo, e repetidas vezes até ficar sem folego, o caminho da espada era mesmo difícil, muito diferente de um estudante de magia que cada vez que aprende uma magia nova sente tão claramente uma evolução, para um guerreiro mesmo após golpear 1000 vezes seria difícil saber o quanto evoluiu.

Mirlanda estava sozinha e isso para ela não era nenhuma novidade, no entanto naquela noite ela se sentia ainda mais só do que normalmente. As palavras que havia dito para o Hobbit ecoavam em sua mente, ele havia sido um idiota, ela estava com raiva e com razão, sabia por que estava com raiva e sabia que tinha esse direito, mas não tinha direito de ter sido tão cruel.

“Se continuar agindo assim vai terminar ficando sozinha. ” Se lembrou daquelas palavras, uma previsão feita por um amigo a muitos anos atrás, na época ela não se importava, mas agora depois de tanto tempo se sentia como uma pessoa completamente diferente e mesmo assim presa a velhos hábitos. Decidida a fazer algo a Elfa se levantou e partiu em busca do Hobbit, andou por uns 10 minutos, não seria tão simples encontra-lo se ele não estivesse tão agitado, ela se aproximou calmamente e pode ver ele golpeando a arvore, dava para entender o que ele sentia enquanto batia no tronco, era como se dissesse para si mesmo que iria ficar mais forte, um espasmo do seu corpo ao ouvir as duras palavras dela.

—Não estava cansado? —Ela disse se aproximando.

O Hobbit parou, mas não disse nada, nem se virou para ela.

—Desculpe pelo que eu disse, eu só estava nervosa pelo que aconteceu. —Até ela se espantou com a facilidade que teve em ser tão sincera.

—Aquilo só aconteceu por que eu fui fraco, sempre que eu entro em uma luta tenho em mente que posso morrer, por isso eu dou o máximo que eu posso desde o início, eu não guardo minhas forças e sempre estou pronto para correr riscos, no fim isso não passa de uma fraqueza.

—Para mim mais parece que está tentando se matar, acha que se morrer no campo de batalha pode se considerar um guerreiro, dessa forma sua espada é inútil.

—Inútil? —O Hobbit ficou chocado, se virou para a Elfa esperando explicação.

—Sua espada deveria servir justamente para o contrário, nesse mundo onde a morte pode estar esperando em qualquer esquina, a espada no punho de um guerreiro serve para lutar contra o fim. Vai encontrar força de verdade quando lutar para respirar, para viver e proteger os que estão ao seu redor, cada batida do seu coração vai servir para segurar ainda mais forte sua espada e prolongar seus dias. É disso que são feitos os maiores heróis.

O Hobbit ouviu com atenção cada palavra Mirlanda disse em silencio, não saia bem se concordava com que ela estava dizendo, mas captou claramente que aquela mulher não queria que ele morresse, ela estava dizendo para que ele vivesse, isso era o bastante, uma mensagem que qualquer homem orgulhoso teria dificuldade de entender, mas os sentimentos dela, ele compreendia bem, embora ainda tivesse dificuldade para aceitar.

—Não esperava que fosse me dar um sermão —disse sorrindo tentando quebrar um pouco a seriedade da conversa.

—Não era minha intenção, eu preferia te socar de novo.

—Acho que eu preferiria ser socado. —Dito isso ele percebeu um movimento detrás da Elfa, sem tempo para reagir ele viu Mirlanda ser picada por uma serpente que era quase da mesma cor do galho em que estava enrolada bem acima dela.


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