Algo maior que eu escrita por 1mpar


Capítulo 1
Um pequeno e discreto início de algo maior




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Naquela idade já devia estar acostumado com os olhares de cima; ele certamente gostaria de ver todos a sua volta como companheiros de jornada, mas era difícil, já que ninguém reconhecia sua presença como útil. Não podia negar que sua aparência não inspirava confiança, principalmente naquela situação. Era pequeno e fraco, mas mesmo que o mundo não acreditasse, ele acreditava em seu potencial e estava disposto a esperar pacientemente por uma oportunidade de se provar. Era no que pensava quando alguém trombou nele situação costumeira.

Me desculpe. Ela disse antes de ver no que havia esbarrado. Logo depois levou um susto. Minha nossa, por que tem uma criança aqui?

Eu não sou... Ele pretendia se explicar de uma forma bem rude, para deixar bem claro, mas foi interrompido por um dos mercenários ao lado.

É um Hobbit, senhorita Mirlanda. Provavelmente alguém achou que seria útil ter um ladino conosco.

O sangue do pequeno Hobbit ferveu.

           Eu não sou... Ele já ia dizendo, quando foi interrompido mais uma vez.

           Senhorita... O mercenário chefe veio se aproximando. Encontramos a última câmara da masmorra. Mandei que todos os grupos se reunissem na entrada.

Claro, eu já vou. Ela disse, com uma cara bem séria; Então se voltou para o Hobbit e abriu um sorriso. Tome cuidado, pequenino. E saiu.

           O Hobbit ficou ainda mais nervoso. Mesmo depois de saber que ele não é uma criança, ela ainda agiu daquela forma. Imperdoável, mas nem mesmo o pequeno poderia ir contra aqueles belos olhos azuis. Mirlanda Narudim, a elfa feiticeira, conhecida em toda Siattes por sua beleza e poder. Até onde se sabia, era a única Elfa negra de Siattes. Sua pele bronzeada de nascença como se fosse abençoada pelo sol, o cabelo total oposto, branco e brilhante como a lua e os olhos azuis bem claros: Uma combinação que não se via todo dia, nem mesmo na grande capital. Só sua imagem já seria digna de admiração; e seus feitos não eram menos notáveis.

       Todos os pequenos grupos que estavam espalhados pela masmorra se reuniram a frente da passagem. Dali podia-se ver o salão grande e dourado, mas o que mais chamava a atenção era um golem de pedra imóvel em seu centro, humanoide, de uns 2 metros de altura e com um cristal vermelho no peito.

         Venha por aqui, senhorita. Dizia o chefe mercenário, abrindo espaço para a Elfa entre os outros do bando. Ninguém entrou ainda. Acredito que haja uma armadilha mágica na entrada. Algo relacionado com aquela criatura no centro.

        Aquele deve ser o guardião do tesouro da masmorra. Ela disse. Nosso último desafio.

           Manda o Hobbit primeiro, para ver se tem armadilhas. Alguém sugeriu.

              É para isso que serve o ladino. Outro concordou.

              O pequenino tomou a frente, nervoso.

              Eu não sou um ladino! Quantas vezes eu vou ter que dizer?

              Após alguns segundos tentando digerir a informação, alguns começaram a rir.

           Que fofo! Disse uma humana arqueira.

           Olha a espada dele! Parece um palito de dentes. Comentou um bárbaro.

         Não havia muito o que fazer a não ser ouvir os risos. O hobbit se virou em direção à entrada do salão, de costas para todos, nervoso e rangendo os dentes.

           Desculpe por isso. A doce voz feminina vinha detrás da sua orelha pontuda. Ele se virou rapidamente e deu de cara com Mirlanda, ajoelhada a sua frente com o rosto na altura do dele.

          Não tem problema Ele disse depois de se virar mais uma vez. Não dava para ir contra aqueles olhos.

           Consegue dizer se existe alguma armadilha? Ela perguntou, gentilmente.

            O Hobbit deu mais dois passos para frente, ficando bem próximo da entrada. Ele não queria admitir que sabia identificar armadilhas: Era como aceitar que era um ladino. Mas depois de ouvir aquele pedido, naquele tom tão doce, ele não podia fazer nada.

           Ali na frente tem uma pedra que não está selada como as outras. consegue ver? Ele disse, apontando. Com certeza é algum dispositivo. Deve ter mais lá dentro. Fora isso, tem essa inscrição acima da porta.

            É Dracônico. Comentou o chefe dos mercenários. “Poder disperso é poder nenhum.”

              Deve ser uma pista para superar o guardião. — Disse o Hobbit.

           Não importa, ele é só um. Com certeza trouxemos mais pessoal do que o criador da masmorra esperava Disse o líder dos mercenários, se voltando para o grupo. Vamos entrar e lutar contra aquela coisa.

           De fato, eram muitos. Arqueiros, guerreiros, bárbaros... mais a feiticeira Elfa, que havia organizado a expedição. Um total de 24 aventureiros experientes. Matar um golem não seria trabalho difícil, mas o Hobbit estava com um mal pressentimento.

            Fique aqui, baixinho. Se não vai se machucar. Alguém disse, ao passar por ele.

          Não se preocupe, você já cumpriu com seu trabalho. Outro falou, adentrando o salão.           

         A senhorita espera aqui. Disse o líder. Vamos derrotar o monstro e nos assegurar que o salão esteja seguro. Ele claramente estava tentando impressioná-la.

       Assim que o grupo entrou, o golem começou a se mover e aos poucos ia mudando de forma, se tornando maior. Com o grupo reunido e pronto para o combate, o golem agora tinha 3 metros e meio e 6 braços; cada um com uma arma diferente, tudo feito de pedra.

           Em frente! Gritou o líder, e o ataque começou.

          Não demorou para o grupo notar que a criatura era mais forte do que o esperado, se defendia com velocidade e tinha ataques pesados, arremessando para longe mesmo aqueles que conseguiam se defender. Flechas não penetravam, e mesmo aquelas que conseguiam atingi-lo não causavam muito dano. Do lado de fora a Elfa e o Hobbit assistiam a cena, imaginando se os mercenários iriam dar conta.

Não se preocupe, senhorita. Está tudo sob controle! Gritou o chefe lá de dentro.

Ele era o único que conseguia lutar bem contra o monstro. Mesmo estando com dificuldades, tinha êxito em bloquear seus ataques sem ser repelido. Mas então as coisas começaram a dar errado. A criatura ficou ainda mais feroz e começou a matar um por um. A cena mudou de uma hora para outra: expressões e gritos de desespero, uma arqueira tentou fugir, mas acabou pisando em uma armadilha, daquelas que o Hobbit havia alertado, e foi atingida por um punhado de lanças que desceram do teto com muita velocidade. A elfa Mirlanda arregalou os olhos, pasma com o que havia acontecido. Antes de ter tempo para pensar, um braço voou pela porta, caindo próximo dela; era o braço do líder. Todos lá dentro agora estavam em apuros.

            Eles não sabem trabalhar em grupo. Disse o Hobbit. Poder disperso é poder algum... é isso.

              Sem pensar muito, a elfa deu um passo à frente e começou a conjurar uma magia.

Não faça isso. Disse o Hobbit, segurando a mão dela. Tem alguma coisa estranha nessa sala e você é a única aqui que sabe usar magia. Não é prudente entrar lá.

Tire suas mãos de mim! Ela disse, agora com um tom bem diferente. Não sou covarde como você, que consegue ficar aqui parado enquanto eles morrem na minha frente.

Assustado, o Hobbit soltou a mão dela, que prosseguiu para dentro enquanto gesticulava e proferia as palavras mágicas. Segundos depois ela lançou sobre o monstro uma espécie de raio vermelho, que explodiu no peito de rocha da criatura. As coisas se acalmaram um pouco. Os feridos começaram a se mover na direção da saída, mesmo sem ter certeza se haviam derrotado o golem. A fumaça se dissipou e então puderam ver novamente o inimigo estava ainda maior que antes e, mais importante que isso, acima de sua cabeça surgiu uma esfera brilhante. Mirlanda tentou correr na direção do líder dos mercenários, que estava mais próximo da criatura, gemendo de dor pela perda do braço. A elfa parecia saber o que era a esfera brilhante.

Cuidado! Ela gritou e então houve uma explosão. Mirlanda foi arremessada para fora da sala, saiu rolando e caiu desacordada enquanto do lado de dentro não dava para ver mais nada devido a fumaça preta. Mas o silêncio absoluto denunciava muito bem o que havia acontecido.

O Hobbit correu até a elfa, ela estava gravemente ferida. Rapidamente ele tratou de cuidar dos ferimentos mais graves do jeito que pôde. Tirou estilhaços de pedra da barriga e da perna, parou o sangramento, limpou as feridas com água e fez curativos. Não era nada demais, só repetiu o que já tinha visto algumas vezes durante suas poucas aventuras anteriores àquela. Ao fim dos procedimentos, tinha certeza que por hora ela estava fora de perigo. Dentro do salão o que havia sobrado eram apenas partes dos seus colegas de expedição. O golem voltara para a posição inicial, estava menor outra vez, imóvel.

O pequeno passou um tempo pensando... O melhor seria levar a Elfa de volta, para fora da masmorra mesmo que fosse trabalhoso para alguém com o tamanho que tinha, aquele Hobbit se sentia capacitado para isso. Mas o que ela diria ao acordar? poderia chamá-lo de covarde mais uma vez? Uma outra coisa lhe vinha à mente. Havia algo naquela masmorra que aquela garota realmente queria. Era ela quem teve todo o trabalho de reunir aqueles lutadores e haviam passado os últimos dias verificando cada um dos caminhos daquele labirinto subterrâneo. Não era por diversão ou por simples espírito aventureiro; era óbvio que ela estava atrás de algo e aquele salão era o único daquele tipo em toda masmorra e não haviam achado nada de valor por ali antes.

Depois de alguns minutos pensando, ele se decidiu. Abriu sua mochila, preparou alguns equipamentos, despiu parte da armadura queria só o necessário , deixou o resto e se posicionou na frente da passagem.

É agora. Ele disse para si mesmo. Não dá para saber se o que estou pensando vai dar certo, mas no melhor dos casos, queria muito que tivesse alguém aqui para ver isso.

Ele entrou determinado e logo o golem começou a se mover. Tomou uma forma diferente, como de um humano; exceto que, ao invés de mãos, de um lado ele tinha uma espada e do outro escudo, igual o pequeno Hobbit.

Foi o que eu imaginei.

O pequenino avançou contra o monstro, pois ainda tinha uns testes para fazer. Deu um primeiro golpe, que o golem defendeu com facilidade e contra-atacou com velocidade. Surpreendentemente, o Hobbit também foi capaz de se defender com igual habilidade. Trocaram mais alguns golpes enquanto ele aproveitava para dar uma boa olhada na pedra no peito da criatura. Era seu coração, isso era óbvio. Todo aventureiro sabia disso, mas tirá-la dali seria complicado, ainda mais com aquele escudo protegendo. Felizmente era uma pedra grande e irregular, com grandes arestas. Isso foi o suficiente para o pequenino bolar um plano.

Primeiro precisava de tempo. Se moveu até o que restou do corpo de um aventureiro morto, onde havia um martelo de guerra bem surrado. Era muito pesado para ele utilizar em uma luta, mas com algum esforço carregá-lo não seria problema. Jogou para o lado sua espada e seu escudo, pois precisaria das mãos livres; se preparou. Ficou de peito aberto, esperando um ataque pesado. Com seu oponente indefeso a sua frente, o golem desferiu um golpe de cima para baixo, afim de cortar sua vítima ao meio. Já preparado, o pequeno guerreiro simplesmente rolou para o lado, agarrou o martelo e bateu com força na espada da criatura, que havia atingido o chão. Foi um golpe forte com ajuda do peso da arma o suficiente para quebrar a espada feita de pedra do golem.

Isso vai me dar algum tempo. O Hobbit se afastou um pouco, ciente que a criatura ia logo tratar de se regenerar. Ajeitou seu arpel¹, cortou a corda do tamanho certo com uma faca e se preparou. Você conhece algumas táticas de combate. Que patético! A armadilha perfeita contra grupos inteiros, limitada ao meu nível. Achei que ia até diminuir, mas acho que quem te projetou não pensou que um Hobbit iria entrar aqui sozinho. De qualquer jeito, eu não tenho força suficiente para arrancar essa pedra do seu corpo. Então só vou ter essa chance.

A essa altura o golem já havia se regenerado por completo e vinha caminhando na direção do pequeno, que rapidamente atirou contra ele sua faca.

Vai se proteger?

Conforme o planejado, o golem ergueu o escudo e se protegeu da faca, mas com isso o Hobbit teve tempo para se mover. Correu na direção da criatura, que com o escudo levantado não podia vê-lo, e deslizou pelo chão – por baixo das pernas no monstro. Com um movimento certeiro no curto espaço de tempo que teve, arremessou o gancho na pedra no peito da criatura, enganchando-o com precisão na aresta entre a pedra e o corpo rochoso. Antes mesmo do golem reagir, o pequeno passou a corda por cima do ombro do monstro que se virou para atacar, mas assim que ergueu a espada, teve seu braço laçado com a outra ponta da corda. O Hobbit tratou de apertar o quanto pôde, mas acabou tomando uma escudada e foi arremessado uns 2 metros de distância no chão. Se levantou meio atordoado, mas satisfeito. O trabalho estava feito. O golem permanecia com a espada levantada, a corda prendendo seu braço passando por cima do ombro, pelas costas, por entre suas pernas e enganchada na gema do peito.

Duvido que tenha alguma inteligência para se soltar. Disse o pequenino enquanto olhava pelo salão. Procurava por armadilhas, mas também por alguma coisa que pudesse ter algum valor. Sei que você foi feito para ter a mesma força somada de todos que entram aqui, por isso ficou tão fraco só comigo. Mas para seu azar, eu estou acostumado a lutar contra oponentes mais fortes que eu. O golem continuava indo na direção do Hobbit com a espada levantada, mas ele parecia não se importar. Achei incrível que também possa adquirir a habilidade de usar magia, mas eu trabalho com outra coisa; a única coisa que para você é impossível de conseguir: a esperteza. Esse é o meu poder.

O Hobbit andou pelo salão até encontrar uma abertura bem fina na parede, o que para ele obviamente era uma passagem secreta. O golem chegou bem perto, enquanto ele procurava uma forma de abrir a passagem. Mas assim que decidiu dar o golpe e baixou a espada, o braço puxou a corda que forçou o gancho e retirou a pedra do peito dele, que caiu instantaneamente, virando uma pilha de rochas.

Essa corda é a mais forte que se pode encontrar e esse arpel o mais resistente. É a única coisa valiosa que eu tenho. Acho importante ter bons equipamentos. Ele disse, apanhando do chão o coração da criatura – que parecia ter algum valor. Como eu sou azarado! Queria muito que tivesse alguém aqui para ver isso.

 


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Notas finais do capítulo

¹ (gancho usado para escalada)



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