Obrigou-se a se levantar, afinal, tinha que trabalhar. Colocou-se de pé com dificuldade, e ainda com seus olhos praticamente fechados, foi até o banheiro, se despiu, e ficou por longos minutos sentindo a água quente cair sobre seu corpo. Sua cabeça latejava, e se amaldiçoava por ter bebido tanto naquela noite.

Findou seu banho, ainda se sentindo indisposto, porém, colocou seu terno, um óculos escuro, tomou uma aspirina e foi para o trabalho.

Rápidos flashes sobre a noite anterior vinham em sua cabeça, mas nada que lhe fizesse muito sentido. Não se lembrava de quase nada que havia acontecido depois que chegou lá. Quanto mais tentava forçar suas memórias, mais sua cabeça latejava. Então por fim, desistiu de se torturar, era uma festa idiota, não tinha porque ficar tentando se lembrar do que aconteceu, talvez fosse melhor realmente esquecer.

Como já esperava, seu dia não havia sido nada produtivo. A dor de cabeça não havia melhorado em nada e por causa disso, mal havia conseguido se focar em seus afazeres. Decidiu que se daria o restante da tarde de folga, afinal, ele lá ou não era a mesma coisa naquele estado. Colocou-se de pé rapidamente, e no mesmo momento se arrependeu por isso, sentiu sua cabeça latejar e parecia estar tudo girando ao seu redor. Apoiou-se na mesa para não  correr o risco de cair e precisou de alguns instantes para conseguir voltar ao normal, respirou fundo com seus olhos agora fechados, se martirizando por ter bebido tanto noite passada.

— Acho que alguém passou dos limites ontem a noite… — A voz de Naruto se fez presente, e seu tom estridente era mais irritante agora do que normal.

— Fale baixo, baka! — Resmungou o Uchiha levando ambas as mãos aos ouvidos. — Eu apenas me excedi um pouco. — Debateu. Mesmo que internamente concordasse com Naruto, jamais falaria isso em voz alta.

O Uzumaki revirou os olhos e se ofereceu para levar o amigo para casa, mas antes, passaram em uma lanchonete para tomar um café. E mesmo reclamando, Sasuke acabou por ceder. Naruto pediu dois cafés, um deles bem forte para ver se assim o Uchiha melhorava de sua ressaca. Sentaram-se em uma mesa na janela, e não demorou muito para que viessem servi-los. Naruto agradeceu pelos dois, e empurrou uma das canecas para o Uchiha que estava jogado na mesa da lanchonete.

— Bebe logo isso pra ver se você para de passar vergonha. — Recriminou-o, mas no fundo sentia vontade de rir.

Apesar de contrariado, deu um longo gole no café que o loiro lhe oferecerá, pedindo internamente que aquilo realmente lhe ajudasse um pouco. Permaneceram em silêncio por um longo tempo e quando o terceira copo de café preto chegou, Sasuke pareceu estar um pouco melhor.

— Já estou ótimo, podemos ir. — Colocou-se de pé ao findar a frase, agradecendo pelo chão não rodar abaixo dos seus pés por ter feito o ato tão repentinamente.

Naruto pagou a conta, e Sasuke foi tomando seu café no caminho. Já podia sentir a cafeína fazendo efeito em sua corrente sanguínea. Havia tomado uma aspirina, então tudo acabou por fazer efeito contra sua insistente dor de cabeça.

Voltaram para o carro de Sasuke - que Naruto dirigia por motivos óbvios - e o loiro deu continuidade ao caminho para o apartamento do Uchiha.

— Olha, sei que o que Sakura está fazendo é bem complicado, ainda mais pra você. — Ele fez uma pequena pausa e aproveitou para encarar o Uchiha. — Mas não dá pra você ficar passando vergonha desse jeito. Nem parecia você ontem a noite... — Terminou com um suspiro.

Sasuke pareceu demorar para assimilar aquela frase, virou-se para citar a janela do carro e engoliu seco.

— Ainda mais pra você… — Repetiu as palavras do loiro levemente amargo e soltou um sorriso sem graça.  — Ela fez a escolha dela, espero que ela realmente saiba lidar com isso. — Encerrou o assunto.

Não demorou muito para que tivesse chego. Naruto deixou o carro de Sasuke na garagem e garantiu que não haveria problema nenhum em voltar para o escritório de táxi.

— Se precisar é só chamar, Teme. — Assentiu o loiro dando as costas. Segundos depois o mesmo olhou por cima do ombro com seu enorme sorriso contagiante. — Mas se for possível… não precise! —

— Baka… — Murmurou o Uchiha girando-se acima de seus calcanhares indo em direção ao elevador. Subiu até a cobertura, finalmente chegando em seu apartamento.

Demorou mais do que o normal para abrir a porta, já que até mesmo o barulho do molho de chaves lhe incomodava. Praguejava mil e uma coisas em sua mente, naquele momento o mau humor emanava no jovem como nunca. Retirou as roupas formais que usava somente para trabalhar e colocou uma bermuda qualquer confortável e deixou o peito desnudo, com seu peitoral másculo e viril a mostra. Jogou-se no sofá da sala e ligou a televisão, deixando em um programa qualquer, olhando-o mas sem prestar atenção realmente.

Acabou por pegar no sono, e acordou somente quando ouviu o barulho estridente da campainha. Ficou por uns segundos atordoado, já havia anoitecido e não soube dizer por quanto tempo havia dormido e nem que horas eram. Foi quando a campainha tocou pela segunda vez, que ele se lembrou que tinha que atendê-la.

Se levantou rapidamente, mesmo que preguiçoso e foi até a porta. Os efeitos da bebida já haviam passado graças a combinação de aspirina, café e boas horas de sono. Espreguiçou-se no caminho até a porta, e quando a abriu não pode evitar se assustar.

— Sakura? — Indagou confuso. — O que está fazendo aqui?! — Não quis parecer rude, mas sua presença deixou o Uchiha confuso.

— Ahn… — A Haruno pareceu desconcertada e um pouco corada, e só aí ele se lembrou de que estava sem camisa. — V-vim ver se estava bem. Você saiu meio alterado ontem… — Ela fundou a frase tentando desviar seu olhar do peito nu de Sasuke. — Mas pelo visto ela bem, então já vou indo. — Ela já está a dando meia volta quando dei um passo a frente segurando seu braço.

— Espera. — Pediu, por reflexo. Não sabia exatamente porque estava fazendo aquilo, mas estava. — Não quer entrar?! — Perguntou em dúvida. Ela pareceu se surpreender, e ainda corada, assentiu.

Deu passagem para que ela entrasse primeiro, então assim que ela o fez  fechou a porta. Levou a destra até a parte de trás da cabeça, coçando-a levemente desconfortável. Não sabia o que fazer, pareciam dois estranhos em um mesmo cômodo pela primeira vez, quando na verdade Sakura estava sempre ali lhe fazendo companhia. Pigarreou para tomar coragem já que o silêncio estava presente a mais tempo que de costume entre os dois.

— E então… — Iniciou com medo de perguntar o que realmente queria saber. — Você já fez? — Não foi preciso terminar a frase para que ela soubesse do que ele estava falando.

— Ainda não. — Quando ela pode perceber um resquício de esperança no Uchiha, já se adiantou. — Mas eu ainda não desisti. O procedimento será feito em dois dias. — Seu tom de voz era firme. — Mas não foi por isso que eu vim aqui… — Continuou um pouco hesitante.

— Então porque veio? — Perguntou seco, enquanto se jogava no sofá novamente. Indicou com a cabeça para o assento vago no sofá, para que ela se sentasse. Ela pareceu corar novamente, mas permaneceu com seu semblante sério, e o fez.

— Eu havia lhe dito que assim que o bebê nascesse eu iria para Londres… — Começou em um tom de voz baixo, como quem estava procurando as palavras certas. — Mas os planos mudaram um pouco...

— Os planos mudaram? — Repeti a sentença em forma de pergunta e ela engoliu seco.

— Tsunade achou melhor que eu passasse por minha gestação lá, assim ela poderia me ajudar. — Soltou a notícia um tanto insegura. — E também porque ela queria fazer o parto do bebê, diz que será como um neto pra ela… — Pareceu tentar mostrar justificativas para convencer o Uchiha.

Sasuke permaneceu em silêncio com a notícia, apenas assimilando as informações que a rosada lhe trouxera de surpresa. Não soube quando sua vida começou a virar de ponta cabeça tão rapidamente. Parecia que cada vez que via Sakura, ela vinha com uma notícia diferente para acabar com seu dia.

— Não vai dizer nada? — Perguntou, insegura.

— Quando você vai? — Sua pergunta direta fez a rosada vacilar. Não esperava por isso tão rapidamente.

— Semana que vem. — Disse com pesar.

A frase de Sakura foi como um balde de água fria. Semana que vem. Respirou fundo, tentanto assimilar todas aquelas noticias que ela despejou em cima dele.

— Então acredito que tenha vindo se despedir, não é? — Sorriu amargo ao findar a frase.

— Sabe que não gosto de despedidas… — Fez uma pequena pausa. — A única que não consegui convencer a não me acompanhar até o aeroporto foi Ino. Ela disse que é o mínimo já que ela não vai poder ver o sobrinho dela nascer. — Deu um breve sorriso com a informação.

O Uchiha apenas assentiu, permanecendo em silêncio, já que não havia nada que pudesse falar. A Haruno o encarava apreensiva, como quem esperava que ele falasse algo, mas não o fez. Não havia nada para ser falado naquele momento. Não concordava com nenhuma das atitudes de Sakura, e depois do que ela falou, percebeu que ele parecia ser o único a discordar. Todos à estavam apoiando de uma forma que ele não estava fazendo, e acreditou que talvez a vinda dela naquele momento, era simplesmente para tentar mais uma vez ter seu apoio.

Decidiu que no restante do dia, não iria mais repreendê-la. Daria uma trégua apenas para que pudessem ser eles mesmos novamente. Convidou-a para jantar, o que a deixou surpresa, mas de uma forma boa. Ela aceitou e então pareceu que o clima entre os dois estava mais leve.

Sakura sugeriu que vissem um filme, e apesar dele sempre acabar dormindo no meio deles, aceitou. Ela parecia empolgada com o enredo, ao mesmo tempo em que ele nem sabia exatamente do que se tratava, mas vê-la tagarelar animadamente sobre algo novamente lhe deixava feliz.

Passou a maior parte do filme apenas observando-a de canto de olho, não queria tirar sua atenção dela, afinal, não sabia quando iria vê-la novamente e esse pensamento lhe dava um enorme aperto em seu peito. Quando ela parecia perceber, disfarçava desviando seu olhar, escondendo seu rosto corado.

Quando o filme finalmente acabou, Sakura se espreguiçou e soltou um longo bocejo.

— Acho que esta na hora de ir. — Levantou-se.

— Se quiser, pode dormir aqui. — Disse rapidamente, e virou o rosto para que ela não pudesse ver o rubor em suas bochechas após o comentário impensado.

A rosada também corou com a proposta, mas balançou a cabeça negativamente.

— Obrigada, Sasuke-kun. Mas preciso mesmo ir… — Ela disse e envolveu o moreno em um abraço demorado.

Estavam ambos tão despreocupados, que só depois que já se prolongavam mais que o normal no abraço, puderam perceber que não era um abraço qualquer. Sakura se surpreendeu ao sentir o corpo quente de Sasuke contra o seu. Ele ainda estava sem camisa, e aquilo despertava sensações que a rosada jamais experimentou. A mão de Sasuke foi até a nuca da Haruno, acariciando seus cabelos com delicadeza enquanto ela ainda o envolvia fortemente em seus braços. Quando aos poucos foram se soltando, a proximidade de seus rostos foi impactante. Sasuke podia sentir a respiração quente de Sakura em seu rosto, seu hálito doce e inebriante. Olhou demoradamente na imensidão de seus olhos verdes, e por alguns instantes perdeu completamente sua lucidez se aproximando ainda mais da Haruno. Pode sentir seus lábios roçando nos dela, e já estava prestes a tomá-la para si quando a mesma se desvencilhou de seus braços dando um passo para trás.

Ficaram em silêncio após aquele momento, tensos e novamente a tranquilidade que existia entre os dois se fora. Sakura foi até a porta, e o Uchiha a seguiu, para que pudesse abrir a porta para ela.

— Adeus, Sakura. — Foi tudo o que disse antes de levantar a canhota, e tocou a testa da Haruno com o indicador e o médio, fazendo-a se surpreender com o gesto.  Sorriu fracamente e ligeiramente envergonhada, e então deu meia volta, pegando o elevador e partindo do apartamento.

O Uchiha a observou partir, e somente quando a porta do elevador se fechou, ele entrou novamente em seu apartamento, frustrado. Talvez aquela tenha sido a última vez que ele havia, sabe Deus por quanto tempo. Mas tinha que deixar que ela seguisse seu caminho, mesmo que este fosse para longe dele.