Send your dreams 

Where nobody hides 

Give your tears 

To the tide 

• 

“Ela escuta seu pai dizer seu nome. 

Ele diz, e é simples. É uma falha tentativa de tatear as palavras finais, cheias de conforto. Elas trazem a felicidade de um bom dia e de um sorriso. Elas trazem o orgulho da primeira nota 10 na escola, comemorações em parques de diversão e o sorvete no fim de tarde. Elas trazem a calmaria de um jantar para dois e de dirigir de volta para casa. Essas palavras trazem promessas. É tudo que eles deveriam ter tido, mas nunca terão.”  

Laura lembra-se de acariciar seus cabelos e chorar, tolamente, esperando que algo extraordinário fosse acontecer; como em uma revista em quadrinhos. Entretanto, a realidade era cruel, e na vida real quando as pessoas morriam... elas morriam.  

Desde então, apenas silêncio recepcionava seu luto. 

— Mas o que ele pensa que está fazendo?! – Ciclope esbravejou. 

Até agora. 

Havia um herói correndo entre os vilões. Um herói que não esperava uma conversa ser iniciada, ou uma arma ser carregada, ou um tiro ser disparado... não, ele agia antes disso tudo sequer começar. E ele não lutava, não, ele era forte demais para qualquer vilão. 

Era o seu herói. 

O Wolverine. 

— Ele pulou do jato... 

— Esse não era o plano! 

— Quer dizer isso pra alguém que age por puro instinto? – a ruiva arqueou as sobrancelhas e o mutante suspirou. 

— Ok, mas temos prioridades, vamos. 

Eles começam a se mover na direção contrária e Laura arregala os olhos. — Qué? No! 

— Tudo bem, você está segura. – Scott tentou conforta-la. 

— No, no, no! Acabo de encontrarlo! No! Yo tengo que- Dejarme ir hasta él, por favor. 

— O que? O que ela está dizendo? 

— Eu não sei, eu- 

Se contorceu, rejeitando o firme abraço em que estava. 

— Ela está nervosa, solta ela. 

— Mas Jean- 

— Scott! 

— AAAAAAAI! – Scott a largou imediatamente. — MAS O QUE- ELA ME MORDEU! 

— Eu tentei avisar. Ei, ei, não! Espera! Você tem que ficar com a gente. – a mulher a segurou pelos ombros. — Não é seguro, entende? No puede. 

Laura a encarou como se fosse louca. É claro que não era seguro, seu pai não estava seguro. 

Olhou pra trás, o Wolverine usava das garras para se defender, os empurrando com chutes e os ferindo como podia. Os caçadores estavam se mostrando falhos ao tentar cerca-lo, mas até quando? Laura perguntou-se. Até quando seu pai iria aguentar ficar de pé? 

Ele precisava dela; precisava da X-23. 

— Jean, qual é o problema? 

— Eu não sei, Scott, ela- – Jean? Laura virou, piscando. — Me conhece? 

Que curioso, era quase como se- 

— Ah, é sim. – ela revelou, fazendo-a arregalar os olhos. — Tudo bem, tudo bem! Eu não li a sua mente, eu juro! Eu só ouvi por cima, você está muito agitada.  

A garota crispou os lábios, preferindo ignorar lembrar-se da última vez que alguém rondou sua mente. Aquela mulher lhe era tão estranhamente familiar que chegava a incomodar, mas ignorou essa sensação também. Não podia se distrair agora, não quando o medo se foi. Qualquer erro poderia ser fatal.

Subitamente, uma van preta acelerou, parando bem ao lado deles. 

— Laura! – Jonah, Gideon e Joey surgem quando a porta se abre. 

— Vamos entrando! – Magneto está com eles e faz movimentos com as mãos. — A polícia local chamou reforços, estão vindo com um batalhão. 

— Mais soldados, que ótimo. – Jonah resmungou. 

— Eu prefiro soldados do que Carniceiros. – Joey fala e Jonah retruca: 

— São tudo farinha do mesmo saco. 

— Ahm... gente, o que o Logan ‘tá fazendo hein? – sentado no lado do motorista, o velocista de cabelos prateados pergunta. 

— Logan?! – Magneto e os meninos exclamam. 

O velocista aponta e o homem procura-o com os olhos. — Mas de onde ele veio? 

— Ele saltou do jato. – Ciclope responde. — Está nos comprando tempo no maior estilo Wolverine: com garras e impulsividade. 

— Espero que ele consiga porque os Carniceiros claramente têm um plano. 

Donald Pierce havia sumido, e o grupo parecia ter diminuído. Mas os restantes continuavam rodeando Wolverine, que estava entre a van e os caçadores. Distante, tão distante. 

— Logan sabe o que faz, – Ciclope diz, hesitante ao segurar a mão de Laura. — Ele se vira, vamos. 

Bem quando ele se move, ela vê o exato momento que um deles corre pela calçada com uma besta em mãos, um fio agarrado na ponta de uma flecha que é lançada contra seu pai. Todos são capazes de ouvi-lo urrar em susto, porém apenas a mutante consegue captar o metal perfurando sua carne e atravessando suas costelas. O tempo parece desacelerar, em câmera lenta, e há algo na cena que desencadeia flashes de horror em sua mente. 

X-24. 

Laura lembra-se de ataca-lo, da fúria e do... sangue. E também o alívio. Acabou. 

Então o monstro se levanta novamente, poderoso; imortal. Logan urra quando as garras dele o atingem. 

“Ela escuta seu pai gritar seu nome. 

Ele grita, e é aterrorizante. É uma falha tentativa de tatear palavras urgentes, cheias de aflição. Elas trazem a angustia ao vê-la cair de bicicleta pela primeira vez, ralando o joelho. Elas trazem a impotência de esperar ao lado da cama de uma garotinha doente. Elas trazem a raiva do mundo perigoso, que o faz jurar protegê-la. Essas palavras são contidas num olhar de desespero, que imploram que ela pegue os amigos e vá embora.” 

Laura pisca, despertando dos devaneios.

E vê que Magneto está a encarando apreensivo. Ele não era o telepata do grupo, mas foi surpreendente a facilidade que ele leu sua expressão, em milésimos de segundos. — Laura... – murmura, balançando a cabeça. — Nem pense nisso. 

Ela poderia ter sorrido se seus músculos não estivessem tão tensos.  

— Laura, não! 

Escorregou das mãos de Scott, ignorando seus chamados, e correu o mais rápido que conseguia. Seus pés tremiam, e podia ouvir seus batimentos cardíacos contra os ouvidos de tamanha adrenalina que sentia. 

Não foi preciso muitas armas para acabar com Logan da última vez. Laura não permitiria, não dessa vez. 

De relance, notou quando seu pai a viu, mas ele estava ocupado demais sendo arrastado pelo asfalto para impedi-la. Ugh, ela sabia bem como era tal sensação. 

Apressou-se, saltando sobre um carro e tomando impulso. Seu alvo a descobriu segundos antes e ambos rolaram pelo chão. Ele prendeu os punhos dela acima da cabeça dele, provavelmente esperando algema-la, e X-23 aproveitou o erro para expor as garras, matando-o na hora. Outro Carniceiro veio por trás, sendo mais rápido e inteligente, segurando seus pulsos para cima, suas mãos robóticas fortes o suficiente para faze-la retrair as garras. — TRAGAM AS CORRENTES, SEUS IMBECIS! 

Quatro caçadores se aproximaram prontos para prende-la. X-23 impulsiona os pés para cima e para baixo, puxando o homem que a agarrava para o chão consigo. Girando, suas garras se expuseram novamente e ela gritava, furiosa, a cada golpe acertado nos outros quatro. 

Ao passo que terminou, X-23 ergueu-se, imponente; os punhos humanos sujos de sangue, revelando sua verdadeira natureza. 

Viu a polícia local tentando montar um perímetro para fechar a avenida, e curiosos se esforçando para filmar o que podiam. Oh, isso não podia ser bom. 

— EI! 

Ela virou, os cabelos esvoaçando no ar...

Seus olhos se encontram. 

Laura... 

Logan abre os braços, exasperado, como se perguntasse “O que pensa que está fazendo?” e anda em sua direção. 

Papai... 

A garota engole em seco, sem acreditar. Ele está ali. Não pode ser real... ainda assim, é. 

Então é essa a sensação... 

Seus pés se movem de modo lento, quase arrastados. É uma miragem, ela pensa insistente, mas como uma miragem conseguia ser tão real? 

...de ter uma filha? 

Ela nota os X-men próximos, por alguma razão eles não interveem no encontro. Talvez chocados demais com o que a viram fazer. Será que seu pai estava chocado também? Não, ela percebe que não. Ele está apenas intrigado, as sobrancelhas arqueadas e a testa franzida da mesma maneira que a mente de Laura insiste em lembra-la todos os dias. 

De repente, tudo que os distancia são três passos. 

Ela pode abraça-lo? Sente-se temerosa em tentar, em seus pesadelos ele sempre some quando ela tenta. 

Logan a olha de cima à baixo, e ela o imita. O tempo se prolonga e ela o analisa melhor: há algo diferente nele que ela não sabe identificar, mas seja o que for, a faz querer chorar. 

Os olhos dele desviam para seus punhos ensanguentados, e- Oh, ela vê a mudança, intrigado e assustado. 

— Quem é você? 

Sou sua filha, ela deseja falar, mas sabe que se abrir a boca, tudo que vai sair é um choro há muito tempo entalado em sua garganta. 

E então, inesperadamente, algo brilha no canto de seu olho. 

Laura desvia o olhar, e avista um esquecido, último Carniceiro, armado com algo semelhante a uma metralhadora, pronto para atirar. 

Pronto para destruir tudo. 

É rápido demais para Wolverine captar o que acontecia, e Laura toma sua frente sem hesitar, sentindo cada uma das perfurações sendo feitas em seu corpo. 

A dor pungente a faz entrar num estado de choque. Nunca havia tomado tantos tiros assim. Seus sentidos sobem ao máximo e são eles que a mantém de pé, que a fazem ver os raios ópticos de Ciclope arremessarem o Carniceiro para longe, e também Magneto parar algumas balas no ar. Porém mesmo sendo rápidos, Laura sabia melhor. O cheiro do sangue é forte e a afoga como um rio; muitos tiros, mais do que conseguia aguentar. 

Há um instante de silêncio e a garota solta a respiração que não sabia que segurava, o som produzido é aflitivo; irreconhecível. Tudo parece queimar. 

É a pior dor física que ela já sentiu. 

— Não, não, não, não... – alguém a agarra por trás, ambos caindo no chão. A mexicana tosse, os olhos arregalados encontrando-se com os de Logan. Em seus sonhos, é assim que ele a segura, cantando uma canção de ninar. Quão diferente a realidade era. — O que você fez, garota? 

Ela sorriria se pudesse. 

— Wolverine, afaste-se dela! 

— Não Scott, deixe! 

— O que? 

O casal discute e há mais exclamações vindas de Magneto, que se agacha ao seu lado. — Laura, fica acordada! 

— Ela vai morrer. – Logan murmura, o olhar perdido. 

— Não, não vai. 

Tudo escurece. São segundos até ela despertar ao som dos próprios berros, as balas alojadas sendo retiradas pelo poder de Erik, à força, rasgando seus músculos e órgãos mais uma vez. A dor é excruciante e respirar é uma tarefa impossível. 

Ainda assim, ela desejava poder sorrir. 

— DO QUE ISSO VAI ADIANTAR?!  

— Logan- 

— ESTÁ FAZENDO ELA SOFRER, DEIXE-A IR EM PAZ. 

— ELA NÃO VAI MORRER, OLHA! – há uma pausa, as respirações são ofegantes. — Viu? É lento, mas- 

— Se regenera. – outra voz, Scott, diz em espanto. 

— Ela não vai morrer. – Magneto persiste. — Ela é igual a você. 

Laura abre os olhos, suas lágrimas sem controle, encarando Logan. Naquele momento, de perto, ela percebe o que está diferente, o que a faz querer chorar sempre que o vê. 

Ele está tão jovem, ela parece notar pela primeira vez. 

— Igual a mim. – Logan ecoa. 

— Ficaria surpreso. 

— Eu não entendo... 

As vozes ressoam cada vez mais longe, e Laura se encolhe, sentindo um sono inexplicável tomar conta de si. 

Para cada memória ruim, havia uma boa... e a pior noite de sua vida, também havia sido a melhor. Lembrou-se da sensação de segurança quando Logan a ergueu em seus braços, na fazenda dos Munson, em meio a destruição. 

Agora, a sensação continuava sendo a mesma. 

Antes de se entregar a escuridão e a quietude, ela escuta seu pai dizer seu nome mais uma vez. 

Ele diz, e é real. É uma tentativa de mantê-la acordada, mas também de assegurar que ela não está sozinha. Dizendo seu nome, ele faz com que ela se lembre das promessas; de tudo que eles poderiam ter tido e nunca tiveram. Ele faz com que algo quente e constante envolva seu coração. Engraçado que poderia ser apenas os machucados ainda não regenerados, e talvez fosse, mas para Laura, também parecia ser proteção. 

Também parecia ser esperança.

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No time

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