"Oh deixe as balas voarem, oh, faça-as chover. Minha vida, meu amor, minha motivação, eles vieram da Dor!" Believer

Afonso andou em passos lentos, mas firmes para o seu quarto, mesmo sem estar com sono, sabia que precisava descansar. Iria precisar de energia para o dia seguinte, mas ao entrar nos seus aposentos encontrou Brice ainda em sua cama, ela tinha dormido o dia todo? Deveria de fato está exausta, preferiu não a acordar e chamou um soldado pedindo que a levasse com cuidado para seus aposentos. Aproveitou para pedir um chá de camomila, quem sabe assim ele conseguiria deitar a cabeça no travesseiro e dormir. Amanhã seria um grande dia.

XXX

No raiar do dia todo o exército se encontrava devidamente enfileirado do lado de fora dos muros de Artena, os arqueiros estavam em suas posições no topo do muro, Afonso e Rodolfo estavam lado a lado em seus cavalos, assim como os outros reis, regentes e seus melhores generais na frente do exército esperando. Eles sabiam que Otávio viria até eles.

E foi exatamente o que aconteceu, Afonso teve que admitir, aquele era o maior exército que já tinha visto. A tensão no ar era quase palpável, aquela era a maior guerra da história de toda a Cália. Na frente do exército inimigo sete bigas, uma para cada rei ali representado. Quanto mais eles olhavam mais soldados apareciam em seus campos de visão. Otávio claramente tinha um exercito maior, até que sob um grito de comando todos aqueles homens pararam. Apenas uma biga e um outro cavalo seguiram adiante, e sabiam que era chegada a hora. Afonso e Rodolfo seguiram adiante com alguns soldados atrás acompanhando, e quando estavam a alguns metros de distância conseguiu avistar quem estava no cavalo. Catarina.

Ela tinha suas mãos amarradas, enquanto um soldado atrás dela guiava o cavalo. Ela parecia bem mais pálida que o normal e aparentava ter perdido alguns quilos, em seu lábio tinha um corte, mas seus olhos brilharam ao ver Afonso. Ambos desceram de seus cavalos e ficaram cara a cara, Catarina foi puxada com mais força que o necessário e levada para ficar ao lado de Otávio, ela tinha um olhar determinado, mesmo que algumas lágrimas lhe escorressem pelos olhos.

“Vejo que não se escondeu atrás de seus muros. Corajoso, imprudente, mas corajoso rei Afonso.” Otávio falou. Afonso que até o momento não tinha tirado seus olhos da esposa, encarou seu adversário.

“Acredito que está com algo que não lhe pertence.” Falou referindo-se a Catarina. Ele emanava um poder e ódio que qualquer um ao seu redor poderia sentir, mas o rei da Lastrilha parecia ignorava isso com facilidade. Puxou a rainha de encontro ao seu corpo e cheirou seus cabelos.

“Oh sim, está se referindo a ela? Catarina tem sido uma ótima mulher ao esquentar minha cama essas noites.” Falou em deboche, Afonso sabia que ele estava mentindo, mas isso não impediu que sacasse sua espada.

“Cuidado com as palavras, ou arrancarei sua língua antes da hora rei Otávio.” Disse com ódio, mas Rodolfo segurou a mão do irmão, fazendo o mesmo baixar sua espada. Sabia que Afonso podia colocar tudo a perder se agisse antes da hora.

“Evite uma guerra Otávio, entregue Catarina, você e seus homens dobrem seus joelhos e assim podemos evitar uma chacina.” Rodolfo falou, mesmo sabendo que aquilo não iria acontecer.

“Acha mesmo que eu vim de tão longe para isso? Olhe a sua volta, veja quantos guerreiros trouxe para suas terras.” Otávio falou apontando ao redor.

“Quer que eu olhe para o seu exército e trema? Estou olhando, e tudo o que vejo são trinta mil homens que foram trazidos até aqui porque você não conseguiu conquistar a mulher que queria.” Falou friamente.

“Cuidado Afonso, minha piedade tem limites.” Otávio falou entregando Catarina para o soldado que a trouxe.

“E você já usou de toda a minha piedade rei, só tenho uma coisa a lhe dizer. Vou matá-lo, e deixarei seu corpo para que os corvos comam de sua carcaça. E depois disso? Todos o reis que juram lealdade a você terão que dobrar seus joelhos perante mim.” Disse friamente, para depois seus olhos irem até Catarina, tentando passar algum conforto para ela.

“Levem-na daqui!” Otávio gritou impaciente, já tinha a exibido para todos. Ela precisava ficar no acampamento agora. Catarina foi puxada de volta para o cavalo, mas seus olhos em nenhum momento se desviaram de Afonso. Antes que ela fosse levada, falou em alto e bom som.

“Afonso, não importa o que aconteça. Mate-o!” essas palavras o fizeram sorrir, mesmo depois de tudo o que tinha passado, ainda tinha tanta determinação dentro de si. Afonso continuou a olhar até que ela sumiu de sua vista.

“Vejo que não entraremos em um acordo, então saiba de uma coisa, todos os seus homens irão morrer hoje.” Otávio falou e subiu em sua biga, sendo guiado de volta para o seu exército, Rodolfo e Afonso fizeram o mesmo.

“Vá Rodolfo, os soldados estão esperando na floresta, traga minha esposa para dentro dos portões desse castelo. Estou depositando a vida dela em suas mãos” Afonso falou tocando o ombro do irmão.

“Concentre-se na guerra. Trarei Catarina de volta.” E com isso seguiu direto em direção aos portões da cidade, o exército abrindo caminho no processo para logo em seguida voltar para sua formação original. Rodolfo iria sair da cidade por uma passagem secreta, para que assim Otávio não desconfiasse de nada.

O rei de Lastrilha ficou em frente ao seu exército, analisando tudo ao seu redor, um sorriso ameaçador surgiu em seu rosto, tudo estava saindo conforme o planejado. Ele sabia que depois de ver Catarina, Afonso não aguentaria esperar até o final da guerra e mandaria uma equipe de resgate, mal sabia que ele tinha deixado soldados mais que suficiente no acampamento. Era uma emboscada. Viu quando o irmão do rei sumiu entre o exército, ele seria a próxima vítima. Com esse pensamento deu o comando.

“ATACAR!”

Seus homens mudaram de posição e com um gritos de guerras começaram a avançar. Afonso levou seu cavalo até ficar atrás de seu exército, perto dos muros da cidade.

“Arqueiros!” gritou de maneira que pudessem ouvir, e seus homens se colocaram em posição. “Por seus reinos!” gritou para seus homens, e eles esperaram. Todos colocaram os grandes escudos e apontaram as lanças para frente esperando o impacto, até que segundos depois veio, o exército inimigo se chocou contra eles, tentando passar por cima dos escudos, sangue começou a jorrar de ambos os exércitos.

“Já!” Rei Ricardo gritou, e os arqueiros começaram a atirar, uma chuva de flechas cortou o céu derrubando centenas de homens de forma rápida a cada vez que eles atiravam.

“Linha de frente avante!” Afonso deu o comando, e seus homens começaram a forçar seus escudos, tentado avançar, muitos homens da primeira linha de formação já estavam lutando com suas espadas quando Afonso viu ao longe um guerreiro de Otávio, ele era incrivelmente alto e forte, estava lutando com um machado, tinha derrubado o quinto homem seu quando decidiu avançar.

“Sua segurança vem primeiro!” rei Robert falou segurando seu braço.

“Não ficarei parado aqui vendo meus homens morrerem.” Falou firme e avançou, quando ficou próximo de seu oponente com sua lança em mãos, o guerreiro usou seu escudos e jogou contra Afonso fazendo o mesmo cair no chão, que rapidamente se levantou e pegou sua espada. Mas nesse meio tempo o homem matou mais três de seus homens que foram ao seu socorro. Afonso avançou com seu escudo, mas o homem era mais forte e mais alto, atacou o rei de forma que seu escudo caísse no chão, ficando assim sem nenhuma proteção além de sua espada.

Por ser mais rápido Afonso se desviou da grande maioria dos ataques, conseguiu se defender de um que o acertaria no peito, mas ficou perto demais do homem que usou seu cotovelo para acertar o rosto do rei.

Enquanto isso, a chuva de flechas continuava deixando agora milhares de homens mortos no chão. Os homens que lutavam por Afonso sabiam até onde podiam ir, para ficarem a salvo das flechas, travando assim a batalha somente com aqueles que conseguiam passar.

O guerreiro atacou novamente, Afonso tentou contra-atacar, mas teve apenas sua espada presa em suas costas, um grito de raiva escapou de seus lábios e abandonando a espada, segurou nos ombros do homem.

“Então você é o famoso rei Afonso” o homem falou rindo, Afonso aproveitou que estava extremamente próximo e deu uma cabeçada nele. O homem cambaleou para trás, mas usou a ponta de seu machado e bateu diretamente na testa do rei, fazendo com que o mesmo caísse violentamente no chão.

XXX

Enquanto isso, Rodolfo seguia pela floresta, sendo guiado por Delano até chegar no acampamento onde Catarina estava sendo mantida. Ele tinha levado com ele cerca de trinta homens, os melhores entre os soldados do reino.

Avistaram o acampamento inimigo e seguiram silenciosamente, tentando descobrir onde Catarina estava. Olhando de barraca em barraca, até que Delano aproximou-se do rei.

“Tem algo errado.” Ele sussurrou. Rodolfo olhou ao redor, o mesmo pensamento rodando sua mente.

“Eu sei, não vejo nenhum soldado guardado o acampamento, parece abandonado.” Delano concordou com a cabeça, e acompanhou com o olhar seus homens seguirem silenciosamente na busca.

“Se Catarina estivesse aqui, eles teriam deixado soldados para trás. Parece fácil demais.” O soldado continuou, mas um de seus homens parou e fez um sinal com a mão indicando que a tinha encontrado. Eles avançaram até lá.

"Delano, chame todos para cá, precisamos ser rápidos." Rodolfo falou já entrando na tenda. 

Ele suspirou aliviado ao vê-la sozinha na tenda amarrada. Quando Catarina viu quem estava ali seu olhos se arregalaram e ela tentou gritar em desespero, mas tinha um pano impedindo que ela falasse qualquer coisa. Rodolfo não entendeu o desespero dela, cortou as cordas que amarravam suas mãos, e ela rapidamente tirou no pano em sua boca.

“Saia daqui Rodolfo, isso é uma armadilha.”

Mas era tarde demais.