The Secrets of the Queen - Continuação escrita por AurietaForever


Capítulo 1
O passado da Rainha


Notas iniciais do capítulo

Oi vocês que pediram uma continuação e os que não pediram mas estão aqui do mesmo jeito. Eu peço que leiam as notas finais, por favor. Essa era para ser uma one-shot mas acabei tornando uma fanfic



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As expressões dela eram suaves e angelicais como as de um anjo. Os cabelos espalhados pelo travesseiro, seu corpo relaxado e seu peito subia e descia lentamente. Aurélio mal pôde dormir, passou a maior parte da noite admirando-a, tocando seus cabelos, velando seu sono. Sempre que ele tentava desvencilhar-se para dar a ela mais espaço, Julieta apenas encolhia-se, pressionando seus corpos. Os cabelos dela espalharam-se pelo peito dele quando ela recostou a cabeça em seu ombro.

Durante a noite, após ela adormecer, ele saiu do quarto, pediu para que todos se recolhessem e regressou ao quarto dela. Julieta o procurava na cama, ainda adormecida, buscando pelo calor do corpo do homem que a pouco tinha saído.

Não havia sol naquela manhã. O dia estava triste, compadecendo-se com a dor deles. A atmosfera daquele casarão que um dia foi cheio de risos estava tenso, nem mesmo os empregados podiam ser ouvidos. Julieta abriu os olhos lentamente, sua visão embaçada pelo sono pesado.

— Bom dia — Ele chamou e ela virou o rosto para encará-lo. — Já é dia.

— Eu vejo. — Ela disse após a triste constatação de que já era um novo dia.

Seu corpo juntou-se mais ao dele. Teria que sair, deixar o quarto, viver a vida real. Teria que enfrentar o filho, abrir feridas que nunca foram esquecidas e consequentemente mostrar a Camilo sua verdadeira face, abrir o livro dos segredos do seu passado.

— Eu não quero — Choramingou — Não quero ir. Não desejo sair, quero ficar aqui.

— Julieta, há uma realidade lá fora que precisa ser encarada. Mesmo que eu adore a ideia não podemos passar toda a vida aqui dentro, fugindo do inevitável.

— Mas eu não quero.

— Estarei segurando suas mãos quando você sair. Você não irá precisar ser a mulher forte, eu vou estar aqui para ampará-la se você desabar, estarei sempre segurando sua mão e a apoiando.

— Eu tenho tanto medo, Aurélio.

— Não há o que temer, querida.

— Traga Camilo aqui, não sairei, apenas traga meu filho.

Ele assentiu retirando-se da cama, deixando-a sozinha. Partia-lhe o coração deixa-la, mesmo que por alguns segundos. Ela parecia tão pequena no meio daquela imensa cama de lençóis frios.

Aurélio foi em busca de Camilo, encontrando-o no antigo quarto que residia quando vivia na Mansão. Jane ainda estava adormecida quando Aurélio entrou no quarto. Camilo no entanto parecia desperto, desesperado, esperançoso, preocupado, ansioso por uma resposta.

— Sua mãe quer vê-lo.

— Eu não sei se vou conseguir, passei a noite toda pensando e não tenho certeza se quero saber a verdade.

— Você quer, mesmo que algo se debata dentro de si implorando para não ouvir o que precisa ser dito, mas apenas a verdade poderá libertar você e sua mãe. Vá ouvi-la.

Camilo sorriu para Aurélio. Caminhou ao lado dele lentamente pelo corredor. Tudo que sabia sobre sua mãe, seu pai e seu passado estava a ponto de deteriorar-se. Girou a maçaneta lentamente, era hora de enfrentar as verdades que nunca lhe foram ditas.

Julieta estava sentada no sofá que tinha em seu quarto. Não pôs nenhum vestido, apenas a camisola e um hobby preto por cima, seus cabelos permaneciam soltos. Camilo nunca viu a mãe daquela forma, tão longe de ser a mulher fria que ela aparentava ser.

— Sem a armadura de Rainha do Café, vamos conversar como mãe e filho — Ela disse quando o viu entrando no quarto.

Camilo adentrou completamente no quarto e Aurélio ficou parado na soleira da porta.

— Aurélio eu preciso que você entre. — Ela pediu quando constatou que ele não tinha intenção de entrar.

— Julieta, esta é uma conversa entre mãe e filho.

— Está conversa deve ser entre mim e os homens que amo e que merecem saber a verdade sobre meu passado, você prometeu que estaria ao meu lado e ontem à noite esteve, hoje prometeu que estaria segurando minha mão e eu preciso que cumpra.

Aurélio decidiu não lutar, ela precisava de força e coragem e ele estava disposto a dar. Camilo sentou-se na cama da mãe e Julieta permaneceu sentada onde estava, Aurélio sentou-se ao seu lado e de imediato ela buscou o contato das mãos dele. O loiro sentiu que as mãos dela estavam frias.

— O que você quer saber?

— Eu quero saber sobre tudo, seu passado completo mãe, porque eu não vou perdoar que mais verdades sejam escondidas de mim. Eu preciso saber de tudo desde o princípio.

— Eu não garanto um início ou final feliz, porque nessa história não há. — Ela apertou mais a mão do homem ao seu lado, seus olhos fitaram o teto, tentando manter as lágrimas dentro dos olhos e depois olhou para o filho. — Meu pai, seu avô, era um homem rico, muito rico. Casou-se com minha mãe e sua herança triplicou tanto quanto seu vício por jogos de azar. Ele saia a noite e apostava tudo o que tinha com ele, uma hora ele passou a extrapolar e apostar mais do que tinha, fazer dívidas porque não conseguia pagar o que devia já que todo seu dinheiro era investido em jogos. Afundou-se aos poucos nos problemas, jogos e bebidas. A maior dívida era a que ele tinha com Osorio Bittencourt, seu amigo de longa data. Ele pegava dinheiro emprestado com Osorio para pagar suas dívidas e nunca pagava de volta. Mas como bom amigo, Osório ofereceu-se para pagar as dívidas e dar um pouco de dinheiro ao meu pai para que ele pudesse recomeçar, meu pai alegrou-se e Osório deu a última tacada, meu pai teria o dinheiro mas em troca ele queria algo, alguém, eu! Ele esqueceria a dívida se eu casasse com ele. Mesmo eu só tendo quinze anos — Sua voz vacilou e ela precisou do silêncio.

Aurélio viu o desespero crescer dentro dos olhos dela e dos de Camilo.

— Então? — O jovem a instigou para que prosseguisse.

— Meu pai não pensou duas vezes, aos dezoito eu iria casar com Osorio Bittencourt. Nunca acreditei que aquele acordo fosse para frente, afinal, ele tinha a idade de meu pai e eu era uma criança, uma menina que ele viu crescer. Aos dezesseis eu vi a grandeza do que estava acontecendo e não deixaria assim. Uma noite eu apareci na casa de Osório, estava disposta a encerrar aquele casamento.

Julieta Sampaio sentiu um repentino frio percorrer sua espinha quando estava parada diante da Mansão de fachada branca. Repensou sua decisão, ela entraria. Osório a conhecia desde seus dez anos, ele entenderia, ela era seu pequeno pássaro, ele entenderia e se tivesse sorte convenceria seu pai a entender também.

Os passos calmas não demonstravam o nervosismo interior. Ela entrou na casa lentamente. Ele estava sentado na sala, vestido tipicamente de negro, bebendo algo que parecia ser conhaque, desde pequena ela sabia que a noite ele costumava reunir-se com seu pai para beber um pouco, mas desta vez ele estava sozinho.

— Senhor Osorio — sua voz aveludada chamou pelo homem que virou-se para encará-la.

Entre os pelos da barba crescida ele mostrou um largo sorriso, que novamente a fez arrepiar-se. Voltar? Não. Ela não voltaria. Enfrentar, é isso que ela faria.

— O que minha noiva deseja? É um pouco tarde para estar andando pela rua, passarinha. Já passa das sete.

— Eu sei, pedi que papai deixasse eu sair um pouco. Desejo falar algo com o senhor — pediu calmamente.

— Sente-se, eu insisto que beba algo. Está frio e parece que vai chover, fique aqui, voltarei dentro de alguns minutos.

Ela apenas assentiu. Aproveitaria do tempo sozinha para criar mais coragem. Osório foi até a cozinha, diferente dos demais homens da cidade ele não tinha empregados, mesmo que tivesse condições para ter mais de uma.

Enquanto movia as mãos nervosamente ela ensaiava o que lhe diria. A chuva começou a cair do lado de fora, tornando-se mais intensa. Mau presságio, sua mãe sempre dizia.

— Aqui está, gosta de chá, não gosta? — Ele perguntou, tirando-lhe de seus pensamentos.

— Gosto sim, obrigada — Segurou a xícara.

Ela bebeu um pouco do chá, ele deveria acalmá-la um pouco. Osório sentou-se ao lado e pôs a mão em sua perna, uma proximidade nova para ela. Julieta congelou, afastando-se delicadamente, evitando movimentos bruscos.

— Osório, eu sei que o senhor fez muito por meu pai. Pagou suas dívidas, mas em troca pediu algo muito mais caro. Pensei que essa ideia de noivado duraria apenas alguns meses até você desistisse, afinal, quem gostaria de casar com uma menina? Mas vejo que isso está caminhando sério demais para mim. Talvez... talvez seja hora de acabar com isso.

— Acabar? Não entendo.

— Eu quero romper. Não estou preparada e não tenho sentimentos por você. Foi um grande amigo de minha família e agradeço por isso, mas não estou disposta a casar-me com você.

— Não está disposta? Depois de tudo que fiz pela sua família?

— Eu já disse que agradeço, mas eu não estou disposta a sacrificar-me por isso. É um casamento, um laço eterno e eu não quero.

— Isso não depende de você.

— É claro que depende. Eu não quero e não irei casar-me com você. Estou farta de sacrificar-me pela minha família.

Ela pôs a xícara sobre a pequena mesa no centro da sala. Como poderia voltar para casa naquela chuva? Não tinha muita importância. Ela precisava sair dali. Antes de poder dar mais que três passos foi detida por mãos fortes e ásperas.

— O que pensa que está fazendo? Solte-me!

— És minha noiva, tenho pleno direito de tocá-la, de todas as formas que eu quiser.

— Não, não tem e não pretendo ser sua noiva por mais tempo então solte-me agora ou irei gritar.

— E quem irá ouvi-la?

Seu mundo caiu por terra. Quem iria ouvi-la? Ele tinha no olhar um brilho que ela nunca viu e que nunca quis ver em toda sua vida. Tentou soltar seu braço mas o aperto intensificou-se e provavelmente ficaria marcas.

— Por favor, deixe-me ir.

— Minha passarinha não quer ir, poderá ficar aqui essa noite e amanhã conversamos com mais clareza.

— Eu não quero, não pretendo e não irei ficar aqui por mais nenhum segundo. Deixe-me ir, imediatamente!

Osório a soltou e seu coração sentiu instantaneamente tranquilizou-se. Mas não era o fim, ele beijou-lhe, com força, com extrema força e urgência. Julieta usou seus pequenos e inúteis braços para tentar afastar-se, mas quem era ela? Uma garota pequena de braços curtos e magra, contra um homem grande e forte. Antes que ele encerrasse o beijo ela mordeu o lábios dele e sentiu o gosto de sangue invadir sua boca.

— Eu exijo que me respeite e que nunca mais atreva-se a me tocar novamente.

Um tapa, ela lhe desferiu um único e pequeno tapa, suficiente para despertar a fúria dele.

— Você, prostituta!

Ela sentiu a bochecha queimar como brasa quando foi acertada por um tapa. Seu rosto virou-se bruscamente com a intensidade e ela caiu no chão, tentou erguer-se apoiando-se nos braços fracos.

— O que você fez? — Choramingou tocando o local avermelhado, não acreditando que ele havia sido capaz de tanto.

— Isso não é nada perto do que tenho planejado para  dois. Minha noivinha.

Ele abriu o paletó, e lentamente desabotoou um a um dos botões da camisa branca que usava. Deleitando-se com a visão dela fraca e assustada.

— Não, nós podemos conversar, podemos reavaliar. Eu prometo que não conto a meu pai o que aconteceu aqui, prometo esquecer a ideia de rompermos, apenas me deixe ir para casa.

— Não, minha pequena prostituta. Sabe quantas vezes eu fantasiei com esse momento? Desde que você era pequenininha, quando te vi aos dez anos já sabia que um dia seria minha.

Ele se desfez do cinto e das calças. Ele subiu em cima dela. Ele não foi doce e aquilo não foi prazeroso. Ela sempre idealizou sua primeira vez e não foi nada parecido com o que ela sonhava. Foi seu pior pesadelo acontecendo. Ele foi forte, bruto, grotesco. Sem piedade, sem carinho.

— Não, eu imploro, por favor, não. — Gritava desesperada.

Ela gritou, debateu-se, incansáveis e repetidas vezes, mas não havia ninguém ali para ouvi-la, para acudi-la. Ela gritou tão alto quanto podia, ela chorou, ela tentou empurrá-lo para longe, ela tentou desvencilhar-se, ela tentou fugir, ela desejou morrer, desaparecer. Tentou inúmeras vezes esquivar-se do toque, ele era mais bruto e não desistia. Ela parou. Ela simplesmente parou. Ela deixou que as lágrimas banharem seu rosto. Ela não sentia mais nada, tudo ao seu redor pareceu ter parado, tudo pareceu ter morrido. Concentrou-se nos rosas dentro do jarro, no som da chuva que caía do lado de fora. Sentiu seu estomago embrulhar mais de uma vez. Ouviu palavras sujas.

— Então ele acabou. Quando terminou comigo pediu para que eu partisse. Eu corri em meio a chuva, em meio às dores do meu corpo enquanto tentava ignorá-las, deixei que a chuva se encarrega de limpar o sangue que escorria pelas minhas pernas. Que levasse a sujeira do meu corpo. Ninguém me ouviria, ninguém me veria. Tranquei-me no quarto e foi assim que aprendi a me trancar na minha dor. Chorei toda a noite, molhada, suja, com dor, morta por dentro e machucada por fora. Eu não contei a ninguém, eu estava tão imunda que não podia permitir que as pessoas olhassem e apontassem para mim. Ele ia em minha casa, falava com meus pais, sorria para mim, me tocava e eu tentava fugir sem que percebessem. Mas não fui capaz de esconder minha gravidez, descoberta dois meses depois por minha mãe. Ela contou ao meu pai, tentei explicar-me mas ele parecia surdo. Tentei contar-lhe a verdade mas ele disse:

— Lugar de prostituta é no chão. Uma desonrada. — Olhou para a jovem que jogou no chão.

— Meu pai, eu juro, posso explicar.

— Quem é o pai, prostituta?

— Osório, ele é o pai mas eu posso lhe explicar.

— Eu não preciso, é por isso que estava tão empolgada em ir falar com ele, o seduziu? Porque eu sei que Osorio não seria capaz de a desonrar desta maneira.

— Não! — Gritou tentando ser ouvida, buscando uma reação de sua mãe — Não foi consensual, eu juro, não o seduzi.

Ele a segurou pelos cabelos, erguendo-a do chão. Suas mãos grossas apertaram o pulso dela com tamanha força que as marcas ficariam ali por muito tempo. A arrastou por toda a rua, ignorando os olhares, as súplicas, ignorando mundo ao seu redor. Bateu na porta da casa de Osório e quando foi atendido a jogou contra o chão novamente. Osório a olhou com desprezo, ela estava ali, sendo humilhada novamente, naquele mesmo chão.

— Ele disse-lhe que eu o seduzi e meu pai acreditou no grande amigo. Passei a viver com Osorio, casei-me na semana seguinte e meu pai negou-se a abrir a porta de sua casa novamente para mim. Não chamava-me mais de Julieta, ou filha, eu era a prostituta que desonrou nossa família.

Julieta finalmente ergueu os olhos do chão que fitou durante todo o relato. Tanto Aurélio quanto Camilo tinham lágrimas nos olhos e as bocas abertas, ainda processando o peso das informações que foram despejadas sobre eles.

— Meus pais ainda estão vivos, mas depois daquele casamento nunca fui capaz de olhá-los nos olhos novamente. Apenas os desprezo imensamente.

Camilo soluçou alto. Julieta viu toda sua dor ser transferida para o filho e ela finalmente soltou as mãos de Aurélio. Ajoelhou-se perto do jovem que parecia desesperado com tantas dores.

— Por isso eu não queria contar, não queria que se contaminasse com minha dor.

— Meu pai, meus avós eram monstros, mãe.

— Eu sinto muito por todo esse tempo ter sido ter o superprotegido ao extremo. Mas eu acredito que vítimas devem ser protegidas e você é uma vítima desde o dia de sua concepção.

— Assim como você, mãe. Tão vítima quanto eu, mas ninguém nunca a protegeu. Foi vítima de minhas crueldades.

— Não, Camilo. Eu fui cruel com você, com meus excessos, com minhas proibições. O afastando.

— Mas já passou da hora de nos perdoarmos, não acha? Esquecermos o passado.

— Não existe nada no mundo que eu deseje mais do que isso.

Camilo a abraçou, juntando-se a ela no chão. Sentindo os corações baterem na mesma sintonia, compartilhando da mesma dor. Ambos eram vítimas, ambos estavam sofrendo, ambos se perdoando. Aurélio sorriu em meio as lágrimas que lavam sua alma. Julieta estava se perdoando e ele tinha fé que aos poucos ela se curaria.

///

Aurélio estava na cozinha. Julieta não havia aparecido para o café da manhã. Ainda negava-se a sair do quarto e temia encarar as pessoas. Foram poucas as ocasiões em que ele a viu tão fragilizada e seu coração parecia partir-se em todas elas.

— Papai – Ema chamou entrando na cozinha com um jeito acanhado.

— Ema, minha filha, estou preparando algo para Julieta comer, quer que prepare para você também?

— Não, obrigada, já estou satisfeita — Respondeu cordialmente puxando a cadeira para sentar-se.

— Então diga. – Sentou-se na frente dela.

— Papai, o que sente por Julieta Bittencourt?

— Tudo. Todos os bons sentimentos que sou capaz de sentir.

— Então a ama?

— Muito, minha filha. Quando sua mãe faleceu eu jamais pensei que amaria alguém novamente, mas olhe para mim, apaixonado e com desejo juvenil de ter uma vida com ela.

— Eu entendo, também sinto-me assim em relação a Ernesto. Mas o senhor sabe que Julieta é, em todos os sentidos da palavra, uma mulher diferente.

— Sim, eu sei. Julieta não é como todas e as vezes isso chega a confundir-me. Ela tem um brilho especial, mas que poucos conseguem enxergar. Ela às vezes é tão séria e outras é completamente o oposto. Odeia que sintam pena dela mas ama ser acolhida. As vezes tem medo do que sente e isso a torna mais especial.

— Julieta é especial, ela conquistou seu coração e isso já mostra que ela é uma grande mulher. Ela sofreu muito e às vezes me pergunto se a mesma coisa acontecesse comigo. — Quando Aurélio deu por si sua filha estava com lágrimas nos olhos.

Ele levantou-se de onde estava sentado, parou ao lado dela e agachou-se, segurou suas mãos e sorriu.

— Não vai acontecer e se acontecesse você sabe que teria em mim alguém que a apoia e que mataria o desgraçado.

— É triste saber o que Julieta passou e enquanto pensava a noite imaginei como seria se nada disso tivesse acontecido com ela, o quão diferente tudo seria.

— Eu também pensei e ao mesmo tempo desejei que Osorio tivesse vivo para pôr um fim em sua vida miserável com minhas próprias mãos por tudo que fez a minha Julieta.

— Sua Julieta? Eu fico tão feliz ao saber que já estão nesse nível de relacionamento.

— E pretendo evoluir mais. Quero ajudar Julieta a superar suas dores e seus traumas.

///

As horas passaram-se, o dia ainda nublado. Julieta não se juntou para o café. Camilo decidiu passar o dia na casa com os demais, mas ninguém atreveu-se a ir incomodá-la. Ela estava na varanda de seu quarto, precisava reunir coragem para encarar todos novamente.

— Perdida em seus pensamentos? — Perguntou Aurélio, abraçando-a por trás.

Seus braços envolviam a cintura dela em um aperto aconchegante e ela aceitou, recostando sua cabeça no ombro dele.

— Sim. Pensando em como tudo mudou tanto. Você diria que um dia estaríamos aqui na minha varanda, eu somente de camisola e você sendo atrevido o suficiente para me abraçar assim?

— Sim.

— Verdade?

— Desde o momento em que coloquei meus olhos em você fantasiei milhares de coisas — Acariciou-lhe os braços.

— Você é um homem visionário e sonhador.

— Mas diga-me, o que pensa em fazer daqui para frente?

— Camilo perdoou-me e durante nossa conversa eu lembrei-me de algo que está me fazendo refletir.

— O que seria?

— Há coisas que ainda preciso fazer, partes do meu passado que preciso unir a meu presente. Meus pais, por exemplo.

— Sabe que vai me ter aqui, independentemente do que aconteça ou das decisões que tome.

— E é isso que mais me dá esperança e força.

Eles ficaram ali, abraçados, sentindo um o calor do outro, observando as nuvens pardas que começavam a desaparecer do céu. Havia uma luz no meio de tanta tristeza.


 

Quando eu olho nos seus olhos

É como observar o céu de noite

Ou um belo amanhecer

Eles carregam tanta coisa

E assim como as antigas estrelas

Vejo que você evoluiu muito

Para estar bem onde está

(I won’t give up)

 

 


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Notas finais do capítulo

Vocês que leram as notas iniciais e o capitulo e finalmente chegaram aqui, obrigada! Eu estou realmente pensando em dar uma continuidade a essa historia, já que tantos me pediram (Eu não aguento dizer Não) O próximo capitulo será Julieta indo definitivamente atras de seu passado.